“A Suma Teológica de Santo Tomás de Aquino em forma de Catecismo” do Pe. Tomas Pégues, O. P., é uma excelente obra para aqueles que desejam iniciar o estudo da Obra Magna de Santo Tomás. Um tanto raro aqui no Brasil, haja vista que sua última edição em português data do início da década de 40, este livro é formulado como todos os catecismos tradicionais em perguntas e respostas e é de agradável leitura.
SEGUNDA PARTE: O HOMEM PROCEDE DE DEUS E PARA DEUS DEVE VOLTAR
SEGUNDA SEÇÃO: ESTUDO CONCRETO DOS MEIOS QUE O HOMEM DEVE EMPREGAR PARA VOLTAR PARA DEUS
SEGUNDA SEÇÃO: ESTUDO CONCRETO DOS MEIOS QUE O HOMEM DEVE EMPREGAR PARA VOLTAR PARA DEUS
V. DA VIRTUDE DA ESPERANÇA – VÍCIOS OPOSTOS: PRESUNÇÃO E DESESPERAÇÃO. FÓRMULA DO ATO DEESPERANÇA – QUEM ESTÁ OBRIGADO A FAZÊ-LO
Qual é a segunda virtude teologal?
A virtude da Esperança.
O que entendeis por virtude da Esperança?
A virtude teologal, cujo efeito é mover a vontade, para que com o auxílio divino, se dirija e encaminhe para Deus, como o objeto de nossa felicidade eterna, como nos é demonstrado pela fé. (XVII, 1, 2).
É possível ter esperança, sem fé?
Absolutamente impossível (XVII, 7).
Por quê?
Porque é a fé que propõe à esperança o seu objeto e os motivos em que há de apoiar-se (ibid.).
Qual é o objeto da Esperança?
Antes de tudo, o próprio Deus, como termo e objeto de sua própria felicidade, e enquanto, por um rasgo de benevolência infinita, quis ser também o objeto da nossa dita no céu (XVII, 1, 2).
Há outra coisa que possa ser objeto da Esperança?
Sim; qualquer bem real, subordinado à consecução do objeto primário (XVII, 2, ad 2).
Qual é o motivo ou razão em que se apoia a Esperança?
O próprio Deus, considerado como auxiliar de nossa fraqueza, na conquista da felicidade (ibid.).
Então, o motivo da Esperança, implica e supõe necessariamente ações virtuosas meritórias e conducentes à posse de Deus na ordem sobrenatural?
Sim.
Logo, pecará contra a esperança o que não confia salvar-se, em contrair o hábito de praticar a virtude?
Sim.
Como se chama este pecado?
Pecado da presunção (XX-I).
É o único pecado que o homem pode cometer contra a virtude da esperança?
Não; pode cometer outro, chamado desesperação (XX).
Em que consiste?
É o pecado daqueles que, considerando-se a grandeza e excelência infinitas de Deus, ou as dificuldades com que tropeçam no exercício das virtudes sobrenaturais, fazem a Deus a injúria de supor que jamais chegarão a possui-Lo oua praticar a virtude como convém; em consequência, renunciam à felicidade e abstêm-se de invocar a Deus e chama-Lo em seu auxílio, ainda que bem o possam fazer (XX, 1, 2).
O pecado da desesperação reveste especial gravidade?
Sim, porque inutiliza todo o movimento na ordem sobrenatural, e faz que o pecador pronuncie, em certo modo, contra si mesmo, a sentença da condenação eterna (XX,3).
Então, o homem jamais deve desesperar por grandes que sejam suas misérias e enormes as suas culpas e pecados?
Não, porque superior a tudo isso, é a Onipotência e misericórdia divinas.
Que deve, pois, fazer quando se sente acabrunhado sob o peso de suas culpas pecados?
Corresponderá graça que naquele momento convida-o a voltar-se para Deus, com firme esperança de que lhe perdoará e dará forças para sair do seu mau estado e levar depois vida digna de recompensa eterna.
Podereis ensinar-me alguma fórmula para praticar o ato da Virtude Teologal chamada esperança?
Aqui está uma: “Deus meu, com grande confiança, espero de vossa misericórdia e poder infinitos que me dareis graça para levar uma vida digna do prêmio destinado aos justos, e que, no fim da vida, se vossa graça não me deixar cair na desesperação, me admitireis a participar da vossa própria e eterna bem-aventurança.”
Poderia abreviar-se esta fórmula?
Sim; pode ser reduzida ao seguinte: “Deus meu, santa e firmemente espero em Vós”.
Quem pode exercitar-se em atos de esperança?
Todos os fiéis, enquanto vivem neste mundo.
Os Santos no céu conservam a virtude da esperança?
Não, porque a esperança supõe ausência, e eles já entraram na posse de Deus (XVIII,2).
Os condenados no Inferno a têm?
Também não, porque jamais poderão gozar de Deus, objeto de esperança.
As almas do purgatório conservam-na?
Conservam-na como virtude, porém os seus atos não são completamente iguais aos desta vida, porque, ainda que não possuam e esperam a bem-aventurança, não contam com o auxílio divino para alcançá-la, pois, nem a podem merecer, nem abrigam o temor de perdê-la, visto que não podem pecar (XVIII, 3).
