
O antropocentrismo que invadiu o Novus Ordo Missae deu liberdade para que liturgistas progressistas se sentissem donos dela à tal ponto de outorgar para si o direito de destruí-la com suas experiências de laboratório sobre os pretextos que estamos carecas de saber: inculturação, embelezamento, realidade cultural, etc.
Entretanto, sabemos que quando um artista realiza sua obra, além da expectativa de ter alcançado a aprovação de público em alvo que resulta no seu entreterimento quanto à matéria visual ou sonora utilizada, ele visa o seu reconhecimento pela ação feita.
Paralelamente é a mesma situação que envolve o liturgista progressista, o foco de suas mirabolantes manobras para profanar o Culto Sagrado além de ser voltada para a recreação da assembléia tem em vista o seu engradecimento pessoal pelo destaque da apresentação cometida.
A inclusão de elementos culturais dos povos na liturgia se faz com a devida autorização expressa da Santa Sé. Como não houve essa inclusão, as invencionices estão proibidas. O que não se permite, está proibido. Assim funciona a liturgia. As rubricas não possuem uma linguagem negativa, mas positiva. Não está nelas descrito tudo o que não se deve fazer, mas exposto o que se deve. E, diante do que se deve, se infere o que não se deve.
Cadê o senso e a ótica de Tradição? Ela é a chave essencial para interpretar isso tudo. E ainda torna as coisas mais simples:
Havia palmas antes da Reforma Litúrgica? Não. Então não deve haver agora. Havia guitarra e etc antes? Não. Então não deve haver agora. Havia cantos em vernáculo conforme costume e realidade locais? Sim. Então pode haver agora.
É palavra do Magistério que a interpretação ruptural do Concílio está errada, que se tem de dar uma interpretação de continuidade. Então, usando da mesma continuidade, devemos imitar na missa nova o que se via na missa antiga, e se permitir na missa nova o que se permitia na missa antiga (em relação às "tradições e costumes locais"). Não é permitido "reinventar a roda".
Nosso Senhor tem sido desprezado em nossos altares. E pior: antes fosse desprezado porque fosse deixado sozinho, mas agora o é mediante escárnio, em Sua Divina presença se fazem coisas atrozes. "... a unidade do Rito Romano está ameaçada pela criatividade litúrgica selvagem, com freqüência animada por liturgistas." (Cardeal Joseph Ratzinger).
Em seus textos pró-bizarrices litúrgicas, os progressistas sempre falam das reformas liturgícas feitas pelo Vaticano II, o que é um erro: Não existe relação NENHUMA entre o Rito Paulino e o Vaticano II.
Não atribuam a "reforma" litúrgica do Rito romano ao Vaticano II. O Vaticano II é responsável pelas rúbricas de 1965. Boas rúbricas, onde não houve nenhum 'corte' da tradição litúrgica, e que foram aprovadas até por D. Lefebvre.
O Rito Paulino não é fiel nem ao próprio Vaticano II. Na edição de 69, nem a palavra sacrifício existia no Missal! E, sim, o Rito Paulino precisa ser reformado, e tem problemas, pois, já dizia Hildebrand naquela época " Em verdade, se um dos demônios do romance “Screwtape Letters” de C. S. Lewis fosse enviado para sabotar a liturgia, não teria feito melhor! "
A questão não é antiquarismo como apontam os progressstas, afinal ele já foi mais que categoricamente condenado por Pio XII, na Encíclica Mediator Dei. A Missa Tradicional é seguida e preferida por devotos. Até chegar em sua compilação definitiva por Pio V, o rito tradicional passou sim por variações ou acréscimos que só vieram enriquecer a fé no mistério eucarístico. O antiquarismo é coisa típica dos inovadores e não dos tradicionalistas.
A liturgia, por sua natureza, possui uma tal variedade de níveis de comunicação que lhe permitem cativar o ser humano na sua totalidade. A simplicidade dos gestos e a sobriedade dos sinais, situados na ordem e nos momentos previstos, comunicam e cativam mais do que o artificialismo de adições inoportunas. A atenção e a obediência à estrutura própria do rito, ao mesmo tempo que exprimem a consciência do carácter de dom da Eucaristia, manifestam a vontade que o ministro tem de acolher, com dócil gratidão, esse dom inefável. (Exort. Apost. Sacramentum Caritatis, 40)
A gente fica com a clara impressão que não estamos na mesma Igreja. É exatamente essa a impressão que tenho - a que estamos presenciando um cisma litúrgico. Leio tudo o que Roma determina, o que o papa pede, o que os documentos da Igreja (e não da CNBB) prescrevem e que são solenemente ignorados. Nem os padres conhecem as determinações da Congregação dos Ritos.
O relativismo não apenas destrói a fé, mas impõe novos paradigmas essencialmente falaciosos. Falar de inculturação num país tradicionalmente católico é uma piada pronta! Será que, repentinamente, um brasileiro médio passou a se sentir tão perdido na Missa como um índio assistindo ao Sacrifício celebrado por Frei Henrique, lá em 1500? Não ironicamente, essa "necessidade" de inculturação, no Brasil, surgiu, justamente, no período pós-conciliar, quando houve o triunfo pujante da "hermenêutica da ruptura" nas nossas terras.
Não foi o povo que se tornou estranho à Missa celebrada com decoro, contrição e sacralidade, mas foram religiosos modernistas que quiseram impor uma nova identidade litúrgica no braço. É sociologicamente impossível conceber a possibilidade de que em menos de cinco décadas a população católica brasileira tenha regredido a ponto de não compreender aquilo que seus pais e avós seguiam.
A necessidade das bizarrices não reflete um desenvolvimento orgânico do rito, mas sim a imposição de um modelo, embasado no mais genuíno relativismo, que pretende romper com toda a tradição litúrgica católica. Para que as bizarrices fossem viáveis, ou o rito deveria expressamente indicá-las - o que não ocorre - ou, então, a cultura local teria que favorecer ao seu uso como ferramenta catequética-missionária - o que não cabe no Brasil, já que a nossa cultura continua a mesma, e com essa mesma cultura nossos pais assistiam Missas versus Deum e em latim. E mesmo reconhecendo a decadência cultural do Brasil, isso não seria motivo para justificar a algazarra litúrgica.
Os liturgistas progressistas não têm idéia das conseqüências do raciocínio que defendem. Claro que creio nas boas intenções, mas, querendo ou não, tal argumentação parte de um certo relativismo litúrgico que se choca com a identidade tradicional católica. Na Bahia muitos seguem essa mesma linha para justificar atabaque, pandeiro, ofertório com danças etc, tudo é inculturação, tudo é adaptável, contanto que o missal esteja ali no altar sendo falsamente seguido - afinal o missal vai além de um livro, é um espírito, uma expressão de piedade e mística -.
Dentro da cabeça desse povo, se não há uma diretriz que proíba a utilização de pipoca na procissão de entrada, ou o uso de temáticas africanas na aclamação do Evangelho, então é lícito. Ora, quer dizer que eu posso colocar hamsters amestrados para acender as velas do altar ou malabaristas hindus para tocar o sino na consagração só porque não há uma determinação da Santa Sé a respeito dessas irreverências?!
Quando caímos nesse papo de inculturação, de expressão popular, incindimos numa análise meramente pessoal. Para fulano bater palma é bom, assim como para sicrano, na Bahia, o uso de atabaque é emocionante. Na prática, tanto as palmas como o atabaque não são condenados pela Igreja - assim como os hamsters e os malabaristas -, mas isso seria sinal de licitude? Óbvio que não, afinal, acima das normas - quase sempre positivas - se encontra o ethos responsável pela formação e estruturação do rito.
Não por menos, os seminários mais perdidos no relativismo e na secularização têm o número de vocacionados reduzido - no máximo, correm atrás de garotos pobres, sem perspectivas de ascensão, nas regiões miseráveis das cidades. Enquanto isso, as dioceses e congregações que buscam a vivência sincera da piedade católica, que se sustentam sobre a Tradição, têm fila de espera! O que todos já sabiam foi confirmado pela pesquisa encomendada pela Convenção Nacional de Vocações, nos EUA. O dado estatístico mostrou que a esmagadora maioria, daqueles que são chamados, está indo para locais onde há fidelidade ao Magistério, uso do hábito, Missas conventuais, Liturgia das Horas, oração, estudo etc. Ademais, também confirmou aquilo que já sabíamos; as dioceses e congregações mais "moderninhas" têm cada vez menos vocacionados.
Tudo isso se encontra sintetizado num trecho do discurso do Papa Bento XVI aos Bispos do Brasil (Grupo I – Oeste 1 e Oeste 2) em visita ad limina:
"nos decênios sucessivos ao Concílio Vaticano II, alguns interpretaram a abertura ao mundo, não como uma exigência do ardor missionário do Coração de Cristo, mas como uma passagem à secularização, vislumbrando nesta alguns valores de grande densidade cristã como igualdade, liberdade, solidariedade, mostrando-se disponíveis a fazer concessões e descobrir campos de cooperação. (...) Insensivelmente caiu-se na auto-secularização de muitas comunidades eclesiais; estas, esperando agradar aos que não vinham, viram partir, defraudados e desiludidos, muitos daqueles que tinham (...)
Atualmente há uma nova geração já nascida neste ambiente eclesial secularizado que, em vez de registrar abertura e consensos, vê na sociedade o fosso das diferenças e contraposições ao Magistério da Igreja, sobretudo em campo ético, alargar-se cada vez mais. Neste deserto de Deus, a nova geração sente uma grande sede de transcendência."
A existência das normas e de livros que norteiam a celebração exala para todos a unidade do Rito Romano, garantindo sua ortodoxia, isonomia e eficácia a todos os fiéis latinos. Trata-se de uma lente convergente, cujo ponto focal está no Sacrifício de Cristo e seguir as regras universais garante que os raios passarão pelo foco! Preveem-se gestos e orações para as diversas espécies de seres humanos que tomam parte na celebração em papéis distintos, fazendo com que sempre (e aqui empregado, talvez, no sentido mais próprio que o advérbio deva ter para o caso) e em todo lugar o Calvário se faça presente.
Ora, como o elo visível que resplandece a unidade católica está em Roma, justo que seja a Sé Apostólica a autoridade competente para resguardar o espírito litúrgico e, de fato, assim se faz, para que se possa "oferecer em toda parte, do nascer ao pôr-do-Sol um sacrifício perfeito" (cf. OE III), permitindo ao povo de Deus "participar do mesmo pão e do mesmo cálice" (cf. OE IV).
O que consta, pois, nos livros litúrgicos; o que foi previsto, é a essência do que é necessário ao Sacrifício. É altamente perigoso renegar às consciências individuais a autoridade sobre a legislação litúrgica e sua adequação à Tradição. E por isso, a norma oficial é exatamente a de que ninguém, sem a devida idoneidade, acrescente ou suprima nada em matéria litúrgica (cf. SC 22)!
Há de se separar a manifestação individual e espontânea, daquela que passa a ser universal e se introduz sem previsão na celebração da Santa Missa: uma coisa é em um discurso inegavelmente belo, o povo responder com aplausos; outra, diferente, é alocar pantominas em ritos da celebração, como se estivessem rubricados para um dado momento. Ainda que, um autêntico espírito litúrgico pudesse incluir o gesto, para que ganhasse licitude teria que ser ratificado pelo único juízo devidamente autorizado e este juízo não recai sob indivíduos.
Assim, ainda que admitamos que a introdução de novidades pudesse não se contrapor à essência do Sacrifício em algum ponto, o fato é que, para que ganhasse licitude real e inequívoca, deveria constar das rubricas em acepção permissiva, não o contrário. A Igreja não faz, no Missal e demais livros, restrições ao que não pode ser feito. Ao contrário, Ela dá instruções do que DEVE ser feito e sabendo que o que deve ser feito pode ser feito sem risco de erro, é não só sempre prudente, como a meu ver, atitude inteligente, não correr um risco desnecessário.
De fato há uma explicação para as medidas e normas rubricadas nos livros litúrgicos, explicação essa que, por tão ampla e fascinante, e permeada de teologia, arte e esmero, torna o estudo da liturgia tão amplo e fascinante, praticamente inesgotável. Aprofundar-se nesses conhecimentos é não somente conhecer a liturgia, mas desenvolver um senso crítico apurado na decisão da licitude de vários pontos. Um bom liturgista não pode viver de rubricas, até porque uma rubrica, pela própria forma como se apresenta, só responde pelo que diz, e não pelo seu contexto. E é imprescindível que um bom liturgista saiba qual o fundamento para cada norma, até para desenvolver um senso crítico de quais abusos podem ser "tolerados" ou preservam certo sentido na liturgia, ou, pelo contrário, são totais aberrações.
O segundo ponto é que isso em nada justifica uma visão subjetiva doque vemos nesses abusos. É ingenuidade acreditar que, por se tratar de questão disciplinar, há uma questão de "opinião" em acatar ou rejeitar o que se consolida na tradição litúrgica. A tradição não é mera repetição, não é mero comodismo e falta de inovação, mas é a preservação da linguagem de Deus, que só é corretamente interpretada e feita presente pela inspitação do Espirito Santo dado à Igreja. Os bons liturgistas se destacam pela capacidade de perceber esse substrato de linguagem, que é coeso, que não tem rupturas, e em tentar preservá-lo, mais do que impor a sua própria opinião.
Acreditar que liturgistas como Mons. Elliott ou o Cardeal Francis Arinze apenas tomaram uma opinião que é descartável é ingenuidade. Há que se analisar seus fundamentos. Se estes expressarem a real função da liturgia, serão verdadeiros e dignos de crédito, caso contrário, não. Com as revelações particulares cabe o mesmo juízo: eu não preciso acreditar na aparição de Fátima, mas sou obrigado a acreditar que o sentido da mensagem é cristão e não atenta contra a minha fé. Isso a Igreja me garante. Da mesma forma, o importante não é o parecer da pessoa em si, mas se há ou não não um sentido objetivo no que é dito.
É verdade que as rubricas norteiam a liturgia, mas norteiam-na regulamentando-a. Entender o porquê de cada uma faz com que saibamos avaliar o peso e a gravidade de cada abuso. É por isso que certas devoções, acrescentadas como abuso litúrgico, foram toleradas, até chegarem mesmo a ser legitimadas pela tradição por perdurarem por mais de 200 anos. Essas foram toleradas porque não feriram o espírito litúrgico. Um exemplo é a proclamação das Kalendas na missa de Natal: não está nas rubricas, foi uma invencionice, surgiu como um abuso, mas não era algo que atentava essencialmente contra o espírito da liturgia, por isso era tolerado e hoje é legitimado por tradição.
Por outro lado, certos abusos sempre foram combatidos pela Santa Sé tão logo surgiram. Vide a Redemptionis Sacramentum.
E, se temos a consciência de que alguns abusos são menos graves do que outros, deveríamos de fato esperar o parecer da Santa Sé, e nos abstermos de QUAISQUER julgamentos próprios, senão entramos em contradição. Se é a Santa Sé que decide o que é grave ou não, não sou eu que vou ficar dizendo que "ah, tudo bem, dar as mãos no Pai-Nosso é um abuso leve, fulano só tem uma opinião diferente".
Não se pode falar em nome da Igreja. Não se pode arrogar ao direito de falar com a autoridade magisterial sobre qualquer ponto disciplinar que ainda não esteja regulamentado. Agora, não é apenas o veredicto de algo que o torna um abuso ou não. o conceito de abuso é simplesmente ser contrário à espiritualidade litúrgica.
Se ninguém puder recorrer à sua própria intuição e seu bom senso para evitar o que é estranho à liturgia, com base não no que é, de forma legalista, um abuso documentado pelo Magistério, mas o que é o conceito de abuso e se este conceito está correndo o risco de se manifestar nas nossas celebrações, então estamos nos isentando de zelar pela liturgia.
A meu ver, pior do que se recorrer ao Magistério para corroborar o que é ou não abuso (o que não significa legislar como o Magistério legisla sobre abuso, frise-se), é acreditar que não se pode concluir nada apenas do estudo orgânico da liturgia. Aliás, já seria um tremendo resrespeito desconsiderar tudo o que o papa já disse e continua dizendo nesse âmbito, apenas para aparentar uma posição "imparcial" ou "equilibrada".
Graças a Deus um novo missal vem aí com base no espírito do rito tridentino e com algumas coisas do rito novo que se integram na continuidade orgânica da tradição da liturgia. É a tão esperando Reforma da Reforma. Com ela haverá mudança radical no que hoje se vem fazendo de arbitrário para com a sagrada liturgia da Igreja, que é como que a identidade do catolicismo no mundo. É preciso que a Santa Missa desperte o nosso coração para a glória de Deus, tendo aquela postura sagrada e respeitosa para com o divino sacrifício e ao templo santo do Senhor. Reformando a nossa disposição para obedecer o que manda a santa Igreja e aplicar o que é mandado. É preciso de zelo apostólico para fazer o que a Igreja faz e fez há dois mil anos.
E é justamente isso que sempre desejou o Cardeal Ratzinger, e continua planejando agora de Romano Pontífice: Que o Rito Romano seja novamente uno!
Bento XVI não decretou o abate do rito, pelo contrário, mandou a Congregação dos Ritos ENFEITÁ-LO com vestes, gestos e língua litúrgica do vetus ordus, e há tempos promete uma Reformula Reformulorum do intróito ao cabo dele, no dizer de Machado de Assis. O Papa quer JUSTAMENTE a "mistura das liturgias", ou melhor, que o rito novo seja inculturado sem dó nem economia pelo rito de tridentino sempre para que o Rito Romano volte a ser único. E o Motu Proprio Summorum Pontificum foi o pontapé inicial nessa Reforma da Reforma com o crescimento da Missa tradicional pelo mundo. Na Alemanha houve um aclínio de 480%.
Cabe aqui no artigo uma consideração do confrade Rafael Vitola à respeito:
" Para trabalharmos com o real - que faria ser uma utopia a proibição pura e simples do rito moderno -, uma solução seria que a "reforma da reforma" procurasse é fazer "retroceder" o rito NOVO, introduzindo nele rubricas e práticas, pouco a pouco, que o fizessem cada vez mais similar ao rito tradicional.
Quando falamos em "reforma da reforma", não se trata de mexer no Missal de 1962, ao menos não por enquanto, e sim no Missal de 1970. Se o rito tradicional ficasse como o de 1965, seria um erro, mas se o rito moderno é que voltasse ao de 1965, ou ao de 1962 mas com algumas práticas do rito novo preservadas, já seria uma boa notícia.
E, depois, quando o rito moderno ficasse muito mais "inserido na tradição litúrgica", aí, sim, uma unificação seria algo natural, e só se introduziria pontos positivos do rito novo no rito antigo se fosse respeitado o princípio do desenvolvimento orgânico.
Um maior rigor na vigilância do rito novo, io incentivo ao gregoriano e à polifonia, a obrigatoriedade do versus Deum e da Comunhão de joelhos e na boca, bem como um mais amplo uso do latim, seriam primeiros passos. Depois, a troca do atual ofertório pelo tradicional, o uso exclusivo do Cânon Romano, regras mais claras quanto aos tipos de Missa, restauração das Quatro Têmporas, das Rogações, da Septuagésima, das Missas de Réquiem tradicionais, etc, seriam outros passos a serem implementados no rito moderno, mantendo, NELE - e só nele, nada de, por enquanto, mexer no rito tradicional -, os pontos positivos.
É esse, aliás, o "goal" do Salvem a Liturgia, e penso ser o mote do Papa. Ampliar o uso da forma extraordinária e favorecer um modo "tradicional" de celebrar a forma ordinária.
Insisto na celebração ortodoxa da forma ordinária não porque a considere exatamente igual em seus acidentes à extraordinária, ou para fingir que tudo está ótimo, e sim para evitar uma dicotomia que muito prejudicaria uma correção de percurso: qual seja, o isolamento da forma extraordinária como "rito dos que não querem bagunça", como se a forma ordinária pudesse ser feita de qualquer jeito. Se assim acontecer, tenho pena de nossos irmãos nas paróquias que não têm acesso ao rito tradicional.
Primeiros passos são esses: popularizar o rito tridentino, e celebrar de modo ortodoxo o rito moderno. Segundo passo: introduzir no rito novo elementos tradicionais, paulatinamente, até que ambas as formas fiquem muito parecidas. Só no fim, poderá haver uma unificação e, aí, sim, os pontos positivos que sobreviverem do rito novo podem ir para o único rito romano que haveria.
Fazer as coisas no "canetaço" [ voltar logo o rito tridentino e abandonar o novo ] é ignorar as disposições de alma dos fiéis. Pode ser tão traumático como foi a implementação do rito novo. As coisas devem seguir um desenvolvimento harmônico. De modo natural, com passos firmes, mas prudentes, de Roma e seus colaboradores, as coisas entram nos eixos.
Não nos cabe forçar as coisas, mas, além de rezar, criar as condições para que o Papa e seus auxiliares, seja na Santa Sé, seja nos institutos especialmente preocupados com a liturgia, possam fazer o seu trabalho. "
Finalizo com uma reflexão da Serva de Deus Madre Maria Teresa de Jesus Eucarístico (cuja vida foi mostrada recentemente num belo programa da CN) ensinava que para participar frutuosamente do Santo Sacrifício é preciso unir os nossos sacrifícios e imolações aos do Senhor, pois Ele já não pode mais sofrer (o Sacrifício da Missa é incruento), então, dizia ela, que devemos sofrer e nos imolar por Ele.
Dizia ainda que os nossos sacrifícios são simbolizados naquela pequena gota d'água unida ao vinho, no cálice: "A gota de água que o Sacerdote põe no cálice é a parte de imolação que devemos levar" (Conferência de 3/7/1941).
Entretanto, sabemos que quando um artista realiza sua obra, além da expectativa de ter alcançado a aprovação de público em alvo que resulta no seu entreterimento quanto à matéria visual ou sonora utilizada, ele visa o seu reconhecimento pela ação feita.
Paralelamente é a mesma situação que envolve o liturgista progressista, o foco de suas mirabolantes manobras para profanar o Culto Sagrado além de ser voltada para a recreação da assembléia tem em vista o seu engradecimento pessoal pelo destaque da apresentação cometida.
A inclusão de elementos culturais dos povos na liturgia se faz com a devida autorização expressa da Santa Sé. Como não houve essa inclusão, as invencionices estão proibidas. O que não se permite, está proibido. Assim funciona a liturgia. As rubricas não possuem uma linguagem negativa, mas positiva. Não está nelas descrito tudo o que não se deve fazer, mas exposto o que se deve. E, diante do que se deve, se infere o que não se deve.
Cadê o senso e a ótica de Tradição? Ela é a chave essencial para interpretar isso tudo. E ainda torna as coisas mais simples:
Havia palmas antes da Reforma Litúrgica? Não. Então não deve haver agora. Havia guitarra e etc antes? Não. Então não deve haver agora. Havia cantos em vernáculo conforme costume e realidade locais? Sim. Então pode haver agora.
É palavra do Magistério que a interpretação ruptural do Concílio está errada, que se tem de dar uma interpretação de continuidade. Então, usando da mesma continuidade, devemos imitar na missa nova o que se via na missa antiga, e se permitir na missa nova o que se permitia na missa antiga (em relação às "tradições e costumes locais"). Não é permitido "reinventar a roda".
Nosso Senhor tem sido desprezado em nossos altares. E pior: antes fosse desprezado porque fosse deixado sozinho, mas agora o é mediante escárnio, em Sua Divina presença se fazem coisas atrozes. "... a unidade do Rito Romano está ameaçada pela criatividade litúrgica selvagem, com freqüência animada por liturgistas." (Cardeal Joseph Ratzinger).
Em seus textos pró-bizarrices litúrgicas, os progressistas sempre falam das reformas liturgícas feitas pelo Vaticano II, o que é um erro: Não existe relação NENHUMA entre o Rito Paulino e o Vaticano II.
Não atribuam a "reforma" litúrgica do Rito romano ao Vaticano II. O Vaticano II é responsável pelas rúbricas de 1965. Boas rúbricas, onde não houve nenhum 'corte' da tradição litúrgica, e que foram aprovadas até por D. Lefebvre.
O Rito Paulino não é fiel nem ao próprio Vaticano II. Na edição de 69, nem a palavra sacrifício existia no Missal! E, sim, o Rito Paulino precisa ser reformado, e tem problemas, pois, já dizia Hildebrand naquela época " Em verdade, se um dos demônios do romance “Screwtape Letters” de C. S. Lewis fosse enviado para sabotar a liturgia, não teria feito melhor! "
A questão não é antiquarismo como apontam os progressstas, afinal ele já foi mais que categoricamente condenado por Pio XII, na Encíclica Mediator Dei. A Missa Tradicional é seguida e preferida por devotos. Até chegar em sua compilação definitiva por Pio V, o rito tradicional passou sim por variações ou acréscimos que só vieram enriquecer a fé no mistério eucarístico. O antiquarismo é coisa típica dos inovadores e não dos tradicionalistas.
A liturgia, por sua natureza, possui uma tal variedade de níveis de comunicação que lhe permitem cativar o ser humano na sua totalidade. A simplicidade dos gestos e a sobriedade dos sinais, situados na ordem e nos momentos previstos, comunicam e cativam mais do que o artificialismo de adições inoportunas. A atenção e a obediência à estrutura própria do rito, ao mesmo tempo que exprimem a consciência do carácter de dom da Eucaristia, manifestam a vontade que o ministro tem de acolher, com dócil gratidão, esse dom inefável. (Exort. Apost. Sacramentum Caritatis, 40)
A gente fica com a clara impressão que não estamos na mesma Igreja. É exatamente essa a impressão que tenho - a que estamos presenciando um cisma litúrgico. Leio tudo o que Roma determina, o que o papa pede, o que os documentos da Igreja (e não da CNBB) prescrevem e que são solenemente ignorados. Nem os padres conhecem as determinações da Congregação dos Ritos.
O relativismo não apenas destrói a fé, mas impõe novos paradigmas essencialmente falaciosos. Falar de inculturação num país tradicionalmente católico é uma piada pronta! Será que, repentinamente, um brasileiro médio passou a se sentir tão perdido na Missa como um índio assistindo ao Sacrifício celebrado por Frei Henrique, lá em 1500? Não ironicamente, essa "necessidade" de inculturação, no Brasil, surgiu, justamente, no período pós-conciliar, quando houve o triunfo pujante da "hermenêutica da ruptura" nas nossas terras.
Não foi o povo que se tornou estranho à Missa celebrada com decoro, contrição e sacralidade, mas foram religiosos modernistas que quiseram impor uma nova identidade litúrgica no braço. É sociologicamente impossível conceber a possibilidade de que em menos de cinco décadas a população católica brasileira tenha regredido a ponto de não compreender aquilo que seus pais e avós seguiam.
A necessidade das bizarrices não reflete um desenvolvimento orgânico do rito, mas sim a imposição de um modelo, embasado no mais genuíno relativismo, que pretende romper com toda a tradição litúrgica católica. Para que as bizarrices fossem viáveis, ou o rito deveria expressamente indicá-las - o que não ocorre - ou, então, a cultura local teria que favorecer ao seu uso como ferramenta catequética-missionária - o que não cabe no Brasil, já que a nossa cultura continua a mesma, e com essa mesma cultura nossos pais assistiam Missas versus Deum e em latim. E mesmo reconhecendo a decadência cultural do Brasil, isso não seria motivo para justificar a algazarra litúrgica.
Os liturgistas progressistas não têm idéia das conseqüências do raciocínio que defendem. Claro que creio nas boas intenções, mas, querendo ou não, tal argumentação parte de um certo relativismo litúrgico que se choca com a identidade tradicional católica. Na Bahia muitos seguem essa mesma linha para justificar atabaque, pandeiro, ofertório com danças etc, tudo é inculturação, tudo é adaptável, contanto que o missal esteja ali no altar sendo falsamente seguido - afinal o missal vai além de um livro, é um espírito, uma expressão de piedade e mística -.
Dentro da cabeça desse povo, se não há uma diretriz que proíba a utilização de pipoca na procissão de entrada, ou o uso de temáticas africanas na aclamação do Evangelho, então é lícito. Ora, quer dizer que eu posso colocar hamsters amestrados para acender as velas do altar ou malabaristas hindus para tocar o sino na consagração só porque não há uma determinação da Santa Sé a respeito dessas irreverências?!
Quando caímos nesse papo de inculturação, de expressão popular, incindimos numa análise meramente pessoal. Para fulano bater palma é bom, assim como para sicrano, na Bahia, o uso de atabaque é emocionante. Na prática, tanto as palmas como o atabaque não são condenados pela Igreja - assim como os hamsters e os malabaristas -, mas isso seria sinal de licitude? Óbvio que não, afinal, acima das normas - quase sempre positivas - se encontra o ethos responsável pela formação e estruturação do rito.
Não por menos, os seminários mais perdidos no relativismo e na secularização têm o número de vocacionados reduzido - no máximo, correm atrás de garotos pobres, sem perspectivas de ascensão, nas regiões miseráveis das cidades. Enquanto isso, as dioceses e congregações que buscam a vivência sincera da piedade católica, que se sustentam sobre a Tradição, têm fila de espera! O que todos já sabiam foi confirmado pela pesquisa encomendada pela Convenção Nacional de Vocações, nos EUA. O dado estatístico mostrou que a esmagadora maioria, daqueles que são chamados, está indo para locais onde há fidelidade ao Magistério, uso do hábito, Missas conventuais, Liturgia das Horas, oração, estudo etc. Ademais, também confirmou aquilo que já sabíamos; as dioceses e congregações mais "moderninhas" têm cada vez menos vocacionados.
Tudo isso se encontra sintetizado num trecho do discurso do Papa Bento XVI aos Bispos do Brasil (Grupo I – Oeste 1 e Oeste 2) em visita ad limina:
"nos decênios sucessivos ao Concílio Vaticano II, alguns interpretaram a abertura ao mundo, não como uma exigência do ardor missionário do Coração de Cristo, mas como uma passagem à secularização, vislumbrando nesta alguns valores de grande densidade cristã como igualdade, liberdade, solidariedade, mostrando-se disponíveis a fazer concessões e descobrir campos de cooperação. (...) Insensivelmente caiu-se na auto-secularização de muitas comunidades eclesiais; estas, esperando agradar aos que não vinham, viram partir, defraudados e desiludidos, muitos daqueles que tinham (...)
Atualmente há uma nova geração já nascida neste ambiente eclesial secularizado que, em vez de registrar abertura e consensos, vê na sociedade o fosso das diferenças e contraposições ao Magistério da Igreja, sobretudo em campo ético, alargar-se cada vez mais. Neste deserto de Deus, a nova geração sente uma grande sede de transcendência."
A existência das normas e de livros que norteiam a celebração exala para todos a unidade do Rito Romano, garantindo sua ortodoxia, isonomia e eficácia a todos os fiéis latinos. Trata-se de uma lente convergente, cujo ponto focal está no Sacrifício de Cristo e seguir as regras universais garante que os raios passarão pelo foco! Preveem-se gestos e orações para as diversas espécies de seres humanos que tomam parte na celebração em papéis distintos, fazendo com que sempre (e aqui empregado, talvez, no sentido mais próprio que o advérbio deva ter para o caso) e em todo lugar o Calvário se faça presente.
Ora, como o elo visível que resplandece a unidade católica está em Roma, justo que seja a Sé Apostólica a autoridade competente para resguardar o espírito litúrgico e, de fato, assim se faz, para que se possa "oferecer em toda parte, do nascer ao pôr-do-Sol um sacrifício perfeito" (cf. OE III), permitindo ao povo de Deus "participar do mesmo pão e do mesmo cálice" (cf. OE IV).
O que consta, pois, nos livros litúrgicos; o que foi previsto, é a essência do que é necessário ao Sacrifício. É altamente perigoso renegar às consciências individuais a autoridade sobre a legislação litúrgica e sua adequação à Tradição. E por isso, a norma oficial é exatamente a de que ninguém, sem a devida idoneidade, acrescente ou suprima nada em matéria litúrgica (cf. SC 22)!
Há de se separar a manifestação individual e espontânea, daquela que passa a ser universal e se introduz sem previsão na celebração da Santa Missa: uma coisa é em um discurso inegavelmente belo, o povo responder com aplausos; outra, diferente, é alocar pantominas em ritos da celebração, como se estivessem rubricados para um dado momento. Ainda que, um autêntico espírito litúrgico pudesse incluir o gesto, para que ganhasse licitude teria que ser ratificado pelo único juízo devidamente autorizado e este juízo não recai sob indivíduos.
Assim, ainda que admitamos que a introdução de novidades pudesse não se contrapor à essência do Sacrifício em algum ponto, o fato é que, para que ganhasse licitude real e inequívoca, deveria constar das rubricas em acepção permissiva, não o contrário. A Igreja não faz, no Missal e demais livros, restrições ao que não pode ser feito. Ao contrário, Ela dá instruções do que DEVE ser feito e sabendo que o que deve ser feito pode ser feito sem risco de erro, é não só sempre prudente, como a meu ver, atitude inteligente, não correr um risco desnecessário.
De fato há uma explicação para as medidas e normas rubricadas nos livros litúrgicos, explicação essa que, por tão ampla e fascinante, e permeada de teologia, arte e esmero, torna o estudo da liturgia tão amplo e fascinante, praticamente inesgotável. Aprofundar-se nesses conhecimentos é não somente conhecer a liturgia, mas desenvolver um senso crítico apurado na decisão da licitude de vários pontos. Um bom liturgista não pode viver de rubricas, até porque uma rubrica, pela própria forma como se apresenta, só responde pelo que diz, e não pelo seu contexto. E é imprescindível que um bom liturgista saiba qual o fundamento para cada norma, até para desenvolver um senso crítico de quais abusos podem ser "tolerados" ou preservam certo sentido na liturgia, ou, pelo contrário, são totais aberrações.
O segundo ponto é que isso em nada justifica uma visão subjetiva doque vemos nesses abusos. É ingenuidade acreditar que, por se tratar de questão disciplinar, há uma questão de "opinião" em acatar ou rejeitar o que se consolida na tradição litúrgica. A tradição não é mera repetição, não é mero comodismo e falta de inovação, mas é a preservação da linguagem de Deus, que só é corretamente interpretada e feita presente pela inspitação do Espirito Santo dado à Igreja. Os bons liturgistas se destacam pela capacidade de perceber esse substrato de linguagem, que é coeso, que não tem rupturas, e em tentar preservá-lo, mais do que impor a sua própria opinião.
Acreditar que liturgistas como Mons. Elliott ou o Cardeal Francis Arinze apenas tomaram uma opinião que é descartável é ingenuidade. Há que se analisar seus fundamentos. Se estes expressarem a real função da liturgia, serão verdadeiros e dignos de crédito, caso contrário, não. Com as revelações particulares cabe o mesmo juízo: eu não preciso acreditar na aparição de Fátima, mas sou obrigado a acreditar que o sentido da mensagem é cristão e não atenta contra a minha fé. Isso a Igreja me garante. Da mesma forma, o importante não é o parecer da pessoa em si, mas se há ou não não um sentido objetivo no que é dito.
É verdade que as rubricas norteiam a liturgia, mas norteiam-na regulamentando-a. Entender o porquê de cada uma faz com que saibamos avaliar o peso e a gravidade de cada abuso. É por isso que certas devoções, acrescentadas como abuso litúrgico, foram toleradas, até chegarem mesmo a ser legitimadas pela tradição por perdurarem por mais de 200 anos. Essas foram toleradas porque não feriram o espírito litúrgico. Um exemplo é a proclamação das Kalendas na missa de Natal: não está nas rubricas, foi uma invencionice, surgiu como um abuso, mas não era algo que atentava essencialmente contra o espírito da liturgia, por isso era tolerado e hoje é legitimado por tradição.
Por outro lado, certos abusos sempre foram combatidos pela Santa Sé tão logo surgiram. Vide a Redemptionis Sacramentum.
E, se temos a consciência de que alguns abusos são menos graves do que outros, deveríamos de fato esperar o parecer da Santa Sé, e nos abstermos de QUAISQUER julgamentos próprios, senão entramos em contradição. Se é a Santa Sé que decide o que é grave ou não, não sou eu que vou ficar dizendo que "ah, tudo bem, dar as mãos no Pai-Nosso é um abuso leve, fulano só tem uma opinião diferente".
Não se pode falar em nome da Igreja. Não se pode arrogar ao direito de falar com a autoridade magisterial sobre qualquer ponto disciplinar que ainda não esteja regulamentado. Agora, não é apenas o veredicto de algo que o torna um abuso ou não. o conceito de abuso é simplesmente ser contrário à espiritualidade litúrgica.
Se ninguém puder recorrer à sua própria intuição e seu bom senso para evitar o que é estranho à liturgia, com base não no que é, de forma legalista, um abuso documentado pelo Magistério, mas o que é o conceito de abuso e se este conceito está correndo o risco de se manifestar nas nossas celebrações, então estamos nos isentando de zelar pela liturgia.
A meu ver, pior do que se recorrer ao Magistério para corroborar o que é ou não abuso (o que não significa legislar como o Magistério legisla sobre abuso, frise-se), é acreditar que não se pode concluir nada apenas do estudo orgânico da liturgia. Aliás, já seria um tremendo resrespeito desconsiderar tudo o que o papa já disse e continua dizendo nesse âmbito, apenas para aparentar uma posição "imparcial" ou "equilibrada".
Graças a Deus um novo missal vem aí com base no espírito do rito tridentino e com algumas coisas do rito novo que se integram na continuidade orgânica da tradição da liturgia. É a tão esperando Reforma da Reforma. Com ela haverá mudança radical no que hoje se vem fazendo de arbitrário para com a sagrada liturgia da Igreja, que é como que a identidade do catolicismo no mundo. É preciso que a Santa Missa desperte o nosso coração para a glória de Deus, tendo aquela postura sagrada e respeitosa para com o divino sacrifício e ao templo santo do Senhor. Reformando a nossa disposição para obedecer o que manda a santa Igreja e aplicar o que é mandado. É preciso de zelo apostólico para fazer o que a Igreja faz e fez há dois mil anos.
E é justamente isso que sempre desejou o Cardeal Ratzinger, e continua planejando agora de Romano Pontífice: Que o Rito Romano seja novamente uno!
Bento XVI não decretou o abate do rito, pelo contrário, mandou a Congregação dos Ritos ENFEITÁ-LO com vestes, gestos e língua litúrgica do vetus ordus, e há tempos promete uma Reformula Reformulorum do intróito ao cabo dele, no dizer de Machado de Assis. O Papa quer JUSTAMENTE a "mistura das liturgias", ou melhor, que o rito novo seja inculturado sem dó nem economia pelo rito de tridentino sempre para que o Rito Romano volte a ser único. E o Motu Proprio Summorum Pontificum foi o pontapé inicial nessa Reforma da Reforma com o crescimento da Missa tradicional pelo mundo. Na Alemanha houve um aclínio de 480%.
Cabe aqui no artigo uma consideração do confrade Rafael Vitola à respeito:
" Para trabalharmos com o real - que faria ser uma utopia a proibição pura e simples do rito moderno -, uma solução seria que a "reforma da reforma" procurasse é fazer "retroceder" o rito NOVO, introduzindo nele rubricas e práticas, pouco a pouco, que o fizessem cada vez mais similar ao rito tradicional.
Quando falamos em "reforma da reforma", não se trata de mexer no Missal de 1962, ao menos não por enquanto, e sim no Missal de 1970. Se o rito tradicional ficasse como o de 1965, seria um erro, mas se o rito moderno é que voltasse ao de 1965, ou ao de 1962 mas com algumas práticas do rito novo preservadas, já seria uma boa notícia.
E, depois, quando o rito moderno ficasse muito mais "inserido na tradição litúrgica", aí, sim, uma unificação seria algo natural, e só se introduziria pontos positivos do rito novo no rito antigo se fosse respeitado o princípio do desenvolvimento orgânico.
Um maior rigor na vigilância do rito novo, io incentivo ao gregoriano e à polifonia, a obrigatoriedade do versus Deum e da Comunhão de joelhos e na boca, bem como um mais amplo uso do latim, seriam primeiros passos. Depois, a troca do atual ofertório pelo tradicional, o uso exclusivo do Cânon Romano, regras mais claras quanto aos tipos de Missa, restauração das Quatro Têmporas, das Rogações, da Septuagésima, das Missas de Réquiem tradicionais, etc, seriam outros passos a serem implementados no rito moderno, mantendo, NELE - e só nele, nada de, por enquanto, mexer no rito tradicional -, os pontos positivos.
É esse, aliás, o "goal" do Salvem a Liturgia, e penso ser o mote do Papa. Ampliar o uso da forma extraordinária e favorecer um modo "tradicional" de celebrar a forma ordinária.
Insisto na celebração ortodoxa da forma ordinária não porque a considere exatamente igual em seus acidentes à extraordinária, ou para fingir que tudo está ótimo, e sim para evitar uma dicotomia que muito prejudicaria uma correção de percurso: qual seja, o isolamento da forma extraordinária como "rito dos que não querem bagunça", como se a forma ordinária pudesse ser feita de qualquer jeito. Se assim acontecer, tenho pena de nossos irmãos nas paróquias que não têm acesso ao rito tradicional.
Primeiros passos são esses: popularizar o rito tridentino, e celebrar de modo ortodoxo o rito moderno. Segundo passo: introduzir no rito novo elementos tradicionais, paulatinamente, até que ambas as formas fiquem muito parecidas. Só no fim, poderá haver uma unificação e, aí, sim, os pontos positivos que sobreviverem do rito novo podem ir para o único rito romano que haveria.
Fazer as coisas no "canetaço" [ voltar logo o rito tridentino e abandonar o novo ] é ignorar as disposições de alma dos fiéis. Pode ser tão traumático como foi a implementação do rito novo. As coisas devem seguir um desenvolvimento harmônico. De modo natural, com passos firmes, mas prudentes, de Roma e seus colaboradores, as coisas entram nos eixos.
Não nos cabe forçar as coisas, mas, além de rezar, criar as condições para que o Papa e seus auxiliares, seja na Santa Sé, seja nos institutos especialmente preocupados com a liturgia, possam fazer o seu trabalho. "
Finalizo com uma reflexão da Serva de Deus Madre Maria Teresa de Jesus Eucarístico (cuja vida foi mostrada recentemente num belo programa da CN) ensinava que para participar frutuosamente do Santo Sacrifício é preciso unir os nossos sacrifícios e imolações aos do Senhor, pois Ele já não pode mais sofrer (o Sacrifício da Missa é incruento), então, dizia ela, que devemos sofrer e nos imolar por Ele.
Dizia ainda que os nossos sacrifícios são simbolizados naquela pequena gota d'água unida ao vinho, no cálice: "A gota de água que o Sacerdote põe no cálice é a parte de imolação que devemos levar" (Conferência de 3/7/1941).