“A Suma Teológica de Santo Tomás de Aquino em forma de Catecismo” do Pe. Tomas Pégues, O. P., é uma excelente obra para aqueles que desejam iniciar o estudo da Obra Magna de Santo Tomás. Um tanto raro aqui no Brasil, haja vista que sua última edição em português data do início da década de 40, este livro é formulado como todos os catecismos tradicionais em perguntas e respostas e é de agradável leitura.
SEGUNDA PARTE: O HOMEM PROCEDE DE DEUS E PARA DEUS DEVE VOLTAR
VI. DO MÉRITO E DEMÉRITO EM GERAL
Unicamente por meio dos seus atos (VI, Prólogo).
Que ações merecem tão grande recompensa?
As ações virtuosas.
O que entendeis por "ação virtuosa"?
Aquela que a vontade humana executa em conformidade com a vontade divina e sob o impulso da graça (VI.-CXIV).
Que condições o ato humano há de reunir para ser voluntário?
Há de ser espontâneo e feito sob conhecimento de causa (VI. 1-8).
Que entendeis por ação espontânea?
Aquela que a vontade executa por impulso próprio e isenta de violência e coação (VI. L. 4, 5, 6).
De quantas maneiras pode obrigar-se o homem a executar atos contra sua vontade?
De dois: por meio da violência e do medo (VI. 4, 5, 6).
O que entendeis por violência?
Toda força exterior que impede o exercício voluntário dos membros ou os obriga a executar atos que a vontade recusa (VI. 4, 5).
O que entendeis por medo?
Um movimento interior que, em determinadas circunstâncias, e para evitar males que se consideram iminentes, arrasta a vontade a consentir no que, em outras circunstâncias, não consentiria (VI. 6).
São voluntários os atos realizados por violência?
São involuntários quando procedem de violência exterior (VI. 5).
Por que ajuntais a palavra "exterior" à violência?
Porque, em certas ocasiões, também se chama "violência" o movimento interno da ira.
Neste caso, e no caso de outros movimentos interiores que excitam ou inclinam a vontade pode-se falar também de ato involuntário?
Não, a menos que por ventura esses movimentos interiores sejam tão violentos a ponto de privar o homem do uso de sua razão (VI. 7).
Os atos praticados por medo são voluntários?
Sim; mesmo que juntos com alguma coisa de involuntário; porque, embora nestes casos não se possa negar, em absoluto, o consentimento da vontade, esta, todavia, consente a seu pesar e para evitar males maiores (VI . 6).
Que quereis dizer quando afirmais que o ato voluntário deve realizar-se com conhecimento do fim?
Que, se o agente se engana no que há de fazer, o ato é involuntário (VI. 8).
Então, tal ato é sempre involuntário?
Só é involuntário se o agente, conhecendo o erro, o não executaria (VI. 8).
Os atos ou omissões que procedem do erro ou da ignorância podem, apesar do que foi dito, ser voluntários?
Sim, quando o sujeito é culpado da ignorância ou do erro (VI. 8).
E quando o sujeito é responsável pela própria ignorância ou erro?
Quando recusa ou é negligente, com negligência culposa, no aprender as suas obrigações (VI. 8).
Deve-se levar em conta as circunstâncias que acompanham um ato voluntário para apreciar devidamente a sua moralidade?
Sim, e nada é mais importante do que o peso das circunstâncias de um ato humano, a fim de apreciar o seu verdadeiro valor (VII. 1, 2).
É possível enumerar essas circunstâncias?
Sim; estas circunstâncias são as de pessoa, de objeto, de consequências, de lugar, de intenção, de meios empregados, e de tempo (VII. 3).
O que se entende por cada uma delas?
Referem-se ao caráter ou condição do agente, à realidade do fato ou a seus efeitos e consequências, ao lugar de operação, ao fim ou objeto que se propõe o operante, aos meios e auxílios que utiliza e ao tempo em que a executa (VII. 3).
Qual dessas circunstâncias é a mais importante?
O fim do operante (VII. 4).
Os atos que chamamos voluntários procedem sempre da vontade?
Sim; ou exclusiva e imediatamente, ou mediante as outras faculdades e membros exteriores, sob as ordens e impulso da vontade (VIII.-XVII)..
Logo, o valor dos atos humanos e sua virtualidade para nos acercarmos ou afastarmo-nos da bem-aventurança tem raízes exclusivamente na vontade?
Sim; porque o ato só tem valor quando o executa a vontade, ou só, ou por meio das outras faculdades (VIII.-XXI).
Entre os atos interiores da vontade, qual é o mais importante e que leva como vinculada a responsabilidade?
É o ato de escolher ou a eleição (XIII. 1-6).
Por que o ato de escolha ou eleição tem essa importância?
Porque, mediante a eleição, a vontade, com conhecimento de causa e prévia deliberação, adere a um bem determinado que desde logo aceita e ao qual trata de apropriar-se com preferência a outros (XIII. 1).
A eleição é propriamente um ato do livre arbítrio?
Sim (XIII. 1).
Logo, os atos humanos tomam o seu caráter moral e o valor de meios para conseguir a bem a bem-aventurança, da faculdade de eleger?
Sim.
Como se divide a eleição?
Ela é dividida em "boa eleição" e "má eleição" (XVIII.-XXI).
O que é uma "boa eleição"?
É aquela em que são bons o objeto, o fim e as circunstâncias (XVIII.-XIX)..
De onde é derivada a bondade de um objeto, de um fim, e das circunstâncias?
Da conformidade com a reta razão (XIX. 3-6).
O que se entendeis por “reta razão”?
A razão humana que opera esclarecida com a luz divina, ou ao menos, quando voluntariamente não lhe opõe obstáculos.
Logo, para que ato seja bom, é necessário que o objeto seja conforme a reta razão, que esta aprove o fim e não oponha reparo de circunstâncias?
Sim; e se falta alguma das ditas condições, o ato deixa de ser bom e se converte, ainda que em graus distintos, em ato mau (XVIII.-XXI).
Como se chamam as más ações?
Chamam-se "culpas" ou "pecados" (XXI. 1).
