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Amor não correspondido: a auto-destruição de Adéle Hugo


Victor Hugo foi o autor mais celebrado da França, provavelmente um dos escritores mais populares de todos os tempos. Ícone não só literário, ele foi uma figura importante também pela sua ativa participação política no conturbado cenário francês do século XIX. Morto em 1885, seu funeral teve a presença de aproximadamente dois milhões de pessoas. 

A história de Adèle H., filme francês de 1975, conta a história de Adèle Hugo, filha do escritor de Os miseráveis. A filha de Victor Hugo tornou-se uma personagem mítica de seu tempo. Seus diários foram descobertos posteriormente e revelaram ao mundo a história de um amor obsessivo. Adèle nasceu em 1830 e morreu em 1915, aos 85 anos. Durante o período de exílio de sua família na Ilha de Guernsey, motivado pela ascensão de Napoleão III ao poder, Adèle é seduzida por Albert Pinson, um oficial inglês. Em 1863, ela atravessa o Atlântico até Nova Escócia (EUA) atrás do grande amor da sua vida. O oficial, no entanto, não quer nada com ela. Ela faz de tudo para conquistá-lo, se humilha, pede dinheiro emprestado ao pai, persegue Albert, mas tudo em vão. Ela acaba ficando louca e passa o resto da sua vida (1872 – 1915) em um manicômio. 

Do ponto de vista teológico, amar demais pode ser nocivo para a alma do católico?
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Esse termo ama demais é totalmente incoerente com esse tipo de fixação doentia que uma pessoa nutre por outra. Quem ama de verdade quer o melhor para a outra pessoa e percebe que a companhia dela com sua não pode ser vivida por algumas razões ou sentimentos destrutivos vividos.


A questão de amor inato é complicada, afinal fisiologicamente temos aumentos significativos de hormônios e afins quando estamos apaixonados (serotonina, neuroepinefrina e oxitocina por exemplo), é uma busca à homeostase, à plenitude, então ela será sempre latente no individuo.

Reforçamento positivo não é sinônimo de amor, mas ajuda a manter a existência deste; se há benefícios mútuos, o relacionamento permanece; se não há, é provável que termine.

O grande problema, é que amor é só uma palavra, um signo, que representa algo individual, uma busca por motivos próprios... Eu particularmente acho meio reducionista querer direcionar um sentimento. Mas é interessante tratar dessa combustão química alojada em nosso cérebro.

Amor pode ser definido como a projeção de partes não constituintes em si próprio em outrem. A sensação de completude que se da na junção do masculino e o feminino, e os seus derivados distintos que cada um possui.

Dei uma estudada pois achei o assunto interessante, e acabei encontrando uma fonte, mas no caso, sobre a definição resumida sobre como poderiamos rotular o “amor”, se bem que, não envolvendo teorias relacionadas a psicanálise, Behavorismo, gestalt ou outras áreas do gênero. Já ouviram falar de C.S. Lewis?

Ele teorizou o amor de quatro formas:

Eros: O amor-paixão, com conotação romântica, ou melhor, o “amor” que refere-se ao que muitos por aí se referem.

Philia: Referente a “amizade”.

Storge: O “afeto”.

Agape: O que supõe ser um ato de “caridade”, o ato de prestar favores sem receber.
“Eros” seria o amor adquirido filogeneticamente, “Phillis” seria o amor que se desenvolve ontogeneticamente e “Ágape” o que se desenvolve culturalmente.

A definição de “amar eternamente”, só depende da reciprocidade trocada.

As vezes, um relacionamento é posto em primeiro lugar o desejo, a carícia, em primeiro lugar, e outros fatores como a “afinidade”, a “amizade” (outra forma de “amor”) não é aplicada neste relacionamento. O que deve ser analisado é somente de que forma ambos estão buscando este “amor”.

A paixão altera as funções químicas do cérebro como doenças tais como depressão e esquizofrenia, muda o comportamento do individual fazendo-o se tornar um bobo alegre, podendo levar a cometar atos insanos por causa dos sentimentos intensos que sente, é uma loucura que gira em torno de um objeto de desejo o outro(a), a dor vem junto com a alegria de pensar/estar com o o outro(a), o há os processos bem minunciosamente que desencadeiam esses comportamentos todos cada um.

Não existe um padrão de comportamento para a paixão, pois cada pessoa vai funcionar de uma forma diferente. Fisiologicamente podem ter padrões neuroquímicos do que acontece quando alguém está apaixonado, mas como a pessoa vai reagir a isto... Assim como a gente sabe a fisiologia de uma depressão, mas que pra cada pessoa, a depressão vai ser de uma forma diferente, vai demorar um tempo diferente, vai ter um tratamento diferente. Principalmente em casos de adultério.

O amor patológico é uma doença que causa dependência como se fosse uma droga, só que nesse caso, a droga não é um produto químico ou álcool, é o parceiro ou parceira. E atinge com mais freqüência as mulheres, mas os homens também podem sofrer desse mal. As áreas do cérebro que são ativadas quando se está interessado por alguém são as mesmas da obsessão. É uma sensação química e quando o amor passa a ser doentio a pessoa tem crises se está longe ou sem o parceiro, tem sentimentos de culpa. É como se fosse uma droga que não se pode ficar sem. 
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A pessoa doente se torna impulsiva e compulsiva devido ao vício. O amor se transforma em um sentimento destrutivo e que em alguns casos pode ocasionar tragédias como crimes e suicídios. Quando o amor vira doença muitas vezes ele vem associado a quadros de depressão, fobias - como a síndrome do pânico - e ansiedade.


Adéle passou por uma etapa de auto-destruição por conta desse amor doentio, não se alimentando, não se banhando, e nem cuidando do espírito. Esse processo é como um suicídio em passos lentosMata indiretamente a si mesmo quem, conscientemente, pratica uma ação que visa a um efeito bom, compreendido o desejado, capaz, porém de também causar a morte. Neste caso, o efeito bom compensa o mau. É lícito atirar-se da janela para fugir a um incêndio; para fugir do violador do próprio pudor; para evitar o cárcere, etc. É lícito, na guerra, fazer saltar um depósito de pólvora, uma fortaleza, uma nave etc, mesmo com perigo certo da própria vida. É lícito, por caridade ou por profissão, servir os pestilentos, os leprosos ou outros doentes infecciosos. (DEL GRECO, Fr. Teodoro da Torre, OFMCap. op. cit., p. 229)

O amor desenfreado gera uma necessidade violenta de reação, determinada por um sofrimento ou contrariedade física ou moral. Esta contrariedade desencadeia uma emoção violenta que distende os forças no intuito de vencer a dificuldade: sentem-se então impulsos de descarregar a cólera sobre pessoas, animais ou coisas.


Quando a cólera é simplesmente um movimento transitório de paixão, é de sua natureza pecado venial: porque então há excesso na maneira por que ela se exerce, neste sentido que ultrapassa a medida, mas não há, assim o supomos, violação das grandes virtudes da justiça ou da caridade. - Há casos contudo em que é talo excesso, que o colérico perde o domínio de si mesmo e se deixa arrastar a graves insultos contra o próximo. Se estes movimentos, posto que passionais, são deliberados e voluntários, constituem falta grave; muitas vezes, porém, não passam de semi-voluntários.

Estes remédios devem combater a paixão da cólera e o sentimento do ódio que às vezes dela resulta:

Há meios higiênicos, que contribuem para prevenir ou moderar a cólera: tais são um regime alimentício emoliente, banhos tépidos, duchas, abstenção de bebidas excitantes, e em particular das alcoólicas: por causa da união íntima entre o corpo e a alma, é mister saber moderar o mesmo corpo. Mas, como nesta matéria, é preciso ter em conta o temperamento o estado de saúde, requer a prudência que se consulte um médico

Mas os remédios morais são ainda melhores.

Para prevenir a cólera, é bom acostumar-nos a refletir, antes de fazer qualquer coisa, para nos não deixarmos dominar pelos primeiros ímpetos da paixão: trabalho de longa duração, mas eficacíssimo.

Quando esta paixão, a despeito de todas as cautelas, nos sobressaltou o coração, melhor é sacudi-la com presteza que querer negociar com ela; porque, por pouco lugar que lhe demos, se faz senhora de toda a praça, havendo-se como a serpente que introduz facilmente todo o corpo, por onde pode meter a cabeça... É mister, logo que a sentirdes, convocar prontamente vossas forças, não áspera nem impetuosamente, mas suave e ainda assim seriamente. Aliás, se quisermos reprimir a cólera com ímpeto, mais nos perturbaremos. A. Tanquerey, Teologia Ascética e Mística, nº 853 - 863 

A cólera, que é vício capital, é um desejo violento e imoderado de castigar o próximo, sem atender às três condições indicadas. Muitas vezes é a cólera acompanhada de ódio, que procura não somente repelir a agressão, mas ainda tirar dela vingança; é um sentimento mais refletido, mais duradouro, e que por isso mesmo tem mais graves consequências.


A cólera tem graus:

Ao princípio, é apenas um movimento de impaciência: mostra-se mau humor à primeira contrariedade, ao primeiro revés;

Depois, é arrebatamento, que faz que um se irrite desmedidamente e manifeste o descontentamento com gestos desordenados;

Às vezes, vai até à violência e traduz-se somente por palavras, mas até por golpes;

Pode chegar ao furor, que é uma loucura passageira ou permanente; o colérico nesse caso já não é senhor de si mesmo, mas deixa-se arrebatar a palavras incoerentes, a gestos tão desordenados que antes se diriam um verdadeiro acesso de loucura;

Enfim, degenera por vezes em ódio implacável que não respira mais que vingança e vai até desejar a morte do alvo não correspondido.


A auto-destruição pelas drogas 

O mal principal do abuso de drogas é a destruição da consciência moral. Segue-se que as conseqüências atrozes de seu uso são inseparáveis disso​​, e estão ligadas às drogas em si mesmas. Isso inclui a quebra da lei para o consumo delas, os meios de obtê-las, como roubo, e o esforço para vendê-las a outros, muitas vezes menores ou crianças. Outras conseqüências incluem a incrível auto-indulgência, que acompanha o desejo quase insaciável de experiências sempre mais excitantes, pecados de blasfêmia, muitas vezes o rock satânico, e os pecados contra a pureza e castidade, que são a conseqüência da perda da vergonha e da consciência. 

Os pecados contra a caridade e a justiça abundam, tais como desobediência aos superiores e a recusa a cumprir os deveres na escola ou no trabalho, para não mencionar as más companhias, que são o terreno fértil para todos os vícios. Resultados a longo prazo são também derivam do consumo das drogas, e incluem coisas como a dependência física e emocional, a passagem de drogas leves para pesadas, o dano causado ao corpo e à saúde em geral pelo seu uso prolongado, culminando com o cérebro frito que não pode mais usar a razão claramente e muito menos fazer um julgamento moral. É um pecado mortal colocar a saúde física e espiritual em perigo imediato, mesmo se uma pessoa acha que é imune a tal perigo (“isso não vai acontecer comigo”).” Is it a mortal sin to use drugs?- Pe. Peter Scott, FSSPX 1999 traduzido por Thiago Santos de Moraes, Fumar maconha é pecado mortal? Apologética.nig


Devemos invocar o auxílio de Deus, quando nos vemos agitados pela frustração do amor não correspondido, à imitação dos Apóstolos, combatidos pelo vento e tempestade no meio do mar, porque Deus mandará às nossas paixões que sosseguem e sobrevirá grande tranqüilidade.

Quando o amor patológico excita em nós sentimentos de ódio, rancor ou vingança, é impossível curá-los radicalmente com outro remédio que não seja a caridade fundada no amor de Deus. É caso, então, de nos lembrarmos que somos todos filhos do mesmo Pai celestial, incorporados no mesmo Cristo, chamados à mesma felicidade eterna, e que estas grandes verdades são incompatíveis com qualquer sentimento de ódio. Assim pois:

Recordaremos as palavras do Pai-Nosso: perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido; e como desejamos vivamente receber o perdão divino, de mais bom grado perdoaremos aos nossos inimigos.

Não esqueceremos os exemplos de Cristo Senhor Nosso, chamando a Judas seu amigo, ainda no momento da traição, e orando do alto da cruz pelos próprios verdugos; e pedir-lhe-emos ânimo para esquecer e perdoar.

Evitaremos pensar nas injúrias recebidas e em tudo que a elas se refira. Os perfeitos orarão pela conversão de quem as ofendeu, e encontrarão nesta prece bálsamo suavíssimo para as feridas da sua alma.

Referências:

A história de Adèle H. - 1975, Leonardo Alexander - Clube do filme

Amor Patológico, website Grupo Mada
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PARA CITAR ESTE ARTIGO:
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Amor não correspondido: a auto-destruição de Adéle Hugo

David A. Conceição 03/2015 Tradição em Foco com Roma.

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