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A liturgia anglicana tradicional


A St. Clement's Church possui uma bela liturgia, mas isso só não basta. Eles são anglo-católicos, enfim herdeiros daqueles devotos anglicanos que redescobriram a fé antiga destruída pela Reforma protestante do século XVI, no século XIX, a partir, mais ou menos, de 1830, entre notáveis e cultos eclesiásticos e leigos ligados à Universidade de Oxford, entre eles: John Henry Newman, Edward B. Pusey, Richard Keble Froude, John Kebble, W. G. Ward. Com essa redescoberta, veio à tona, os usos da igreja pré-reforma, com altares, paramentos, devoção aos santos e principalmente a redescoberta dos sacramentos, especialmente da Eucaristia, como sacrifício e sua real presença. Só que faltava algo fundamental: a legítima sucessão apostólica.


Como consequência, muitos aderiram, definitivamente, à Igreja Católica, entre eles: Newman, F. Oakeley, F. W Faber e outros, sendo re-ordenados sacerdotes. Mais tarde, os seguiram proeminentes anglicanos como: Henry E. Manning, J. R. Hope-Scott, R. I. Wilberforce, Henry Wilberforce. Outros, no entanto, permaneceram no meio do caminho como: Kebble, Pusey, E. W. Church... que rejeitavam o protestantismo (evangélico da Low Church), mas não aceitavam a jurisdição universal do Bispo de Roma e ulteriores desenvolvimentos da fé católica a partir do Concílio de Trento.

Esta igreja, St. Clement's, segue esta última corrente, indo mais além, adotando toda a piedade católica tradicional, inclusive até certos anacronismos como o uso das "luvas episcopais", mas faltam-lhes, a bem da verdade, o principal, a legitimidade da sucessão apostólica o que põem em dúvida a validade dos sacramento da Ordem e como consequência, os sacramentos da Eucaristia, Penitência, Confirmação e Unção dos Enfermos.

Enfim, sua bela liturgia, usando inclusive, da música católica barroca, torna-se insuficiente e acaba-se transformando, ainda que belo, num teatro.

No entanto, a lição é válida por outro lado aos católicos. Não foram poucos os sacerdotes e mesmos bispos que a partir do Concílio Vaticano II, a pretexto de um falso e apressado ecumenismo, adotaram notárias posições protestantes, inclusive sobre o verdadeiro valor da Eucaristia, do magistério da Igreja, do relativismo subjetivo da moral.

Está certo o Santo Padre Bento XVI em lembrar a Igreja sobre os valores nova et vetera.

É bom mostrar que os anglo-católicos também deram origem a um série de comunidades monásticas, que só indicam que nosso esforço em integrá-los à Igreja pode ser a base de muitos frutos espirituais.

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Os anglicanos da High Church são , também , chamados de anglo-católicos Sua liturgia é baseada no Book of Common Prayer e o culto é muitíssimo parecido com a Forma Extraordinária do Rito Romano embora não seja uma verdadeira Missa.

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O Uso Anglicano para os convertidos

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E o que vem de propriamente anglicano nesse uso é, na verdade, o chamado Uso de Sarum, ele próprio uma variação do rito romano em uso entre os anglo-saxões convertidos por Santo Agostinho de Cantuária, e que perdurou séculos. Lembremos que o Missal de São Pio V não chegou a vingar na Inglaterra, de vez que o cisma de Henrique VIII ocorreu antes de sua promulgação.

A Inglaterra católica pré-reforma utilizava o rito romano conforme o uso de Sarum (e assim continuou nas catacumbas após o Ato de Supremacia), e os anglicanos, antes de fabricarem, sob Crammer, sua própria liturgia, também. Aliás, até o rito de Crammer mescla elementos calvinistas com o uso de Sarum. Só séculos mais tarde, alguns católicos passaram a utilizar o rito de São Pio V.

Já os bretões utilizavam um rito próprio, bem diferente do romano: o chamado rito celta, que se extinguiu, mas que em muito lembrava o rito galicano e o bracarense (pois são povos celtas também), os quais, por sua vez, são descendentes de certas influências dos ritos orientais sobre as antigas e extintas liturgias ocidentais.
(Rafael Vitola Brodbeck)
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As Ordenações anglicanas não são válidas, como foi definido pelo Santo Padre Leão XIII, de veneranda memória , por uma Bula Apostólica Apostolicae Cureae.
irritas prorsus fuisse et esse omninoque nullas


Resumidamente, isso se deve a defeitos de forma e intenção na ordenação anglicana, isso desde sua criação, em 1552, por Eduardo VI.

Salvo engano, ela era chamada de
Edwardine Ordinal. Aproximadamente um século depois os anglicanos reconheceram o erro e acrescentaram as palavras para o ofício e função de padre. Mas, mesmo com a mudança, a fórmula continua imperfeita e também a intenção.

A declaração de Leão XIII é, segundo o então Eminentíssimo e Reverendíssimo Cardel Joseph Ratzinger, definitiva quanto a isso -- não poderia ser diferente! 

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O anglicanismo se criou por um motivo fútil do então rei da Inglaterra, Henrique VIII. O então Cardeal Ratzinger comenta isso no Motu Proprio Ad Tuendam Fidem e a Igreja Católica continua seguindo, em tese, a decisão do cardeal Reginald Pole, último arcebispo católico de Canterbury, que faleceu, quase que simultaneamente à Rainha Mary I, filha de Henrique VIII, o que levou o trono inglês à filha de Anne Boleyn, à protestante Rainha Elisabeth I, que estabeleceu o anglicanismo nos moldes atuais.

Embora, o Cardeal Pole não tenha ordenado nenhum bispo, deixou clara a sua decisão, e que todos aqueles
ordenados desde o cisma anglicano, quando Cramner promulgou o Book of Common Prayer, deveriam ser re-ordenados para o múnus católico.

É verdade que o Book of Common Prayer foi revisto um século ou mais depois, restaurando a forma tradicional de ordenação, mas aí, a sucessão apostólica legítima já fora perdida. É sobre este ótica que deve ser lida a Apostolicæ Curæ, do Papa Leão XIII, embora os anglicanos tenham contestado através da Saepius Officio.


No entanto, depois do pronunciamento de Leão XIII, os anglicanos procuraram através de pequenos grupos cismáticos (os
Velhos Católicos, jansenistas da Holanda e mesmo entre as Igrejas Ortodoxas) a presença de um bispo destas comunidades nas sagrações episcopais anglicanas.

Hoje, todos os bispos anglicanos fazem questão de receber a ordenação desta nova linhagem episcopal. Quando o Dr. Arthur Michael Ramsey visitou a Santa Sé em 1967 - era a primeira vez que, oficialmente, isso ocorria desde o século XVI, já que o encontro do Dr. Fisher com João XXIII em 1962 fora de forma reservada - o Papa Paulo VI pediu de antemão uma investigação sigilosa sobre a ordenação do Dr. Ramsey e chegou-se a conclusão que se tratava de um bispo com ordenação válida, embora ilegítima.

De mesma forma, foram tratados os seus sucessores: Coogan, Runcie, Carey e atualmente, o Dr. Rowan Williams. Atualmente, todos os ministros anglicanos recebidos na Igreja Católica, quando são ordenados sacerdotes, são ordenados sub-conditione. É provável que esta prática seja seguida.

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Os anglicanos não acreditam na Presença Real de Nosso Senhor Jesus Cristo, em Corpo, Sangue, Alma e Divindade no Sacramento da Eucaristia, muito menos na Transubstanciação.

Porém muitos Anglo-Católicos ( da High Church ) acreditam. Embora a Igreja Anglicana não tenha o Sacramento da Eucaristia nem o Sacerdócio, existe sim, um verdadeiro e belo patrimônio espiritual e até mesmo litúrgico, que deve ser preservado, como afirma o Santo Padre Bento XVI gloriosamente reinante no Anglicanorum Coetibus.

Sempre houve dentro da Comunhão Anglicana duas vertentes: a High Church e a Low Church. A High Church é muito próxima das tradições católicas, ao passo que a Low Church é muito próxima das confissões evangélicas.

No seio da High Church desevolveram-se ao longo destes mais de 400 anos de ruptura cismática , vários grupos que desenvolveram vocações para a vida religiosa mesmo faltando a eles a plenitude da Fé e a união com a Cabeça da Santa Igreja , que é o Sucessor de Pedro , o Santo Padre o Papa. Como resultado desta deficiência, estas comunidades de religiosos anglicanos são muito pequenas e pouco desenvolvidas.

Falta a elas a linfa da Santa Igreja , o que as faz serem como que ramos muito fracos e raquíticos.

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Anglicanos, quem são eles?
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Os anglicanos eram de início, um mero cisma e nesse momento tinham a sucessão. Mais tarde, ao aderirem princípios do protestantismo, perderam a intenção de fazer o que a Igreja faz e, além disso, usaram por certo período uma forma inválida.

Portanto, o troco central do anglicanismo não tem sucessão por uma falha de forma e intenção. Digo o "tronco central" porque após as declarações de Roma no século XIX verificando a invalidade das ordens anglicanas, pequenos grupos anglo-católicos conseguiram a sucessão por meio de "ortodoxos" ou vétero-católicos com sucessão.

Foi São Gregório Magno que mandou um de seus monges – Santo Agostinho de Cantuária (que não é o famoso Santo Agostinho, bispo de Hipona, na África) catequizar os anglos. Santo Agostinho se tornou o grande Apóstolo da Inglaterra, Arcebispo de Canterbury, e primaz da Inglaterra.

Os reis ingleses, desde muito cedo, tentaram dominar a Igreja. Para isto se aproveitavam das dificuldades de comunicação com Roma, para se apossarem de bens da Igreja, e pretenderem dar a investidura aos Bispos, direito que é do Papa. Essa tentativa de dominar a Igreja na Inglaterra causou perseguições a Santo Anselmo, assim como o assassinato de São Thomas Becket. (ambos arcebispos de Cantuária).

São Tomás Becket sofreu exílio durante anos, para não ceder às pretensões regalistas do Rei Henrique II. Quando o próprio Papa Alexandre III cedeu às intrigas do rei, São Thomas Becket teve que voltar à Inglaterra, sabendo que o rei o mataria. E foi o que aconteceu. São Thomas Becket foi assassinado na própria catedral de Canterbury.

Foi martirizado por defender os direitos do Papa e as imunidades da Igreja, frente as pretensões absolutistas do rei Henrique II da dinastia Plantageneta. Isso foi no século XII. As tendências regalistas dos reis da Inglaterra prosseguiram. A decadência do poder papal cresceu a partir do século XIV, quando os reis da França forçaram os Papas a residirem em Avignon.

Inglaterra e Alemanha passaram a ver o Papa como um mero capelão do rei da França e não mais como juiz imparcial entre as nações da Cristandade. Este foi um dos motivos que auxiliaram a Alemanha e a Inglaterra a caírem na heresia e no cisma, pela Reforma, no século XVI.

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O nascimento da pseudoigreja anglicana foi motivado, em primeiro lugar, pelo desejo do Rei Henrique VIII de se divorciar de sua esposa Catarina de Aragão.

Essa rainha era filha dos reis de Espanha, Isabel de Castela e Fernando de Aragão, e ela se casara, com o Rei da Inglaterra, irmão de Henrique VIII, mas esse rei morreu sem consumar o casamento com ela.

Inglaterra e Espanha, então, pediram ao Papa que concedesse licença a Henrique VIII, irmão e herdeiro do rei falecido e que não consumara o casamento com Catarina de Aragão, a casar-se com ela, afim de manter a aliança das duas nações.

Roma, tendo em vista que o casamento se dera apenas no papel, permitiu a Henrique VIII que se casasse com Catarina, visto que eles eram cunhados apenas documentalmente, e não realmente. Eles se casaram e tiveram uma filha, Maria Tudor, que será Rainha da Inglaterra.

O casal real não teve filhos homens, a rainha Catarina tendo sofrido várias perdas de gestação por aborto involuntário, é claro. Depois de quase trinta anos de matrimônio, Henrique VIII se apaixonou por uma mulher leviana e protestante, Ana Bolena, e pretendeu anular seu casamento com Catarina de Aragão, porque ela seria sua "cunhada".

Para isto ele pediu ao Papa que anulasse o seu casamento, assim como a licença que ele pedira a Roma – e que Roma dera – para casar-se com Catarina de Aragão. O Papa negou a Henrique VIII a nulidade de seu casamento com Catarina, reafirmando que o casamento fora legítimo.

Como o Papa não cedeu nem a subornos, nem a ameaças, o Rei Henrique VIII proclamou-se chefe supremo da Igreja na Inglaterra, concedeu a si mesmo o divórcio e a licença para casar-se com Ana Bolena (de cuja mãe ele fora amante). Casou-se com Ana Bolena, e foi excomungado por sua rebeldia contra Roma, por assumir a chefia da Igreja na Inglaterra.

Ele forçou o episcopado inglês a apoiá-lo. Só o Bispo de Exeter, João Fisher, resistiu e permaneceu fiel ao Papa. Henrique VIII cortou-lhe a cabeça, e o Papa proclamou São João Fisher mártir da Fé.

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Outro martírio importante foi o de Thomas Morus, antigo Chanceler de Inglaterra, que não aceitou a usurpação da chefia da Igreja por Henrique VIII, e nem o divórcio do Rei.

Henrique VIII decapitou Thomas Morus, que o Papa, por isso, elevou aos altares como mártir. Houve uma perseguição enorme contra aqueles que se mantinham fiéis ao Papa, havendo inúmeros martírios de sacerdotes e de leigos.

O Rei teve de Ana Bolena uma filha, Isabel, que vai ser a rainha que consolidará o cisma e a heresia anglicana. Entretanto, o Rei não ficou muito tempo com Ana Bolena. O fato de que ela não teve um filho, como o rei queria, e o fato de que o rei já não tinha paixão por ela, levaram-no a querer se livrar dela.

Isso não foi difícil.

O Rei se aproveitou de provas das ligações sexuais de Ana Bolena com cortesãos – ele a acusou até de ser amante do próprio irmão dela – para condená-la à morte por adultério. O Rei se casou seis vezes, tendo matado várias de suas amantes. A última só se salvou do patíbulo, porque o rei morreu antes.

A coroa inglesa foi herdada pela legítima filha de Henrique VIII e Catarina de Aragão, Maria Tudor, que era católica, e que fez a Inglaterra voltar à união com Roma. Ela se casou com o Rei da Espanha Felipe II, mas eles não tiveram filhos.

A filha bastarda de Henrique VIII e de Ana Bolena, Isabel, era protestante secretamente, e como ela pretendia ter direito à Coroa – e os anglicanos esperavam que ela subisse ao trono e rompesse, de novo, com Roma – a Rainha Maria Tudor a manteve sob vigilância, e, depois presa.

Felipe II, esposo da Rainha Maria Tudor, se interessou por Isabel, quis conhecê-la, e quando a conheceu, apaixonou-se por ela. Desde então, vendo que Maria Tudor não teria filhos porque já era muito velha, planejou casar-se com Isabel, para manter a aliança com a Inglaterra e manter esse país unido a Roma católica.

Quando Maria Tudor descobriu que Isabel se envolvera numa conspiração para matar a rainha e assumir a coroa, a Rainha quis condenar Isabel à morte, mas Felipe II não permitiu que isso ocorresse, protegendo Isabel.

Ao morrer a Rainha Maria Tudor, o trono inglês deveria ter passado para Maria Stuart, Rainha católica da Escócia, mas Felipe II favoreceu Isabel, e foi esta que subiu ao trono inglês.

Inicialmente, Isabel I, procurou disfarçar sua verdadeira posição religiosa, que só foi revelando aos poucos. Quando se sentiu firme no poder, ela rompeu, de novo, com o Papa, e restabeleceu o anglicanismo. Foi ela a verdadeira consolidadora da religião anglicana.
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Quando o Papa tomou conhecimento dessa traição, excomungou Isabel como herege.

Felipe II procurou impedir – e durante certo tempo conseguiu fazer isso – que a notícia da excomunhão chegasse na Inglaterra, colocando a frota espanhola guardando o Canal da Mancha para impedir que qualquer navio levasse o decreto de excomunhão para a Inglaterra.

Ele fez pior. Procurou casar-se com Isabel, chegando a fazer o seu embaixador dizer a ela que, por amor dela, ele seria capaz de renunciar à Religião.

Graças a Deus, esse plano de casamento de Felipe II com Isabel I falhou.

Isabel nunca se casou. Passou à História inglesa com o epíteto de "a Rainha Virgem", apesar de ter tido onze amantes. Ela era feiticeira, e favoreceu a pirataria, tornado-se participante dos lucros dos piratas ingleses. Ela perseguiu os católicos de modo brutal.

Prendeu e matou sua prima Maria Stuart. Favoreceu o protestantismo por toda a parte.

Fez triunfar o anglicanismo na Inglaterra.

Texto de William Thomas Walsh, Felipe II, (Ed. Espasa Calpe, Madrid, 1958). Extraído do site Montorft Origem do Anglicanismo

Estamos presenciando um momento histórico com a conversão em massa dos anglicanos pelo Ordinariato oferecido pelo Romano Pontifice. Rezemos por todos os anglicanos, por toda a Igreja e especialmente por Sua Santidade o Papa Bento XVI, gloriosamente reinante.

Que a união dos anglicanos descontentes à Igreja Católica sirva de exemplo para que outros cristãos separados também se incorporem à Una Sancta. E haverá apenas um só rebanho e um só pastor!

Espero que não demore o dia em que os ortodoxos estarão em plena comunhão com a Sé Romana.

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PARA CITAR ESTE ARTIGO:

Punição para estupradores

David A Conceição, 08/2012 Tradição em Foco com Roma RJ.


Domine Iesu, quem velatum nunc aspicio, Oro, fiat illud, quod tam sitio, Ut te revelata cernes facie, Visu sim beatus tuae gloriae. Amem.
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CRÍTICAS E CORREÇÕES SÃO BEM-VINDAS:

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