Em Armação dos Anjos, litoral carioca, o capitão reformado Jonas Rocha, viúvo com seis filhos, casa-se com a historiadora Carmem Maura, também viúva e com seis filhos. Eles terão problemas inéditos - além daqueles comuns a uma família numerosa - ao entrar em contacto com os vampiros que assolam a cidade com a chegada da famosa cantora Natasha para a gravação de um videoclipe.
Natasha, uma cantora de rock, vendeu sua alma ao terrível Conde Vladimir Polanski - o Vlad -, chefe dos vampiros, para brilhar na carreira. Mas ele descobre que em encarnações passadas ela era Eugênia, o seu amor, que preferiu ficar com Rocha, a outra vida do Capitão Jonas. O conde passa então a perseguir Natasha e a família do capitão, inclusive usando de seus poderes para envolver Carmem Maura.
Natasha, por sua vez, quer destruir Vlad para se livrar de sua maldição. A única arma de que dispõe para isso é a Cruz de São Sebastião, que está escondida em algum lugar em Armação dos Anjos. A cruz deve ser manejada por um homem chamado "Rocha". O herói é portanto o Capitão Jonas.
Essa é a sinopse da novela e é claro que o título que coloquei sobra a novela que está sendo reprisada no Canal Viva (Sky) é uma ironia. O que venho criticar aqui é sobre a postura de alguns católicos que insistem em ver algumas obras cinematográficas ou literárias - como por exemplo Senhor dos Anéis e Crônicas de Nárnia -com cunho católico e ainda transmitindo mensagens católicas, quando na verdade nada das obras na sua estética e conteúdo faz lembrar Nosso Senhor e a Igreja.
Um grande amigo e irmão em Cristo, Junior, lançou um vlog para atribuir catolicidade ao Harry Potter:
Do Padre Amorth: Muitos jovens na Itália e no mundo se entregam à magia e ao satanismo, às práticas de ocultismo, e atualmente, muitos destes jovens são levados a estas práticas, por exemplo, o grande número de vendas do livro de Harry Potter; um livro que faz com que a magia e ocultismo sejam coisas boas, e assim damos abertura para o demônio entrar em nós.
Especificamente sobre o vídeo, ele recebe o nome de "Cultura Medieval em Harry Potter!".
Harry Potter retrata a cultura medieval? Será? Quais argumentos o Junior usa para corroborar tal tese?
Vejamos: a barba do diretor da escola de magia e o fato dele ser gordinho, pois seria o arquétipo do bruxo medieval e a arquitetura gótica do lugar. Uma suposta relação sobre Hogwarts ter quatro tipos de turmas com o fato da Universidade de Toledo ter nascido também com quatro tipos de turmas... a pedra filosofal, o arquétipo do herói, a luta do bem contra o mal, e ainda no fim do vídeo ele afirma que a inspiração para esse conceito de luta de bem contra o mal (a coisa mais antiga da face da Terra) a autora teria tirado de A Divina Comédia de Dante Aliguieri! Até no Quadribol ele diz que há virtudes cristãs (se ampliarmos o horizonte dessa maneira, em qualquer esporte isso existe, pois muitas das virtudes cristãs são virtudes humanas, que muitos humanos não exercitam...)
Destaco duas frases do vídeo:
"a genialidade dessa mulher elevou a literatura a tal ponto que ela conseguiu marcar todas as gerações"
Menos, bem menos. Quase nada, ou nada. E ainda:
"Harry Potter é a personificação das virtudes cristãs uma espécie de cavaleiro medieval em formato de jovem e bruxo."
Essa aqui me chamou muita atenção. Quer dizer que HP seria a personificação das virtudes cristãs medievais, como o cavaleiro medieval era, por ele ser um pirralho bruxo??? Alguém conseguiu entender essa relação? Eu não consegui.
O que há de cristão num conto de fadas às avessas? Pois é isso que HP é: um conto de fadas às avessas. O herói, Harry Potter é um bruxo "bom". O enredo é uma luta, na verdade, do mal contra o mal. São bruxos contra bruxos (e quem não é bruxo é trouxa), sendo que uns bruxos são bons, outros são maus. Esses bruxos "bons" convivem com toda espécie de bizarrices e monstruosidades. O padrinho de Harry, Sirius Black é um bruxo que, quando necessário, assume a forma de um imenso cachorro.
O asqueroso é uma constante em Hogwarts, e não a procura do belo e do bom. O que é de fato importante e "bom" acontece no mundo dos bruxos, enquanto o mundo dos trouxas, os homens, é estúpido, sem graça, banal (poderiam dizer: "ora, mas Nárnia, do Lewis, também é um outro mundo para onde as crianças do livro são transportadas". Sim, é um outro mundo, mas não oposto ao mundo real. Não é um mundo de bruxos, onde o mal luta contra o mal. É um mundo onde o bem luta contra o mal. E um mundo para onde as crianças são levadas por algumas vezes, e depois nunca mais, pois, de acordo com Aslam, precisam viver nos seus próprios mundos. Aprender com Nárnia, mas pôr em prática no mundo real.).
Enfim. Não vejo graça alguma em HP. Não tem muito valor literário (não ao menos para "elevar a literatura" como o autor do vídeo afirma...), sendo simplesmente uma historinha boba. Mas cada um tem um gosto, não? Quem quiser ler que leia, quem quiser gostar que goste. Mas não tem necessidade de se ficar procurando justificavas para o próprio gosto. Tentando enxergar cultura e valores medievais onde não tem; cristianismo onde não existe. Harry Potter não incute, diretamente ou implicitamente, valor cristão algum. Nem mesmo é um conto de fadas tradicional; até isso é subvertido na história. É um mero passatempo. Uma historinha infanto-juvenil sobre bruxaria. Só.
O padre tem razão ao dizer que é "um livro que faz com que a magia e ocultismo sejam coisas boas". HP não ensina valores cristãos. É um conto de fadas às avessas - não estou dizendo que não se possa lê-lo por isso, pelo contrário, mas é o que HP é: um conto de fadas às avessas.
Se vê um certo exagero de ser prudente em excesso com uma obra, que eu acho inofensiva, como HP, mas também se vê o exagero de quem gosta da série, querendo justificar seu gosto enxergando cristianismo onde não existe e traçando até esdrúxulas comparações com outras séries como Senhor dos Anéis e Nárnia (que, de semelhanças com HP, guardam apenas o fato de nos apresentarem um mundo de fantasia. Só). Foi isso que o Junior, autor do vídeo fez: buscou enxergar valores medievais e cristãos em HP, e isso não existe. HP é um bruxo "bom", vive num mundo cheio de bizarrices e coisas nojentas e asquerosas. A busca pelo belo, uma constante nos contos de fadas, não está em HP, por isso afirmei ser um conto de fadas às avessas. Como esse mundo poderia representar os valores cristãos e o cristianismo? HP é corajoso? É intrépido? É despretensioso? É. Ora, mas qual herói de aventuras não é? E por ser tudo isso precisa esse herói ser, necessariamente, uma encarnação dos valores cristãos? Creio que não.
Vejamos por exemplo o Poderoso Chefão, grande best seller de Mario Puzo e que se tornou grande obra cinematográfica nas mãos de Francis Ford Copolla. O livro conta a história de Vito Corleone, que, após ter a família morta por um "padrinho" na Itália, vai, ainda criança, para os EUA. Nos EUA acaba formando sua própria Família e se tornando ele mesmo um "padrinho", grande nome da máfia nos EUA. Ganha dinheiro com coisas ilícitas, com jogo, cassino, mulheres, mas os laços familiares, muito importantes para os italianos, povo de formação católica, são uma constante na história. Vito vive para a sua família e para a família que o seu povo é. Não envolve mulheres e crianças nos seus negócios. Faz tudo o que pode pelos filhos, e pelos amigos, e pelos filhos dos amigos, e pelos amigos dos amigos. Bem cristão, não?
Mas é o comportamento de um mafioso, que mata seus inimigos e ganha dinheiro com o crime.
Se quisermos, podemos fazer um tratado em cima do comportamento da família Corleone (que só irá mudar, largando essa tradição familiar forte, quando Michael Corleone assumir o poder). Poderemos então afirmar a influência católica, cristã na história do... Poderoso Chefão!
Forçando a barra, dá pra ver cristianismo em qualquer série ou história. Assim como dá pra ver satanismo - e muitos veem.
Como tem um caráter infanto-juvenil, creio que o HP não tenha tanta potência para levar os adolescentes à procurar ocultismo embora possa haver casos isolados.
Eu me recordo de um filme que atiçou mesmo a curiosidade sobre a bruxaria foi o filme Jovens bruxas. Não era uma trama onde o mocinho com seus amiguinhos usa a varinha mágica para tranformar alguém em sapo ou alguma travessura com um adulto, mas sim o cotidiano que três garotas que procuravam o seu quarto elemento [Que segundo as "artes" são os elementos naturais que contém "poderes": Fogo, água, terra e ar.]
No filme mostraram alguns rituais, entre eles a mistura do sangue das quatro em um cálice com vinho onde cada uma invocava o que desejava, simbolos como o pentagrama era mostrado, e alguns acontecimentos "inofencivos" como flutuação, encantamento, mudança de fenômenos cotidianos etc.
Eu mesmo depois de ter visto o filme movido em saber se era real mesmo encantamentos e até mesmo feitiços feitos na ficção fui ler o livro São Cipriano - Capa Preta na prateleira da livraria e fiquei espantado com algumas coisas que vi, até oração para invisibilidade tinha.
É mais evidente que Harry Potter trate de valores humanos, na verdade, valores naturais, do que cristãos. Hoje em dia, perdeu-se a referência do que é natural, das virtudes naturais. A tendência, logo, é de identificar tudo com a revelação, todavia, não é assim. A fé, a esperança e a caridade é que são virtudes propriamente cristãs. É certo que quem lê ou vê HP não necessariamente abraça uma ideologia, mas obras de ficcão podem ter um certo grau de influência sim, não vemos aí a prova pelas novelas brasileiras?