.

João Paulo II e o Magistério da Igreja sobre o Islã,


A Fé de Sempre explícita no Concílio Vaticano II:

Em primeiro lugar, pois, afirma o sagrado Concílio que o próprio Deus deu a conhecer ao gênero humano o caminho pelo qual, servindo-O, os homens se podem salvar e alcançar a felicidade em Cristo. Acreditamos que esta única religião verdadeira se encontra na Igreja católica e apostólica, à qual o Senhor Jesus confiou o encargo de a levar a todos os homens, dizendo aos Apóstolos: «Ide, pois, fazer discípulos de todas as nações, batizando os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a cumprir tudo quanto vos prescrevi» (Mt. 28, 19-20). Por sua parte, todos os homens têm o dever de buscar a verdade, sobretudo no que diz respeito a Deus e à sua Igreja e, uma vez conhecida, de a abraçar e guardar.” (Dignitatis Humanae, 1 - Concílio Vaticano II)

Sobre a salvação, do Catecismo da Igreja Católica na hermenêutica da Continuidade:

 
§841 "Mas o plano de salvação abrange também aqueles que reconhecem o Criador. Entre eles, em primeiro lugar, os muçulmanos, que, professando manter a fé de Abraão, adoram conosco o Deus único, misericordioso, juiz dos homens no último dia."

Carta que o Papa Gregório VII escreveu ao rei Anazir (Al-Názir) da Mauritânia:


“Vós e Nós estamos unidos, por uma caridade peculiar, comparada com o resto das nações,
pois nós acreditamos e confessamos o Deus único, mas duma maneira diferente, a Quem nós louvamos e veneramos diariamente como Criador do tempo e Governante do Mundo” (Papa Gregório VII, Epístola 21, Migne´s Patrologia Latina).

Texto original: “Hanc itaque charitatem nos et vos specialibus nobis quam caeteris gentibus debemus, qui unum Deum, licet diverso modo, credimus et confitemur, qui eum Creatorem saeculorum et gubernatorem hujus mundi quotidie laudamus et veneramur”.

“Pela Fé deve-se afirmar que, fora da Igreja Apostólica Romana, ninguém se pode salvar; que esta é a única arca de salvação ; quem nela não tiver entrado perecerá no dilúvio. Entretanto, deve-se igualmente ter por certo que aqueles que verdadeiramente sofrem ignorância religiosa invencível não são, por isso, aos olhos do Senhor, réus de nenhuma culpa.

Mas quem se julgará tão capaz de fixar os limites dessa ignorância, considerando-se o modo de pensar e a variedade de povos, regiões, culturas e de tantas outras e tão numerosas circunstâncias? Na verdade, quando, livres desses entraves do corpo, virmos a Deus tal como Ele é, certamente entenderemos quão íntima e belamente conexas são a misericórdia e a justiça divinas; mas enquanto vivemos na terra, oprimidos pelo peso desta vida mortal, que obscurece a alma, creiamos firmissimamente, segundo a doutrina católica, “num só Deus, numa só Fé, num só Batismo”(Ef 4, 5): não é lícito ir mais além nesta busca.

Quanto ao resto, façamos constantes orações, como pede a Caridade, para que todos os povos da terra se convertam a Cristo, e segundo nossas forças trabalhemos pela salvação de todos os homens, porque ‘curta não é a mão do Senhor’(Is 59, 1) e de modo algum hão de faltar os dons da graça celestial àqueles que, vivificados por esta luz, com coração puro, queiram e peçam. Estas verdades devem ser gravadas profundamente no espírito dos fiéis, para que sejam imunes às falsas doutrinas, que tendem a fomentar o indiferentismo religioso que vemos difundir-se e fortalecer-se sempre mais para ruína das almas.


Papa Pio IX, na sua alocução Singulari quadam, de 09/12/1854

Entre os mandamentos de Cristo não é de pouca importância àquele que preceitua nos incorporemos pelo Batismo ao Corpo Místico de Cristo que é a Igreja, e prestemos nossa adesão a Cristo e ao seu Vigário, pelo qual o próprio Cristo a terra governa, de modo visível, a Igreja. Por conseguinte, não se salvará quem, consciente de que a Igreja foi divinamente instituída por Cristo, não obstante se recusa a se lhe submeter e denegue obediência ao Romano Pontífice, Vigário de Cristo na terra.

Todavia... Para que alguém possa obter a salvação eterna, não se requer sempre que seja atualmente incorporado à Igreja como membro, mas é necessário, ao menos que lhe esteja unido por desejo e voto. Este desejo, porém, não deve ser sempre explícito, como ele o é nos catecúmenos. Dado que o homem esteja envolvido em ignorância invencível, Deus aceita igualmente o desejo implícito, o qual é assim chamado por estar incluído naquelas boas disposições de alma que levam alguém a querer conformar sua vontade com a vontade de Deus.


Carta Dogmática "A respeito do Corpo Místico de Jesus Cristo", publicada pelo Sumo Pontífice o Papa Pio XII aos 29 de junho de 1943 ( A.A.S. XXXV 1943 193ss ).

Por fim, a palavra do Beato João Paulo II sobre o Islã:

"Quem, conhecendo bem o Antigo e o Novo Testamento, ler o Corão, vê claramente o processo de redução da Divina Revelação que nele se efetuou. É impossível não perceber como ele está longe daquilo que Deus disse de Si mesmo, primeiro no Antigo Testamento pela boca dos profetas, e depois de modo definitivo no Novo Testamento por meio do Seu Filho. Toda esta riqueza da auto-revelação de Deus, que constitui o patrimônio do Antigo e do Novo Testamentos, foi de fato posta de lado no Islamismo.

Ao Deus do Corão se dão alguns dos nomes mais belos que se conhecem na língua humana, mas em última instância trata-se de um Deus fora do mundo, um Deus que é apenas Majestade, nunca Emanuel, Deus-conosco. O Islamismo não é uma religião de redenção. Nele não há espaço para a Cruz e para a Ressurreição. Menciona-se Jesus, mas apenas como um profeta que prepara a vinda do último profeta, Maomé. Recorda-se também Maria, Sua Mãe virginal, mas se acha totalmente ausente o drama da redenção. Por isso, não apenas a teologia, mas também a antropologia do Islã se acha muito distante da cristã."

Todavia, a religiosidade dos muçulmanos merece o maior respeito. Não se pode não admirar, por exemplo, a sua fidelidade à oração. A imagem do crente em Alá que, sem ligar para tempo e lugar, cai de joelhos e mergulha na oração é um modelo para os confessores do verdadeiro Deus, em particular para aqueles cristãos que, desertando suas maravilhosas catedrais, rezam pouco ou não rezam absolutamente em tempo algum."

Cruzando o Limiar da Esperança, (página 98)
---

Os cristãos árabes chamam Deus de Allah. A própria palavra Allah significa "a divindade". Não é um deus entre outros de um sistema politeísta. É o Deus único, criador, eterno, onipotente e invisível. Maomé não "inventou um deus novo", mas inventou uma revelação nova, falsa.

Geralmente, quando as pessoas dizem que "temos o mesmo Deus", querem dizer que concordamos com a validade das duas religiões. Daí muitos cristãos reagirem dizendo que "não temos o mesmo Deus". Mas isso é uma confusão. Temos o mesmo Deus, mas não é verdade que as duas religiões sejam válidas.

Mesmo negando a SS. Trindade, isso torna deficiente o conceito islâmico sobre Deus. Mas o mais correto é dizer que temos aí um "entendimento errado sobre Deus", e não "uma outra divindade inventada por Maomé". Da mesma forma que os pagãos antes de Cristo não pensavam nada a respeito da Trindade, mas já tinham algum conhecimento (ainda que imperfeito) sobre Deus.

Reconhecer isso é importante para o diálogo com outras religiões e com a filosofia. A apologética se torna ineficiente se partirmos do pressuposto que o Deus dos gentios e dos muçulmanos é "uma outra divindade", pois a existência de Deus é objeto da razão humana antes da revelação bíblica. Sempre que alguém raciocina e conclui que deve existir um Criador, eterno e onipotente - mesmo sem pensar na Trindade -, esse alguém atinge um conhecimento (limitado e imperfeito) sobre o Deus verdadeiro.

Mas nada impede que os muçulmanos neguem a Trindade sem culpa. Existe uma ignorância culpável, quando a pessoa se nega a prestar atenção nos indícios que a levariam à verdade ou os deprecia, e uma ignorância não culpável. Assim, quando os muçulmanos negam a Trindade, estão, de fato, incorrendo num erro, mas sem culpa. Logo, sua fé em Deus é capaz de salvá-los.

Do ponto de vista do catolicismo, ninguém se salva sem a fé, nem os pagãos. Logo, não se pode ignorar a Deus. Por isso, o texto do Catecismo diz "os que, sem culpa, ignoram o Evangelho de
Cristo e sua Igreja, mas buscam a Deus com coração sincero". Aqueles que ainda não chegaram ao conhecimento expresso de Deus devem contar com o certo auxílio da Providência.

Não se pode confundir o "crer no mesmo Deus" no sentido de ter fé sobrenatural com o "crer no mesmo Deus" no sentido de adotar um conceito de Deus que é universal e acessível à própria razão.

Por exemplo, quando João diz que "quem nega o Filho, nega o Pai", está indicando algo da vontade e da fé sobrenatural, e não um conceito. Ele não quer dizer que quem nega a divindade de Cristo acaba de "inventar outra divindade". A pessoa pode ainda "crer em Deus", mas deixou de crer no sentido da fé sobrenatural. No entanto, do ponto de vista filosófico, essa pessoa pode ainda ter um conceito de Deus que é o mesmo Deus único, eterno, criador, onipotente, onisciente, etc. É só isso.

Tanto que os Padres da Igreja não criticaram o Islã como uma religião de "outra divindade", idólatra, mas sim como uma heresia. Os muçulmanos e gentios que negam o Cristianismo e não estão em ignorância invencível, não "crêem no mesmo Deus que nós", no sentido sobrenatural, mas "crêem que Deus é um" como os demônios de que fala a epístola de Tiago. O conceito de Deus deles é universal, nesse sentido (filosófico) é "o mesmo Deus".

 

©2009 Tradição em foco com Roma | "A verdade é definida como a conformidade da coisa com a inteligência" Doctor Angelicus Tomás de Aquino