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Espermograma

O espermograma é um exame solicitado pelo médico, geralmente quando é procurado por um casal que vem tentando ter filhos "naturalmente" há alguns meses (em geral, há mais de um ano), e não consegue.

Pode ser solicitado, também, quando é feita a suspeita de infecção do sistema reprodutor masculino.

A principal dúvida levantada, é a seguinte: Pode um homem católico realizar o espermograma?

As argumentações pró e contra foram extraídos de um debate via msn.

Argumentação Favorável

1. O Catecismo da Igreja Católica é bem claro quando diz “sem hesitação, que a masturbação é um ato intrínseca e gravemente desordenado.” É um ponto bem claro, e portanto, não há que ser questionado.

2. Isso me lembra de fazer um esclarecimento para os (bem) incautos. Algumas pessoas pensam que a Igreja Católica é composta de um bando de velhinhos, que ficam trancados sem saber nada do que acontece no mundo e, especialmente, no mundo científico. Essas pessoas não poderiam estar mais enganadas, apesar de esse engano servir até como pretexto para justificar uma suposta separação entre ciência e religião. Não se pretende entrar no mérito dessa questão, mas as pessoas têm que saber que a Igreja está bem preparada e é bastante conhecedora dos avanços de todas as ciências.

Basta lembrar que o MBA do IESE Business School, da Universidade de Navarra, mantido pela Opus Dei, foi eleito pela revista The Economist o primeiro do mundo.

Basta lembrar que essa instituição tem um dos melhores cursos do mundo no campo da Comunicação.

Basta, também, dar uma lida na instrução Donum Vitae, que se trata de uma aula completa e atualizada sobre as técnicas de fecundação artificial, e na qual analisa caso a caso, baseada nos seus detalhes técnicos, a moralidade de cada uma delas em separado. Houve quem soube dela através dessa instrução, por exemplo, do atual estágio das pesquisas sobre manipulação de híbridos (humanos + animais).

Não tem sentido, portanto, achar que algum assunto seja complexo demais para a Igreja. A Igreja não "chuta" nada, nem dá orientações ao vento, nem genéricas, nem equivocadas, nem ingênuas. Quando fala, sabe MUITO BEM do que está falando.

E o preservativo furado?

3. Sinto dizer que o texto indicado do site Veritatis, com a intenção de ensinar uma suposta “solução” para o problema do espermograma, apresenta informações bastante incorretas.

O autor sugere que se colha o espermograma num preservativo furado numa relação sexual com a esposa. Dessa forma, o exame se restringiria aos casados. Até que isso, por si só, não chegaria a ser um grande problema.

Acontece que uma das principais finalidades do espermograma é justamente contar o TOTAL de espermatozóides contidos numa ejaculação. Nesse caso, não adianta um “restinho”. Por isso, pede-se, inclusive, um “jejum” de relações sexuais de 2 a 7 dias, para que dê tempo de se formarem e se acumularem o máximo de espermatozóides em boas condições para fecundação.

Além de contar o total de espermatozóides, é necessário verificar o formato dos mesmos, da cabeça, da cauda e o comprimento. Estas três características podem gerar dezenas de combinações e classificações espermáticas. Deve-se, também, verificar quantos deles são imóveis, quantos são móveis, e qual o grau de velocidade destes (a classificação mais simples envolve três graus de velocidade, algo como rápido, médio e lento).

Todas essas informações são muito importantes para o diagnóstico correto.

Além disso, existe uma outra complicação do "exame no saquinho furado". Quem já leu as orientações para coleta de espermograma (facilmente encontradas na web) pode ver que elas pedem que a técnica seja a mais limpa, a mais estéril possível. Não pode "fazer lambança" na coleta. Quando feita “em casal”, não se pode usar a boca ou a genitália femininas para “ajudar” o homem: somente as mãos, que devem estar bem lavadas.

E, na hora de colher, deve ser feito direto no potinho, sem sequer tocar o “material” com as mãos (mesmo lavadas). Isso para se evitar ao máximo a contaminação das amostras.

Agora, imagine como fica um restinho dentro de um saquinho furado e suado...

Exame errado ; diagnóstico errado


Só quem sofre ou já sofreu com a angústia da dificuldade ou da demora em ter os filhos tão sonhados sabe o quanto é doloroso. Agora, imagine, ainda, ter esse diagnóstico feito com um exame ERRADO...!

Ficam classificadas do mesmo modo (como inúteis) todas as outras formas alternativas de coleta que já vi citadas por aí, como a polução noturna, a eletroejaculação e a punção.

A polução noturna é uma coleta contaminada, como a do saquinho furado. Além disso, haveria vários outros inconvenientes, como ter que dormir semanas a fio com o “sujeito” enrolado.

A eletroejaculação poderia ser chamada de “masturbação elétrica”. Não vejo que “vantagem moral” pode haver entre um sujeito que se estimula para um exame de laboratório usando as mãos e outro que o faz usando... eletrochoques. Sei lá, pode ser que haja quem goste. Além disso, existe a dificuldade técnica, o alto custo, e até o risco de arritmia ou de parada cardíaca durante o exame. Um procedimento desses teria que ser feito com um desfibrilador elétrico do lado, e, o que é pior, num local com um médico presente!

A punção é a retirada de uma pequena quantidade de esperma (algo como 1 ml, não dá pra tirar mais do que isso) furando com uma agulha a bolsa escrotal. É desonfortável, precisa de anestesia, e não serve para a contagem do total ejaculado, e todas as outras funções do exame.

Ou seja, não tem saída. O único que serve o espermograma “manual”. E agora?

Sobre os casais com problemas de fertilidade, a Igreja defende, no CIC e na Donum Vitae, o recurso aos meios legítimos da medicina. Mas, não diz explicitamente quais são esses meios.

Apenas relata claramente quais NÃO são legítimos. Relata (e EXPLICA detalhamente, com a autoridade de um amplo conhecimento) as técnicas de fertilização heteróloga e homóloga, técnicas de clonagem, de hibridização com células de outras espécies, enfim, de coisas que nem eu tinha ouvido falar. E discorre SEPARADAMENTE sobre a moralidade de cada uma dessas técnicas. MAS... não há nenhuma palavra sobre o espermograma, assim como sobre nenhum outro “recurso legítimo”.

Pergunto: é possível que especialistas com o grau de de conhecimento demonstrado no decorrer da instrução, tenham simplesmente “esquecido”? Um exame tão básico, primeiro passo na investigação de um caso de aparente esterilidade conjugal? É claro que não. Repetindo: a Congregação para a Doutrina da Fé não discorreu sobre os “recursos legítimos” à Medicina.

O espermograma poderia ser, então, um "recurso legítimo"?

Vamos ler mais...

Ora, não existe uma definição da Igreja para o caso explícito da masturbação para espermograma por solicitação médica, mas uma condenação da masturbação em si.

Mas, aqui o melhor a fazer é definir bem do que estamos falando. É comum, ao “auto-didata” da doutrina católica a confusão de termos.

Isso acontece, por exemplo, com a palavra “escandalizar”, que significa, no entendimento popular, "ser escandaloso, falar alto, dar vexame". “Escandalizar”, para a doutrina católica, significa "induzir os outros a pecar".

Acontece, também, com a palavra “vício”. No sentido médico, fumar é um vício. No sentido católico, esta palavra tem um significado totalmente diferente.

E a palavra masturbação? Bem, todos sabemos o que ela significa, para o senso comum. Porém, o CIC traz uma definição bastante clara e exata, que é diferente. Vamos ler?

“(2352) Por masturbação, se deve entender
a excitação voluntária dos órgãos genitais, a fim de conseguir um prazer venéreo."

Aqui, de novo, se faz necessário, ainda, definir o que é "excitação". O brasileiro confunde o termo “excitação” com "libido sexual".

Entretanto, do ponto vista médico, excitação é a simples agitação, ou fricção, ou manipulação. Uma crise convulsiva, por exemplo, acontece por uma excitação de alguma região do cérebro.

Em inglês, por exemplo, dizer “I´m very excited” (palavra com a mesma origem etimológica da utilizada em português) não tem nada a ver com “estar com desejo sexual”; significa estou agitado, ansioso, nervoso, ou feliz com alguma coisa.

Pergunto: durante a coleta de um espermograma, ocorre uma
excitação voluntária dos órgãos genitais? A resposta é SIM. Estes são manipulados, com movimentos repetitivos, durante o processo.

Pergunto: a coleta de espermograma é realizada com o “
fim de conseguir um prazer venéreo? A resposta é, claramente... NÃO.

A finalidade do processo, da manipulação necessária ao exame, é coletar material para estudo e diagnóstico, por necessidade clínica e recomendação médica!

Logo,

MASTURBAÇÃO =
excitação voluntária dos órgãos genitais, a fim de conseguir um prazer venéreo."

ESPERMOGRAMA =
excitação voluntária dos órgãos genitais, a fim de coletar material para um exame necessário, indicado por médico qualificado, com fins diagnósticos."

"Stressing" o assunto = outro falso cognato

Pergunto outra vez: o homem, angustiado pela possibilidade de não vir a ter filhos, e que vai colher um espermograma, por solicitação médica, almeja, tem por intenção, por finalidade, conseguir um prazer venéreo? É claro que não!

Quando digo “homem angustiado”, não estou apelando. Acontece que, quase sempre, quem primeiro procura o médico para falar de problemas de fertilidade é a mulher. Ela vai, faz exames, ultrassonografias pélvicas e transvaginais, dosagens de hormônios, e só então, depois que já foi praticamente EXCLUÍDA a possibilidade de que ela tenha algum problema que seja a causa da infertilidade do casal, é que o médico sugere que o esposo procure o médico para fazer o espermograma.

O que já é bem contraproducente, se levar em conta somente o ponto de vista médico. Ora, se é bem mais simples tecnicamente, e mais barato, fazer um espermograma do que as dezenas de exames que a mulher realiza, por que não se faz este primeiro?

Por isso, não exagero quando digo que o homem na sala do espermograma é um sujeito angustiado, preocupado com o futuro, com dúvidas em sua posição de macho provedor, alguém que está preso à beira do precipício por uma cordinha, e não sabe se ela vai romper ou não. A última coisa que esse sujeito queria era estar ali naquela sala!

Outra coisa a se considerar é que a Igreja tende a respeitar as necessidades, as considerações de ordem de saúde das pessoas.

Por exemplo, na Missa, recebemos o Pão da Vida, que é o Corpo de Cristo. Por isso, a Igreja recomenda uma hora de jejum antes de receber a Eucaristia?

Porém, de acordo com a Igreja, algumas pessoas estão liberadas. Quem são? As que têm remédio pra tomar.

Me parece forçoso notar, que tanto na quebra de jejuns para remédios, como no caso do espermograma, a medicação ou o exame estão justificados se forem feitos por necessidade e por recomendação de médico qualificado.

Por exemplo: não vale quebrar o jejum prescrito pela Igreja pra tomar anabolizantes.

Algumas reações corporais podem ser estritamente mecânicas e fisiológicas, sem darem nenhum prazer ao sujeito que as sofre.

Digno de nota, por exemplo, é o caso das mulheres estupradas. Muitos estupradores dizem, em sua defesa, que a mulher “estava gostando, porque ficou toda molhada”.

Acontece que o corpo humano tem reações que não controlamos, e que, muitas vezes, nada têm a ver com o nosso estado emocional.

A umidificação e lubrificação do trato vaginal é uma reação fisiológica, que nada tem a ver com a excitação sexual da mulher. A finalidade é proteger a anatomia da genitália contra possíveis traumas físicos. Como ela acontece nas relações sexuais consentidas, as pessoas tendem a associar com prazer, mas uma coisa não está necessariamente ligada.

O pior é que, sem saber que é apenas uma reação normal do corpo, algumas mulheres ficam se sentindo bastante culpadas, e traumatizadas depois de um estupro, agindo se elas tivessem sido, de alguma forma, culpadas.

Da mesma forma (e sei que essa declaração é polêmica), a simples estimulação manual ou mecânica do pênis pode levar a uma ejaculação, sem necessariamente dar prazer ao homem. A polução noturna é exemplo disso.

Nos Estados Unidos, já foram aos tribunais casos de estupros de homens feitos por mulheres!

Em sua defesa, as mulheres alegaram que os homens estavam excitados, porque apresentavam ereção. Acontece que isso também pode ser uma reação fisiológica, sem nenhuma conotação prazerosa.

Situações correlatas

Na vida médica, e em se tratando de saúde, existem várias situações e atos que, postos em outro cenário, em outro contexto, estariam corretos.

É lícito cortar alguém? Pegar uma lâmina bem afiada, e ferir a integridade do corpo de outra pessoa, mesmo com o consentimento dela? É claro que não.

Mas faço isso quase todo dia. No meu trabalho.

Seria lícito um homem fazer com uma mulher o que o médico ginecologista faz no seu consultório? Observar a sua intimidade, introduzir objetos (espéculos, fórceps, etc.)?

E, colocando-se no lado do paciente, seria lícito entregar o seu corpo para alguém fazer essas coisas? Não... se não for um(a) médico(a).

O espermograma não seria, portanto, nem o primeiro nem o último ato lícito que, colocado fora do seu contexto (de exame ou tratamento médico), tornaria-se automaticamente ilícito.

Situações correlatas

Na vida médica, e em se tratando de saúde, existem várias situações e atos que, postos em outro cenário, em outro contexto, estariam corretos.

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É lícito cortar alguém? Pegar uma lâmina bem afiada, e ferir a integridade do corpo de outra pessoa, mesmo com o consentimento dela? É claro que não.

Mas faço isso quase todo dia. No meu trabalho.

Seria lícito um homem fazer com uma mulher o que o médico ginecologista faz no seu consultório? Observar a sua intimidade, introduzir objetos (espéculos, fórceps, etc.)?

E, colocando-se no lado do paciente, seria lícito entregar o seu corpo para alguém fazer essas coisas? Não... se não for um(a) médico(a).

O espermograma não seria, portanto, nem o primeiro nem o último ato lícito que, colocado fora do seu contexto (de exame ou tratamento médico), tornaria-se automaticamente ilícito.

Argumentação contrária

A situação é delicada, é complexa, mas alguns pontos são mais simples do foi colocado.

Definitivamente não sei dizer se a Igreja, na Donum Vitae, dá a entender que todos os meios não elencados entre os ilícitos são lícitos. Talvez sim, talvez não. E não excluo a possibilidade de que, algum dia, ela esclareça a questão, inclusive legitimando a masturbação para o espermograma.

No entanto, a visão mais lógica é que é ilícito sim. Isso é pura lógica, desassociada de fatores terceiros, por mais significativos e comoventes que possam ser.

Uma regra moral é sempre genérica e universal, o que não significa que no caso real em que é aplicada, a situação não seja outra. Assim, acredito que em muitos casos os atenuantes podem até legitimar certas decisões, mas NÃO alteram a regra em si.

Considerando a regra nua e crua, vou tentar esclarecer alguns pontos:

A eletroejaculação poderia ser chamada de “masturbação elétrica”. Não vejo que “vantagem moral” pode haver entre um sujeito que se estimula para um exame de laboratório usando as mãos e outro que o faz usando... eletrochoques. Sei lá, pode ser que haja quem goste.

Sim, pode haver. Mas a diferença é gritante: o método em si não é algo a que alguém, sob meios ordinarios, se submete para buscar prazer. Existem todo tipo de taras, e isso não torna as coisas más em si mesmas porque em casos particulares provocam prazer.

E a palavra masturbação? Bem, todos sabemos o que ela significa, para o senso comum.

Porém, o CIC traz uma definição bastante clara e exata, que é diferente. Vamos ler?
“(2352) Por masturbação, se deve entender a excitação voluntária dos órgãos genitais, a fim de conseguir um prazer venéreo."

Logo,

MASTURBAÇÃO = excitação voluntária dos órgãos genitais, a fim de conseguir um prazer venéreo."

ESPERMOGRAMA = excitação voluntária dos órgãos genitais, a fim de coletar material para um exame necessário, indicado por médico qualificado, com fins diagnósticos."


Não. Espermograma é o exame do sêmem, já no laboratório. A coleta do sêmem não é o exame em si. Quando você faz exame de fezes, você diz a alguém, "me dá licença, que eu vou lá no banheiro dar início ao meu exame de fezes"? Pode até olhar as coisas por esse ângulo, mas é claro que o que você está ali, fazendo, não é o exame em si, apenas a coleta, através da evacuação.

Outro erro é considerar que o fim último de um processo anula os fins intermediários dos meios. Não é assim. Em cada processo, temos que tomar decisões, e essas podem ou não ser más em si mesmas. Não é lícito, para salvar a vida de uma pessoa, abortar um feto no seu útero. Não se pode alegar que o fim último era a salvação daquela vida. Isso está muito bem explicado no artigo do Sílvio, de que os fins não justificam os meios. Simples assim.

Além disso, é impossível (se alguém discordar, por favor me ensine!) excitar o órgão sexual masculino "na mão" sem que para isso não se recorra à libido. Eu não posso simplesmente dizer, ok, estou consciente de que isso é para um exame, então vai garotão, cresce aí, faça o seu trabalho. Isso não existe. Logo, com ou sem intenção, será necessário se recorrer a meios ilícitos nesse processo, que é a fantasia sexual fora do ato matrimonial.

Quando digo “homem angustiado”, não estou apelando. Acontece que, quase sempre, quem primeiro procura o médico para falar de problemas de fertilidade é a mulher. Ela vai, faz exames, ultrassonografias pélvicas e transvaginais, dosagens de hormônios, e só então, depois que já foi praticamente EXCLUÍDA a possibilidade de que ela tenha algum problema que seja a causa da infertilidade do casal, é que o médico sugere que o esposo procure o médico para fazer o espermograma.

Irrelevante.

O que já é bem contraproducente, se levar em conta somente o ponto de vista médico. Ora, se é bem mais simples tecnicamente, e mais barato, fazer um espermograma do que as dezenas de exames que a mulher realiza, por que não se faz este primeiro?

Irrelevante.

Por isso, não exagero quando digo que o homem na sala do espermograma é um sujeito angustiado, preocupado com o futuro, com dúvidas em sua posição de macho provedor, alguém que está preso à beira do precipício por uma cordinha, e não sabe se ela vai romper ou não. A última coisa que esse sujeito queria era estar ali naquela sala!

Irrelevante.

Por favor, não me chamem de insensível. Estou tratando do assunto de uma forma fria e objetiva. Todos esses problemas são atenuantes que no caso concreto podem justificar atitudes isoladas, mas NÃO alteram uma regra moral. Quem avalia isso é Deus no juízo particular de cada um, e não a Igreja no ensinamento moral para a salvação das almas.

Por exemplo, na Missa, recebemos o Pão da Vida, que é o Corpo de Cristo. Por isso, a Igreja recomenda uma hora de jejum antes de receber a Eucaristia?

Porém, de acordo com a Igreja, algumas pessoas estão liberadas. Quem são? As que têm remédio pra tomar.


Má comparação. O jejum eucarístico é solicitado por uma medida disciplinar, e não porque "misturar" o Corpo de Cristo com outros alimentos no seu organismo seja um ato essencialmente mau. É um preceito moral obrigatório sim, mas da lei positiva e disciplinar.

Diferente caso é o uso de um ato essencialmente mau para alcançar um fim bom.

O ensinamento moral da Igreja sempre foi o que que há três elementos que tornam um ato mau: a matéria, a intenção e as circunstâncias. Se um desses três falhar, o ato já é mau. No caso, a intenção e as circunstâncias são boas, mas a matéria é má. Isso é inescapável.

Contra-argumentação contra

Você sabe como é a técnica de eletroejaculação? Sabe que é feita por um dispositivo introduzido no reto? Colocado próximo à prostata, por dentro?

Contra-argumentação favorável


E...?

Se o cara tem prazer com isso, melhor pra ele. Não é o meio ordinário, nem artificialmente falando, de se obter prazer. Logo, não é mau em si mesmo.

Podia ser qualquer outra coisa, e o cara podia sentir prazer também.

Contra-argumentação contra

A definição de espermograma pode variar.

Mas a definição de masturbação vai continuar sendo a que está no CIC.

Veja que sou eu que estou me prendendo ao que a Igreja diz.

Com a finalidade de se coletar o material necessário ao espermograma, necessita-se manipular a genitália.

A finalidade é outra (coletar esperma, e não obter prazer), portanto não corresponde à definição de masturbação dada pelo CIC. Concorda com isso?

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Pode ser que o homem obtenha algum prazer venéreo durante a coleta do espermograma. Sim, não nego isso.

Pode ser.

Mas, será um efeito indesejado do ato de realizar o exame, e não a sua finalidade.

Perceba que está totalmente fora da definição do CIC, que é bem exata. Mais clara impossível!

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Outra situação correlata:

A mulher que sofre de endometriose.

O melhor tratamento para endometriose, uma doença que causa muita dor no período menstrual (além de outras doenças do útero): não menstruar.

Para isso, é necessário que a mulher use hormônios injetáveis.

Acontece que essas medicações possuem efeito contraceptivo.

Ou seja, um ato necessário e lícito (tratar-se de um problema de saúde, que causa dor, física e emocional) causou um efeito indesejado (a contracepção).

Encíclica Humanae Vitae - Liceidade dos meios terapêuticos

15. A Igreja não considera ilícito o recurso aos meios terapêuticos, verdadeiramente necessários para curar doenças do organismo, ainda que daí venha a resultar um impedimento, mesmo previsto, à procriação, desde que tal impedimento não seja, por motivo nenhum, querido diretamente.

Contra-argumentação favorável


Com a finalidade de se coletar o material necessário ao espermograma, necessita-se manipular a genitália.

A finalidade é outra (coletar esperma, e não obter prazer), portanto não corresponde à definição de masturbação dada pelo CIC. Concorda com isso?


Não, não concordo.

Estás confundindo finalidade com o ato em si. O ato é mau em si porque obriga a fantasia sexual. Simples demais.

Outra situação correlata:

A mulher que sofre de endometriose.

O melhor tratamento para endometriose, uma doença que causa muita dor no período menstrual (além de outras doenças do útero): não menstruar.

Para isso, é necessário que a mulher use hormônios injetáveis.

Acontece que essas medicações possuem efeito contraceptivo.

Ou seja, um ato necessário e lícito (tratar-se de um problema de saúde, que causa dor, física e emocional) causou um efeito indesejado (a contracepção).


Não. Um ato "necessário" (fisicamente, não moralmente falando) e lícito foi feito através de um meio neutro com uma intenção boa. Por que meio neutro? Porque tomar anticoncepcionais não é matéria grave em si mesma. E por que não é? Porque não torna a pessoa infértil para sempre (como a vasectomia ou a laqueadura) e nem está necessariamente ligada a um ato conjugal que se pretende infértil (nesse caso, seria mau pelas circunstâncias e pela intenção). Nesse caso, não está.

Contra-argumentação contra

Sua explicação que encontrei acima:

Outro erro é considerar que o fim último de um processo anula os fins intermediários dos meios. Não é assim. Em cada processo, temos que tomar decisões, e essas podem ou não ser más em si mesmas. Não é lícito, para salvar a vida de uma pessoa, abortar um feto no seu útero. Não se pode alegar que o fim último era a salvação daquela vida. Isso está muito bem explicado no artigo do Sílvio, de que os fins não justificam os meios. Simples assim.


Como vc disse: "Má comparação."

No caso de uma gravidez tubária, por exemplo, que se desenvolve na porção do útero chamada "trompa", pode-se, pelo que sei, retirar a trompa, apesar de ocorrer um fim indesejado (a morte do feto), para salvar a vida da mãe.

Do Prof. Felipe Aquino:

Em síntese: A gravidez ectópica há de ser tratada à luz do princípio da causa com duplo efeito: o médico nada faz que mate diretamente a criança, mas extirpa a trompa afetada como extirparia qualquer órgão afetado, independentemente de estar grávido ou não. Visa à saúde da mulher e tolera a perda da criança – o que é diferente do que se dá no caso do aborto (homicídio direto).
http://blog.cancaonova.com/felipeaquino/2008/02/18/gravidez-ectopica-ou-tubaria/
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O efeito bom (coletar o material necessário ao exame que poderá ajudar na cura de um problema sério) é desejado; o efeito mau (prazer sexual fora do ato conjugal) é apenas tolerado.

Contra-argumemtação favorável

Sim, pode-se. E são duas coisas completamente distintas.

Uma coisa é objetivamente se abortar o feto, utilizar-se de um precedimento abortivo, para salvar a vida da mãe. Isso é intrinsecamente mau, porque se utiliza de um meio mau.

Outra coisa é realizar um tratamento que visa operar em local alheio ao útero e que, em si, não é abortivo, mas em que, dada a fragilidade do estado da gestante e do feto, ou da falta de técnica cirúrgica desejada, pode-se dar como certa a consequência da perda da vida do filho.

Isso é um meio neutro com uma consequência má, utilizado para um fim bom. E isso faz toda a diferença.

Contra-argumentação contra

Sobre os contraceptivos na endometriose

Por que meio neutro? Porque tomar anticoncepcionais não é matéria grave em si mesma. E por que não é? Porque não torna a pessoa infértil para sempre (como a vasectomia ou a laqueadura)...

O uso do preservativo também não. Nem por isso é neutro.

e nem está necessariamente ligada a um ato conjugal que se pretende infértil (nesse caso, seria mau pelas circunstâncias e pela intenção). Nesse caso, não está.

Como pode o uso de um contraceptivo

- que pode, inclusive, permitir que a fecundação ocorra (o espermatozóide fecunda o óvulo, mas não consegue se implantar no útero devido às alterações provocadas pelo medicamento) mas não se complete (o que configura um aborto) -

não estar ligado a um ato conjugal infértil?

Pelo que entendo, apesar de não existir o efeito mau na intenção (que é a de tratamento da dor, e não a de contracepção), o efeito mau existe, mas é tolerado.

Pode clarear um pouco isso?

Contra-argumentação favorável

O uso do preservativo também não. Nem por isso é neutro.

O preservativo em si não é mau (tanto que ele pode ser usado como o furo, como citado no artigo). O que é mau em si é o fechamento voluntário à vida no ato conjugal. O uso ordinário do preservativo, pela sua própria natureza, acarreta nesse fechamento.

Contra-argumentação contra

Analisando...

Isso é um meio neutro com uma consequência má, utilizado para um fim bom. E isso faz toda a diferença.

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Vamos analisar a masturbação (de acordo com a definição explícita do CIC):

Manipulação da genitália = meio neutro.

Por que neutro? Ora, estimula-se manualmente a genitália, por exemplo, para lavar durante o banho.

Manipula-se a genitália também para "mirar" o vaso no momento de urinar (e isso muito menos do que as mulheres gostariam que os homens fizessem, que não fazem direito, fazem apressado, e por isso fazem... no chão).

No caso da masturbação (conforme o CIC), manipula-se com o fim de obter prazer sexual.

Prazer sexual fora do ato conjugal = fim mau (e consequência má). No caso, a consequência É o próprio fim.

Então, em relação à masturbação (definição do CIC!), trata-se de um meio neutro com uma consequência má, utilizado para um fim mau.

---

Agora, vamos analisar a coleta de material para espermograma:

Manipulação da genitália = meio neutro.

Prazer sexual fora do ato conjugal = consequência má possível

Coleta do exame = fim bom.

Então, minhas palavras ficam iguais às suas:

Coleta de material para espermograma = "Isso é um meio neutro com uma consequência má, utilizado para um fim bom. E isso faz toda a diferença. "
Contra-argumentação favorável

Como pode o uso de um contraceptivo

- que pode, inclusive, permitir que a fecundação ocorra (o espermatozóide fecunda o óvulo, mas não consegue se implantar no útero devido às alterações provocadas pelo medicamento) mas não se complete (o que configura um aborto) -

não estar ligado a um ato conjugal infértil?

Pelo que entendo, apesar de não existir o efeito mau na intenção (que é a de tratamento da dor, e não a de contracepção), o efeito mau existe, mas é tolerado.

Pode clarear um pouco isso?


Claro. Basta pensar no ato sexual. O uso do antinconcepcional não se dá no momento do ato sexual, nem está fisicamente ligado a ele. Tanto é verdade que uma pessoa pode tomar o AC, ficar alguns dias sem se relacionar (não que isso seja necessário) e depois voltar a ter relações, sem nunca ter tido uma relação fechada à vida. No caso de uma relação próxima ao período em que o efeito anticoncepcional perdure, é um efeito não paenas não sesejado, mas prévio, passageiro, externo ao ato.

O mesmo nos períodos de infertilidade. Essas relações não são más porque o corpo da mulher está infértil, porque esse "fechamento à vida" é uma causa externa, natural. A mulher não escolheu "ficar" infértil para ter relações sem o "risco" de ter filhos.

Bem, então tente você manipular a tua genitália sem sentir prazer venéreo (e sem precisar de estímulo sexual ao menos imaginativo) para produzir uma jorrada eficiente segundo os seus conhecimentos médicos para um bom espermograma.

Será que hipnose é uma opção?

Contra-argumentação contra - finalizando

"Bem, então tente você manipular a tua genitália sem sentir prazer venéreo (e sem precisar de estímulo sexual ao menos imaginativo) para produzir uma jorrada eficiente"


Tente retirar uma trompa uterina com um feto dentro sem matar (indiretamente) o feto.

Tente (se fosse mulher) tomar contraceptivos para o tratamento da endometriose (nesse caso, se usam injeções, cujo efeito dura três meses: a intenção é não menstruar), e fazer relações sexuais com seu marido, e não provocar o aborto de um embrião dentro do útero (sim, isso pode acontecer).

Tente, em defesa própria, atirar num sujeito armado que atira em você, e não matá-lo.

Tente ir para um frente de combate, numa guerra, e não matar.

Todos são atos maus, ilícitos, proibidos pela Igreja em qualquer circunstância.

Mas, estão justificados nessas situações, por que simplesmente, nesses casos, são consequências, ou efeitos, maus, porém tolerados, e não desejados.

Como já expliquei várias vezes, o prazer sexual pode até ser uma consequência da estimulação genital. Existe até mesmo o risco de ocorrerem pensamentos pecaminosos durante o exame. Sim, mas são efeitos indesejados na utilização de um meio neutro para um fim bom.

Por que será que nenhum homem que realiza um espermograma por indicação médica relata assim:

"Puxa, que legal, foi tão gostoso. Adorei fazer isso. Tive tanto prazer."?

NÃO É prazeroso.

É triste.
É humilhante.
É constrangedor.

Chega a ser doloroso (segundo o relato de alguns homens que fizeram o exame).

Alguns chegaram a chorar na sala do exame, ou logo depois.

É traumático.

Pra você ter uma idéia, o sujeito nunca, nunca esquece do dia em que o faz a primeira vez.
Muitos comentam a frieza da sala.
Ou o olhar das pessoas do laboratório.
Ou o da moça que lhe entregou o potinho.
Ou as revistas horríveis em geral deixadas em cima da mesinha.

Alguns adolescentes, com os hormônios pululando, provavelmente não entenderiam. Não são adolescentes nem jovenzinhos que fazem o exame. São senhores na quarta ou quinta década de vida.

Um homem não fica estimulado, excitado, achando legal e gostosão, se lhe for mostrado qualquer filme ou revistinha com alguma senhora desavergonhada.

A sexualidade do homem nessa fase não funciona mais assim.

Ainda mais um sujeito na situação de grande "ferimento psicológico" que é a infertilidade conjugal.

Contra-argumentação favorável - finalizando

Espermograma é o exame do esperma, não a coleta. A coleta, se feita por meio da masturbação, é pecado, pois o fim bom não justifica o meio mau.

A analogia com a extirpação do útero canceroso, havendo gravidez, não procede. No caso do exemplo, trata-se de um ato de duplo efeito: o ato é um só (a extirpação do útero), ainda que acarrete duas conseqüências (o abortamento e a cura). Só se quer o segundo, não o primeiro, que se aceita apenas.

Já no assunto em tela NÃO se trata de um ato de duplo efeito, mas de DOIS ATOS. Um dos atos, o exame, é neutro. Mas o outro, a masturbação, é má EM SI MESMA.

Ponto final. Nosso sim seja sim, nosso não seja não. O que passar disso vem do Maligno. Não façamos malabarismos para justificar o pecado.

Claro que é difícil se comportar assim, evitando essa masturbação até mesmo para um exame médico, mas somos chamados a ser cristãos com os critérios DE CRISTO. Ser cristão com os critérios do mundo ("é pra um exame, então pode") é barbada.

Daí, você me pergunta: é possível conseguir material para uma análise do sêmen nessa situação sem sentir prazer? Respondo, desta vez, um sonoro sim.

A possibilidade diminuída não impede o pecado. Até porque, se o prazer não é desejado e mesmo não chega, ele é um dos fins intrínsecos à masturbação.

Além disso, o pecado NÃO está no prazer ou não, mas no despejar sêmen conscientemente fora da cavidade vaginal. TODOS os manuais de teologia moral dizem que é PECADO e MORTAL.

É difícil ser católico, mas não impossível. Nossa vida verdadeira é no céu. Ficaria fácil se afrouxássemos todas as regras morais para apaziguar nossa consciência... Nesse caminho, os pecados deixarão de sê-lo. TODOS!

 

©2009 Tradição em foco com Roma | "A verdade é definida como a conformidade da coisa com a inteligência" Doctor Angelicus Tomás de Aquino