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Capital Inicial e a música “Fátima”

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Eu tenho a impressão de que existe correlação entre música e inteligência (talvez melhor: intelectualidade). Um estudo sobre esse tema já foi feito por um médic francês/vietinamita chamado Minh Dung Nghiem, que publicou o livro Musique, Intelligence et Personnalité. 

Um dos fenômenos em que me baseio nesse tema é a correlação entre a imbecilização da população brasileira, a queda da produção intelectual no país, e a decadência da música. A música brasileira era muito boa nos anos 80. Depois caiu um pouco nos anos 90, mas ainda estava boa. Hoje caiu está no fundo do poço com um monte de besteiras fazendo sucesso.

A música não determina a inteligência bruta do indivíduo, mas creio que há uma associação entre estilos musicais e estímulo do cérebro. 
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Se as pessoas são intelectualmente superficiais, ou seja, se elas não costumam estimular o cérebro, seja com estudos, debates públicos, jogos como o xadrez, etc, a tendência é gostar de estilos musicais superficiais (com harmonias menos elaboradas, por exemplo).

Afinal, querendo ou não música também é matemática.
A pessoa do meio rural escuta apenas a moda de viola e os sertanejos novos, ele ouve e cria aquilo sem saber muito bem porquê, já que está imerso naquela cultura, mas a pessoa que escuta diversos gêneros, pesquisa, é curioso e etc. não vê dificuldade em relacionar a música caipira brasileira com a música campesina, ranchera, norteña, country e outros gêneros rurais da América como um todo e entender que partem de um mesmo princípio, de um mesmo arquétipo de homem conquistador da fronteira, tocador de gado. 

Mas a percepção de que música é matemática não é instintiva ou mesmo auto-didática.

Podem aceitar essa tese na seguinte forma: quem estuda música  - não necessariamente em uma escola, mas que procura compreendê-la internamente - tende a preferir os estilos musicais mais elaborados, de maior complexidade estrutural.
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Aceito ainda que as pessoas musicalmente leigas, mas que costumam estimular o cérebro têm preferência por estilos musicais cujas letras (e não a estrutura musical) são mais elaboradas.

Mas mesmo admitindo tudo isso, o gosto musical é causa, não consequência. Ou seja, não adianta tocar música clássica ou heavy metal ao invés de pagode: isso não tornará as pessoas mais inteligentes.

Em tempo: se fosse razoável tentarmos orientar o gosto musical de uma sociedade, priorizando as músicas de acordo com a complexidade, então todos ouviriam apenas música clássica. 

Existem estruturas musicais mais complexas, e que tendem a ser preferidas pelos curiosos da música. 

A função primordial da música na vida das pessoas é entretenimento. Daí o fato de termos tantos estilos simples bombando: nunca o povo teve tanto tempo e acesso à diversão quanto hoje.
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Qualquer gênero musical consiste em códigos, pertence ao campo da semiótica. Trabalha com simbolos reconhecíveis por uma determinada sociedade em sua própria época. O Rock não é diferente. Por isso mesmo, está vinculado à intenção do compositor, que manipula esses símbolos para transmitir uma mensagem. E os simbolos sonoros também podem ser perigosos, pois mexem com nossos sentidos mais básicos, trabalham com a química do nosso cérebro e podem afetar nosso estado emocional.


A música é uma forma de linguagem capaz de despertar pontos íntimos de nossa alma. Numa música cristã, por exemplo, pode haver muito mais o que despertar em nossa espiritualidade do que uma letra que nos toca, um ritmo que nos afeta ou um punhado de harmonia que soa bem. A própria intenção da música, quando clara e bem colocada, pode nos passar uma mensagem ou despertar certos sentimentos. Isso pode ocorrer em qualquer estilo, na música sacra ou profana, para o bem ou para o mal.

Nós sabemos o que é belo, por que é belo – a harmonia, a congruência com a Natureza – e como gostamos de buscá-lo sempre, justamente pela congruência com a Natureza e a existência. A arte no conceito amplo não precisa ser bela para ser arte, e a beleza é diferente de gosto ou estética. O primeiro é pessoal e a segunda é um conjunto de normas e padrões. Se algo é forçosamente não-belo, não se pode esperar que tenha a receptividade de algo belo – sua receptividade também será forçosa, pelo gosto ou pela estética.

Por que digo isso? Nossa receptividade em relação aos tipos de música, suas intenções. Até um ponto podemos rejeitar a má-intenção, mas nem sempre. O demônio é a anti-Criação, e se uma música tem intenção demoníaca, não tem a intenção do belo. Como não temos certeza da malevolência, orar pela Força de Deus e percebê-Lo em muitas coisas é fundamental.
 

Podem ter certeza de que poucos são os malévolos de fato. O comum é que falem blasfêmias apenas pela transgressão, pelo escândalo, pelo dinheiro ou por ignorância. Daí, é melhor que não se “consuma” desse tipo de “arte” para que ela não seja incentivada, já que é fraca e sem razão essencial.

O que dizer então, da música Fátima da banda Capital Inicial ?
 
Essa música é do tempo do Aborto Elétrico, mas quando a banda se dividiu (originando Capital Inicial e Legião Urbana), foi uma das que ficaram como herança para o Capital.

Há quem interprete que não seja uma crítica à Igreja Católica ainda que o Renato Russo não professasse abertamente uma religião - e estivesse impregnado da cultura punk. Ele era um garoto de 17 anos quando escreveu a letra, repleto da boa e velha rebeldia adolescente, cheia de equívocos e revoltas.

Ele fala da indiferença do homem com relação ao mundo e a Deus. Eles (os homens) fingem que o mundo ninguém fez. São vermes mas pensam que são reis.

As duas últimas estrofes falam da aparição em Fátima que, ainda que pareça equivocado, quer dizer o seguinte:
 

As três crianças de Fátima, aos olhos do Renato, eram os ouvidos do mundo. Nossa Senhora falou com uma voz suave - uma lágrima. Os homens não ouviram. E assim, não houve mudança. O vinho, a ferida e a ressurreição são metáforas do Cristo que não aconteceu para esses homens que não deram ouvidos a Deus.

Renato Russo não tinha domínio teológico nem conhecimento doutrinal. Quis expressar uma idéia, ao meu ver até mesmo interessante. Mas não foi feliz nas últimas estrofes, sem bem que dá pra entender bem qual o propósito.

Talvez a falta de um apoio doutrinal por parte de alguém que detivesse conhecimento, nessa fase da vida do Renato tenha feito com que ele tomasse na vida um caminho tão autodestrutivo.


É uma crítica social mesmo, e relaciona o segredo de Fátima pois esse alertava sobre o comunismo da URSS de então. A Guerra Fria foi a tensão entre USA e URSS. A ameaça nuclear ficou pairando desde Hiroshima e ficou mais forte por conta desta tensão. Surgiram filmes e documentários sobre novos tipos de bombas, inclusive uma que é capaz de destruir tudo que é biológico, preservando intactas as construções etc.

Se não me engano era a bomba de hidrogênio que mantinha o patrimônio material intacto.

Para os jovens de agora este contexto quando muito é relatado nas apostilas de cursinho, mas a coisa foi intensa nos anos 80.  


Quando Nossa Senhora falou às três crianças em Fátima, queria deixar uma mensagem para o mundo. Assim, creio que ele viu as crianças como os ouvidos do mundo.


Usou licença poética, ainda que de forma desastrosa, mas o sentido era esse. Deus enviou um sinal e os homens não acolheram.

Como eu disse, essa letra foi escrita por um adolescente de 17 anos, sem grande domínio (nem muito respeito) quanto a assuntos religiosos. Mas cujo conteúdo da mensagem acho bem salutar. Homens que vivem como se Deus não existisse, ignorando os apelos divinos. Nas mãos de um adolescente ignorante em matéria de religião, acho até que a música é boa.

Uma pena que nos tempos em que ele fez esse desabafo, não houve um bom religioso que o orientasse uma vez que a Teologia da Libertação já se mostrava bem viva e majestosa no Brasil.
Ao contrário, ele manteve-se totalmente perdido em meio à cena punk de Brasília, cheia de álcool e drogas.

Se eles tivessem tido a oportunidade de conhecer Jesus através da Doutrina Católica certamente teriam entendido melhor as coisas.  Mas eles sofrem porque não entendem que este mundo nunca será perfeito.


Mas não podemos esperar coerencia naqueles que não creem e que seguem a moda do relativismo, do modernismo e da ignorância sem fim. É muita fala bonitinha para negar a Deus, engodo destes tempos. Retirar a religião do centro do homem e do mundo é tudo que querem os homens sem Deus. 

Cristo morreu na cruz e passou sim pelo sofrimento e graças a este sofrimento, somos convidados ao baquete celeste.

Estejamos nós com as roupas de festas; e nós cristãos batizados que buscamos a graça, podemos e devemos vesti-la todos os dias.

Há muito deixei de me assustar com a incoerência do mundo e dos mundanos. Eu tremo mesmo é do medo de não perseverar até o fim.., eu que recebi a fé e vivo nela.
  

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PARA CITAR ESTE ARTIGO:

Capital Inicial e a música “Fátima”

David A. Conceição, 12/2012 Tradição em Foco com Roma.

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