.
“A Suma Teológica de Santo Tomás de
Aquino em forma de Catecismo” do Pe. Tomas Pégues, O. P., é uma excelente
obra para aqueles que desejam iniciar o estudo da Obra Magna de Santo Tomás. Um
tanto raro aqui no Brasil, haja vista que sua última edição em português data do
início da década de 40, este livro é formulado como todos os catecismos
tradicionais em perguntas e respostas e é de agradável leitura.
SEGUNDA PARTE: O HOMEM PROCEDE DE DEUS E PARA DEUS DEVE
VOLTAR
SEGUNDA SEÇÃO: ESTUDO CONCRETO DOS MEIOS QUE O HOMEM DEVE
EMPREGAR PARA VOLTAR PARA DEUS
XV. DOS VÍCIOS
OPOSTOS À PRUDÊNCIA: IMPRUDÊNCIA, PRECIPITAÇÃO OU TEMERIDADE, INCONSIDERAÇÃO,
INCONSTÂNCIA – VÍCIOS QUE A SIMULAM: PRUDÊNCIA DA CARNE, ASTÚCIA, DOLO, FRAUDE,
FALSA SOLICITUDE.
.
Existem vícios opostos à prudência?
Existem vícios opostos à prudência?
Há
os de duas classes; uns que se opõem por defeito, e outros por excesso.
Com que nome se
conhecem os opostos por defeito?
Com
o nome geral de imprudência (LIII).
O que entendeis
por imprudência, em geral?
Todo
ato que não se ajuste às normas da reta razão e da prudência (ibid.).
O ato imprudente
pode ser pecado mortal?
Sim;
quando se menosprezam ou infringem regras e normas divinas (ibid.).
Quando será um
pecado venial?
Sempre
que se executa algum ato, ainda que seja bom, com precipitação, inconsideração ou
negligência (LIII, 2).
O que entendeis
por precipitação?
Um
ato contra a prudência, que consiste em tomar resoluções antes de informar-se convenientemente
(LIII, 3).
O que entendeis
por inconsideração?
O
pecado daquele que não toma em conta todos os elementos de que dispõe para
formar juízo acertado nas coisas práticas (LIII, 4).
Por que a
inconstância se opõe à prudência?
Porque
se opõe ao seu ato principal, que, como vimos, é o de mandar; o inconstante
carece de firmeza e resolução para levar à prática os seus projetos e desígnios
(LIII, 5).
Há algum outro
defeito oposto ao ato principal da prudência?
Sim;
a negligência (LIV).
O que entendeis
por negligência?
A
falta de solicitude e presteza em ordenar a execução das resoluções tomadas
depois de maduro exame, no concernente à prática da virtude (ibid.).
O pecado de
negligência é grande?
De
muito grande podemos qualifica-lo pelo pernicioso influxo que exerce em toda a economia
espiritual, pois, ou a paralisa inteiramente, estorvando os seus atos, ou
fazendo que sejam frouxos, indolentes e como que forçados, perdendo deste modo
o seu valor e mérito (LIV, 3).
Como se chama a
negligência quando se estende aos atos exteriores?
Chama-se
preguiça, e enervamento ou tardança (LIV, 2, ad 1).
É distinta da negligência
propriamente dita?
Sim;
porque a negligência consiste na falta de presteza e energia para ordenar a execução
e este defeito provem da indolência de vontade (LIV, 2).
Devemos ter
cuidado especialíssimo em combate a negligência?
Sim;
pois como estende o seu influxo a todos os domínios da atividade, é veneno
posto na fonte, capaz de contaminar todo o caudal de obras e virtudes.
Pode ser pecado
mortal em alguma ocasião?
Quando
impede que o homem se resolva a fazer algo de necessário para salvar-se, sim;
porém, ainda no caso de que não seja, produz um estado de apatia e indolência
que conduz fatalmente à caducidade e à morte, se não se põe grande empenho em
desarraiga-la (LIV, 3).
Que nome têm os
vícios que pecam por excesso contra a prudência?
Prudência
ou solicitude fingidas ou simuladas (LV).
O que entendeis
por prudência simulada?
Um
conjunto de vícios que desnaturalizam o caráter da verdadeira prudência, abusando
dos seus meios próprios, para procurar-se um fim ilícito (LV, 1-5).
Qual é o vício
que, simulando prudência, busca um fim ilícito?
A
prudência da carne (LV, 1).
Em que consiste
a prudência da carne?
Em
dispor e ordenar a vida, procurando como fim a maior soma possível de prazeres
sensuais (ibid.).
A prudência da
carne é pecado mortal?
Quando
o homem busca o prazer como fim último de seus atos, sim; se o busca e procura
com excessiva afeição, porém considerando habitualmente a Deus como fim último,
será pecado venial (LV, 2).
Quais são os
vícios opostos à prudência, por abuso dos seus meios?
O
de astúcia, e seus anexos, o dolo e a fraude (LV, 4).
O que entendeis por
astúcia?
Uma
simulação da prudência, que consiste em excogitar meios tortuosos e artes de dissimulação
e engano para conseguir um fim, quer seja bom ou mau (LV, 3).
Em que consiste
o dolo?
Na
execução exterior dos planos forjados pela astúcia (LV, 4).
Em que se
diferenciam os vícios de dolo e fraude?
Em
que o dolo consiste na execução exterior dos planos forjados pela astúcia,
empregando indistintamente palavras ou obras e a fraude tem o mesmo objeto, empregando
somente obras (LV, 5).
A astúcia, o
dolo e a fraude confundem-se com a mentira?
Não;
porque a mentira tem por fim enganar, e nestes vícios o engano não é o fim,
senão meio para conseguir alguma coisa.
O que se segue desta
distinção?
Que
a mentira é um pecado especial, exclusivamente oposto à virtude da veracidade,
ao passo que a astúcia, o dolo e a fraude, como opostos à da prudência que se
incorpora a todas as outras virtudes, podem andar misturados com todo gênero de
pecados e vícios.
O que entendeis
por falsa solicitude?
A
daquele que se preocupa exclusivamente com os bens temporais; a do que põe em procura-los,
mais trabalho e solicitude que nos da alma; e do que teme que possam faltar-lhe,
se cumpre com seu dever (LV, 6).
Temos obrigação
de ser solícitos em procurar os bens temporais?
Com
diligência moderada, ordenando-os à consecução da glória e confiando sempre na Divina
Providência, sim (ibid.).
Que opinião
tendes da preocupação do porvir?
Que
é má, quando peca por excessiva, ou antecipa, usurpando o lugar de outros
cuidados mais peremptórios (LV, 7).
Quando será boa?
Quando
se limite a prevenir para o futuro o que depende e há de ser consequência do
presente e deixa para mais tarde cuidados que terão de trazer tempos vindouros (Ibid.).