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Sobre a carta aberta de Dom Williamson, o escudo da Tradição Católica

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Havia um grupo de leigos que mesmo sem nunca ter pisado em uma Capela da FSSPX se diziam ligados a ela. Esses mesmos leigos se julgavam porta-vozes dela e brigavam com todo mundo em nome do que eles entendiam como Tradição. Se sentiam orgulhosos por isso. Enchiam suas páginas nas redes sociais fotos da FSSPX e juravam fidelidade até o fim. Os mesmos leigos que em sua maioria nem sequer tinha contato com a Missa tradicional.

Até que a FSSPX decidiu varrer esses elementos de seu seio. Foi quando em nota publicou quem nem a Radio Cristandade nem o SPES não possui nenhum vínculo com ela. A partir daí esses mesmos leigos rompem com a FSSPX - o mais engraçado é nunca tiveram nenhum laço com a própria - e passaram a dar cabeçadas por aí. São os tradôs independentes.

Esses tradôs desde então mudaram sua rota de ataque, agora são ligados as capelas independentes que são anti-acordo. Se sentem inspirados divinamente para atacar Dom Fellay e o que eles passam a chamar de NeoFSSPX. E mais do nunca se sentem fortalecidos uma vez que Williamson, expulso da Fraternidade, agora também é um tradô independente. 

Mas, da mesma forma que muitos dos tradôs só vivem o seu mundo da fantasia em honra pela Tradição apenas pela internet, também não tem conhecimento algum do que tanto aprontou o Leão da Fé. Aqui, reproduziremos uma refutação contra a carta aberta deste bispo por um fiel da FSSPX, - membro de sua capela em Toronto, que assiste suas Missas e dela recebe seus sacramentos - para expor o quanto o Guardião da Tradição só fez dar prejuízo moral e espiritual por onde pisou.


Carta aberta à Dom Fellay datada em outubro de 2012
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Williamson: Obrigado por sua carta de 4 de outubro em que o senhor me informou de parte sua, do Conselho Geral e do Capítulo Geral sua “constatação”, “declaração” e “decisão” de que já não sou membro da Fraternidade São Pio X. As razões que o senhor dá para sua decisão de expulsar seu servidor seriam: ele continuou a publicar seus “Comentários Eleison”; ele atacou as autoridades da Fraternidade; ele fez um apostolado independente; ele causou confusão entre os fiéis; ele apoiou os sacerdotes rebeldes; ele desobedeceu de maneira formal, obstinada e “pertinaz”; ele se separou da Fraternidade; ele não se submete a nenhuma autoridade.Todas essas razões não se podem resumir em desobediência?
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Gercione: Antes de mais nada, por que uma CARTA ABERTA? Ao ler uma carta aberta, particularmente escrita por um Bispo Católico a seu antigo Superior, me senti impulsionado a buscar certas respostas, a me perguntar por que alguém numa posição tão elevada se daria o trabalho de endereçar uma carta aberta às massas, incluindo aí não-católicos espalhados por toda a internet, uma carta com conteúdo aberto a todos os inimigos da Igreja e todos aqueles que buscam sinais de divisão e fraqueza para atacar impiedosamente a Esposa de Cristo. Procurando encontrar seus motivos ou  problemas relacionados aos assuntos mencionados nessa carta é importante ir muito além das palavras e pensamentos impressos no documento que infelizmente circulou pelas mãos de um numero incontável de pessoas.

A principal razão pra alguém escrever uma carta dessa natureza é muito mais do que simplesmente jogar palavras num papel. Eu diria que é muito mais um meio que seu autor encontrou para expressar sua posição a respeito de um assunto em particular ou um  grande número de assuntos elencados segundo a sua preferência. Portanto, uma carta aberta é sempre uma tentativa de se dar início a uma comunicação em massa com outros de fora e não simplesmente com a pessoa a quem ela é endereçada no cabeçalho. E isso é puramente uma estratégia política e uma tentativa de atrair o maior número possível de simpatizantes ou um grupo específico de pessoas.

O problema é que o tiro pode sair pela culatra se a mensagem for recebida por um grupo que não concorda com o seu conteúdo ou que pode usar esse mesmo conteúdo como munição para rebater todas as contradições expostas na mensagem. E de certa forma é o que eu propus fazer aqui, porque quando você lê uma carta aberta, precisa levar em consideração sua fonte, sua credibilidade e qual o propósito de se escrever uma carta dessa natureza. Na maioria dos casos, uma carta aberta é sempre resultado de uma frustração, ira ou protesto contra uma mudança drástica de como as coisas eram antes conduzidas

Sem dúvida, no curso dos últimos 12 anos seu servidor teve palavras e ações que foram, diante de Deus, inadequadas e excessivas, mas creio que bastaria fossem assinaladas, em particular, para que nos escusássemos, segundo a verdade e a justiça. Mas, sem dúvida, estamos de acordo em que o problema essencial não se situa nos detalhes, que ele se resume em uma palavra: desobediência.

Primeiramente, eu diria que é difícil acreditar que alguém que foi convocado e advertido várias vezes por seu Superior devido ao seu comportamento irresponsável ou inconsequente não sabe mesmo de que ofensas ele é acusado. Todavia, antes de darmos início à verdadeira resposta, vale a pena mencionar alguns fatos. Por exemplo, me parece realmente contraditório o fato de que o Bispo Williamson reconhece que nos últimos 12 anos ele disse e fez coisas que diante de Deus eram inadequadas e excessivas, mas falha em mencionar as desastrosas consequencias dessas ações.

Não obstante, o que ele chama meros detalhes, tiveram consequências sérias para o apostolado da FSSPX tanto na América como na Europa. Ele esquece de mencionar que durante esse tempo ele deliberadamente agitou controvérsias que deixaram não poucos fiéis profundamente escandalizados e que ao invés de se desculpar,  continuou a buscar mais ocasiões de escândalo. Também não diz que semeou discórdia e divisão dentro da Sociedade e foi uma pedra de tropeço no tocante ao relacionamento entre a SSPX e a Igreja. Da rebelião velada ele passou à aberta aconselhando ou dissuadindo padres que buscam a Tradição a não se juntarem à FSSPX que segundo ele caiu num adiantado estado de apostasia. Nesse meio tempo a FSSPX perdeu escolas, teve suas publicações banidas em vários países e a compra de igrejas pela Sociedade passou a ser feita quase às escondidas usando laranjas por causa de suas controversas e públicas opiniões políticas. Isso para não mencionar suas associações ilícitas com ateístas revisionistas e extremistas políticos que acabaram por tomar prioridade sobre seus deveres com os padres e fiéis da Sociedade. Em suas conferências, ele se refere ao seu Superior como bandido e convoca uma rebelião para depô-lo do cargo de Superior Geral da FSSPX. Quanto aos padres que escolheram deixar a Sociedade para se integrar à plena comunhão com Roma, ele os compara com lixo. Como já dizia Santa Catarina de Siena: Como é doloroso ver aqueles que tem sede de vingança! Eles matam a si próprios bem antes de matar seus inimigos!

Pois bem, numa entrevista a uma publicação alemã, Padre Niklaus Pfluger, Primeiro Assistente Geral da FSSPX, ao comentar sobre a precária posição do Bispo Williamson, disse:

Dom Williamson recebeu várias advertências. Esse é um momento muito triste na história da nossa Sociedade. Se ele continuar com sua campanha de difamação contra a Sociedade e seu Superior Geral pela internet, não vejo como sua expulsão da Sociedade poderia ser evitada. Juntamente às falsas idéias que ele tem espalhado, ele tem conspirado de modo disfarçado. A verdadeira tragédia é o fato de que ele  por anos tem recusado a autoridade do Superio Geral e assinalado a si próprio uma missão que lhe teria sido dada pelo próprio Deus. Diante do Capítulo Geral ele  convocou padres e fiéis para uma rebelião e isso para um Bispo Católico é algo muito sério.

Será que o Bispo se dá por conta do seu ar de superioridade com relação aos argentinos quando fala de sua transferência para aquele país como se fosse um rebaixamento de status?  Isso me leva a  perguntar se o Arcebispo Lefebvre, a quem ele cita o tempo todo como exemplo e modelo, se sentiu da mesma forma em 12 de junho de 1947, quando o Papa Pio XII o apontou como Vigário Apostólico de Dakkar no Senegal e o obrigou a deixar para trás um importante e confortável cargo como reitor do Seminário dos Padres do Espírito Santo em Mortain-França para encarar as duras condições daqueles que desenvolvem trabalho missionário na África.

Procurando entender melhor o que o Bispo Williamson tanto reclama, decidi examinar mais de perto do que ele chama de frutífero apostolado e o que se vê é que durante seus anos nos Estados Unidos suas atitudes provocaram vários cismas e divisões dentro da SSPX com a saída de vários padres que ou se juntaram aos sede-vacantistas ou para formarem institutos submissos à Comissão Ecclesia Dei. Mas como sempre, a culpa é sempre dos outros! Ele nunca assume as consequências desastrosas de suas atitudes. Padres americanos não gozavam da confiança de seus "mestres europeus"e eram constantemente transferidos ou expulsos por um reitor que por anos conduziu o Seminário com mão-de-ferro. Alguns padres que conviveram com Bispo Williamson revelaram em vários blogs pela internet que desde seus primeiros anos em Êcone, sua posição era claramente sede-vacantista e que frequentemente o ouviam declarar: Estamos sem Papa, mas por causa da controvérsia  que esse assunto causa, preferimos negar essa posição ao público. Bom, se tais informações que circulam pela net forem mesmo verdadeiras, não vejo porque não deveríamos ser igualmente tolerantes com os Bispos modernistas a quem Dom Williamson acusa de não serem dignos de confiança por usar linguagem ambígua para promover sua causa.

Além disso, Bispo Williamson e alguns de seus seguidores se tornarem uma fonte de contínuo constrangimento para a SSPX nos Estados Unidos devido às suas opiniões chocantes e a mania obsessiva de denegrir em público instituições americanas. Em uma de suas cartas  datadas de 1 de julho de 1991 ele prega que os princípios Liberdade, Igualdade e Democracia da Constituição Americana são diretamente responsáveis por pecados como o aborto. Segundo Williamson: Democracia, um regime no qual nós, o povo, somos os soberanos, deixa claro que se nossas leis aprovam o aborto, o que de errado pode haver nisso?.  Aqui se vê que ele distorce qualquer sentença para servir ao propósito que ele deseja comunicar e é muito fácil desbancar seus silogismos, porque se a Democracia é a grande responsável pelo aborto, a quem deveríamos culpar o aborto em países como Rússia e China? E o que não dizer das leis de países como sua querida Inglaterra e outros governados por Monarquias onde o aborto é livre e financiado pelo Governo?  Na maioria dos países europeus o aborto é legal e acessível até os três primeiros meses de gestação. A Polônia foi um dos poucos países a criminalizar o aborto em 1990, depois de anos de legalidade sob o regime comunista.

Mas o ataque contra as instituições Americanas  não param por aí. Não se limitam apenas às instituições do país. Por anos seguidos essa animosidade contra a Constituição Americana, os Fundadores da República e o que ele chama de Heresia Americanista desmoralizou a SSPX e seus membros diante do público americano e levou alguns deles ao ponto de rebelião. A Declaração de Independência e a  Constituição foram rotulados como os frutos mais perniciosos da Franco-Maçonaria. A Primeira Emenda da Constituição como a grande responsável pelo 
indiferentismo religioso, por não assegurar o estabelecimento da Igreja Católica como a Igreja oficial do país. Americanos eram constantemente criticados pelo seu patriotismo e por oferecerem sua lealdade primeiramente à nação e não à Igreja.

Aqui se constata duas variantes: ou sua completa ignorância a respeito da História Americana ( o que é duvidoso já que ele é um homem culto) ou a má fé motivada por flagrante anti-americanismo. A verdade histórica é que os Fundadores da República não estavam envolvidos em um complô maçônico pra promover o que chamamos de indiferentismo religioso. A Europa, berço do Cristianismo enfrenta um indiferentismo religioso e relativismo moral bem mais graves. O que aconteceu nos Estados Unidos é parte da formação do país onde as antigas Colônias da União já possuíam suas igrejas protestantes estabelecidas como estatais. Em cada Colônia ou Estado, havia uma denominação protestante que dominava como os Congregacionalistas, Quakers, Episcopais, Metodistas, etc e o novo Governo Colonial não poderia dar prioridade ou promover nenhuma delas como oficial sem cometer suicídio já de início.

Para dizer a verdade, os católicos nos Estados Unidos podem se considerar com sorte pelo fato de nenhuma igreja nacional ter sido estabelecida pela Constituição Americana, porque tal igreja teria sido invariavelmente protestante. Jamais teria sido católica, visto que os primeiros peregrinos que chegaram aos Estados Unidos eram protestantes fugindo da perseguição anglicana na Inglaterra. Tal igreja oficial com certeza perseguiria os  católicos e foi exatamente para prevenir isso que tanto no USA como Canadá foi preciso que o Governo criasse dois sistemas de ensino público: o católico para as crianças católicas e o público que era direcionado para as crianças de diferentes backgrounds religiosos.

Se formos parar para pensar, a primeira Emenda da Constituição Americana pode ser considerada providencial para os católicos que pertencem ou apoiam a SSPX. Sem poder contar com o selo de Roma e sem as devidas  garantias constitucionais, seria quase impossível para a  SSPX construir igrejas, escolas, seminários e promover a Fé Católica no USA. Os ataques do Bispo à Roma e aos Estados Unidos se tornaram tão violentos que falando a um grupo de fiéis no Colorado ele declarou: A Nova Igreja usará os poderes do Estados contra a SSPX. E isso estará em perfeita sintonia com o Novo Governo Mundial de forma que a policia será enviada atrás de mim ou de vocês. Apocalíptico? Nem um pouco!

Não é necessário ser nenhum especialista em política internacional para deduzir que não existe um só país na face da terra onde a polícia ou as autoridades do Estado não viriam atrás de um cidadão estrangeiro como Richard Williamson e o entregaria as autoridades de Deportação por pregar insurgência e desrespeito às instituições do país ou denegrir publicamente as autoridades constituídas como ele fez na época com o Presidente Bush: Presidente Bush é um terrível traidor desse país. Ele está fazendo de tudo para desmantelar o USA e integrá-lo à Russia e a Nova Ordem Mundial, para beneficiar o Anti-Cristo e promover a destruição de tudo que há de melhor nos Estados Unidos.

Durante a Guerra do Iraque ele também fez eco às autoridades que ele tanto despreza no Vaticano, criticando abertamente a participação do USA no conflito em várias de suas cartas aos fiéis. Imagine então como deveriam se sentir aqueles fiéis que tinham familiares militares, ouvindo de seu Bispo que seus filhos tinham ido morrer por petróleo! Para adicionar insulto à injúria Williamson fazia questão de promover em público a teoria de Conspiração que já foi tantas vezes provada ser falsa e sem nenhum fundamento, de que os ataques de 11 de Setembro nos Estados Unidos foram perpetrados pelos militares americanos para justificar as invasões do Iraque e do Afeganistão. As torres do WTC teriam sido derrubadas por companhias de demolição e não por aviões tripulados por terroristas e o próprio Pentágono teria sido alvo de um míssil americano, apesar de todos terem visto ao vivo pela TV os aviões se chocando contra as torres e os próprios cérebros dos atentados assumindo sua autoria.

A verdade é que muitas de suas conferências se parecem com as de um líder de seita à beira da paranóia. Primeiramente ele diz que a polícia estará vindo atrás de nós, logo em seguida ele dá os motivos pelos quais a polícia viria atrás dele e dos seus seguidores. E não será porque seu discurso soa a uma incitação à violencia política e faz dele uma persona non grata ao Departamento de Justiça, mas sim porque as autoridades estão a serviço do anti - Cristo e obsecadas em perseguir o último remanescente dos verdadeiros fiéis a Cristo. Me parece que ele se esqueceu completamente dos conselhos paulinos no tocante ao respeito devido às autoridades constituídas.

Para piorar, o grande problema com esse seu incansável ataque (ataque perpetrado por uma autoridade estrangeira) ao famoso patriotismo dos americanos é que a maioria dos fiéis e contribuídores financeiros da SSPX nos Estados Unidos são americanos conservadores de direita e patriotas convictos. E teremos que admitir que pessoas de nenhuma nacionalidade gostam de ouvir seu país sendo criticado por estrangeiros. Um membro da SSPX nos Estados Unidos que estava visivelmente aborrecido com essas declarações chegou a revelar que a Organização estava atirando no próprio pé.

Se Dom Lefebvre estivesse vivo, certamente não endossaria essas atitudes intempestivas de Richard Williamson que tanto dano causaram à instituição que ele lutou para erguer. Dom Lefebvre era acima de tudo um homem prático e segundo informações publicadas na revista Fidelity entre 1982-96,  antes de proceder à Consagração dos quatro Bispos, ele tomou o cuidado de afastar de postos de comando os vários Superiores que se opunham a esse passo por temerem as consequências do que seria visto como um ato cismático.  Igualmente,  por motivos financeiros ele adiou o máximo essas Consagrações para garantir antes o dinheiro para a compra do terreno onde seria erguido o Seminário de Winona.  Conta-se que naquela época a idéia do Seminário em Winona-Minnesota começava a decolar e Willianson alertou Dom Lefebvre que o benfeitor que estava prestes a comprar a propriedade para o Seminário poderia cancelar a transação se a SSPX recebesse uma excomunhão devido às Consagrações.

Até aqui nada de novo na história da Igreja. Quem não se lembra das acusações de Lutero no tocante à venda de indulgências para se erguer catedrais ou mesmo todas as transações e lobby que Tereza de Avila teve que fazer para conseguir dinheiro para a fundação de seus mosteiros? A grande mística Teresa não descuidava das coisas práticas. Sabia utilizar as coisas materiais para o serviço de Deus. Certa ocasião disse: Teresa sem a graça de Deus é uma pobre mulher; com a graça de Deus, uma fortaleza; com a graça de Deus e muito dinheiro, uma potência.

Não deixa de ser paradoxal o fato de que alguns estão alegando pela internet que a ruptura de Dom Williamson com a SSPX é algo semelhante à Reforma empreendia por Teresa no Carmelo. Basta ler a obra Fundações de Tereza de Avila para ver que uma coisa não tem absolutamente nada a ver com a outra.

Segundo o costume dos conventos espanhóis da época, as religiosas podiam receber todos os visitantes que desejassem, a qualquer hora. Teresa passava grande parte de seu tempo conversando no locutório. As Carmelitas, como a maioria das religiosas, desde os princípios do século XVI, já haviam perdido o primeiro fervor.  Os locutórios dos conventos de Ávila se tornaram uma espécie de centro de reunião social para damas e cavalheiros de toda a cidade. As religiosas saíam da clausura pelo menor pretexto. Os conventos eram lugares ideais para quem desejava uma vida fácil e sem problemas. As comunidades eram muito numerosas. O Convento da Encarnação possuía quase 200 religiosas. Foi nesse cenário que uma sobrinha de Santa Teresa, também religiosa no Convento da Encarnação, lhe deu a ideia de fundar uma comunidade reduzida onde poderiam se retirar para a oração e viver seu modo de vida  de acordo com o espírito de seus fundadores.

São Pedro de Alcântara, São Luís Beltrán e o bispo de Ávila aprovaram o projeto. O provincial dos Carmelitas, Pe. Gregório Fernández, também autorizou Teresa a colocar seu plano em prática. Em suma, enquanto a reforma de Tereza foi uma tentativa de se mergulhar em Deus e se afastar do mundo, Dom Richard Williamson esse tempo todo não tem feito outra coisa senão deixar de lado suas obrigações como religioso para mergulhar de cabeça na política mundana. O seu locutório passou a ser a mídia que ele tanto acusa de ser demoníaca. Ele age como alguém que acusa a internet de ser coisa do demônio mas mantém perfil em tudo que é rede social.

Então, assinalemos antes de tudo quantas ordens mais ou menos desagradáveis do Superior Geral seu servidor obedeceu sem falta. Em 2003, ele deixou um apostolado importante nos Estados Unidos para ir para a Argentina.

Vejamos então os detalhes do que ele considera como um apostolado frutífero nos Estados Unidos. Todos esses são fatos documentados e publicados na revista Fideliter . A verdade é que Dom Williamson exercia uma influência rasputiniana sobre Dom Lefebvre principalmente em seus últimos anos de vida e provavelmente por isso se achava o legítimo sucessor do Arcebispo. Alguns fatos históricos valem a pena ser mencionados para entender melhor  o que foi seu apostolado na América do Norte. Nos Estados Unidos três padres formados por Monsenhor Lefebvre: Padres Cekada, Dolan e Sanborn romperam com a Sociedade Pio V que havia sido formada por Padre Kelly quando esse último rompeu com Lefebvre para se envolver com uma espécie de seita em Mount. St. Michael, com a crença de que o Catolicismo sobrevive apenas em conexão com o vietnamita Bispo Thuc. Já como seminaristas esses padres demonstravam sua clara inclinação para o sedevacantismo, mas não obstante tudo isso, foram ordenados. Em 1983 Lefebvre expulsou Padre Kelly e os outros da SSPX exatamente pelo que seria o seu declarado sedevacantismo.  Mas resulta que os motivos foram bem outros. A razão  real pelo qual Padre Kelly foi expulso tem tudo a ver com suas ambições financeiras e sede de poder, sua sede de poder e sua inimizade com Dom Williamson.  Padres Kelly e Cekada tinham colocado em seus próprios nomes várias propriedades da SSPX no Estado de Cincinnati. Corre rumores de que Padre Kelly queria o domínio da SSPX nos Estados Unidos. Richard Williamson então começou uma campanha pela expulsão de Padre Kelly e sua inimizade com o prelado vinha desde os tempos de seminarista em Êcone. Padre Kelly estabeleceu então sua pequena seita em Oyster Bay, N.Y., juntamente com outras capelas independentes espalhadas pelo país. Muitas das quais com litígios na Justiça já que originalmente pertenciam à SSPX.

Uma outra divisão ocorrida na SSPX dos Estados Unidos foi ocasionada pela simpatia de Dom Williamson pela Conferência do Rito Tridentino e seus líderes Padres Le Blanc e Wickens. Williamson queria participar dessa Conferência em New Jersey no ano de 1991 para aceitar um prêmio em nome de Dom Lefebvre.  Padre Terence Finnegan que era um pároco da SSPX na capela Nossa Senhora das Dores em Phoenix no Arizona soube do evento e prostestou primeiramente junto ao próprio Dom Williamson e em seguida ao Padre Schmidberger na Alemanha. Padre Finnegan visava proteger a reputação e a ortodoxia da SSPX porque ele conhecia bem os elementos radicais da Conferência do Rito Tridentino, sabia bem do envolvimento desse grupo com toda sorte de cismáticos e heréticos como a tal Ordem de São João, Feeneytas, Jansenitas e sedevacantistas.

Padre Finnegan também se encontrava continuamente perturbado por causa de estranhas doutrinas proferidas por Richard Williamson. Depois de uma intensa troca de correspondência entre Padre Finnegan e Padre Peter Scott ( que era apena pro-forma superior da SSPX nos Estados Unidos), entre Padres Schmidberger e Padre Scott, e sucessivamente entre Padre Scott e Dom Williamson, Williamson foi aconselhado a não participar da tal convenção do TRC . Para evitar maiores controvérsias, dessa vez o Bispo resolveu concordar. Nesse meio tempo Padre Finnegan foi convocado a comparecer no quartel general da SSPX na Europa para uma entrevista com Padre Schmidberger. Finnegan novamente fez questão de advertir ao Padre Schmidberger que Dom Williamson estava arruinando o apostolado da SSPX nos Estados Unidos por causa de suas associações incautas e declarações insensatas. Por causa desses problemas Dom Williamson armou para que  Padre Finnegan fosse transferido dos Estados Unidos, deixando-lhe apenas duas opções: Irlanda ou África do Sul.  Padre Finnegan ao perceber que se tratava de uma injusta punição não aceitou a tranferência e por isso foi demitido da SSPX em 8 de abril de 1992. A partir dai começou a celebrar missas apenas em casas ou salas privadas e arrastou com ele cerca de 200 fiéis da antiga capela.

O interessante nesse fato é que quando essa crise ocorreu, muitos fiéis se afastaram da SSPX e seguiram o lider local passando a frequentar capelas independentes. E pelo visto a tendência é isso voltar a acontecer como é frequente nas seitas protestantes. Onde não existe uma autoridade central promovendo a unidade, a tendência é o povo arregimentar novos adeptos e erguer mestres para si.

Outras paróquias da SSPX ou missões em todo o USA foram esmagadas ou isoladas. Em Post Falls, Idaho, a Capela pastoreada por  Padre Rizzo foi cenário de uma guerra contra o pecado do Americanismo. A dissensão entre patriotas americanos e europeus anti-Americanismo estavam rasgando a Sociedade ao meio. Padre Rizzo foi transferido para a Inglaterra e seu ajudante Padre Hunter decidiu então escrever um livro defendendo as origens do Governo Americano que desmentia a teoria Williamsoniana de que tudo não passou de um grande complô maçônico. Para que a autoridade de Williamson não fosse minada, Padres Schmidberger e Scott recusaram permissão para que o livro fosse publicado. O resultado de toda esse celeuma é que  dentro de pouco tempo um novo padre estrangeiro chegou aos  Estados Unidos para assumir uma congregação de quase 600 membros e ensiná-los a verdadeira doutrina política de Dom Williamson.

Em Campbell na Califórnia, os fiéis estavam com as mãos na cabeça por causa do financiamento de uma casa de retiros com os fundos destinados à construção de uma capela e uma escola. O padre da paróquia foi então caluniado e transferido para Sacramento. Depois foi convocado por Dom Williamson em Winona e por fim, Padre Foley decidiu sair da Fraternidade, levando a maioria dos fiéis com ele. Padre Foley passou então a celebrar missas em salas privadas em Walnut Creek, Califórnia.

Em 2009, ele deixou o cargo de diretor do seminário e deixou a Argentina para mofar em um sótão em Londres, sem palavra nem ministério episcopal, porque estava proibido. Ele não tinha praticamente mais que o ministério dos “Comentários Eleison”, e a recusa a suspendê-los constitui a maior parte dessa “desobediência” pela qual é criticado.

No tocante à sua saída da Argentina, é bem sabido que as autoridades da SSPX não tem absolutamente nenhuma influência nisso. Bispo Williamson não deixou a  Argentina por livre e espontânea vontade e nem por que a SSPX mandou. As consequências de sua abrupta saída do páis são importantes para compreender como seu comportamento irresponsável afetou toda a Organização. Dom Williamson recebeu do Governo da Argentina uma ordem de deportação. A ele foi dado 10 dez dias para deixar o país depois da controvérsia global que ele criou com suas declarações sobre o Holocausto. O Ministro do Interior da Argentina chegou a declarar à imprensa:

As declarações de Bispo Williamson sobre o Holocausto insultam profundamente a sociedade da Argentina, a Comunidade Judaica e toda a humanidade por negar uma verdade histórica

A esse ponto, qualquer um que estiver acompanhado toda essa trajetória de gafes incompatíveis com a posição de um prelado, deveria se perguntar se os comentários de Bispo Williamson na arena política trouxeram algum lucro para a causa da Tradição Católica ou se causaram irreparáveis danos não apenas ao apostolado da SSPX na América do Sul como à sua própria reputação. 

Devido à combinação desses múltiplos fatores, Dom Williamson não teve outra alternativa senão buscar refúgio em sua terra natal, a Inglaterra, onde se ele foi mofar num sótão foi única e exclusivamente por sua própria culpa. Mas se acham que a controvérsia termina ai, esperem pelo pior! Na Alemanha, bem no local onde se encontra a sede da SSPX, um tribunal alemão tentava punir o Bispo por suas teorias de conspiração sobre o Holocausto em entrevista a uma emissora de TV. O tribunal da cidade de Regensburg havia emitido uma ordem de punição contra ele que só foi revertida devido a erros técnicos na redação do documento. Dom Williamson ja havia declarado em 2008 numa emissora sueca que não acreditava que judeus haviam sido mortos em câmeras de gás durante a Segunda Guerra Mundial. O grande problema aqui não é teológico ou de doutrina e sim criminal já que negar a realidade do Holocausto é crime segundo as leis da Alemanha. Você publica alegações sérias misturadas com especulação por conta do seu próprio risco.

E desde 2009 os Superiores da Fraternidade se deram o direito de desacreditá-lo e injuriá-lo tanto quanto quisessem, e em todo o mundo incentivaram cada membro da Fraternidade que o quisesse a fazê-lo também. Seu servidor reagiu muito pouco, preferindo o silêncio a confrontos escandalosos. Poder-se-ia dizer até que ele se obstinou em não desobedecer.

Em primeiro lugar, se toda essa humilhação não é o problema real, por que descrevê-las numa carta aberta e nos mínimos detalhes? Naturalmente o que ele está tentando fazer é tornar sua mensagem conhecida por um público que vai muito além daquele a quem a carta é endereçada. Humilhação na Teologia Cristã é  um meio de se mortificar o orgulho. Tal mortificação conduz a um estado onde a pessoa se torna humilde ou  reduzida a um estado de submissão. Geralmente é um estado percebido apenas por aqueles cujo status social foi rebaixado. Assim, não importa o que se diga, o fato é que Dom Williamson cria a impressão de que ele é exatamente como o homem descrito em Provérbios 21,24: Chamamos de zombador um soberbo arrogante, que age com orgulho desmedido.

É impossível não ler o seu lado na controvérsia sem ter a nítida impressão de que Dom Williamson nunca viu seu Superior como seu Superior. Talvez pelo fato de terem sido consagrados juntos, me parece que ele realmente acreditava no princípio da Colegialidade segundo a qual todos os quatro tinham direitos iguais dentro da Fraternidade. Provavelmente no seu orgulho desmedido ele se vê a si próprio exatamente como Richard I da Inglaterra: Eu nasci numa posição social que não reconhece ninguém superior a mim, a não ser Deus!

Por outro lado, quando Dom Williamson alega que  preferiu o silêncio a escandalosos confrontos ele também cai em contradição. Basta prosseguir com a leitura de sua carta para encontrar o real motivo pelo qual ele foi ordenado a fechar seu apostolado cibernético chamado Comentários Eleison. Segundo suas próprias palavras, ele passou a usar o que deveria ser um apostolado para confirmar os irmãos na fé, para derrubar seus irmãos na fé. Ou seja, ele mesmo assume que por várias vezes usou do meio virtual para criticar as autoridades da SSPX e que muitas vezes os ataques desferidos falhavam em observar o respeito devido ao cargo ou às pessoas a quem tais ataques eram dirigidos. Para alguém que diz ter preferido o silêncio, nota-se que esse é um Bispo do barulho! Como já dizia Santa Teresa de Avila: Deus nos livre daqueles que querem servi-Lo mas se preocupam demais com sua própria dignidade ou temem pela sua reputação.

De volta à Europa, a descrição que Dom Williamson faz do sótão em Londres nos dá uma idéia do seu caráter e do contraste que existe entre o homem orgulhoso e os Santos da Igreja. Sua descrição nos dá uma lição imemorial. Na noite do dia 2 de dezembro de 1577, um grupo de carmelitas opostos à reforma do Carmelo invadiram a casinha que São João havia alugado para dar início ao novo mosteiro em Avila e o levaram prisioneiro.

São João da Cruz estava começando a empreender a mesma reforma de Teresa, mas havia recebido ordens de seus superiores para deixar Avila e retornar  ao mosteiro original. João se recusou alegando que sua reforma havia sido aprovada pelo Nuncio Apostólico, uma autoridade superior aos seus Superiores. Os Carmelitas então o levaram preso para o Mosteiro de Toledo onde cerca de 40 monges viviam. João foi levado diante de um tribunal de monges, acusado de desobediência.

Apesar de argumentar que não havia desobedecido a regra, ele recebeu como punição a prisão em cela solitária e ali foi mantido sob um regime brutal que incluía chicotadas diante de toda a comunidade pelo menos uma vez por semana. Sua cela era tão pequena que para ler seus breviário ele precisava subir num banquinho pra alcançar a luz que entrava por um buraco na parede. Não lhe providenciavam trocas de roupa e suas refeições eram pão, água e lascas de peixe seco.

Durante seu período na prisão, ele compôs parte do famoso poema Cânticos Espirituais. O papel lhe era passado por um monge amigo  que guardava a cela. São João da Cruz conseguiu escapar apenas nove meses depois por uma pequena janela na sala adjunta. Enquanto S. João da Cruz usou da experiência da cruz e da humilhação para compor a obra prima da poesia Espanhola: A Noite Escura do Espírito, Dom Williamson, ao contrário, faz das suas controvérsias e transferências, mais oportunidade para agitação política e para empreender uma cruzada pessoal contra seu antigo Superior.

Para um homem que prega de modo tão eloquente a necessidade da Igreja retornar à disciplina dos tempos antigos, eu me pergunto qual seria sua reação se ele tivesse que encarar a mesma experiência de São João da Cruz! Cilício na pele dos outros é refresco! A essa altura se ele tinha alguma razão essa se perdeu juntamente com a sua compostura. O que foi feito da obediência, do sofrimento em silêncio, de aceitar a culpa até mesmo quando inocente? Onde foi parar a sabedoria e a experiência dos Santos? No fundo ele não perdeu o ranço do Protestantismo.
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Mas passemos adiante, porque o verdadeiro problema não está aí. Então, onde está o verdadeiro problema? Para responder, que se permita ao acusado olhar rapidamente para a história da Fraternidade de que querem separá-lo. Na verdade, o problema central vem de longe.

Esse processo de ir muito além do real conflito para justificar suas posições não deixa de ser interessante porque é fácil perceber que o problema central de Dom Williamson com Dom Fellay  realmente vem de longas datas. Não é algo que começou ontem com essas discussões com as autoridades de Roma.

Sinto muito dizer, mas Dom Williamson falha em especificar quais eram as tensões internas  que levaram à ruptura entre ele, seu Superior na Fraternidade e os padres que agora se associam a ele.  E esse que é o real problema aqui.  Ha fortes indícios de que Dom Williamson também é a fonte do vazamento das cartas internas que circularam pela internet com a clara intenção de gerar uma crise de confiança que levaria à queda do Bispo Fellay.

Numa recente conferencia Dom Fellay explicou exatamente como se deu o ocorrido. Depois de várias reuniões e colóquios a pedido do próprio Papa e de autoridades do Vaticano, ele deixou claro quais seriam suas condições para uma possível reaproximação entre a SSPX e o Vaticano. O conteúdo desse documento foi modificado pelas autoridades do Vaticano e reenviados para ele assinar, o que naturalmente ele recusou. Isso foi a oportunidade de ouro para expor Dom Fellay como um traidor da Tradição e levantar motim para depô-lo.

O que é triste em todo esse episódio é a lavagem de roupa suja em público. Diferenças e desacordos entre membros de uma Comunidade religiosa não é algo novo na história da Igreja. A tensão entre  religiosos que escolhem uma vida apostólica fora da autoridade de um Bispo ou Congregação não é fácil. Sempre existiu e sempre vai existir, mas o modo como essas crises são endereçadas fala alto sobre o caráter destrutivo das pessoas que transformam sua raiva ou frustração em calunia e difamação. Teresa de Avila em sua obra Castelo Interior já advertia suas freiras contra esse tipo de comportamento: Cuidado irmãs com cuidados e zelos que não tem nada a ver com vocês. Lembrem-se que há poucas moradas nesse castelo ( alma) em que vocês estão livres de ter que lutar contra o demônio

E continuava: Vamos nos refrear de zelos indiscretos que podem nos causar grande dano. Que cada uma se examine a si própria. Como eu ja falei disso não quero me estender mais. Essa caridade mútua é tão importante que jamais deveriamos esquece-la. Pois se uma alma fica obsecada em caçar faltas nos outros ela não só perde sua paz interior como disturba os outros. Isso se aplica a cada uma de vocês... e para nos prevenir do engano do demonio, eu enfatizo a necessidade de se discutir qualquer problema apenas com a pessoa envolvida.

Catolicismo e liberalismo

A partir da Revolução Francesa no século XVIII, em muitos dos estados anteriormente cristãos se começou a estabelecer uma nova ordem mundial, concebida pelos inimigos da Igreja para expulsar Deus de sua criação. Começou-se por substituir o Antigo Regime, no qual o Trono apoiava o altar, pela separação entre Igreja e estado. Descobriu-se uma estrutura de sociedade que é radicalmente nova e difícil para a Igreja, porque o Estado, doravante ateu, terminará por opor-se com todas as suas forças à religião de Deus. Com efeito, os maçons desejam substituir o verdadeiro culto a Deus pelo culto à liberdade, do qual o estado neutro em matéria de religião não é senão um instrumento. Assim começa, nos tempos modernos, uma guerra implacável entre a religião de Deus, defendida pela Igreja Católica, e a nova religião do homem, liberta de Deus e liberal. Estas duas religiões são tão inconciliáveis como Deus e o demônio. É preciso escolher entre o catolicismo e o liberalismo.
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Mas o homem não quer ter de escolher entre a lua e as estrelas. Quer ter a ambos. Na esteira da Revolução, encontramos Felicité de Lamennais, que inventou o catolicismo liberal, e a partir desse momento a conciliação do inconciliável se torna banal dentro da Igreja. Durante 120 anos, a misericórdia de Deus deu à Sua Igreja uma série de papas, de Gregório XVI a Pio XII, que em sua maioria viam com clareza e se mantiveram firmes, mas um número sempre crescente de fiéis se inclinou em direção à independência de Deus e aos prazeres materiais a que o catolicismo liberal facilita muito o acesso. Uma corrupção progressiva alcançou os bispos e os sacerdotes, e então Deus terminou por permitir-lhes escolher o tipo de papas que preferiam, ou seja, aqueles que parecem ser católicos mas na realidade são liberais, que falam à direita mas agem à esquerda, que se caracterizam então pela contradição, pela ambiguidade, pela dialética hegeliana e, em uma palavra, pela mentira. É a Neo-Igreja do Vaticano II.

Não poderia ser de outra maneira. Não é mais que sonho poder conciliar realidades que são inconciliáveis. Mas Deus – palavra de Santo Agostinho – não abandona as almas que não querem abandoná-Lo, e então Ele vem em auxílio do pequeno resto de almas católicas que estão cansadas da apostasia mole do Vaticano II. Ele suscita um arcebispo que resistirá à traição dos prelados conciliares. Respeitando a realidade, não buscando conciliar o inconciliável, negando-se a sonhar, este arcebispo fala com a clareza, a coerência e a verdade que faz as ovelhas reconhecer a voz do Mestre Divino. A Fraternidade Sacerdotal que ele funda para formar verdadeiros sacerdotes católicos começa em pequena escala, mas, rejeitando resolutamente os erros conciliares e seu fundamento no catolicismo liberal, atrai os verdadeiros católicos em todo o mundo e constitui a espinha dorsal de um movimento na Igreja que se chama Tradicionalismo.

Ora, esse movimento é insuportável para os homens da Neo-Igreja que querem substituir o catolicismo pelo catolicismo liberal. Ajudados pelos meios de comunicação e pelos governos, eles fizeram de tudo para desacreditar, desonrar e banir o arcebispo corajoso. Em 1976 Paulo VI o “suspendeu a divinis”, e em 1988 João Paulo II o “excomungou”. Este arcebispo exaspera sumamente os papas conciliares, porque sua voz realmente eficaz arruína seu pacote de mentiras e põe em perigo sua traição. E sob o golpe de sua perseguição, e até de sua “excomunhão”, ele mantém-se firme, e com ele muitos sacerdotes da Fraternidade.

Esta fidelidade à verdade obtém de Deus 12 anos de paz interior e prosperidade exterior para a Fraternidade. Em 1991, o grande arcebispo morreu, mas ainda por nove anos sua obra continua na fidelidade aos princípios antiliberais em que ele a construiu. Então, o que farão os romanos conciliares para superar essa resistência? Vão trocar a vara pela cenoura.

Romano Amerio em seu livro Iota Unum descreve a Igreja num profundo dilema. De um lado ela não se identifica com nenhuma sociedade em particular e agindo assim ela é fiel à sua própria tradição, mas do outro ela quer atuar como fermento em todas as sociedades empurrando-as para um mundo mais justo e mais humano. Essa tentativa de conciliar os dois mundos foi o erro promovido pela Igreja após o Concílio. Mas esse não é um erro específico do Concílio. Isso ocorreu também com os Jesuítas no passado. Agora, Arcebispo Lefebvre corajosamente lutou para preservar a Tradição mas sempre teve clara a intenção de que sua obra, a SSPX fosse para servir a Igreja Universal. Dom Fellay recentemente conseguiu através de prudentes negociações várias conquistas para todos aqueles que lutam pela Tradição Católica. Apesar de repetidas previsões de que ele estava se vendendo para as autoridades modernistas, isso nunca ocorreu.

A tragédia é que aqueles que tem tendência a  dar ouvidos a teorias de conspiração, sempre acreditam em mais outras. E isso tem sido o caso com os seguidores de Dom Williamson. Alguns deles dizem claramente que o Bispo apenas diz o que eles mesmos não tem coragem de dizer. A minha teoria é de que cada panela tem sua tampa e quando elas se juntam o cozido fica perfeito. Durante uma recente conferência de Dom Williamson em Toronto um dos membros da audiência chegou a sugerir que a criação da SSPX pelo Arcebispo Lefebvre teria sido o complô da franco-maçonaria desde seu inicio, para atrair todos os católicos fiéis à Tradição e depois trazê-los para o controle de Roma mediante essas negociações. Algo bem no sentido da trilogia do Senhor dos  Anéis: um anel para juntá-los todos e amarrá-los todos no Modernismo do Vaticano II. 

Essa é mais uma dessas tristes conferências onde com o pretexto de confirmar os irmãos na fé Dom Williamson aproveita para derrubar seus ex-irmãos no episcopado zombando deles de uma maneira que não fica nada bem para o seu oficio de Bispo. E o que é pior, espalhando calúnias que são pecado grave contra a justiça. Ouvindo suas acusações infundadas eu só consigo me lembrar das palavras da sábia Teresa de Avila: Eu certa vez ouvi de um homem muito espiritual que dizia: de uma pessoa que cai em pecado mortal eu não me surpreendo nada pelo que elas fazem e sim com o que elas deixam de fazer
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Que Dom Williamson esteja numa cruzada pessoal contra Dom Fellay dá até pra entender seus motivos. É perfeitamente compreensível que alguém se rebele contra algo que ele ache injusto. Desde os dias de Adão o ser humano é rebelde por natureza. Mas ao ouvir algumas pessoas rindo de suas anedotas e sarcasmo barato, realmente deu pra sentir pena. Essas eram as mesmas pessoas que há pouco tempo frequentavam as Capelas da SSPX, que tiveram seus filhos batizados e crismados por sacerdotes que agora eles desprezam! Elas infelizmente não aprenderam absolutamente nada sobre o respeito devido aos sacerdotes.

Infelizmente a palavra gratidão é a primeira a pular pela janela quando o espírito de rebelião toma conta do coração. E algumas pessoas realmente acreditam que a Igreja lhes deve alguma coisa e se não conseguirem do modo que elas acham que tem que ser, tornam-se indignadas. Tais pessoas precisavam ler mais o que Santa Teresa fala de auto-conhecimento e humildade.  
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Desde 2000, a Fraternidade mudou de direção.

Em 2000, uma grande peregrinação da Fraternidade pelo Ano do Jubileu mostra nas basílicas e nas ruas de Roma a piedade e o poder da Fraternidade. Os romanos se impressionam a contragosto. Um cardeal convida os bispos para um café da manhã suntuoso em sua casa, convite aceito por três deles. Imediatamente após este café da manhã aparentemente fraternal, os contatos entre Roma e a Fraternidade, que desde havia 12 anos se haviam esfriado muito, foram retomados, e com eles começa a poderosa sedução pelos botões escarlates e pelos pisos de mármore.

Esse argumento de Bispo Williamson segundo a qual a SSPX havia começado a se derreter desde a peregrinação do ano 2000, não se sustenta. As evidências que ele traz são frases fora de seu contexto. O simples fato é que para Dom Williamson qualquer tentativa de diálogo com as autoridades do Vaticano são erradas. De modo que até um almoço com um Cardeal do Vaticano é tido por ele como conduta inapropriada ou uma traição a Dom Lefebvre. Como se Dom Lefebvre não tivesse tido vários encontros dessa natureza no passado! É óbvio que Dom Williamson vê Roma como um lugar pernicioso e a ser evitado como a lepra ao invés do centro do Catolicismo e a Sé Apostólica. Com todos os erros que possa ter e com toda a corrupção que possa existir alguém que se diz católico não pode recusar a admitir a realidade da Igreja visível. Esses pisos de mármore tem história de Bellini a Michelangelo e é tudo Igreja e história da Igreja. Infelizmente, essa posição nem é mais sedevacantista e sim ecclesiavacantista. Ou seja, para tais pessoas a Igreja como realidade concreta deixou de existir e só eles agora são Igreja ou os remanescentes da verdadeira Igreja visivel. E depois ainda falam em heresia!

Os contatos se reaquecem tão rapidamente, que já no final do ano muitos sacerdotes e fiéis da Tradição temem uma conciliação entre a Tradição católica e o Concílio liberal. Esta conciliação não tem êxito por ora, mas a linguagem do Quartel-General da Fraternidade em Menzingen começa a mudar, e nos 12 anos vindouros se mostrará cada vez menos hostil a Roma e cada vez mais acolhedora para com as autoridades da Igreja conciliar, para com os meios de comunicação e seu mundo. E, à medida que a reconciliação do inconciliável se prepara na cabeça da Fraternidade, em seu corpo de sacerdotes e leigos a atitude se torna pouco a pouco mais benigna com relação aos papas e à Igreja conciliares, a tudo o que é mundano e liberal. Afinal de contas, o mundo moderno que nos rodeia é tão ruim quanto estão tentando fazer-nos acreditar?

Este avanço do liberalismo no seio da Fraternidade, percebido por uma minoria de sacerdotes e fiéis, mas aparentemente imperceptível para a grande maioria, tornou-se perceptível para muitos na primavera deste ano, quando, após o fracasso das discussões doutrinais na primavera de 2011, a política católica de “não ao acordo prático sem acordo doutrinal” se converteu, do dia para a noite, na política liberal de “não ao acordo doutrinal, mas sim a um acordo prático”. E, em meados de abril, o Superior Geral ofereceu a Roma como base de um acordo prático um texto ambíguo, abertamente favorável a esta “hermenêutica da continuidade” que é a receita bem-amada de Bento XVI para conciliar precisamente o Concílio com a Tradição! “É necessário um novo pensamento”, dirá o Superior Geral em meados de maio aos sacerdotes do distrito da Fraternidade da Áustria. Em outras palavras, o chefe da Fraternidade fundada em 1970 para resistir às novidades do Concílio propõe que ela se concilie com o Concílio. Hoje ela é conciliadora. Amanhã há de ser totalmente conciliar!

Aqui se vê claramente que aqueles que não abraçam o sedevacantismo velado ou o anti-semitismo disfarçado de zelo pela Tradição são rapidamente rotulados de Católicos Liberais. Por algum tempo Dom Williamson teve carta branca pra conduzir com mão de ferro a SSPX nos Estados Unidos sem ser incomodado. Suas declarações escandalosas não eram censuradas e nem criticadas. Até que suas atitudes começaram a trazer não pouco prejuízo para SSPX . Só então seus Superiores resolveram neutralizá-lo. A partir do momento que os Superiores passaram a ter cuidado para que a obra de Monsenhor Lefebvre não caisse na categoria de uma seita de fanáticos ele passou a acusá-los de promover um avanço do liberalismo.

Quase não se pode acreditar que a fundação de Monsenhor Lefebvre tenha sido conduzida a pôr entre parênteses os princípios sobre os quais ele a fundou, mas eis o poder de sedução das fantasias do nosso mundo sem Deus, modernista e liberal. No entanto, a realidade não deixa dobrar-se pelas fantasias, e é parte da realidade que não se podem desfazer os princípios de um fundador sem desfazer a sua fundação. Um fundador tem as graças especiais que nenhum de seus sucessores tem. Como exclamava o Padre Pio enquanto os Superiores de sua Congregação se punham a “renová-la” segundo o novo pensamento do Concílio, que acabava de terminar: “O que vocês estão fazendo do fundador?” O Superior Geral, o Conselho Geral e o Capítulo Geral da Fraternidade São Pio X quiseram manter como mascote a Monsenhor Lefebvre, mas eles têm o novo pensamento de deixar de lado as graves razões pelas quais ele fundou a Fraternidade. Eles a levam, pois, à ruína por uma traição ao menos objetiva, de todo paralela à do Concílio Vaticano II.

Dom Williamson se tornou o mais vocal representante da injustificável posição reconheço mais resisto. É dificil entender como seus seguidores podem reconciliar tão contraditória posição. Para quem sempre disse que não deveríamos prestar honras públicas a Padre Pio para não dar credibilidade às canonizações da Igreja Conciliar, me parece de fato contraditório que seja ele a usar Padre Pio como mascote na hora de justificar suas opiniões! Logo Padre Pio que apesar de ter recebido permissão para continuar celebrando no rito antigo, sempre reafirmou sua adesão e apoio ao Papa e ao Vaticano II.

Numa carta datada do dia  23 de setembro de 1968, Padre Pio reitera seu apoio ao Papa Paulo VI com as seguintes palavras:

Eu me uno juntamente com meus irmãos aos seus pés com afeto e respeito, com toda minha devoção à sua agusta pessoa, em ato de fé, amor e obediência à dignidade Daquele a quem estás representando na terra. A Ordem dos Capuchinhos sempre esteve em primeira linha em amor, fidelidade, obediencia e devoção à Santa Sé, portanto eu oro a Deus para que possamos continuar assim em toda a tradição de religiosidade, seriedade e austeridade, pobreza evangélica e fiel observância da Regra e da Constituição, certamente renovando sua vitalidade e espirito de acordo com as orientações do Segundo Concílio Vaticano, de modo a sempre atender às necessidades da Madre Igreja sob o reinado de Vossa Santidade...

Mas sejamos justos e não exageremos. Desde o início deste lento declínio da Fraternidade, sempre houve sacerdotes e fiéis que viram claramente e fizeram o que puderam para resistir. Na primavera deste ano, esta resistência tomou alguma consistência e amplitude, de modo que o Capítulo Geral de julho pôs ao menos um obstáculo no mau caminho do ralliement. Mas será que esse obstáculo se sustentará? Pode-se temer que não. Diante de cerca de 40 sacerdotes da Fraternidade Sacerdotal reunidos em retiro em Écône em setembro, o Superior Geral, referindo-se à política romana, confessou: “Eu me enganei”. De quem é a culpa? “Os romanos me enganaram.” Igualmente, disso resultou “uma grande desconfiança na Fraternidade”, disse ele, que deve ser “superada com atos e não somente com palavras”. Mas de quem é a culpa? Até agora, desde setembro suas ações, incluindo essa carta de 4 de outubro, indicam que ele se volta contra os sacerdotes e leigos que não puderam manter a confiança nele, seu chefe. Depois do Capítulo, como antes, parece que ele não suporta nenhuma oposição à sua política conciliadora e conciliar.

Dom Fellay explicou claramente o que aconteceu depois dos sucessivos colóquios e encontros com os Cardeais Levada e Muller. Ele jamais teve intenção de alterar uma só vírgula na declaração que reafirma os princípios da Fraternidade e havia alertado às autoridades de Roma que se o documento elaborado por ele fosse alterado, ele não assinaria. E de fato o documento voltou alterado como se ele tivesse concordando com tudo que antes ele havia discutido e recusado a reconhecer. A desconfiança que Dom Williamson diz ter se espalhado pela Fraternidade foi criada pelo próprio Dom Williamson que queria se aproveitar da oportunidade pra sair do seu silêncio obsequioso e promover um golpe que derrubaria o Superior Geral e o levaria a tomar o poder na SSPX. Briga pelo poder, nada mais que isso! E os incautos saem pela internet queimando sua própria reputaçao ao proclamá-lo o Novo Atanásio o defensor da Fé. Sinto muito por essas pessoas porque quando se derem por conta do quanto estão sendo usadas e manipuladas será tarde demais. Ficarão confusas e envergonhadas.

Dom Williamson agora acusa Dom Fellay de se voltar contra os sacerdotes que não puderam manter a confiança nele. Curioso que ele não fez outra coisa enquanto governou com mão de ferro a SSPX nos Estados Unidos! Mas se formos analisar, o número de rebeldes foi insignificante porque o esplendor da verdade só ofusca os olhos daqueles que preferem viver nas trevas da mentira.



A TRADIÇÃO CATÓLICA E O VATICANO II SÃO INCONCILIÁVEIS.

E aqui está a razão pela qual o Superior Geral deu várias vezes a ordem formal de encerrar os “Comentários Eleison”. Na verdade, estes “comentários” criticaram repetidamente a política de conciliação com Roma por autoridades da Fraternidade, e por isso as atacaram implicitamente. Ora, se nessa crítica e nesses ataques houve falta de respeito ao seu ofício ou a suas pessoas, peço de bom grado perdão a quem de direito, mas acho que basta percorrer os referidos números dos “Comentários” para ver que a crítica e os ataques permaneceram geralmente impessoais, porque visavam a muito mais que simples pessoas.Quanto ao grande problema, que vai muito além das pessoas, consideremos a confusão que reina atualmente na Igreja e no mundo e que põe em perigo a salvação eterna de incontáveis almas.

Santa Tereza também nos adverte que muitas vezes o demônio nos inspira desejos de grandeza de modo que ao invés de nos contentarmos em servir a Deus no que é possível, criamos devaneios de fazer o que nos é impossível. Em suma, que não é possível construir torres sem fundações. Deus não olha tanto a grandeza de nossas obras mas sim o amor que empregamos em edificá-las. Depois a Santa pergunta: Pode haver mal maior do que aquele que encontramos dentro de nossas próprias casas? E ela conclui: se não trabalharmos pela paz dentro de nossas próprias casas é inútil buscá-la em moradas alheias.

Dom Williamson admite publicamente que usava seu blog na intenet pra atacar seus Superiores e depois reclama das consequencias de suas ações. Ele semeou a discórdia, incitou a rebelião e ainda acha que é pouca coisa! Enquanto ele era reitor do Seminário de Winona ele jamais admitiu conducta semelhante de seus subordinados. E por que agora o Superior da Fraternidade deveria admitir sua insubordinação? Dom Fellay foi muito claro em sua última conferência ao dizer que esse espírito de rebelião ele teve que aturar por anos e anos e não tem absolutamente nada a ver com as discussões com Roma, as quais ele teve que conduzir como quem anda sobre o fio de uma navalha. Há muito tempo o amante das teorias de conspiração arquitetava por debaixo dos panos uma conspiração que da teoria rapidamente evoluiu para a prática.

Não é dever de um bispo identificar as verdadeiras raízes dessa confusão e denunciá-las publicamente? Quantos bispos em todo o mundo viam tão claro como Monsenhor Lefebvre via, e dão o ensinamento correspondente a esta clareza? Quantos deles ainda ensinam a doutrina católica, tal qual é? Não são muito poucos? Assim, é este o momento de tentar silenciar um bispo que o faz, como o prova a quantidade de almas que recebem os “Comentários” como a uma tábua de salvação? E como, em particular, outro bispo pode querer encerrá-los, ele, que admitiu diante de seus sacerdotes que quanto às mesmas grandes questões se deixara enganar, e isso por muitos anos?

Igualmente, se o bispo refratário com efeito se permitiu – pela primeira vez em quase quatro anos – fazer um apostolado independente, como podem censurá-lo por ter aceitado um convite, independente da Fraternidade, para dar a Crisma e para pregar a palavra da verdade? Não é este o papel de um bispo? Sua palavra no Brasil não foi de “confusão” senão para aqueles seguem o erro reconhecido e mais acima referido.

E certamente  Bispo Williamson não é um deles já que se tornou um semeador de confusão e discórdia. Ele vive tão obsecado com teorias de conspiração que parece ter se esquecido completamente de seu ofício de ensinar a sã doutrina da  salvação! A esse ponto deveríamos analisar se em algum momento Jesus minou sua própria credibilidade falando de coisas que não diziam respeito à sua missão.
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Muito pelo contrário! Todas vezes que os fariseus armavam-lhe ciladas para envolvê-lo em controvérsias temporais Ele sabiamente se esquivou oferecendo-lhes parábolas que desmascaravam não somente a hipocrisia deles como suas pérfidas intenções. Que falta nos faz um Bispo sábio que com palavras de autoridade sabe como colocar jornalistas em seu devido lugar, levando muitos deles à conversão ao invés de se tornar objeto de manipulação e escárnio nas da mídia!
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O fato é que Bispo Williamson fez de si mesmo um espetáculo e objeto de escárnio ao sair propagando suas infantis teorias de conspiração na mesma mídia que ele considera demoníaca. Se era pra brincar com o demônio, esse último se mostrou bem mais esperto do que ele. E ele sabia bem que suas ações seriam motivo de constrangimento  para o Papa, para a SSPX e todos seus membros. Ele colocou seu hobby, seu orgulho intelectual e sua vaidade acima dos interesses da Igreja e da Fraternidade a qual ele foi consagrado para servir.
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Novamente, o que ele acredita a respeito do Holocausto, dos atentados de 11 de Setembro, etc é problema pessoal dele. O grande problema é ele sair por ai promovendo essas teorias para os incautos com a desculpa de alimentar e santificar os fiéis de acordo com a Sã Doutrina. Usar a Sã Doutrina e a Missa Tradicional como veículo para transmitir juntamente lixo intelectual se não for sacrilégio é no mínimo desonestidade intelectual.
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A essa altura, creio que alguns de seus seguidores deveriam por dever de caridade adverti-lo para medir melhor suas palavras e deixar seu escárnio e críticas maldosas restritas a ambientes privados. Poupe-nos desse espetáculo deprimente. Parece que Dom Williamson se esqueceu por completo (ou nunca ligou para) os princípios mais elementares da correção fraterna, segundo a qual as queixas que porventura se tenha contra um irmão devem ser tratadas em privado. A carta inteira transpira esta incoerência, esta linguagem dupla que mantém, lado-a-lado, uma alegada nobreza de intenções unida ao mais vil e desprezível tratamento reservado aos seus irmãos no episcopado.
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Aqui nós encontramos, já desde o começo, a linha mestra que irá conduzir todo o texto: os ataques gratuitos, sem que seja apresentado absolutamente nada para embasar as acusações que são feitas. Causa espécie que uma carta endereçada a Dom Fellay e que tem por objetivo denunciar as (alegadas) atitudes negativas dele não traga um único exemplo daquilo que alega! A coisa mais fácil do mundo é selecionar textos fora de contexto para servir de pretexto a interesses escusos. Curiosamente, nessa carta nem mesmo isso foi feito.
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Para aqueles que citam a Reforma de Teresa como exemplo da divisão que Dom Williamson está promovendo no seio da Fraternidade, é bom que reflitam sobre as palavras da Santa:
Olhemos as nossas faltas e deixemos as alheias, pois é muito próprio de pessoas tão concertadas espantarem-se de tudo; e porventura de quem nos espantamos, bem poderíamos aprender no principal. Na compostura exterior e na maneira de tratar, levamos-lhe vantagem; e não é isto o que tem mais importância, embora seja bom, e nem há para quê querer logo que vão todos pelo nosso caminho, nem pôr-se a ensinar o que é do espírito quem porventura não sabe o que isso é; pois com estes desejos que Deus nos dá, irmãs, do bem das almas, podemos cometer muitos erros. E assim é melhor ater-nos ao que diz a nossa Regra: «procurar viver sempre em silêncio e esperança», que o Senhor terá cuidado de nossas almas. Desde que não nos descuidemos de o suplicar a Sua Majestade, faremos grande proveito com Seu favor. Seja para sempre bendito.

E, se ele parece após tantos anos separar-se da Fraternidade, separa-se, sim, mas apenas da Fraternidade conciliadora e não da fundada pelo Monsenhor Lefebvre. E, se parece mostrar-se insubmisso a todo exercício de autoridade por parte dos líderes da Fraternidade, sim, igualmente, mas apenas às ordens que vão de encontro aos objetivos com os quais foi fundada. De fato, com respeito a que outras ordens além da de encerrar os “Comentários” pode afirmar-se que ele foi culpado de desobediência “formal, obstinada e pertinaz”? Há alguma outra? A desobediência de Monsenhor Lefebvre, não tendo sido senão aos atos de autoridade dos chefes da Igreja que eram de natureza a destruir a Igreja, era mais aparente que real. Do mesmo modo, a “desobediência” daquele que não quis encerrar os “Comentários” é mais aparente que real.

Aqui Bispo Williamson também defende a teoria de que Arcebispo Lefebvre jamais desejou qualquer forma de reaproximação com Roma enquanto não visse a total conversão das autoridades Romanas. Em suas conferências ele condena Dom Fellay dizendo que qualquer tentativa de converter as autoridades romanas está fadada ao fracasso ja que tal milagre seria feito apenas por Nossa Senhora depois da real Consagração pedida por Nossa Senhora em Fátima. De qualquer modo suas especulações não passam de devaneios já que Arcebispo Lefebvre desde o início buscou e obteve das mesmas autoridades da Igreja, oficial reconhecimento para a Fraternidade que ele acabara de fundar e permaneceu em plena comunhão por muitos anos até o episódio das Consagrações Episcopais.
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Em 1970, bem depois do Concilio Vaticano II, Lefebvre pediu ao Bispo de Lausanne permissão para criar uma Fraternidade religiosa e teve seu pedido atendido. Assim a Fraternidade foi criada como Pia Unio em caráter experimental por 6 anos. Quando em janeiro de 1975, o Bispo de Friburgo escreveu a Roma pedindo que a Sociedade fosse dissolvida, Monsenhor Lefebvre foi a Roma pessoalmente para lutar pelos direitos de reconhecimento e quando a aprovação foi retirada ele contratou advogados para apelar da sentença. A história da Fraternidade está disponível online para quem quiser pesquisar. Não preciso me prolongar nesse item.

Pois a história se repete, e o diabo sempre volta à carga. Assim como ontem o Concílio quis conciliar a Igreja Católica com o mundo moderno, assim também parece que hoje Bento XVI e o Superior Geral querem, ambos, conciliar a Tradição católica com o Concílio; e assim amanhã, se Deus não intervier entre hoje e então, os líderes da Resistência católica buscarão reconciliá-la com a Tradição doravante conciliar.

Realmente é difícil de acreditar que um grande número de fiéis dependia desse seu blog na internet como se fosse sua ultima tábua de salvação. O que os fiéis realmente precisam é de catequese, acesso aos Sacramentos, receber o Corpo e o Sangue de Cristo na Eucaristia ao invés de pão e vinho ordinário de consagrações duvidosas. Pense nos milhões de Católicos que não tem acesso aos Sacramentos! O leigo pode até se informar sobre os documentos e a crise na Igreja mas o munus de ensinar é ainda das autoridades eclesiásticas.
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Esse é o problema atual da Tradição Católica. Todo mundo que abre um blog já se acha um São Tomás de Aquino. Alguns são capazes de decorar até capítulos da Summa Teológica, mas se perguntar quais são os Sacramentos da Igreja ou os pecados capitais, ficarão perdidos ou precisarão de uma rápida consulta no Catecismo! Quantos realmente sabem as orações básicas em latim? No encerramento da ultima conferencia de Dom Williamson em Toronto seus seguidores sequer sabiam cantar a antifona mariana Alma Redemptoris Mater! Tiveram que arrematar com uma Salve Regina! Mas esses são os mesmos que tem inúmeras provas de que a SSPX se afastou da Sã Doutrina que eles mesmo não sabem qual é.
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O ponto que eu quero chegar é que cada um deve viver de acordo com seus deveres de estado. Como ja dizia São Paulo os consagrados cuidam das coisas de Deus e os casados cuidam das coisas do mundo procurando agradar uns aos outros. Os problemas que são da alçada dos religiosos, deixe que eles resolvam entre eles. Nós temos zero influencia sobre essas controvérsias e por engano ou espírito de maledicência muitos acabam não só se envenenando como também envenenando e pondo em perigo a fé alheia.

MONSENHOR FELLAY É QUEM DEVE RENUNCIAR!

Em suma, Senhor Superior Geral, o senhor pode agora proceder à minha expulsão, porque meus argumentos certamente não o persuadirão, mas esta expulsão será mais aparente que real. Eu sou membro da Fraternidade de Monsenhor Lefebvre por um compromisso perpétuo. Eu sou um dos seus sacerdotes há 36 anos. Eu sou um dos seus bispos, como o senhor, há quase um quarto de século. Isso não pode ser riscado com uma penada, e, portanto, membro da Fraternidade permaneço.

Tivesse o senhor permanecido fiel à sua herança, e tivesse sido eu mesmo notadamente infiel, eu reconheceria de bom grado o seu direito de expulsar-me. Sendo porém as coisas como são, espero não faltar com o respeito ao seu ofício se sugerir que, pela glória de Deus, pela salvação das almas, pela paz interior da Fraternidade, e por sua própria salvação eterna, melhor faria o senhor se renunciasse ao cargo de Superior Geral em vez de me expulsar a mim. Que Deus lhe dê a graça, a luz e as forças necessárias para cumprir tal insigne ato de humildade e de devotamento ao bem comum de todos.Assim, como tão frequentemente terminei as cartas que lhe dirijo há anos,

Qualquer um que está familiarizado com as atitudes e o caráter irascível de Dom Williamson sabe que os itens obediência e humildade são componentes quase inexistentes em sua personalidade, portanto as chances de que os outros Bispos ou padres da Fraternidade venham a apoiá-lo é quase zero. Pelo tom de suas conferências e pela desunião que ele vem pregando por todo os lugares por onde passa, me parece claro que sua permanência na Sociedade apenas causaria mais dano do que ja causou e eu tenho sérias dúvidas de que ele seria capaz de colocar os interesses ou o bem da Fraternidade acima de seus próprios interesses e ambições.
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No mais, o que podemos fazer é rezar por ele e por seus seguidores. Se o Senhor não construir a casa, seus construtores trabalham em vão. Portanto rezemos também por Bispo Fellay para que ele continue a lutar pelos interesses da Fraternidade e pela defesa da Tradição. Muitas são as aflições do justo, mas o Senhor de todas o livra. O que mais precisamos nesse momento é de união para combater o inimigo comum do Modernismo, da indiferença religiosa e da apostasia generalizada. Essa desunião pode alegrar apenas os inimigos da Igreja. Quanto àqueles que tantas graças já receberam através desses sacerdotes e Bispos não se esqueçam de seus benefícios e rezem para que continuem sendo dignos de receber as graças e os benefícios que já receberam.
Dominus tecum.

Gercione Lima
 
Dominus tecum.

+ Richard Williamson.


Aqui no Brasil Sua Excelência terá casa, comida e batina lavada. E mais um punhado de leigos sem noção como ele que, mesmo sabendo que irá se levar um tombo, permanecerá na insistência.

Só há um caminho: reforma da reforma e hermenêutica da continuidade. E nesse caso, quem vai ter que adaptar-se serão os tradôs. Espero que isso não enfraqueça a atuação da FSSPX , bem como contribua para o Papa fortalecer esta linha. Qual a justificativa para Dom Williamson querer nomear/ordenar bispos em sua nova Fraternidade? De novo o estado de necessidade? Um anti-semita, ex-protestante, pode ter mais credibilidade que todos ? Até mais que a própria FSSPX ? Afinal, se ele não aceita mais o papa, que vá para o sedevacantismo! Não é à toa que dizem que está mentalmente perturbado
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PARA CITAR ESTE ARTIGO:

Sobre a carta aberta de Dom Williamson, o escudo da Tradição Católica

Texto em azul autoria Gercione Lima FSSPX Toronto Canadá. 

David A. Conceição, janeiro de 2013, blogue Tradição em Foco com Roma.

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