Até que a FSSPX decidiu varrer esses elementos de seu seio. Foi quando em nota publicou quem nem a Radio Cristandade nem o SPES não possui nenhum vínculo com ela. A partir daí esses mesmos leigos “rompem” com a FSSPX - o mais engraçado é nunca tiveram nenhum laço com a própria - e passaram a dar cabeçadas por aí. São os tradôs independentes.
Esses tradôs desde então mudaram sua rota de ataque, agora são “ligados” as capelas independentes que são anti-acordo. Se sentem inspirados divinamente para atacar Dom Fellay e o que eles passam a chamar de NeoFSSPX. E mais do nunca se sentem fortalecidos uma vez que Williamson, expulso da Fraternidade, agora também é um tradô independente.
Mas, da mesma forma que muitos dos tradôs só vivem o seu mundo da fantasia em honra pela Tradição apenas pela internet, também não tem conhecimento algum do que tanto aprontou o Leão da Fé. Aqui, reproduziremos uma refutação contra a carta aberta deste bispo por um fiel da FSSPX, - membro de sua capela em Toronto, que assiste suas Missas e dela recebe seus sacramentos - para expor o quanto o Guardião da Tradição só fez dar prejuízo moral e espiritual por onde pisou.
O problema é que o tiro pode sair pela culatra se a mensagem for recebida por um grupo que não concorda com o seu conteúdo ou que pode usar esse mesmo conteúdo como munição para rebater todas as contradições expostas na mensagem. E de certa forma é o que eu propus fazer aqui, porque quando você lê uma carta aberta, precisa levar em consideração sua fonte, sua credibilidade e qual o propósito de se escrever uma carta dessa natureza. Na maioria dos casos, uma carta aberta é sempre resultado de uma frustração, ira ou protesto contra uma mudança drástica de como as coisas eram antes conduzidas
Pois bem, numa entrevista a uma publicação alemã, Padre Niklaus Pfluger, Primeiro Assistente Geral da FSSPX, ao comentar sobre a precária posição do Bispo Williamson, disse:
“Dom Williamson recebeu várias advertências. Esse é um momento muito triste na história da nossa Sociedade. Se ele continuar com sua campanha de difamação contra a Sociedade e seu Superior Geral pela internet, não vejo como sua expulsão da Sociedade poderia ser evitada. Juntamente às falsas idéias que ele tem espalhado, ele tem conspirado de modo disfarçado. A verdadeira tragédia é o fato de que ele por anos tem recusado a autoridade do Superio Geral e assinalado a si próprio uma missão que lhe teria sido dada pelo próprio Deus. Diante do Capítulo Geral ele convocou padres e fiéis para uma rebelião e isso para um Bispo Católico é algo muito sério.”
Procurando entender melhor o que o Bispo Williamson tanto reclama, decidi examinar mais de perto do que ele chama de “frutífero apostolado” e o que se vê é que durante seus anos nos Estados Unidos suas atitudes provocaram vários cismas e divisões dentro da SSPX com a saída de vários padres que ou se juntaram aos sede-vacantistas ou para formarem institutos submissos à Comissão Ecclesia Dei. Mas como sempre, a culpa é sempre dos outros! Ele nunca assume as consequências desastrosas de suas atitudes. Padres americanos não gozavam da confiança de seus "mestres europeus"e eram constantemente transferidos ou expulsos por um reitor que por anos conduziu o Seminário com mão-de-ferro. Alguns padres que conviveram com Bispo Williamson revelaram em vários blogs pela internet que desde seus primeiros anos em Êcone, sua posição era claramente sede-vacantista e que frequentemente o ouviam declarar: “Estamos sem Papa”, mas por causa da controvérsia que esse assunto causa, preferimos negar essa posição ao público. Bom, se tais informações que circulam pela net forem mesmo verdadeiras, não vejo porque não deveríamos ser igualmente tolerantes com os Bispos modernistas a quem Dom Williamson acusa de não serem dignos de confiança por usar linguagem ambígua para promover sua causa.
Além disso, Bispo Williamson e alguns de seus seguidores se tornarem uma fonte de contínuo constrangimento para a SSPX nos Estados Unidos devido às suas opiniões chocantes e a mania obsessiva de denegrir em público instituições americanas. Em uma de suas cartas datadas de 1 de julho de 1991 ele prega que os princípios “Liberdade, Igualdade e Democracia” da Constituição Americana são diretamente responsáveis por pecados como o aborto. Segundo Williamson: “Democracia, um regime no qual nós, o povo, somos os soberanos, deixa claro que se nossas leis aprovam o aborto, o que de errado pode haver nisso?”. Aqui se vê que ele distorce qualquer sentença para servir ao propósito que ele deseja comunicar e é muito fácil desbancar seus silogismos, porque se a Democracia é a grande responsável pelo aborto, a quem deveríamos culpar o aborto em países como Rússia e China? E o que não dizer das leis de países como sua querida Inglaterra e outros governados por Monarquias onde o aborto é livre e financiado pelo Governo? Na maioria dos países europeus o aborto é legal e acessível até os três primeiros meses de gestação. A Polônia foi um dos poucos países a criminalizar o aborto em 1990, depois de anos de legalidade sob o regime comunista.
Mas o ataque contra as instituições Americanas não param por aí. Não se limitam apenas às instituições do país. Por anos seguidos essa animosidade contra a Constituição Americana, os Fundadores da República e o que ele chama de “Heresia Americanista” desmoralizou a SSPX e seus membros diante do público americano e levou alguns deles ao ponto de rebelião. A Declaração de Independência e a Constituição foram rotulados como os frutos mais perniciosos da Franco-Maçonaria. A Primeira Emenda da Constituição como a grande responsável pelo
“indiferentismo religioso”, por não assegurar o estabelecimento da Igreja Católica como a Igreja oficial do país. Americanos eram constantemente criticados pelo seu patriotismo e por oferecerem sua lealdade primeiramente à nação e não à Igreja.
Aqui se constata duas variantes: ou sua completa ignorância a respeito da História Americana ( o que é duvidoso já que ele é um homem culto) ou a má fé motivada por flagrante anti-americanismo. A verdade histórica é que os Fundadores da República não estavam envolvidos em um complô maçônico pra promover o que chamamos de indiferentismo religioso. A Europa, berço do Cristianismo enfrenta um indiferentismo religioso e relativismo moral bem mais graves. O que aconteceu nos Estados Unidos é parte da formação do país onde as antigas Colônias da União já possuíam suas igrejas protestantes estabelecidas como estatais. Em cada Colônia ou Estado, havia uma denominação protestante que dominava como os Congregacionalistas, Quakers, Episcopais, Metodistas, etc e o novo Governo Colonial não poderia dar prioridade ou promover nenhuma delas como “oficial” sem cometer suicídio já de início.
Para dizer a verdade, os católicos nos Estados Unidos podem se considerar com sorte pelo fato de nenhuma igreja nacional ter sido estabelecida pela Constituição Americana, porque tal igreja teria sido invariavelmente protestante. Jamais teria sido católica, visto que os primeiros peregrinos que chegaram aos Estados Unidos eram protestantes fugindo da perseguição anglicana na Inglaterra. Tal igreja oficial com certeza perseguiria os católicos e foi exatamente para prevenir isso que tanto no USA como Canadá foi preciso que o Governo criasse dois sistemas de ensino público: o católico para as crianças católicas e o público que era direcionado para as crianças de diferentes backgrounds religiosos.
Se formos parar para pensar, a primeira Emenda da Constituição Americana pode ser considerada providencial para os católicos que pertencem ou apoiam a SSPX. Sem poder contar com o selo de Roma e sem as devidas garantias constitucionais, seria quase impossível para a SSPX construir igrejas, escolas, seminários e promover a Fé Católica no USA. Os ataques do Bispo à Roma e aos Estados Unidos se tornaram tão violentos que falando a um grupo de fiéis no Colorado ele declarou: “A Nova Igreja usará os poderes do Estados contra a SSPX. E isso estará em perfeita sintonia com o Novo Governo Mundial de forma que a policia será enviada atrás de mim ou de vocês”. Apocalíptico? Nem um pouco!
Não é necessário ser nenhum especialista em política internacional para deduzir que não existe um só país na face da terra onde a polícia ou as autoridades do Estado não viriam atrás de um cidadão estrangeiro como Richard Williamson e o entregaria as autoridades de Deportação por pregar insurgência e desrespeito às instituições do país ou denegrir publicamente as autoridades constituídas como ele fez na época com o Presidente Bush: “Presidente Bush é um terrível traidor desse país. Ele está fazendo de tudo para desmantelar o USA e integrá-lo à Russia e a Nova Ordem Mundial, para beneficiar o Anti-Cristo e promover a destruição de tudo que há de melhor nos Estados Unidos”.
Durante a Guerra do Iraque ele também fez eco às autoridades que ele tanto despreza no Vaticano, criticando abertamente a participação do USA no conflito em várias de suas cartas aos fiéis. Imagine então como deveriam se sentir aqueles fiéis que tinham familiares militares, ouvindo de seu Bispo que seus filhos tinham ido morrer por petróleo! Para adicionar insulto à injúria Williamson fazia questão de promover em público a teoria de Conspiração que já foi tantas vezes provada ser falsa e sem nenhum fundamento, de que os ataques de 11 de Setembro nos Estados Unidos foram perpetrados pelos militares americanos para justificar as invasões do Iraque e do Afeganistão. As torres do WTC teriam sido derrubadas por companhias de demolição e não por aviões tripulados por terroristas e o próprio Pentágono teria sido alvo de um míssil americano, apesar de todos terem visto ao vivo pela TV os aviões se chocando contra as torres e os próprios cérebros dos atentados assumindo sua autoria.
A verdade é que muitas de suas conferências se parecem com as de um líder de seita à beira da paranóia. Primeiramente ele diz que a polícia estará “vindo atrás de nós”, logo em seguida ele dá os motivos pelos quais a polícia viria atrás dele e dos seus seguidores. E não será porque seu discurso soa a uma incitação à violencia política e faz dele uma “persona non grata” ao Departamento de Justiça, mas sim porque as autoridades estão a serviço do “anti - Cristo” e obsecadas em perseguir o último remanescente dos verdadeiros fiéis a Cristo. Me parece que ele se esqueceu completamente dos conselhos paulinos no tocante ao respeito devido às autoridades constituídas.
Para piorar, o grande problema com esse seu incansável ataque (ataque perpetrado por uma autoridade estrangeira) ao famoso patriotismo dos americanos é que a maioria dos fiéis e contribuídores financeiros da SSPX nos Estados Unidos são americanos conservadores de direita e patriotas convictos. E teremos que admitir que pessoas de nenhuma nacionalidade gostam de ouvir seu país sendo criticado por estrangeiros. Um membro da SSPX nos Estados Unidos que estava visivelmente aborrecido com essas declarações chegou a revelar que a Organização estava atirando no próprio pé.
Se Dom Lefebvre estivesse vivo, certamente não endossaria essas atitudes intempestivas de Richard Williamson que tanto dano causaram à instituição que ele lutou para erguer. Dom Lefebvre era acima de tudo um homem prático e segundo informações publicadas na revista Fidelity entre 1982-96, antes de proceder à Consagração dos quatro Bispos, ele tomou o cuidado de afastar de postos de comando os vários Superiores que se opunham a esse passo por temerem as consequências do que seria visto como um ato cismático. Igualmente, por motivos financeiros ele adiou o máximo essas Consagrações para garantir antes o dinheiro para a compra do terreno onde seria erguido o Seminário de Winona. Conta-se que naquela época a idéia do Seminário em Winona-Minnesota começava a decolar e Willianson alertou Dom Lefebvre que o benfeitor que estava prestes a comprar a propriedade para o Seminário poderia cancelar a transação se a SSPX recebesse uma excomunhão devido às Consagrações.
Até aqui nada de novo na história da Igreja. Quem não se lembra das acusações de Lutero no tocante à venda de indulgências para se erguer catedrais ou mesmo todas as transações e lobby que Tereza de Avila teve que fazer para conseguir dinheiro para a fundação de seus mosteiros? A grande mística Teresa não descuidava das coisas práticas. Sabia utilizar as coisas materiais para o serviço de Deus. Certa ocasião disse: “Teresa sem a graça de Deus é uma pobre mulher; com a graça de Deus, uma fortaleza; com a graça de Deus e muito dinheiro, uma potência”.
Não deixa de ser paradoxal o fato de que alguns estão alegando pela internet que a ruptura de Dom Williamson com a SSPX é algo semelhante à Reforma empreendia por Teresa no Carmelo. Basta ler a obra Fundações de Tereza de Avila para ver que uma coisa não tem absolutamente nada a ver com a outra.
Segundo o costume dos conventos espanhóis da época, as religiosas podiam receber todos os visitantes que desejassem, a qualquer hora. Teresa passava grande parte de seu tempo conversando no locutório. As Carmelitas, como a maioria das religiosas, desde os princípios do século XVI, já haviam perdido o primeiro fervor. Os locutórios dos conventos de Ávila se tornaram uma espécie de centro de reunião social para damas e cavalheiros de toda a cidade. As religiosas saíam da clausura pelo menor pretexto. Os conventos eram lugares ideais para quem desejava uma vida fácil e sem problemas. As comunidades eram muito numerosas. O Convento da Encarnação possuía quase 200 religiosas. Foi nesse cenário que uma sobrinha de Santa Teresa, também religiosa no Convento da Encarnação, lhe deu a ideia de fundar uma comunidade reduzida onde poderiam se retirar para a oração e viver seu modo de vida de acordo com o espírito de seus fundadores.
“As declarações de Bispo Williamson sobre o Holocausto insultam profundamente a sociedade da Argentina, a Comunidade Judaica e toda a humanidade por negar uma verdade histórica”.
A esse ponto, qualquer um que estiver acompanhado toda essa trajetória de gafes incompatíveis com a posição de um prelado, deveria se perguntar se os comentários de Bispo Williamson na arena política trouxeram algum lucro para a causa da Tradição Católica ou se causaram irreparáveis danos não apenas ao apostolado da SSPX na América do Sul como à sua própria reputação.
Devido à combinação desses múltiplos fatores, Dom Williamson não teve outra alternativa senão buscar refúgio em sua terra natal, a Inglaterra, onde se ele foi “mofar num sótão” foi única e exclusivamente por sua própria culpa. Mas se acham que a controvérsia termina ai, esperem pelo pior! Na Alemanha, bem no local onde se encontra a sede da SSPX, um tribunal alemão tentava punir o Bispo por suas teorias de conspiração sobre o Holocausto em entrevista a uma emissora de TV. O tribunal da cidade de Regensburg havia emitido uma ordem de punição contra ele que só foi revertida devido a erros técnicos na redação do documento. Dom Williamson ja havia declarado em 2008 numa emissora sueca que não acreditava que judeus haviam sido mortos em câmeras de gás durante a Segunda Guerra Mundial. O grande problema aqui não é teológico ou de doutrina e sim criminal já que negar a realidade do Holocausto é crime segundo as leis da Alemanha. Você publica alegações sérias misturadas com especulação por conta do seu próprio risco.
É impossível não ler o seu lado na controvérsia sem ter a nítida impressão de que Dom Williamson nunca viu seu Superior como seu Superior. Talvez pelo fato de terem sido consagrados juntos, me parece que ele realmente acreditava no princípio da “Colegialidade” segundo a qual todos os quatro tinham direitos iguais dentro da Fraternidade. Provavelmente no seu orgulho desmedido ele se vê a si próprio exatamente como Richard I da Inglaterra: “Eu nasci numa posição social que não reconhece ninguém superior a mim, a não ser Deus”!
Por outro lado, quando Dom Williamson alega que preferiu o silêncio a escandalosos confrontos ele também cai em contradição. Basta prosseguir com a leitura de sua carta para encontrar o real motivo pelo qual ele foi ordenado a fechar seu apostolado cibernético chamado “Comentários Eleison”. Segundo suas próprias palavras, ele passou a usar o que deveria ser um apostolado para confirmar os irmãos na fé, para “derrubar seus irmãos na fé”. Ou seja, ele mesmo assume que por várias vezes usou do meio virtual para criticar as autoridades da SSPX e que muitas vezes os ataques desferidos falhavam em observar o respeito devido ao cargo ou às pessoas a quem tais ataques eram dirigidos. Para alguém que diz ter preferido o silêncio, nota-se que esse é um Bispo do barulho! Como já dizia Santa Teresa de Avila: “Deus nos livre daqueles que querem servi-Lo mas se preocupam demais com sua própria dignidade ou temem pela sua reputação.”
De volta à Europa, a descrição que Dom Williamson faz do “sótão em Londres” nos dá uma idéia do seu caráter e do contraste que existe entre o homem orgulhoso e os Santos da Igreja. Sua descrição nos dá uma lição imemorial. Na noite do dia 2 de dezembro de 1577, um grupo de carmelitas opostos à reforma do Carmelo invadiram a casinha que São João havia alugado para dar início ao novo mosteiro em Avila e o levaram prisioneiro.
São João da Cruz estava começando a empreender a mesma reforma de Teresa, mas havia recebido ordens de seus superiores para deixar Avila e retornar ao mosteiro original. João se recusou alegando que sua reforma havia sido aprovada pelo Nuncio Apostólico, uma autoridade superior aos seus Superiores. Os Carmelitas então o levaram preso para o Mosteiro de Toledo onde cerca de 40 monges viviam. João foi levado diante de um tribunal de monges, acusado de desobediência.
Apesar de argumentar que não havia desobedecido a regra, ele recebeu como punição a prisão em cela solitária e ali foi mantido sob um regime brutal que incluía chicotadas diante de toda a comunidade pelo menos uma vez por semana. Sua cela era tão pequena que para ler seus breviário ele precisava subir num banquinho pra alcançar a luz que entrava por um buraco na parede. Não lhe providenciavam trocas de roupa e suas refeições eram pão, água e lascas de peixe seco.
Durante seu período na prisão, ele compôs parte do famoso poema “Cânticos Espirituais”. O papel lhe era passado por um monge amigo que guardava a cela. São João da Cruz conseguiu escapar apenas nove meses depois por uma pequena janela na sala adjunta. Enquanto S. João da Cruz usou da experiência da cruz e da humilhação para compor a obra prima da poesia Espanhola: “A Noite Escura do Espírito”, Dom Williamson, ao contrário, faz das suas controvérsias e transferências, mais oportunidade para agitação política e para empreender uma cruzada pessoal contra seu antigo Superior.
Para um homem que prega de modo tão eloquente a necessidade da Igreja retornar à disciplina dos tempos antigos, eu me pergunto qual seria sua reação se ele tivesse que encarar a mesma experiência de São João da Cruz! Cilício na pele dos outros é refresco! A essa altura se ele tinha alguma razão essa se perdeu juntamente com a sua compostura. O que foi feito da obediência, do sofrimento em silêncio, de aceitar a culpa até mesmo quando inocente? Onde foi parar a sabedoria e a experiência dos Santos? No fundo ele não perdeu o ranço do Protestantismo.
Sinto muito dizer, mas Dom Williamson falha em especificar quais eram as tensões internas que levaram à ruptura entre ele, seu Superior na Fraternidade e os padres que agora se associam a ele. E esse que é o real problema aqui. Ha fortes indícios de que Dom Williamson também é a fonte do vazamento das cartas internas que circularam pela internet com a clara intenção de gerar uma crise de confiança que levaria à queda do Bispo Fellay.
Numa recente conferencia Dom Fellay explicou exatamente como se deu o ocorrido. Depois de várias reuniões e colóquios a pedido do próprio Papa e de autoridades do Vaticano, ele deixou claro quais seriam suas condições para uma possível reaproximação entre a SSPX e o Vaticano. O conteúdo desse documento foi modificado pelas autoridades do Vaticano e reenviados para ele assinar, o que naturalmente ele recusou. Isso foi a oportunidade de ouro para expor Dom Fellay como um “traidor” da Tradição e levantar motim para depô-lo.
O que é triste em todo esse episódio é a lavagem de roupa suja em público. Diferenças e desacordos entre membros de uma Comunidade religiosa não é algo novo na história da Igreja. A tensão entre religiosos que escolhem uma vida apostólica fora da autoridade de um Bispo ou Congregação não é fácil. Sempre existiu e sempre vai existir, mas o modo como essas crises são endereçadas fala alto sobre o caráter destrutivo das pessoas que transformam sua raiva ou frustração em calunia e difamação. Teresa de Avila em sua obra Castelo Interior já advertia suas freiras contra esse tipo de comportamento: “Cuidado irmãs com cuidados e zelos que não tem nada a ver com vocês. Lembrem-se que há poucas moradas nesse castelo ( alma) em que vocês estão livres de ter que lutar contra o demônio”.
E continuava: “Vamos nos refrear de zelos indiscretos que podem nos causar grande dano. Que cada uma se examine a si própria. Como eu ja falei disso não quero me estender mais. Essa caridade mútua é tão importante que jamais deveriamos esquece-la. Pois se uma alma fica obsecada em caçar faltas nos outros ela não só perde sua paz interior como disturba os outros. Isso se aplica a cada uma de vocês... e para nos prevenir do engano do demonio, eu enfatizo a necessidade de se discutir qualquer problema apenas com a pessoa envolvida.”
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Esta fidelidade à verdade obtém de Deus 12 anos de paz interior e prosperidade exterior para a Fraternidade. Em 1991, o grande arcebispo morreu, mas ainda por nove anos sua obra continua na fidelidade aos princípios antiliberais em que ele a construiu. Então, o que farão os romanos conciliares para superar essa resistência? Vão trocar a vara pela cenoura.
A tragédia é que aqueles que tem tendência a dar ouvidos a teorias de conspiração, sempre acreditam em mais outras. E isso tem sido o caso com os seguidores de Dom Williamson. Alguns deles dizem claramente que o Bispo apenas diz o que eles mesmos não tem coragem de dizer. A minha teoria é de que cada panela tem sua tampa e quando elas se juntam o cozido fica perfeito. Durante uma recente conferência de Dom Williamson em Toronto um dos membros da audiência chegou a sugerir que a criação da SSPX pelo Arcebispo Lefebvre teria sido o complô da franco-maçonaria desde seu inicio, para atrair todos os católicos fiéis à Tradição e depois trazê-los para o controle de Roma mediante essas negociações. Algo bem no sentido da trilogia do Senhor dos Anéis: um anel para juntá-los todos e amarrá-los todos no Modernismo do Vaticano II.
Essa é mais uma dessas tristes conferências onde com o pretexto de “confirmar os irmãos na fé” Dom Williamson aproveita para derrubar seus “ex-irmãos no episcopado” zombando deles de uma maneira que não fica nada bem para o seu oficio de Bispo. E o que é pior, espalhando calúnias que são pecado grave contra a justiça. Ouvindo suas acusações infundadas eu só consigo me lembrar das palavras da sábia Teresa de Avila: “Eu certa vez ouvi de um homem muito espiritual que dizia: de uma pessoa que cai em pecado mortal eu não me surpreendo nada pelo que elas fazem e sim com o que elas deixam de fazer”.
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Infelizmente a palavra gratidão é a primeira a pular pela janela quando o espírito de rebelião toma conta do coração. E algumas pessoas realmente acreditam que a Igreja lhes deve alguma coisa e se não conseguirem do modo que elas acham que tem que ser, tornam-se indignadas. Tais pessoas precisavam ler mais o que Santa Teresa fala de auto-conhecimento e humildade.
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Esse argumento de Bispo Williamson segundo a qual a SSPX havia começado a se derreter desde a peregrinação do ano 2000, não se sustenta. As evidências que ele traz são frases fora de seu contexto. O simples fato é que para Dom Williamson qualquer tentativa de diálogo com as autoridades do Vaticano são erradas. De modo que até um almoço com um Cardeal do Vaticano é tido por ele como conduta inapropriada ou uma traição a Dom Lefebvre. Como se Dom Lefebvre não tivesse tido vários encontros dessa natureza no passado! É óbvio que Dom Williamson vê Roma como um lugar pernicioso e a ser evitado como a lepra ao invés do centro do Catolicismo e a Sé Apostólica. Com todos os erros que possa ter e com toda a corrupção que possa existir alguém que se diz católico não pode recusar a admitir a realidade da Igreja visível. Esses pisos de mármore tem história de Bellini a Michelangelo e é tudo Igreja e história da Igreja. Infelizmente, essa posição nem é mais sedevacantista e sim “ecclesiavacantista”. Ou seja, para tais pessoas a Igreja como realidade concreta deixou de existir e só eles agora são Igreja ou os remanescentes da verdadeira Igreja visivel. E depois ainda falam em heresia!
Este avanço do liberalismo no seio da Fraternidade, percebido por uma minoria de sacerdotes e fiéis, mas aparentemente imperceptível para a grande maioria, tornou-se perceptível para muitos na primavera deste ano, quando, após o fracasso das discussões doutrinais na primavera de 2011, a política católica de “não ao acordo prático sem acordo doutrinal” se converteu, do dia para a noite, na política liberal de “não ao acordo doutrinal, mas sim a um acordo prático”. E, em meados de abril, o Superior Geral ofereceu a Roma como base de um acordo prático um texto ambíguo, abertamente favorável a esta “hermenêutica da continuidade” que é a receita bem-amada de Bento XVI para conciliar precisamente o Concílio com a Tradição! “É necessário um novo pensamento”, dirá o Superior Geral em meados de maio aos sacerdotes do distrito da Fraternidade da Áustria. Em outras palavras, o chefe da Fraternidade fundada em 1970 para resistir às novidades do Concílio propõe que ela se concilie com o Concílio. Hoje ela é conciliadora. Amanhã há de ser totalmente conciliar!
Numa carta datada do dia 23 de setembro de 1968, Padre Pio reitera seu apoio ao Papa Paulo VI com as seguintes palavras:
Eu me uno juntamente com meus irmãos aos seus pés com afeto e respeito, com toda minha devoção à sua agusta pessoa, em ato de fé, amor e obediência à dignidade Daquele a quem estás representando na terra. A Ordem dos Capuchinhos sempre esteve em primeira linha em amor, fidelidade, obediencia e devoção à Santa Sé, portanto eu oro a Deus para que possamos continuar assim em toda a tradição de religiosidade, seriedade e austeridade, pobreza evangélica e fiel observância da Regra e da Constituição, certamente renovando sua vitalidade e espirito de acordo com as orientações do Segundo Concílio Vaticano, de modo a sempre atender às necessidades da Madre Igreja sob o reinado de Vossa Santidade...
Dom Williamson agora acusa Dom Fellay de se voltar contra os sacerdotes que não puderam manter a confiança nele. Curioso que ele não fez outra coisa enquanto governou com mão de ferro a SSPX nos Estados Unidos! Mas se formos analisar, o número de rebeldes foi insignificante porque o esplendor da verdade só ofusca os olhos daqueles que preferem viver nas trevas da mentira.
Dom Williamson admite publicamente que usava seu blog na intenet pra atacar seus Superiores e depois reclama das consequencias de suas ações. Ele semeou a discórdia, incitou a rebelião e ainda acha que é pouca coisa! Enquanto ele era reitor do Seminário de Winona ele jamais admitiu conducta semelhante de seus subordinados. E por que agora o Superior da Fraternidade deveria admitir sua insubordinação? Dom Fellay foi muito claro em sua última conferência ao dizer que esse espírito de rebelião ele teve que aturar por anos e anos e não tem absolutamente nada a ver com as discussões com Roma, as quais ele teve que conduzir como quem anda sobre o fio de uma navalha. Há muito tempo o amante das teorias de conspiração arquitetava por debaixo dos panos uma conspiração que da teoria rapidamente evoluiu para a prática.
Igualmente, se o bispo refratário com efeito se permitiu – pela primeira vez em quase quatro anos – fazer um apostolado independente, como podem censurá-lo por ter aceitado um convite, independente da Fraternidade, para dar a Crisma e para pregar a palavra da verdade? Não é este o papel de um bispo? Sua palavra no Brasil não foi de “confusão” senão para aqueles seguem o erro reconhecido e mais acima referido.
Muito pelo contrário! Todas vezes que os fariseus armavam-lhe ciladas para envolvê-lo em controvérsias temporais Ele sabiamente se esquivou oferecendo-lhes parábolas que desmascaravam não somente a hipocrisia deles como suas pérfidas intenções. Que falta nos faz um Bispo sábio que com palavras de autoridade sabe como colocar jornalistas em seu devido lugar, levando muitos deles à conversão ao invés de se tornar objeto de manipulação e escárnio nas da mídia!
O fato é que Bispo Williamson fez de si mesmo um espetáculo e objeto de escárnio ao sair propagando suas infantis teorias de conspiração na mesma mídia que ele considera demoníaca. Se era pra brincar com o demônio, esse último se mostrou bem mais esperto do que ele. E ele sabia bem que suas ações seriam motivo de constrangimento para o Papa, para a SSPX e todos seus membros. Ele colocou seu hobby, seu orgulho intelectual e sua vaidade acima dos interesses da Igreja e da Fraternidade a qual ele foi consagrado para servir.
Novamente, o que ele acredita a respeito do Holocausto, dos atentados de 11 de Setembro, etc é problema pessoal dele. O grande problema é ele sair por ai promovendo essas teorias para os incautos com a desculpa de alimentar e santificar os fiéis de acordo com a Sã Doutrina. Usar a Sã Doutrina e a Missa Tradicional como veículo para transmitir juntamente lixo intelectual se não for sacrilégio é no mínimo desonestidade intelectual.
A essa altura, creio que alguns de seus seguidores deveriam por dever de caridade adverti-lo para medir melhor suas palavras e deixar seu escárnio e críticas maldosas restritas a ambientes privados. Poupe-nos desse espetáculo deprimente. Parece que Dom Williamson se esqueceu por completo (ou nunca ligou para) os princípios mais elementares da correção fraterna, segundo a qual as queixas que porventura se tenha contra um irmão devem ser tratadas em privado. A carta inteira transpira esta incoerência, esta linguagem dupla que mantém, lado-a-lado, uma alegada nobreza de intenções unida ao mais vil e desprezível tratamento reservado aos seus irmãos no episcopado.
Aqui nós encontramos, já desde o começo, a linha mestra que irá conduzir todo o texto: os ataques gratuitos, sem que seja apresentado absolutamente nada para embasar as acusações que são feitas. Causa espécie que uma carta endereçada a Dom Fellay e que tem por objetivo denunciar as (alegadas) atitudes negativas dele não traga um único exemplo daquilo que alega! A coisa mais fácil do mundo é selecionar textos fora de contexto para servir de pretexto a interesses escusos. Curiosamente, nessa carta nem mesmo isso foi feito.
Para aqueles que citam a Reforma de Teresa como exemplo da divisão que Dom Williamson está promovendo no seio da Fraternidade, é bom que reflitam sobre as palavras da Santa:
Em 1970, bem depois do Concilio Vaticano II, Lefebvre pediu ao Bispo de Lausanne permissão para criar uma Fraternidade religiosa e teve seu pedido atendido. Assim a Fraternidade foi criada como Pia Unio em caráter experimental por 6 anos. Quando em janeiro de 1975, o Bispo de Friburgo escreveu a Roma pedindo que a Sociedade fosse dissolvida, Monsenhor Lefebvre foi a Roma pessoalmente para lutar pelos direitos de reconhecimento e quando a aprovação foi retirada ele contratou advogados para apelar da sentença. A história da Fraternidade está disponível online para quem quiser pesquisar. Não preciso me prolongar nesse item.
Esse é o problema atual da Tradição Católica. Todo mundo que abre um blog já se acha um São Tomás de Aquino. Alguns são capazes de decorar até capítulos da Summa Teológica, mas se perguntar quais são os Sacramentos da Igreja ou os pecados capitais, ficarão perdidos ou precisarão de uma rápida consulta no Catecismo! Quantos realmente sabem as orações básicas em latim? No encerramento da ultima conferencia de Dom Williamson em Toronto seus seguidores sequer sabiam cantar a antifona mariana Alma Redemptoris Mater! Tiveram que arrematar com uma Salve Regina! Mas esses são os mesmos que tem inúmeras provas de que a SSPX se afastou da Sã Doutrina que eles mesmo não sabem qual é.
O ponto que eu quero chegar é que cada um deve viver de acordo com seus deveres de estado. Como ja dizia São Paulo os consagrados cuidam das coisas de Deus e os casados cuidam das coisas do mundo procurando agradar uns aos outros. Os problemas que são da alçada dos religiosos, deixe que eles resolvam entre eles. Nós temos zero influencia sobre essas controvérsias e por engano ou espírito de maledicência muitos acabam não só se envenenando como também envenenando e pondo em perigo a fé alheia.
Tivesse o senhor permanecido fiel à sua herança, e tivesse sido eu mesmo notadamente infiel, eu reconheceria de bom grado o seu direito de expulsar-me. Sendo porém as coisas como são, espero não faltar com o respeito ao seu ofício se sugerir que, pela glória de Deus, pela salvação das almas, pela paz interior da Fraternidade, e por sua própria salvação eterna, melhor faria o senhor se renunciasse ao cargo de Superior Geral em vez de me expulsar a mim. Que Deus lhe dê a graça, a luz e as forças necessárias para cumprir tal insigne ato de humildade e de devotamento ao bem comum de todos.Assim, como tão frequentemente terminei as cartas que lhe dirijo há anos,
No mais, o que podemos fazer é rezar por ele e por seus seguidores. Se o Senhor não construir a casa, seus construtores trabalham em vão. Portanto rezemos também por Bispo Fellay para que ele continue a lutar pelos interesses da Fraternidade e pela defesa da Tradição. Muitas são as aflições do justo, mas o Senhor de todas o livra. O que mais precisamos nesse momento é de união para combater o inimigo comum do Modernismo, da indiferença religiosa e da apostasia generalizada. Essa desunião pode alegrar apenas os inimigos da Igreja. Quanto àqueles que tantas graças já receberam através desses sacerdotes e Bispos não se esqueçam de seus benefícios e rezem para que continuem sendo dignos de receber as graças e os benefícios que já receberam.