Ciência e fé em harmonia: Galileu com os cardeais.
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A razão não basta para provar as verdades de fé.
Precisaremos dar o consentimento da nossa vontade para aceitar o que a Igreja nos propõe, e para aderir com certeza total a essas verdades, mesmo sabendo que poderíamos, se quiséssemos, erguer todo tipo de dúvida ou questionamento para impedir essa adesão.
Mas isso não quer dizer que a razão nada possa nos ajudar. Ela é essencial para que compreendamos melhor aquilo que aceitamos pela fé. E também para que provemos aquelas coisas que, embora não sejam propriamente de fé, são pre-requisitos para a fé (e que podem ser aceitas seja por fé ou pela razão; a existência de Deus, por exemplo).
O fideísmo diz que a razão não deve, nem pode, cooperar com a Fé. Que é o ato de Fé é uma escolha totalmente livre e incondicional do sujeito, sem nenhum motivo racional por trás; ou seja, um acreditar por acreditar.
A posição tradicionalmente católica não é essa.
Na verdade, a fé exige sim algo mais do que a razão; não conhecemos a verdade dos artigos de fé pela evidência intrínseca deles, como acontece, por exemplo, quando demonstramos um teorema matemático. Mas mesmo assim, a razão tem papel essencial em nos levar à condição na qual podemos dar essa adesão à verdade revelada. E uma vez dada essa adesão, nos permite compreendê-la sempre mais profundamente:
I. Conceito de fé
Muitos confundem fé com emoção, esquecendo que o ato de crer é profundamente intelectivo. Como vimos nas lições anteriores, a razão não pode ser desprezada pelo crente, como não o foi por Deus.
Ter fé é aceitar como certo o testemunho de uma pessoa. Quando dizemos que o tabelião tem fé pública, queremos expressar que a lei confere veracidade ao testemunho que ele emite quanto aos documentos que certifica serem autênticos. A característica fundamental da fé é, portanto, admitir algo porque outro o disse. Assim, a fé natural age quando alguém acredita no que certa pessoa fala, admitindo estar esta com a verdade. Da mesma forma, a “fé sobrenatural é a adesão de nossa inteligência, não à palavra de um homem, mas à de Deus. Deus não pode nem enganar-se nem enganar-nos; a fé é uma homenagem que se tributa a Deus considerado como verdade e autoridade supremas.” (MARMION, D. Columba, OSB. “Jesucristo, vida del alma”. Pamplona: Fundación Gratis Date; p. 112. trad. livre)
Sobre a fé sobrenatural, a adesão ao testemunho de Deus, explica o Catecismo da Igreja Católica: “Por sua Revelação, ‘o Deus invisível, levado por seu grande amor, fala aos homens como a amigos, e com eles se entretém para os convidar à comunhão consigo e nela os receber.’ A resposta adequada a esse convite é a fé. Pela fé, o homem submete completamente sua inteligência e sua vontade a Deus. Com todo o seu ser, o homem dá seu assentimento a Deus revelador. A Sagrada Escritura denomina ‘obediência da fé’ esta resposta do homem ao Deus que revela.” (Cat., 142-143)
II. Fé e opinião
A fé se diferencia da mera opinião, eis que esta admite as coisas e enunciados não como verdades, mas como probabilidades. A fé confere ao que por ela adere ao testemunho de outrem uma certeza, não uma possibilidade. Claro que esta certeza, quando gerada por uma fé natural, humana, i.e., baseada no testemunho dos homens, é uma certeza moral, não absoluta, podendo ser desfeita: somente a fé sobrenatural gera certeza absoluta, a fé no testemunho que Deus dá.
III. Fé e ciência
Por outro lado, a fé também se diferencia da ciência. Tanto uma quanto outra admitem as coisas como certas, como verdades. Ocorre que a ciência tem sua certeza na visão ou compreensão das coisas, enquanto a fé tem sua certeza no testemunho que outro dá, seja homem – fé natural –, seja o próprio Deus – fé sobrenatural.
A fé e a ciência não se excluem, como veremos depois.
Exemplo de certeza gerada pela ciência é a soma de três com três: a evidência demonstra ser seis o resultado. Outro exemplo de certeza gerada também pela ciência é existência de Deus: a lógica dos argumentos prova-nos a compreensão de que é necessário um Ser Supremo e Criador, ao qual chamamos Deus; não admitimos que haja um Deus por causa do testemunho de alguém – fé humana, natural –, nem mesmo por causa da Revelação feita por Deus – fé sobrenatural –, mas pela ciência, pelo conhecimento, pela compreensão e visão das coisas, que entende ser lógico existir o Criador.
A fé é “uma virtude sobrenatural pela qual, com a inspiração e ajuda da graça de Deus, cremos ser verdadeiro o que por Ele foi revelado; não pela intrínseca verdade das coisas percebidas pela luz natural da razão, senão pela autoridade do mesmo Deus que revela, o qual não pode enganar-se nem enganar-nos.” (Concílio Ecumênico Vaticano I. Constituição Dogmática Dei Filius, 3) Esse conceito conciliar diferencia a fé da ciência, como podemos claramente perceber. Ambas, fé e ciência, são meios de conhecer a verdade.
Aqui cabe aquela conhecida citação de Sto. Anselmo no Proslogion:
"Não procuro entender para crer, mas sim crer para entender. Pois creio também nisso: que se não crer, não entenderei."
IV. Ato de fé e hábito da fé
Devemos distinguir o ato de fé do hábito da fé. Quando falamos em ato de fé estamos definindo um assentimento de nossa inteligência ao dado revelado por Deus. Já hábito de fé é a virtude de sempre viver de acordo com o ato de fé professado; tal virtude é infusa por Deus no Batismo, e desenvolve-se de acordo com a livre resposta de nossa vontade à graça de Deus, passo a passo, sempre numa relação de chamado divino e atendimento humano.
Santo Tomás de Aquino define o ato de fé em uma famosa sentença latina: “Credere est actus intellectus assentientis veritati divinae ex imperio voluntatis a Deo motae per gratiam.” (S. Th., II-II, q. 2, a. 9) Em português, esse ensino significa: “Crer é um ato da inteligência que dá o assentimento à verdade divina, sob império da vontade movida por Deus através da graça.”
O hábito da fé é definido pela sentença comum dos doutores como virtus supernaturalis, qua credimus veritates a Deo revelatas, et ab Ecclesia propositas. A fé, enquanto hábito, é uma virtude sobrenatural, pela qual acreditamos nas verdades por Deus reveladas e pela Igreja propostas. O ato de fé atualiza o hábito da fé.
V. O ato de fé
A Igreja Católica ensina, pois, que a fé é um assentimento de nosso intelecto à verdade revelada por Deus. Equivocadamente, os protestantes seguindo a falsa doutrina de Lutero, têm uma idéia errada do que seja a fé. Para eles, em sua teologia já sabiamente condenada pelo Concílio Ecumênico de Trento, a fé é uma confiança de que os méritos conquistados por Cristo na Cruz nos serão aplicados pela graça.
Vemos, então, como os protestantes confundem a fé com a esperança. Santo Tomás de Aquino, em seu inacabado Compêndio de Teologia, dirigido a Frei Reginaldo, OP, dá outro conceito de fé, relacionando-o com a esperança, sem, contudo, confundi-las, mostrando, antecipadamente, como a crença dos protestantes é errônea. “A fé é uma certa prelibação daquele conhecimento que nos fará bem-aventurados no futuro. O Apóstolo disse que ela é a ‘substância das coisas que se esperam’ (Hb 11,1), fazendo já existir em nós, por uma certa incoação, as coisas que se esperam, isto é, a felicidade futura.” (Comp. Th., I, c. II, 1) A crença protestante, além de confundir as virtudes de fé e esperança, apresenta a primeira como algo muito mais emocional do que o assentimento intelectual que a caracteriza.
“Ao Deus que revela deve-se ‘obediência da fé’ (Rm 16,26; cf. Rm 1,5; 2 Co 10,5-6), pela qual o homem livremente se entrega todo a Deus prestando ‘ao Deus revelador um obséquio pleno do intelecto e da vontade’ e dando voluntário assentimento à revelação feita por Ele. Para que se preste essa fé, exigem-se a graça prévia e adjuvante de Deus e os auxílios internos do Espírito Santo (...).” (Concílio Ecumênico Vaticano II. Constituição Dogmática Dei Verbum, 5) O Espírito Santo move o coração do homem, converte-o a Deus, ilumina sua mente e confere “a todos suavidade no consentir e crer na verdade.” (Concílio de Orange II, cân. 7)
O objeto da fé sobrenatural é a verdade revelada por Deus, aceita e proposta pela Igreja, instituída esta por Cristo justamente para ensinar tal verdade, tal Revelação. Por vezes essa verdade é definida pela Igreja de um modo solene: é a proclamação dogmática, o dogma. “Nós cremos em tudo o que está contido na Palavra de Deus, escrita ou transmitida, e que a Igreja propõe a crer como divinamente revelado.” (Sua Santidade, o Papa Paulo VI. Credo do Povo de Deus, 20)
VI. O hábito da fé
Quanto à fé como hábito, ensina o Papa São Pio X: “A fé é uma virtude sobrenatural, infundida por Deus em nossa alma, pela qual nós, apoiados na autoridade do mesmo Deus, cremos ser verdade tudo o que Ele revelou, e que por meio da Igreja nos propõe para crer. Nós conhecemos as verdades revelados por Deus por meio da Santa Igreja, que é infalível; isto é, por meio do Papa, sucessor de São Pedro, e por meio dos Bispos, sucessores dos Apóstolos, os quais foram instruídos pelo próprio Jesus Cristo. Nós estamos seguros das coisas que a Santa Igreja nos ensina, porque Jesus Cristo empenhou a sua palavra, afirmando que a Igreja nunca se enganaria. Perde-se a fé com negar ou duvidar voluntariamente, mesmo de um só artigo que nos é proposto para crer. Reconquista-se a fé perdida arrepende-se do pecado cometido e crendo de novo em tudo o que crê a Santa Igreja.” (Catecismo Maior de São Pio X, Da Fé) Tal virtude da fé deve ser constantemente renovada pelo ato de fé. No Batismo, quando recebemos o hábito ou a virtude da fé, estamos aptos para crer na verdade revelada por Deus, mas só o fazemos de fato quanto proclamamos por um ato de fé nossa adesão intelectual ao conteúdo dessa Revelação.
VII. A fé é razoável
A fé é razoável, pois não se contradiz à razão, antes, pelo contrário, a supõe, uma vez que o ato de fé é uma adesão do intelecto, movido pela graça, à verdade revelada por Deus. Isso já vimos nas lições anteriores. “Sem a Fé sobrenatural não há Teologia cristã. (...) Como nos bastaria um assentimento cego sem o esforço de compreensão do conteúdo da Fé? Não somos papagaios; somos seres dotados de inteligência. Tendo Deus falado, quis comunicar verdades, e não vocábulos sem sentido. Incumbe-nos, portanto, penetrar e assimilar os degraus que a Igreja propõe como revelados por Deus. Elevada pela Fé à ordem de ciência divina, é normal que a inteligência, assim divinizada, queira atuar; ora, para a inteligência, atuar é compreender. Passamos, destarte, sem hiato, do simples assentimento a um saber inteligível; a Fé desabrocha em Teologia. Começamos por crer (nota pessoal: e nisso já há intelecção!), e, depois, dentro da Fé, tentamos chegar a uma certa intelecção.” (PENIDO, Pe. M. Teixeira Leite. “O mistério da Igreja.” Petrópolis: Vozes, 1956; p. 37) Da mesma forma, sintetiza o grande Santo Agostinho: “Creio para compreender, e compreendo para melhor crer.” (Serm. 43,7,9: PL 38,258)
VIII. Do que necessitamos para crer
Para crer, necessitamos de uma vontade reta, bem formada, pois Deus não quis nos dar nenhuma evidência absoluta dos motivos de credibilidade da Revelação, quais sejam as profecias, os milagres, a sabedoria e a santidade da doutrina cristã. Os motivos de credibilidade são muitos e nos mostram ser aceitável que a Revelação venha de Deus; já o motivo da fé – pela qual aceitamos que a Revelação de Deus é verdadeira – é um só: a autoridade de Deus. Temos fé – admitimos que a Revelação que vem de Deus é verdadeira – depois de reconhecer a credibilidade – aceitar que a Revelação venha de Deus. “O motivo de crer não é o fato de as verdades reveladas aparecerem como verdadeiras e inteligíveis à luz de nossa razão natural. Cremos ‘por causa da autoridade de Deus que revela e que não pode nem enganar-se nem enganar-nos.’ ‘Todavia, para que o obséquio de nossa fé fosse conforme à razão, Deus quis que os auxílios interiores do Espírito Santo fossem acompanhados das provas exteriores de sua Revelação.’ Por isso, os milagres de Cristo e dos santos, as profecias, a propagação e a santidade da Igreja, sua fecundidade e estabilidade ‘constituem sinais certíssimos da Revelação, adaptados à inteligência de todos’, ‘motivos de credibilidade’ que mostram que o assentimento da fé não é ‘de modo algum um movimento cego do espírito.’” (Cat., 156)
Para o ato de fé, a inteligência e a vontade interferem em nossa decisão – quero crer –, para que prestemos o assentimento intelectual, a obediência da fé – creio, de fato. Isso depois de a inteligência e a vontade nos fornecerem os juízos de credibilidade – é razoável crer – e de conveniência – devo crer.
IX. Justificação pela fé
O ato de fé é feito pela inteligência, sob o impulso da vontade, movida pela graça. O hábito, a virtude da fé infundida por Deus no Batismo, é posta em ação ao fazermos o ato de fé. Nos não-batizados, a graça lhes convida à fé de outros modos. Sempre, porém, a fé é uma resposta livre da vontade do homem à graça de Deus. E, pela fé, adquire o homem outra graça, chamada santificante, a qual se dá também pelos sacramentos. Pela graça, chegamos ao ato de fé, e pela fé chegamos à posse da graça: essa é a vida sobrenatural a qual somos chamados por Deus.
Para entender bem esse processo do ato de fé, importa fixarmos os conceitos de graça habitual, ou santificante, e graça atual.
A graça habitual ou santificante é um dom dado por Deus à alma no Batismo e constantemente renovado pelo ato de fé e pela recepção dos demais sacramentos.
A graça atual é um auxílio sobrenatural e transitório, que nos ilumina a inteligência e fortifica a vontade, para ajudar-nos a fazer determinada boa ação, como, por exemplo, o ato de fé e a recepção de algum sacramento.
Os batizados, que receberam por esse sacramento a graça santificante, são por ela convidados ao ato de fé; quando o fazem, estão respondendo aos apelos da graça santificante, auxiliada a uma graça atual de convite ao ato de fé. Quem já é batizado, portanto, é convidado à fé pela própria graça santificante infundida no Batismo, e uma vez que a professa, tal é aumentada. Claro que, por mais que os batizados tenham a graça habitual, não lhes falta, quando necessário, o auxílio especial de uma graça atual, seja para dar ao cristão a consciência de sua dignidade espiritual, seja para recuperar a vida divina, se por acaso a perdeu depois do Batismo, seja ainda por qualquer outro motivo.
Quem, por outro lado, não é batizado, é convidado por Deus à fé por graças atuais, como São Paulo a caminho de Damasco; crendo e recebendo o Batismo – e os demais sacramentos – lhe é, então, comunicada a graça santificante ou habitual. Deus ilumina nossa vontade e inteligência com uma graça atual de convite à conversão – unida, nos batizados, à graça santificante dada no Batismo. Ao respondermos a essa graça atual – como já dissemos, unida à graça habitual, se falamos de pessoas batizadas –, adquirimos a graça habitual ou santificante – ou ela é aumentada, nos batizados. Santo Agostinho, em suas disputas com Pelágio acerca da relação entre graça e livre-arbítrio, afirma, como se vê em sua obra De gratia Christi et peccato originali, liv. I, c. V, 6, que tanto o querer como o agir, indispensáveis ao ato de fé, dependem da graça de Deus.
Calvino, em sua heresia, supôs disso que Deus dá a fé somente a alguns eleitos, ou ministra a graça apenas aos predestinados, ignorando os conceitos de graça atual e graça santificante, e invertendo a ordem do processo de salvação. Na verdade, segundo o ensino católico, principalmente à luz da diferença entre a graça atual – que Deus dá a todos, mas na medida de suas necessidades, e em consonância com as respostas humanas – e graça santificante – dada aos que respondem aos apelos da graça atual pela fé –, a ciência de Deus dos eleitos está em saber de antemão quem responderá livremente à graça pela fé: só nesse sentido podemos falar em predestinação, e não conforme o erro calvinista.
O ato de fé, pelo qual adere o homem à verdade revelada por Deus, é indispensável para a salvação (cf. Ef 2,8). A fé é condição prévia para a união íntima com Cristo. Pela fé, pela crença nas verdades reveladas por Deus e ensinadas pela Igreja Católica, pela adesão a elas, somos salvos, juntamente com a prática das obras meritórias e com a recepção dos sacramentos, meios ordinários de comunicação da graça. “Se a justiça vem da natureza, então Cristo morreu em vão? Mas, se Cristo não morreu em vão, ninguém pode alcançar a justificação e a redenção da justíssima ira de Deus, ou seja, do castigo, exceto pela fé e pelo mistério do Sangue de Cristo.” (Santo Agostinho. De natura et gratia, II, 2) Aliás, as três virtudes, chamadas teologais – fé, esperança, caridade –, infusas no Batismo, são necessárias para a salvação, e delas precisamos fazer atos próprios para torná-las atuais.
O Doutor Angélico bem resume essa necessidade: “A salvação humana consiste no conhecimento da verdade, que impede o obscurecimento da inteligência pelo erro; no desejo da devida finalidade do homem, que o impede de seguir os fins indevidos que o afastam da verdadeira felicidade; e, finalmente, na observância da justiça, para que ele não se macule por tantos vícios.” (Santo Tomás de Aquino. Comp. Th., Intro, c. I, 2) Mais explícito é o evangelista: “Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado.” (Mc 16,16)X. Objeto da fé
Fé não é um sentimento piedoso para com Deus, nem mera crença na existência do Criador – para isso basta a ciência –, tampouco simples requisito para vislumbrar fenômenos místicos extraordinários.
Assim, é errado alguém, ao propagar certa aparição milagrosa de Cristo ou da Virgem, autêntica ou não – como infelizmente está “na moda” –, pedir que se tenha fé no dito fenômeno... Fé se presta também a uma verdade, e não somente a alguém; e, ainda mais, as verdades nos foram todas reveladas com a morte do último Apóstolo, São João, restando à Igreja ensiná-las e explicitá-las. Fé, em síntese, presta-se ao que ensina a Igreja, ao que nos revela Deus por meio da Igreja, que Ele mesmo fundou sobre São Pedro e seus legítimos sucessores, os Bispos de Roma, os Papas, que proclama a verdade por seu Magistério Ordinário – reiterados pronunciamentos de caráter universal – e por seu Magistério Extraordinário – solene definição dogmática. Essas duas espécies de manifestação do Magistério – ordinária e extraordinária – são infalíveis, diferentemente do chamado Magistério Autêntico, simples ensinamentos não revestidos da infalibilidade, ao qual devemos assentimento religioso.
Às doutrinas que o Papa ou os Bispos em união com Ele ensinam, mas que não proclamam com um ato definitivo – seja pela solene definição dogmática do Magistério Extraordinário, seja pela reiteração do Magistério Ordinário e Universal –, não se deve, portanto, assentimento da fé, mas assentimento religioso, pois ainda não foram de todo explicitadas, podendo sofrer alterações (tal assentimento religioso é uma aceitação interna de respeito ao Papa e à Igreja, para fins de evitar o escândalo, que converte-se em ato de fé quando da definição da aludida doutrina, ou esvai-se ao ser mudada pela autoridade da Igreja, quando entende ser outro o caminho correto).
XI. Relações entre a fé e a ciência
Não pode haver oposição entre ciência e fé, como já esboçamos, porque as duas têm sua origem em Deus, e se houvesse oposição entre elas, Deus estaria contradizendo a Si mesmo. A verdade é sempre divina, quer seja conhecida pela fé, quer pela ciência, pela razão. Em outras palavras, não pode haver oposição ou contradição entre uma verdade religiosa e uma verdade científica. Não confundamos verdade como simples hipótese. Por verdade científica se entende uma verdade comprovada com absoluta certeza pela ciência, e não uma mera hipótese ou teoria de um cientista, por mais autorizado que seja. Por verdade religiosa se entende uma verdade proposta pela Igreja como obrigatória a nossa crença, e não uma mera hipótese ou teoria de um teólogo, por mais autorizado que este também seja.
Seguiremos, nesse tema, o resumo do Pe. Pablo Arce Gargollo, exposto em seu curso de Teologia Dogmática, publicado no portal católico http://www.encuentra.com, de língua hispânica. Nunca vamos encontrar autêntica contradição entre uma verdade religiosa e uma verdade científica, entre a fé e a ciência; podemos, isso sim, encontrar uma contradição aparente.
A oposição que alguém possa levantar, entre ciência e fé, é uma mera aparência de contradição, e pode dar-se ou entre uma hipótese teológica e uma hipótese científica, e neste caso nem a primeira é verdade religiosa nem a segunda verdade científica; ou entre uma verdade religiosa e uma hipótese científica, por exemplo, entre o dogma da criação do mundo por Deus e a mera teoria de que o homem vem do macaco; ou, enfim, entre uma hipótese teológica e uma verdade científica, por exemplo, entre a opinião de alguns teólogos que interpretavam os dias da criação como dias naturais de 24 horas, e a comprovada verdade científica de que o mundo necessitou vários séculos para sua formação.
Podemos, por isso, ter segurança absoluta de que nunca uma verdade religiosa estará em contradição real com uma verdade científica, nunca a fé estará em oposição real com a ciência, eis que a verdade não pode contradizer a si mesma: ambas as verdades originam-se em Deus, ainda que se nos venham por canais diferentes. “Ainda que a fé esteja acima da razão, contudo, nenhuma verdadeira contradição pode jamais dar-se entre a fé e a razão, pois que o mesmo Deus que revela os mistérios e infunde a fé, pôs dentro da alma humana a luz da razão, e Deus não pode negar-Se a Si mesmo nem a verdade contradizer jamais a verdade.” (Concílio Ecumênico Vaticano I. Constituição Dogmática Dei Filius, 4) O filósofo Francis Bacon dizia: “Se a pouca ciência por vezes afasta de Deus, a muita ciência conduz sempre a Ele.”
A fé é útil à ciência, pois lhe dá firmeza, fazendo-a conhecer com certeza muitas verdades de capital importância, que a razão somente conhece de modo incerto; preserva-a do erro, impedindo que ela tome caminhos que a desviem da verdade; ilumina-a, manifestando muitas verdades que a razão sozinha nunca poderia conhecer. A fé é, no dizer o sacerdote de quem tomamos esse esquema, “como um poderoso telescópio que aumenta poderosamente o alcance da razão.” (op. cit.) Também a ciência é útil à fé, enquanto a razão é a que demonstra os motivos de credibilidade – profecias realizadas, milagres operados, eminente santidade e sabedoria da religião cristã e seu Fundador –; sendo as ciências um auxiliar eficaz e indispensável no estudo das verdades da fé: a filosofia é uma grande serva da teologia. Resume muito bem o Santo Padre, o Papa João Paulo II, em seu documento sobre as relações entre fé e razão: “A fé a razão constituem como que duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade. Foi Deus quem colocou no coração do homem o desejo de conhecer a verdade e, em última análise, de O conhecer a Ele, para que, conhecendo-O e amando-O, possa chegar também à verdade plena sobre si próprio.” (Sua Santidade, o Papa João Paulo II. Encíclica Fides et Ratio, Intro)
“Confirma-se assim, uma vez mais, a harmonia fundamental entre o conhecimento filosófico e o conhecimento da fé: a fé requer que o seu objeto seja compreendido com a ajuda da razão; por sua vez a razão, no apogeu da sua indagação, admite como necessário aquilo que a fé apresenta.” (Sua Santidade, o Papa João Paulo II. Encíclica Fides et Ratio, 42)
“Neste longo caminho, ocupa um lugar absolutamente especial S. Tomás, não só pelo conteúdo da sua doutrina, mas também pelo diálogo que soube instaurar com o pensamento árabe e hebreu do seu tempo. Numa época em que os pensadores cristãos voltavam a descobrir os tesouros da filosofia antiga, e mais diretamente da filosofia aristotélica, ele teve o grande mérito de colocar em primeiro lugar a harmonia que existe entre a razão e a fé. A luz da razão e a luz da fé provêm ambas de Deus, argumentava ele; por isso, não se podem contradizer entre si. Indo mais longe, S. Tomás reconhece que a natureza, objeto próprio da filosofia, pode contribuir para a compreensão da revelação divina. Deste modo, a fé não teme a razão, mas solicita-a e confia nela. Como a graça supõe a natureza e leva-a à perfeição, assim também a fé supõe e aperfeiçoa a razão. Esta, iluminada pela fé, fica liberta das fraquezas e limitações causadas pela desobediência do pecado, e recebe a força necessária para elevar-se até ao conhecimento do mistério de Deus Uno e Trino. Embora sublinhando o caráter sobrenatural da fé, o Doutor Angélico não esqueceu o valor da racionalidade da mesma; antes, conseguiu penetrar profundamente e especificar o sentido de tal racionalidade. Efetivamente, a fé é de algum modo ‘exercício do pensamento’; a razão do homem não é anulada nem humilhada, quando presta assentimento aos conteúdos de fé; é que estes são alcançados por decisão livre e consciente.” (Sua Santidade, o Papa João Paulo II. Encíclica Fides et Ratio, 43) Fé e razão nos apresentam a verdade pela qual, quando a ela aderimos, somos libertos (cf. Jo 8,32), como nos ensina o mesmo Pontífice em outra carta, a Encíclica Veritatis Splendor.
XII. A função da fé na vida espiritual
A fé é a primeira disposição da alma e cimento da vida sobrenatural. Cristo, já vimos, exige a fé como condição prévia da união com Ele. A natureza da fé é o assentimento ao testemunho de Deus proclamando suas verdades através da Igreja, principalmente a de que Jesus é Seu Filho. A fé na divindade de Cristo é o fundamento de nossa vida interior, i.e., de nosso relacionamento com Deus; o cristianismo é a aceitação da divindade de Jesus Cristo. Devemos exercitar o hábito da fé pelo ato de fé, pela freqüente adesão à verdade revelada. A fecundidade de nossa vida espiritual depende de estar baseada na fé verdadeira em Cristo. Tudo isso nos ensina o grande abade beneditino de Maredsous, na Bélgica, Dom Columba Marmion, OSB, no seu clássico “Jesus Cristo, vida da alma”, ao explicar como a fé em Jesus é o fundamento da vida cristã. “Dez mil dificuldades não fazem uma única dúvida.” (NEWMAN, John Henry Cardeal. Apologia pro vita sua)
XIII. Fé e esperança
Vimos que a fé tem por objeto a Revelação de Deus, as verdades por Ele transmitidas e ensinadas pela Igreja. Consideramos também como ela é necessária para a salvação, pois “sabemos, contudo, que ninguém se justifica pela prática da Lei, mas somente pela fé em Jesus Cristo.” (Gl 2,16) Precisamos agora entender que a fé envolve, por fim, um aspecto de confiança no poder de Deus em nossa vida. Não se trata, contudo, de um sentimento que nos abra as portas aos milagres, como ingenuamente alguns definem a fé.
Entretanto, quem adere intelectualmente às verdades reveladas por Deus, movido pela vontade sob o influxo da graça, i.e., quem crê inicia um relacionamento de intimidade com Cristo que lhe permite ter coragem de suportar os revezes da vida, por piores que sejam, sem desanimar. “Olhai as aves do céu: não semeiam nem ceifam, nem recolhem nos celeiros e vosso Pai celeste as alimenta. Não valeis vós muito mais que elas? (...) Se Deus veste assim a erva dos campos, que hoje cresce e amanhã será lançada ao fogo, quanto mais a vós, homens de pouca fé?” (Mt 6,26.30) A fé não é a confiança, mas esta é gerada por aquela. Se aderimos intelectualmente à doutrina revelada por Deus na Igreja Católica, entendemos como Cristo é a ponte que nos une ao Pai; a fé é o começo da esperança, ainda que as duas virtudes não se confundem como erroneamente sustentam os protestantes. Diz um Padre da Igreja Oriental, sobre ser a fé o princípio da vida eterna, pela qual ansiamos com a virtude da esperança: “Enquanto desde já contemplamos as bênçãos da fé, como um reflexo no espelho, é como se já possuíssemos as coisas maravilhosas que um dia desfrutaremos, conforme nos garante nossa fé.” (São Basílio. Liber de Spiritu Sancto, 15,36: PG 32,132) Quem faz o ato de fé pode bradar com São Paulo: “Se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Rm 8,31)
O exercício constante do ato de fé, que torna atual a virtude da fé infusa no Batismo, não só atesta que acreditamos na doutrina católica, agindo como resposta ao testemunho de Deus que Se revela, mas também semeia em nossa alma aquela confiança expectante de que Deus sempre faz o que é melhor para nós e nossa salvação. A fé torna-se assim, de adesão à verdade, um saber que Cristo nos ajuda sempre, porque a Ele respondemos. “Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a esta amoreira: arranca-te e transplanta-te ao mar, e ela vos obedecerá.” (Lc 17,6) A fé não é uma propriedade que nos permite operar milagres, mas um assentimento à verdade divina – noutras palavras, uma aceitação da doutrina católica –; embora isso, quando temos fé, quando aceitamos o que Deus revelou por Sua Igreja, nossos pedidos, se nos conduzirem à salvação, serão atendidos. Os milagres são alcançados não porque a fé seja a chave para consegui-los de Deus, e sim porque, uma vez que aderimos intelectualmente a Deus, Ele nos ajuda, inclusive com a realização de feitos maravilhosos. “Tudo o que pedirdes com fé na oração, crede que o tendes recebido e ser-vos-á dado.” (Mt 11,24) Isso acontece porque quando Deus revela Sua vontade pela Igreja e a aceitamos pela fé, passamos a ter um contato mais íntimo com o Senhor, de tal modo que podemos Lhe pedir o necessário à nossa efetiva salvação e tudo que a esta não se opõe.
XIV. Fé e apostolado
Todo aquele que diz ter fé deve passá-la aos outros, pelo testemunho de suas palavras e de suas obras. “Cada discípulo de Cristo tem sua parte na tarefa de propagar a fé.” (Concílio Ecumênico Vaticano II. Decreto Ad Gentes, 23)
XV. A perda da fé
A fé pode ser perdida, como já explicamos. Bastante claro é o ensino de São Paulo: “Sustenta o bom combate, com fidelidade e boa consciência, que alguns desprezaram e naufragaram na fé.” (1 Tm 1,18-19)
XVI. Modelos de fé
Temos modelos na fé: “Obedecer (‘ob-audire’) na fé significa submeter-se livremente à palavra ouvida, visto que sua verdade é garantida por Deus, a própria Verdade. Desta obediência, Abraão é o modelo que a Sagrada Escritura nos propõe, e a Virgem Maria, sua mais perfeita realização.” (Cat., 144) A esses modelos, bem como a todos os santos que o foram, devemos recorrer com freqüência, seja imitando-lhes as virtudes, seja pedindo sua intercessão para que sejamos fiéis na fé.
“A Virgem Maria realiza da maneira mais perfeita a obediência da fé. Na fé, Maria acolheu o anúncio e a promessa trazida pelo anjo Gabriel, acreditando que ‘nada é impossível a Deus’ (Lc 1,37), e dando seu assentimento: ‘Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra’ (Lc 1,38). Isabel a saudou: ‘Bem-aventurada a que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido’ (Lc 1,45). É em virtude desta fé que todas as gerações a proclamarão bem-aventurada. Durante toda a sua vida e até sua última provação, quando Jesus, seu filho, morreu na cruz, sua fé não vacilou. Maria não deixou de crer ‘no cumprimento’ da Palavra de Deus. Por isso a Igreja venera em Maria a realização mais pura da fé.” (Cat., 148-149)
Jesus Cristo, todavia, ainda que a Ele possamos recorrer pedindo a fé, não é nosso modelo de tal virtude: Cristo, por ser Deus, não tem fé, pois seria impossível para Ele (fé é acreditar no testemunho de Deus, e Jesus é Deus!).
XVII. Fé, ato pessoal
“A fé é um ato pessoal: a resposta livre do homem à iniciativa de Deus que se revela. Ela não é, porém, um ato isolado. Ninguém pode crer sozinho, assim como ninguém pode viver sozinho. Ninguém deu a fé a si mesmo, assim como ninguém deu a vida a si mesmo. O crente recebeu a fé de outros, deve transmiti-la a outros. Nosso amor por Jesus e pelos homens nos impulsiona a falar a outros de nossa fé. Cada crente é como um elo na grande corrente dos crentes. Não posso crer sem ser carregado pela fé dos outros, e pela minha fé contribuo para carregar a fé dos outros.” (Cat., 166)XVIII. Outros aspectos
A fé é uma virtude que, juntamente com a esperança e a caridade, serve de resposta à Revelação de Deus, e nos possibilita a salvação, a vida eterna no céu. Por nos ligarem a Deus, essas três virtudes são chamadas teologais. Tanto a fé quanto a esperança, uma vez alcançado o céu, cessarão: a fé porque se é testemunho na verdade revelada por Deus, não terá mais razão de existir, eis que haverá, na vida eterna, a adesão a Ele pela ciência; a esperança porque já teremos posse das coisas que se esperavam.
“Existem três graus no conhecimento que o homem pode ter de Seu Criador. O primeiro é o conhecimento natural, que lhe é dado pela luz da razão. O segundo, o conhecimento sobrenatural, que ele recebe pela luz da fé. O terceiro, o conhecimento ou visão beatífica, que ele recebe pela luz da glória. Estes três graus se assemelham um pouco com os diversos modos com que nossos sentidos se aplicam ao conhecimento de um objeto sensível. Podemos conhecer um objeto material ou pelo tato, quando o apalpamos, ou pelo ouvido, quando escutamos sua descrição, ou pela visão, quando o vemos. Isso é explicado por São Tomás na sua Suma Contra os Gentios.
Ora, esses três modos se aplicam bem aos três graus do conhecimento de Deus que vimos acima.
I - A razão procura de certo modo tocar Deus, que está fora de sua visão. É o que diz São Paulo: ‘Que busquem a Deus como que às apalpadelas (Atos XVII,27). São Paulo desenha aqui um quadro que representa os pobres pagãos às apalpadelas, como cegos, atravessando a natureza e procurando tocar em Deus. O Apóstolo lhe mostra o meio de O encontrar: Ele não está longe, diz ele, pois vivemos, nos movemos e existimos por ele. Entrem em si mesmos e O encontrarão, Ele que é o Pai de toda a vida. Quando apalpamos um objeto nos convencemos da existência desse objeto; em seguida medimos aproximadamente suas dimensões. Assim a razão natural, que apalpa Deus, está em condições de demonstrar a existência de Deus. Ela chega até a alcançar algo de sua imensidade, de sua eternidade, de seu poder infinito. Eis até onde puderam ir, segundo atesta São Paulo, os filósofos da Antigüidade, pela investigação racional (cf. Rom I,20).
II - Este adágio não pode nos satisfazer, a nós católicos. Somos chamados a subir mais alto e a aprofundar nossa busca pelo conhecimento sobrenatural. Trata-se do conhecimento pela luz da fé, semelhante à que nos vem pelo sentido da audição: ‘Fides ex auditu’, diz São Paulo, a fé nos vem por audição, ou seja, quando ouvimos a palavra de Cristo, ‘audito autem per verbum Christi’. Ela nos traz um conhecimento mais íntimo de Deus, na medida em que a palavra santa nos revela as maravilhas escondidas na Sua essência, na medida em que ela nos inicia nos segredos dessa natureza criadora onde aprendemos a adorar a Trindade de Pessoas. Temos ainda, é verdade, um pano nos olhos; mas em vez de só apalpar o quadro, ouvimos deslumbrados sua descrição, pelo menos até onde nossa inteligência, presa às imagens terrestres, é capaz de o penetrar. Em vez de tocar somente em Deus, o Grande Vivo, analisamos, por assim dizer, a força e os atos da Vida Divina.
III – Virá um dia em que a venda será retirada de nossos olhos. Uma luz, chamada luz de glória, virá fortificar, elevar, dilatar nossa inteligência. Então veremos Deus. Sim, diz São João, nós o veremos como Ele é. ‘Videbimus eum sicuti est’ (I Jo III,2). Sim, diz São Paulo, nós o veremos face a face. ‘Videbimus facie ad faciem’ (I Co XIII,12). O conheceremos como Ele nos conhece. O que mais dizer? Elevados a este grau, teremos chegado ao termo dos desejos da criatura racional; possuiremos nosso fim. Lembremos que este conhecimento beatífico, tão grande, tão glorioso, está em germe no conhecimento que temos pela fé, pois a fé é um começo de possessão da verdade total que é o próprio Deus. A fé é obscura, visto que os mistérios que ela nos propõe estão acima da capacidade da razão, no estado de vida atual, mas é também luminosa, pois esses mistérios, escondidos a nossos olhos pela excessiva luz, iluminam com sua luz maravilhosa as coisas temporais e as eternas. Logo, não devemos considerar os mistérios da fé como pontos negros que atrapalhariam o olhar de nossa inteligência; eles são astros explodindo de luz e que se escondem de nós nessa própria luz, cujo reflexo nos descobre todo um oceano de verdades escondidas aos sábios deste mundo e reveladas aos humildes e aos pequenos. O primeiro e mais luminoso desses astros é, sem dúvida, o mistério da Santíssima Trindade.” (ANDRÉ, Pe. Emmanuel. “O mistério da Santíssima Trindade”, I)
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“Meu Deus, porque sois a verdade infalível, creio firmemente em tudo aquilo que revelastes e no que a Santa Igreja nos propõe para crer. Creio em vós expressamente, único Deus verdadeiro em três Pessoas iguais e distintas, Pai, Filho e Espírito Santo. E creio em Jesus Cristo, Filho de Deus, que se encarnou e morreu por nós, e que dará a cada um de nós o prêmio ou o castigo eterno, de acordo com os nossos méritos. Quero viver sempre de acordo com essa fé. Senhor, aumentai a minha fé.” (Manual de Orações do Movimento Regnum Christi, Ato de Fé)
PARA CITAR ESTA TRADUÇÃO:
A certeza sobrenatural da Fé Fabrício Antares, doutorando em Direito da PUC-MG, maio de 2011, blogue Tradição em Foco com Roma.
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