Esse artigo responde a uma dúvida de um leitor:
Bom dia, Sr. David Conceição,
Gostaria de sugerir-te um tema confuso: Homens de cabelos longos...
Gosto de escutar algum Heavy Matal de vez em quando, mesmo não recomendando-o por sua natureza rebelde e tendende ao ocultismo, como pude comprova-lo. Por isso, hoje acordei com um pensamento na cabeça sobre os cabelos. Sei que São Paulo havia condenado, mas que apesar de tudo, era meio que aceito na Antiga Lei, se não estou enganado. Também houve um papa que havia condenado para os padres, devido à vaidade, mas no oriente isso faz parte da tradição; enfim, será que não há possibilidade de você descolar alguma explicação da Igreja?
Muito obrigado, Alexandre.
Alexandre, para ajudar a solucionar sua dúvida, convidei o irmão Sandro Pelegrineti de Pontes para responder a questão em destaque abaixo:
“Nec ipsa natura docet vos quod vir quidem si comam nutriat ignominia est illi - A própria natureza não vos ensina que é uma desonra para o homem usar cabelo comprido? ”(1Cor 11,14)
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A Igreja Católica sempre fez menção especial a diferenciação dos seus filhos na sociedade. Assim, para nós no ocidente, nos últimos séculos, foi assim.
Padre de batina
Freira com hábito
Homem de calça e cabelo curto
Mulher de saia e cabelo comprido
Isso é costume, não propriamente doutrina magisterial, mas é claro que todo costume ecoa a doutrina. Assim, para nós aqui homem nunca pode ter cabelo comprido, para se diferenciar da mulher.
Penso que em tese poderia ser o contrário, se homem tivesse cabelo comprido então mulher, em tese, poderia e deveria então ter o cabelo curto.
A ênfase está na diferenciação dos sexos que é externado pela roupa e pelo cabelo, alem dos brincos, etc
Mas pela mulher ser vaidosa, pela questão do véu, desde São Paulo ficou estabelecido disciplinarmente que a mulher deve então ter o cabelo comprido porque o cabelo é o véu natural da mulher. Então, para nós, homens, cabelos curtos. Mas realmente não possuo citações de moralistas neste sentido, pelo menos neste momento penso que na ausência de citações o costume católico serve como embasamento.
E isso ninguém irá negar, é o costume católico nos últimos séculos.
Na Bíblia houve exceções. Já viu o nazirato? Sansão é um exemplo e parece que São João Batista também.
O nazir não cortava o cabelo como sinal de entrega a Deus, de consagração. O nazirato, então, é mais uma evidência que desde o Antigo Testamento homem tem que ter cabelo curto e mulher cabelo comprido. Isso na sociedade judaica que se prolongou e foi mantido no cristianismo nascente. Por isso inclusive Cristo foi desenhado com cabelos longos tradicionalmente. Muitos o identificaram como nazir.
A questão da saia é parecida.
Em tese, homem poderia usar saia, e mulher então usaria calça. A questão não é tanto a calça para homem, e saia para mulher mas a questão é a diferenciação dos sexos. Porém, os doutos católicos então afirmaram que a calça seria melhor para o homem, porque ela evidencia as curvas femininas que justamente devem ficar escondidas.
Na Escócia tem o Kilt, que mulher não usava, é uma saia masculina. Então foi respeitada a doutrina católica da diferenciação.
Em tese a sociedade poderia ser assim: homens só de saias e mulheres só de saias femininas ou de calças.
Saias masculinas e saias femininas, em tese, poderia ser
Mas o costume foi outro, calças para homens e saias para mulheres. Na Bíblia havia túnicas para homens e túnicas diferentes para mulheres.
As túnicas das mulheres tinhas detalhes diferentes, como cintas e outros pequenos enfeites. Já a calça feminina foi desaconselhada por muitos doutos católicos por evidenciar as curvas femininas e ser simbolo da cultura feminista, não da cultura católica
Dizem que nossa cultura permite a calça feminina, mas esta não é nossa cultura. Nossa cultura é a católica, esta é a cultura feminista, que quer igualar os sexos.
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O clero da Igreja Ortodoxa mantém o uso do cabelo comprido e da barba por uma tradição com base na imitação dos sacerdotes hebraicos e da instrução mosaica - “Neque in rotundum adtondebitis comam nec radatis barbam - Não cortareis o cabelo, arredondando os cantos da vossa cabeça, nem danificareis as extremidades da tua barba” (Levítico 19,27) Para os ortodoxos é mais cômodo macaquear os judeus que negam Nosso Senhor do que se sujeitar ao Romano Pontífice confiado pelo próprio Cristo e não em divisões comunistas de poderes patriarcais, sem contar que no mundo latino a aparência de um sacerdote cabeludo e barbado dá a impressão de relaxo.
Há quem defenda o uso de cabelos compridos por uma questão de beleza. E é fato, em alguns rapazes tal estilo deixam belos, mas existe apenas um conjunto de proporções que são consideradas belas, isto é a estrutura por trás de qualquer coisa que o homem julga atraente e agradável aos sentidos, Wolfgang von Wersin escreveu um livro sobre essas proporções que basicamente resume todo um desenvolvimento histórico por detrás da atividade estética, a proporção áurea é apenas a mais conhecida delas. Os detalhes e adornos podem até mudar de cultura para cultura, mas no arquétipo do homem apenas algumas coisas são vistas como as mais belas.
A beleza está na harmonia das partes, não no padrão delas. Por isso não entendo as “ditaduras da moda”. Coisa como cabelo liso ou crespo, ondulado ou cacheado... pele clara ou bronzeada. Gordinhos ou sarados. Cada um desses detalhes não faz um homem bonito, por exemplo. O que torna algo “belo”, por assim dizer, é a harmonia entre as partes.
A simetria também vejo como uma forma de harmonia.
Harmonia é a combinação de mais de um elemento, pode ser dissonante ou consonante, só que não é uma combinação qualquer, existe uma razão entre a parte e o todo, em uma música por exemplo, eu não saio simplesmente misturando várias ondas sonoras, isto é barulho, eu ordeno os elementos de modo que a razão entre eles faça sentido esteticamente. Simetria significa dizer que se um eixo for delimitado dividindo 'X' o lado esquerdo será igual ao reflexo do direito, é um espelho, simetria e harmonia são diferentes, apesar de muitas vezes aparecerem juntas, o problema com coisas harmônicas e simétricas ao mesmo tempo é que elas costumam ser monótonas, especialmente para a nossa percepção que tem se tornado cada vez mais embrutecida.
A busca da beleza pelos gregos forma um acervo tão rico e tão influente no ocidente que praticamente não existe arte em que ele não apareça. O teatro grego está no nosso cinema. Nossas artes plásticas se desenvolveram a partir dos modelos gregos e nossa literatura buscou os gregos tanto na forma como na temática, embora tenha outra forte raiz na Bíblia.
Por outro caminho, nossa ciência está diretamente ligada ao grego que um dia se perguntou o que havia no firmamento e como seria o fundo do mar. Nosso sistema político nasceu na Ágora e nossa filosofia não tem sequer como ser explicada sem o gênio grego.
Em tudo isso, a busca do ideal, da perfeição estética, da proporção equilibrada, sem esquecer suas contradições internas e suas antíteses.
“Et in medio septem candelabrorum similem Filio hominis vestitum podere et præcinctum ad mamillas zonam auream, caput autem ejus et capilli erant candidi tamquam lana alba tamquam nix et oculi ejus velut flamma ignis, et pedes ejus similes orichalco sicut in camino ardenti et vox illius tamquam vox aquarum multarum - No meio dos candelabros havia alguém semelhante a um filho de homem, vestido com uma túnica comprida e com uma volta de ouro em volta do peito. Sua cabeça e seus cabelos eram brancos como a lã alvejada, igual à neve, e seus olhos eram como chama de fogo. Seus pés pareciam de bronze incandecente no crisol” Ap 1, 13 - 15
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Esta descrição de Jesus, em Apocalipse quer dizer da beleza indizível da qual Jesus é portador. Nosso Senhor era perfeito em seu físico, de modo que a beleza não é atributo apenas da divindade, senão também da humanidade com a qual se encarnou. Assim, ele era e é mais bonito ainda do que nossas representações.
Na Idade Média era honroso! Ou vocês já viram, em filmes ou imagens medievais, rei de cabelos curtos?
O rei tinha que ter cabelos longos. Quem tinha a cabeça raspada eram os escravos.
Pois bem, se era desonroso no Antigo Testamento, não sei. Eu sei que na Idade Média a situação era inversa: cabelos longos era símbolo de status. Logo, penso que uma representação de Cristo teria necessariamente cabelos longos. E o uso de cabelos bem curtos no exército atual tem origem nas legiões romanas. Eles cortavam assim para evitar que o inimigo em combate puxasse os cabelos para degolar o pescoço.
Um homem que use cabelos compridos para se parecer com uma mulher - no caso dos travestis - está ferindo a natureza humana, um homem que use cabelos compridos por uma vaidade desenfreada pode estar se colocando acima de Deus estará tirando Deus de seu lugar, e essas e outras possibilidades são sim pecados.
Noel Barbara, Catéchèse Catholique Du Mariage, Ed. Fort dans La Foi, 2003, menciona que é recomendável ao cristão que se mantenha na íntegra condição física estabelecida por Deus, sendo um erro grave um alteração brusca que mude a fisionomia genética. Entre os exemplos, está na estética e principalmente entre os “transsexuais”. O teólogo menciona que é pecado grave a trasnmutação física para estar semelhante ao seu sexo oposto.
Concluímos em dizer que, o uso do cabelo comprido é moralmente neutro, em alguns casos esteticamente horrível, e na questão disciplinar e costumeira de nossa cultura católica, não é ordinário.