“A Suma Teológica de Santo Tomas de Aquino em forma de Catecismo” do Pe. Tomas Pégues, O. P., é uma excelente obra para aqueles que desejam iniciar o estudo da Obra Magna de Santo Tomás. Um tanto raro aqui no Brasil, haja vista que sua última edição em português data do início da década de 40, este livro é formulado como todos os catecismos tradicionais em perguntas e respostas e é de agradável leitura.
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PRIMEIRA PARTE: DE DEUS, SER SOBERANO E SENHOR DE TODAS AS COISAS
III. DAS OPERAÇÕES DIVINAS
Qual é a vida de Deus?
A sua vida consiste em conhecer-se e amar-se (XIV-XXVI).
Deus sabe todas as coisas?
Sim (XIV, 5).
Sabe tudo o que se passa no mundo?
Sim (XIV, 11)
Conhece todos os segredos dos corações?
Sim (XIV, 10)
Conhece o futuro?
Sim (XIV, 13).
Em que vos fundais para atribuir a Deus tão profunda ciência?
A razão é esta: Deus, ocupando o grau supremo do imaterial, possui inteligência infinita; é impossível, portanto, que ignore algo, presente, passado ou futuro; e possível, visto que não há ser que pertença quer à ordem entitativa, quer à ordem operativa, que não dependa de sua ciência, como o efeito da sua causa (XIV, 1-5).
Logo, em Deus há também vontade?
Sim, porque a vontade e inseparável do entendimento (XIX, 1).
Logo, todos os seres dependem da vontade divina?
Sim visto que a vontade de Deus é causa primeira e suprema de todas as coisas (XIX, 4-6).
Deus ama a todas as criaturas?
Sim, porque as criaturas são obra do seu amor (XX, 2).
O amor de Deus produz algum efeito nas criaturas?
Sim.
Que efeito produz?
O de dar-lhes todo o bem que possuem (XX, 3.4).
Deus é justo?
Sim, é a mesma justiça (XXI, 1).
Porque dizeis que Deus é a mesma justiça?
Porque dá a todos o que exige a natureza de cada um (XXI, 1-2)
A justiça divina reveste alguma modalidade especial a respeito dos homens?
Sim.
Em que consiste?
Em que Deus premia os bons e castiga os culpados (XXI, 1 ad 3).
Os homens recebem neste mundo o merecido prêmio ou castigo?
Em parte sim, mas nunca por inteiro.
Onde Deus recompensa por inteiro os justos e castiga os pecadores?
No céu os primeiros, e os segundos no inferno.
Há em Deus misericórdia?
Sim (XXI, 3).
Em que consiste a misericórdia divina?
Consiste nisso: Deus dá a cada coisa mais do que exige a sua natureza; e também dá aos justos mais do que lhes é devido e castiga os pecadores com pena inferior a que merecem as suas culpas (XXI, 4).
Deus governa este mundo?
Sim.
Como se chama o governo de Deus no mundo?
Chama-se Providência Divina (XXI, 1).
A Providência Divina estende-se a todas as coisas?
Sim, porque não há nada no mundo que Deus não tenha previsto e predeterminado desde toda a Eternidade (XXII, 2).
Estende-se aos seres inanimados?
Sim, porque fazem parte da obra de Deus (XXII, 2 ad 4).
Atinge também os atos livres do homem?
Sim (XXII, 2 ad 4).
Explicai como.
Os atos livres, de tal maneira estão sujeitos às disposições da Providência Divina, que coisa alguma pode fazer o homem, se Deus não a ordena ou a permite, pois a liberdade não lhe confere independência a respeito de Deus (XXII, 2 ad 4).
Tem nome especial a Providência Divina em relação aos justos?
Sim, chama-se Predestinação.
O que quer dizer predestinado?
É o homem que há de gozar no Céu a Bem-Aventurança da glória (XXIII, 2)
Que nomes recebem os que não hão de gozar da Bem-Aventurança?
Réprobos ou não eleitos (XXIII, 3).
Por que uns hão de ser felizes e outros não?
Porque os predestinados foram eleitos do Senhor, ou amados com amor de preferência, em virtude do qual Deus governa o curso da sua vida de tal modo que chegarão a conseguir a felicidade eterna (XXIII, 3).
E por que os réprobos não alcançarão a mesma felicidade?
Porque não foram amados com o amor dos predestinados (XX,3)
Não haverá nisso injustiça por parte de Deus?
Não, porque Deus a ninguém deve por justiça a Bem-Aventurança eterna; e os que a conseguem só a alcançarão a título de graça (XXIII, 3 ad 2)
E os que não hão de alcançá-la, serão castigados pelo fato de não a possuir?
Serão castigados por não a possuir, porém, só em razão das culpas em virtude das quais se tornaram indignos de recebê-la (XXIII, 3).
Como podem ser culpados de não a haver recebido?
Podem sê-lo, e, com efeito, o são, porquanto Deus a oferece a todos; porém, os homens que, debaixo do império dos decretos divinos, conservam a liberdade, podem aceitar o oferecimento ou recusá-lo, pondo em seu lugar outro fim (XXIII, 3).
Ofendem com isso a Deus?
Sim, tão gravemente que merecem duro castigo, visto que, ao fazê-lo. Caem voluntariamente em grave pecado pessoal (XXIII, 3).
Os que aceitam o oferecimento de Deus e conseguem a glória, a quem devem o ter correspondido ao chamamento de Deus?
À virtude causal do decreto predestinante (XXIII, 3 ad 2).
É eterna a predestinação por parte de Deus?
Sim (XXIII, 4)
O que significa a predestinação a respeito dos eleitos?
Significa que Deus assinalou a cada um o seu lugar na glória, e, mediante a graça, o porá em condições de possui-la (XXIII, 5,7).
O que devem fazer os homens ante o pavoroso mistério da predestinação absoluta por parte de Deus?
Abandonar-se inteiramente à ação da graça e convencer-se, na medida do possível, que os seus nomes estão escritos no livro dos predestinados (XXIII, 8).
Deus é Todo-Poderoso?
Sim (XXV, 1-6)
Por quê?
Porque sendo o ser por essência, a Ele há de estar submetido tudo quanto existe ou possa existir (XXV, 3).
Deus é feliz?
É a mesma felicidade, porque goza infinitamente do Bem infinito, que é Ele mesmo (XXVI, 1-4).