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Rixa regional linguística não tem motivo


Um costume bem comum e antigo entre os brasileiros é a comparação dos costumes regionais de Estados vizinhos gerando dessa forma uma espécie de competição para outorgar para si a melhor condição de moradia, aspecto climático, turístico e esportivo. Mas o que realmente não faz sentido algum é o deboche sobre os dialetos, feito com muito mais enfânse sobre os nodertinos que com isso ganham uma característica de pessoas desinformadas e menos instruídas fato esse desmentido muito antes na história pelo rol de escritores renomados que são em sua maioria oriundos do Nordeste brasileiro.

Mas, será que todos sabem a origem fonológica dos dialetos e se de fato qual deles se aproximam mais do português de raíz?


Para compreender melhor essa questão é preciso analisar a produção da fala do ponto de vista fisiológico e articulatório. Inicialmente, descreverei o aparelho fonador e veremos o mecanismo fisiológico envolvido na produção da fala.


A fonética é a ciência que apresenta os métodos para a descrição, classificação e transcrição dos sons da fala, principalmente aqueles sons utilizados na linguagem humana. O ponto que irei abordar para explicar a produção da fala será a fonética articulatória.

Os órgãos que utilizamos na produção da fala não tem como função primária a articulação dos sons. Na verdade, não existe nenhuma parte do corpo cuja única função seja apenas relacionada com a fala. As partes do corpo humano que utilizamos na produção da fala tem como função primária outras atividades diferentes como por exemplo mastigar, engolir, respirar ou cheirar. Entretanto, para produzirmos qualquer som de qualquer língua fazemos uso de uma parte específica do corpo humano que denominaremos de aparelho fonador.

Com o objetivo de compreenderemos o mecanismo de produção da fala e da articulação dos sons é que passamos então à descrição do aparelho fonador. Podemos dividir em três grupos os órgãos do corpo humano que desempenham um papel na produção da fala: o sistema respiratório, o sistema fonatório e o sistema articulatório.


Consideremos cada um dos sistemas ilustrados acima. O sistema respiratório consiste dos pulmões, dos músculos pulmonares, dos tubos brônquios e da traquéia. O sistema respiratório encontra-se na parte inferior à glote, que é denominada cavidade infraglotal. A função primária do sistema respiratório é obviamente a produção da respiração.

O sistema fonatório é constituído pela laringe. Na laringe localizam-se músculos estriados que podem obstruir a passagem de corrente de ar e são denominados de cordas vocais. O espaço decorrente da não obstrução destes músculos laríngeos é chamado de glote. A função primária da laringe é atuar como uma válvula que obstrui a entrada de comida nos pulmões por meio de abaixamento da epiglote. A epiglote é a parte com mobilidade que se localiza entre a parte final da língua ao fundo da garganta e acima da laringe. O ato de engasgar envolve o fato de que a epligote não obstruiu a entrada de alimento no sistema respiratório. O ar dos pulmões sai então visando a impedir a entrada do corpo estranho no sistema respiratório.

O sistema articulatório consiste da faringe, da lingua, do nariz, dos dentes e dos lábios. Ou seja, das estruturas que se encontram na parte superior à glote. São várias funções primárias desempenhadas pelos órgãos do sistema articulatório, relacionam-se com o ayo de comer e morder, mastigar, sentir o paladar, cheirar, sugar, engolir.

Os três sistemas descritos acima caraterizam o aparelho fonador e são fisiologicamente responsáveis pelo produção dos sons da fala. Levando-se em consideração as características fisiológicas do aparelho fonador, podemos afirmar que há um número limitado de sons possiveis de ocorrer em línguas naturais. Isto deve-se ao fato de ser fisiologicamente impossível articular um som em que a lingua toca a ponta do nariz.

Por outro lado, sons cuja articulação envolve a lingua tocar os dentes incisivos superiores são atestados em inúmeras línguas. Em outras palavras, enquanto certas articulações são fisiologicamente impossíveis, outras são recorrentes.

Todas as línguas naturais possuem consoantes e vogais. Entenderemos por segmento consonantal um som que seja produzido com algum tipo de obstrução mas cavidades supraglotais de maneira que haja obstrução total ou parcial da passagem da corrente de ar podendo ou não haver fricção. Por outro lado, na produção de um segmento vocálico a passagem da corrente de ar não é interrompida na linha central e portanto não há obstruçãp ou fricção. Certos seguimentos tem características fonéticas não tão precisas, seja de consoante ou de vogal. Estes segmentos são denominados na literatura de semivogais, semicontóides ou glides.

Poucos sons produzidos por seres humanos podem ser descritos sem levarmos em consideração o mecanismo da corrente de ar. Entre os sons que não fazem uso do mecanismo de corrente de ar em sua produção o mais conhecido é o ranger de dentes. A correnre de ar pode ser pulmonar, glotálica ou velar. Os segmentos consonantais do português são produzidos com o mecanismo de corrente de ar pulmonar. Este mecanismo utilizado normalmente no ato de respirar. O mecanismo de corrente de ar glotálico não ocorre no português e o mecanismo de corrente de ar velárico ocorre em algumas exclamações de deboche e negação.

Em sons produzidos com a corrente de ar egressiva, o ar de dirige para fora dos pulmões e é expelido por meio de pressão exercida pelos músculos do diafragma. Os segmentos consonantais do português são produzidos com a corrente de ar egressiva.

A glote é o espaço entre os músculos estriados que podem ou não obstruir a passagem de ar dos pulmões para a faringe. Estes músculos são chamados de cordas vocais.

Diremos que o estado da glote é vozeado ou sonoro quando as cordas vocais estiverem vibrando durante a produção de um determinado som. Em outras palavras, durante a produção de um som vozeado os músculos que formam a glote aproximam-se e devido a passagem de ar e da ação dos músculos ocorre vibração. Em oposição, denominados o estado da glote de desvozeado ou surdo quando não houver vibração das cordas vocais. Não há vibração das cordas vocais nem ocorre ruído durante a produção de um segmento desvozeado. Isso se dá porque os músculos que formam a glote encontram-se completamente separados de maneira que o ar passa livremente.

No diagrana abaixo ilustro o caso em que as cordas vocais estão vibrando e portanto temos um segmento vozeado ou sonoro (direita) e o caso em que as cordas vocais não estão vibrando e temos um som desvozaeado ou surdo (esqueda)


Na figura da esquerda os músculos que formam as cordas vocais estão separados e não vibram com a passagem da corrente de ar que vem dos pulmões. Na da direita os músculos que forma as cordas vocais vibram com a passagem da corrente de ar que vem dos pulmões.

Para observamos a oposição entre um segmento oral e um segmento nasal devemos nos concentrar na posição do véu palatino. Para isto, podemos acompanhar o que acontece com a úvula, pois ele fica no final do véu palatino ou palato mole. A úvula é comumente chamada de "campainha". É aquela "gota de carne" que vemos quando observamos a boca de uma pessoa aberta.

Observar a posição da úvula durante a produção de segmentos consonantais não é tão simples., mas vale a pena tentar verificar se o véu palatino encontra-se levantado na produção dos segmentos orais p,l em oposição ao seu abaixamento na produção dos segmentos nasais m,n. Para isto, articule cada um desses segmentos consonantais alternadamente observando a mudança de posição da úvula. A figura abaixo ilustra com o véu palatino levantado, quando ocorre um segmento oral e uma articulação com o véu palatino abaixado, quando ocorre um segmento nasal.

Qualquer segmento produzido com o véu palatino levantado obstruindo a passagem do ar para a cavidade nasal é chamado de oral. Um segmento produzido com o abaixamento do véu palatino de maneira que haja ressonância na cavidade nasal é chamado de nasal.


Os articuladores ativos tem a propriedade de movimentar-se em direção ao articulador passivo modificando a configuração do trato vocal. Os articuladores ativos são: o lábio inferior que modifica a cavidade oral, a língua que modifica a cavidade oral, e véu palatino que modifica a cavidade nasal e as cordas vocais que modificam a cavidade faringal. Eles são denominados articuladores ativos devido ao seu papel ativo no sentido de movimento na articulação consonantal em oposição aos articuladores passivos.

A língua é dividida em ápice, lâmina, parte anterior, parte medial e parte posterior. O céu da boca é dividido em alvéolos, palato duro, véu palatino e úvula.

Os articuladores passivos localizam-se na mandíbula superior, exceto o véu palatino que está localizado na parte posterior do palato. Os articuladores passivos são o lábio superior, os dentes superiores e o céu da boca que divide-se em: alvéolos, palato duro, véu palatino e úvula. Note que o véu palatino pode atuar como articulador ativo na produção se segmentos nasais ou como articulador passivo na produção de segmentos velares.

Vejamos a relação entre articuladores ativos e passivos (o foco da divergencia dialética entre aqui ) A partir da posição do articulador ativo em relação ao articulador passivo podendo ou não haver contato entre eles podemos definir o lugar da articulação dos segmentos consonantais.

Observe que as letras em negrito referem-se a pronúncia associada a tal letra. A relação letra/som não é uma relação direta um-a-um. Temos caso que a letra letra corresponde a dois sons diferentes - como por exemplo c em e em cela. Temos também casos em que o mesmo som é representado por duas letras diferentes - como por exemplo c em cela e s em sela. Fique atento para o fato de que nos exemplos apresentados o foco é no som produzido e não nas letras correspondentes a estes sons.

Bilabial: O articulador ativo é o lábio inferior e como passivo temos o lábio superior: Pá, Boa, Má.

Labiodental: Ativo é o lábio inferior e passivo os dentes superiores: Faca. Vá.

Dental: Ativo é o ápice da língua e passivo os dentes superiores: Sapa, Lata.

Alveolar: Ativo lâmina da língua e passivo os dentes superiores: Data, Nada.

Alveopalatal: Ativo a parte anterior da língua e passivo a parte medial do palato duro: Tia, Dia

Palatal: Ativo parte média da língua e passivo é a parte final do palato duro: Banha, Palha

Velar: Ativo a parte posterior da língua e passivo o véu palatino: casa, gata, rata.

Glotal: Os músculos ligamentais da glote, rata (pronúncia de Belo Horizonte)

Além de identificar o lugar de articulação devemos caracterizar o modo de articulação que está relacionanda ao tipo de obstrução da corrente de ar pelos aticuladores durante a produção de um segmento.

Oclusiva: Os articuladores produzem um obstrução completa da passagem da corrente de ar através da boca. O véu palatino está levantado e o ar que vem dos pulmões encaminha-se para a cavidade oral: Pá, Tá, Cá, Bar, Dá, Gol.

Nasal: Os articuladores produzem uma obstrução completa da passagem da corrente de ar através da boca. O véu palatino encontra-se abaixado e o ar que vem dos pulmões dirige-se ás cavidades orais e nasais: Má, Nua, Banho.

Fricativa: Os articuladores se aproximam produzindo fricção quando ocorre a passagem central da corrente de ar. A aproximação dos articuladores entretanto não chega a causar obstrução completa e sim parcial que causa a fricção: Fé, Vá, Sapa, Zapata, Chá, já, rata. O R fricativo ocorre tipicamente no português do Rio de Janeiro e Belo Horizonte.

Africada: Na fase incial da produção de uma africada os articuladores produzem uma obstrução completa na passagem da corrente de ar através da boca e o véu palatino encontra-se levantado. Na fase final dessa obstrução ocorre então uma fricção decorrente da passagem central da corrente de ar. A oclusiva e a fricativa que formam a consoante africada devem ter o mesmo lugar de articulação, ou seja, homorgânicas. O véu palatino continua levantado durante a produção de uma africada. Africadas são portante consoantes orais. As consoantes africadas que ocorrem em algumas variedades do português são: Tia e Dia.

Para alguns falantes de Cuiabá, consoantes africadas ocorrem em palavras como "chá" e "já".

Tepe: O articulador ativo toca rapidamente o passivo ocorrendo uma rápida obstrução da passagem da corrente de ar através da boca. O tepe ocorre em português nos seguintes exemplos: cara, brava.

Vibrante: O articulador ativo toca algumas vezes o passivo causando vibração: Marra.

Retroflexa: O palato duro é o articulador passivo e a ponta da língua é o articulador ativo.A produção de uma retroflexa geralmente se dá com o levantamento e encurvamento da ponta da língua em direção do palato duro. Ocorrem no dialeto caipira (paulista) e no sotaque de norte-americanos como em mar, carta.

Laterais: O articulador ativo toca o articulador passivo e a corrente de ar é obstruída na linha central do trato vocal. O ar será então expelido por ambos os lados desta obstrução tendo portanto saída lateral: Lá, Palha.

Agora que todo o movimento da produção de som foi compreendido, veremos por fim a tabela fonética consonantal que exemplifica os modelos de fones articulados pelos falantes do português brasileiro, oriundo da fusão linguística português portugal e indígenas.

Tendo em vista que o dialeto é resultado de um processo fonológico natural herdado de uma Tradição linguística, não faz o menos sentido disputar qual região pronuncia melhor o português nem a ridiculação da pronúncia dialetal nordestina.

Em outros aspectos, é evidente que o Rio de Janeiro é o coração do Brasil e o melhor time do país é o Flamengo.

 

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