A
água abençoada com o novo rito é realmente água benta?
De
um leitor:
Ouvi
dizer que a água abençoada com a utilização do novo rito não é, de fato, água
benta, uma vez que o novo rito não inclui as orações de exorcismo; em outras
palavras, de acordo com a pessoa que me contou, tal água é meramente uma “água
abençoada”* (estranho, pois pensava que qualquer abençoada, por definição, era
santa). Se estivesse no meu lugar, o que
responderia a tais questionamentos? Obrigado, desde já, e Deus o abençoe.
(*Aqui
há uma distinção, uma vez que água benta em inglês chama-se holy water, literalmente, água
sagrada/santa, enquanto a palavra blessed
é que significa “abençoada/benta”, referindo-se, aqui, em uma água meramente
sobre a qualquer se fez uma oração qualquer.).
Não
penso que toda a questão repouse sobre a falta de um exorcismo. Há mais quanto
a isso.
Simplesmente
revisei o De Benedictionibus, a coleção Pós-Conciliar de “bênçãos”. Utilizo-me
de “” (aspas) porque somente umas
poucas orações no livro explicitamente abençoam alguma coisa. Todo o restante
refere-se às bênçãos que Deus poderia conceder a alguém próximo, ou em torno do
lugar, ou que deveria olhar na direção de algo, etc. O livro tenta mudar a
teologia da Igreja sobre as bênçãos, efetivamente tentando eliminar o conceito
de bênção constitutiva e reduzindo cada oração e ação a uma bênção invocada.
Em
minha revisão do Ordo ad faciendam aquam
benedictam, usada fora da Missa para “abençoar” água, mesmo que tenha
encontrado uma rubrica que diz que “celebrans… dicit orationem benedictionis… o
celebrante... diz a oração de bênção” e havendo três opções a seguir, não pude
encontrar, em qualquer das três orações uma afirmação explícita que a água deve
ser abençoada. Esses parágrafos usam a palavra “bênção” do começo ao fim e as
orações que pedem a bênção para aqueles a quem a água for aspergida. Além
disso, o “celebrans” pode ser um diácono, o que não seria possível no rito
antigo, com o antigo Rituale Romanum.
Aqui
está a primeira das novas orações como um exemplo:
Bendito
sejais, Senhor Deus omnipotente,
que
nos abençoastes e renovastes interiormente em Cristo,
água
viva da nossa salvação.
Concedei
que, protegidos com a aspersão ou uso desta água,
sintamos,
pelo poder do Espírito Santo,
renovada
a juventude da alma
e
vivamos sempre a vida nova da graça.
Por
Nosso Senhor.
Os
outros não são mais explícitos.
A
diferença com o rito antigo não é somente o de não haver exorcismo ou a mistura
de sal bento e exorcizado. Não há ato explícito de bênção. O fato de que o
diácono pode usar o rito significa que não está ligado ao poder do oficio
sacerdotal. Não há sinal da cruz indicado no texto. As palavras não dizem que a
água é benta. [N.B: Num comentário a seguir aprendemos que a Congregação para o
Culto Divino indica que o sinal da Cruz deve ser feito.]
No
rito antigo, o qual os sacerdotes podem utilizar (razão nº4378 do porquê
precisamos do Summorum Pontificum)
primeiro, o sal exorcizado e depois bento. Depois a água é exorcizada e então
benta. No exorcismo do sal e da água, ambos são mencionados diretamente,
personalmente, na segunda pessoa. Por este exorcismo eles são inteira e
indubitavelmente arrancados do domínio do “Príncípe deste Mundo”, como nosso
Senhor chamou nosso Inimigo. Em seguida eles são bentos com palavras e gestos
explícitos de bênçãos. Aqui estão as orações de exorcismo e a bênção da água
(antes do sal exorcizado ser adicionado), com grifo nosso:
Eu te exorcizo, água, criatura de Deus, em nome de Deus Pai ✠ todo-poderoso, em nome de Jesus ✠ Cristo, seu Filho e nosso Senhor, e na força do Espírito ✠ Santo, para que te
tornes água exorcizada, a fim de pôr em fuga todo poder do inimigo e possas
extirpar o próprio inimigo com os seus anjos rebeldes, pela virtude do mesmo
Jesus Cristo, nosso Senhor, que há de vir julgar vivos e mortos, e este mundo
pelo fogo. ℟ Amém. (Rit. Rom., tít. IX, cap. II)Tradução do Secretariado Nacional de Liturgia da CNBB, 1965.
Oremos.
Deus, que operastes pela água os maiores mistérios da salvação dos
homens, atendei, propício, às nossas invocações, e derramai sobre este
elemento, preparado por várias purificações, a força da vossa bênção ✠ para que esta criatura, servindo aos vossos mistérios, possua a
eficácia da graça divina para expulsar os demônios e banir as doenças, e guarde
de qualquer impureza e malefício as casas dos fiéis e outros lugares em que ela
for aspergida. Não se demorem ali miasmas nem ares insalubres. Afastem-se para
longe as ciladas do inimigo escondido, e, se algum perigo ameaça a segurança ou
a tranquilidade dos moradores, dissipe-o sem demora a aspersão desta água,
protegendo contra qualquer ataque a salubridade conseguida pela invocação do
vosso santo nome. Por Cristo, nosso Senhor.℟ Amém.
Na
nova oração, rezamos para que o povo tenha benefícios espirituais, porque
estamos invocando a bênção do Senhor. A água é símbolo dessas bênçãos. Na
oração antiga algo inteiramente diferente parece ocorrer. A água é retirada do
reinado do profano e a torna algo da realeza sagrada. Então, a água é usada
para traze-las (as bênçãos) sobre as coisas sobre as quais rezamos, pelo poder
de Deus, é claro, mas pelo uso da água. Uso da água que é uma direta
contraposição aos poderes do mal querem nos causar dano.
Além
disso, a água que foi abençoada tem em si mesma, agora, um papel na bênção de
outras coisas. Considere o princípio que não se pode dar aquilo que não se tem.
Como
se disse, o rito de bênção da água durante a Missa, na Nova Forma Ordinária do
Missal Romano inclui as palavras: “…
dignare, quaesumus, hanc aquam + benedicere… dignai-vos, nos vos imploramos,
abençoar + esta água”.“… hanc aquam, te quaesumus, + benedicas... nós vos imploramos que + abençoeis esta
água”.
Lembre-se,
não há exorcismo da água durante a Missa no novo Missale Romanum. Mantenha em mente que no rito antigo a água era
benta fora da Missa. A água benta da Páscoa é outro problema a ser considerado.
Há
um mundo de diferença, de sensibilidade, de teologia, entre o que encontramos
no novo Missal Romano e o que encontramos no De benedictionibus.
Logo,
minha resposta é, que sei sem dúvidas que quando abençoo com o novo rito, torno
a água benta, há água benta/sagrada. Nunca usei – e nunca usarei- o novo
livro...
__________________________________________________
Verificando
o Rorate, que repostou esta publicação, há alguns comentários curiosos.
Primeiro, um zombeteiro sugere que o que o novo rito fora da Missa produz uma
“água legal” em vez de água benta. Creio que tomarei este termo para emprego
próprio.
Também
há este comentário:
“O
Cardeal Stickler, certa vez, teria dito: “Quando abençoo água, nunca uso o Novo
Rito. Somente uso o Rito Antigo. Por quê? Porque estou interessado em fazer
Água Benta, não Água Feliz”(de Devoção,Beata, etc).
.
Honestamente! Porque estes espertalhões geeks da liturgia tinham que fazer um trabalho desajeitado como este? Os Padres Conciliares pediram por uma revisão remendada da teologia das bênçãos? As pessoas estão clamando tão enormemente por uma explanação concreta das bênçãos? Os fieis estavam desejosos por ritos ambíguos? Não deixe nada ser feito se não for para o bem dos fiéis! Não deixe nada ser feito que não seja um orgânico desenvolvimento do que havia! Nunca usei o novo livro. E também nunca o usarei”.
.
Honestamente! Porque estes espertalhões geeks da liturgia tinham que fazer um trabalho desajeitado como este? Os Padres Conciliares pediram por uma revisão remendada da teologia das bênçãos? As pessoas estão clamando tão enormemente por uma explanação concreta das bênçãos? Os fieis estavam desejosos por ritos ambíguos? Não deixe nada ser feito se não for para o bem dos fiéis! Não deixe nada ser feito que não seja um orgânico desenvolvimento do que havia! Nunca usei o novo livro. E também nunca o usarei”.