A Missa é a renovação do sacrifício incruento da última Ceia de Cristo, na quinta feira santa, e a perpetuação do sacrifício cruento da Cruz.
Na Missa não há renovação, repetição do sacrifício do Calvário; só o rito incruento é que é repetido; por esta esta repetição, persevera, permanece o santo sacrifício da Cruz. Portanto: o Sacrifício de Cristo não é repetido sobre os altares cada vez que o sacerdote celebra a Missa - seria isto um novo crime - mas persevera pela repetição do rito incruento, sem derramamento de sangue, de modo sacramental.
A mesma Hóstia é oferecida sob modos diferentes, um cruento na Cruz e outro incruento na Missa. Jesus quer que, depois da sua vinda, todos os homens estejam presentes ao Ato de Redenção da humanidade. Como nem todos puderam estar lá no Calvário, há quase 2 mil criou, criou o Senhor este modo inefável de estar conosco e nós com Ele: a presença rela eucarística no Santo Sacrifício da Missa.
Este artigo será dedicado à sua Excelência Dom Antônio Keller, aos padres Augusto Zanin, Luciano Curvelo , Demétrio Gomes , Anderson Batista, Leandro Bernardes , Deivid Rodrigues , Ricardo Nunes, Leo Lopes , Rodrigo Silva , Julio Oliveira , Nilso Motta , José Edilson de Lima . E a todos os padres que estiverem lendo essa postagem.
Quando se diz no salmo “entrarei no Altar de Deus, do Deus que alegra minha juventude” não deixa de ser uma alegria pela proximidade do Messias. Messias que estará presente verdadeira, real e substacialmente para renovar seu Sacrifício expiatório vicário, único agradável e digno de Deus.
Diz-se “introito”, isto é, começo da Missa, entrada para ela. A palavra vem de “ab introendo”, porque quando o sacerdote entra, simboliza ele o princípio da boa obra, os vaticínios dos profetas e o desejo dos patriarcas da vinda do Filho de Deus encarnado.
A subida do sacerdote ao altar significa a vinda de Cristo do Céu à Terra. O começar a Missa do lado direito do altar, depois passar para o esquerdo e voltar novamente ao direito simboliza que Cristo veio da direita do Pai à esquerda do mundo, e que voltou à direita do Pai no dia da sua Ascenção. “exivi a Patre et veni in mundum; iterum relinqui mundum et vado ad Patrem” - Saí do Pai e vim ao mundo, deixo o mundo e vou para o Pai.
Isto também está simbolizado em o sacerdote persingar-se. Estar o sacerdote à direita do altar, no começo da Missa, representa a retidão de Adão no estado de inocência. O passar para a esquerda simboliza a queda das delícias do Paraíso, na miséria do pecado. O pôr-se no meio do altar simboliza a morte de Cristo, que padeceu em Jerusalém - no meio do mundo - e voltar para o lado direito simboliza a restauração da humanidade pela Paixão e Morte do Senhor.
Também ir o sacerdote para a direita simboliza: Cristo veio ao mundo para o povo judeu. Ir da direita para a esquerda simboliza: os judeus recusaram a Cristo; ela passou a procurar o povo gentio - lado esquerdo. No fim da Missa volta à direita, significando que, no fim do mundo, o judeu se converterá. Termina a Missa no lado esquerdo. Cristo, no fim, arrebanhará judeus e gentios.
No introito se diz o Gloria Patri, para significar que se pede à Santíssima Trindade a vinda de Cristo para remir o mundo.
Uma das razões que deixou muitos católicos estranhos ao Missal de 1970 apresentado ao mundo foi a inexistência da Oração ao pé do altar. Embora no seu lugar a saudação paulina tenha eco na Tradição a supressão desse elemento causou uma insuficiência para a explicitação da doutrina do Sacrifício.
Nos Estados Unidos, embora haja muito progressismo, existe também muito tradicionalismo tanto rad-trad quando mais sensato, ambos querendo a Missa Tridentina. Surpreendo-me ao ler, nos blogs americanos, pessoas contando de que se lembram dos seus pais, na época, confusos e mal dispostos quanto à alteração “overnight” (do dia para a noite) do Rito da Missa.
Quem pode dizer que não haveria abusos na Missa Tridentina se jamais houvesse sido decretado um rito novo? O fato de o rito antigo ser celebrado com muito menor frequência, e em ambientes restritos e cuidadosos, obviamente o faz imune aos abusos que a pobre Missa Nova sofre.
Mesmo em português, a maioria das pessoas não entende as palavras tão teológicas pronunciadas na Missa, e nem por isso deixam de participar com fruto (até mais, por vezes, do que aqueles que compreendem perfeitamente o sentido de cada termo). Não é preciso compreender as palavras ditas na Missa, e sim o que é a Missa, e o que ocorre em cada momento.
Além disso, a Missa em uma língua sagrada faz que tenhamos a consciência de estarmos em uma ação sagrada, distinta daquelas em que usamos nossa linguagem habitual, e isso predispõe a alma a uma maior comunhão com Deus. Somos seres psicossomáticos, e as ajudas à nossa psicologia são de grande valia para que a graça se torne eficaz.
O nosso temor é que alguns se encastelem no rito tradicional, como se ele fosse a resposta aos abusos, e deixem o rito novo aos modernistas e progressistas. Assim, quem quer Missa bem celebrada e sóbria teria o rito tradicional, e o rito novo seria sinônimo de bagunça, como se nele pudéssemos fazer tudo.
Não acho que a Missa Nova ficará completamente abandonada nas mãos dos modernistas. Primeiro porque existe uma resistência à celebração do Rito Antigo ainda (existem padres diocesanos que são caluniados por simplesmente quererem celebrar a Missa Nova em latim e versus Deum, que dirá o Rito Antigo...), por isso muitos bons sacerdotes continuarão a celebra-la. E segundo porque, podendo estar errado, grupos como o Opus Dei e os Legionários (reconhecidos pela excelência litúrgica) não vão aderir em peso ao Motu Proprio.
E caso acontecesse esse abandono do Rito Novo, nossa única preocupação por deixá-la nas mãos de modernistas é a profanação que Nosso Senhor Sacramentado sofreria. Pois o Rito Novo é caso perdido e necessita de uma reforma, que OBRIGUE o uso do Latim, a celebração Versus Deum, retorne as belas orações ao pé do altar, destaque novamente a distinção entre o sacerdote e o povo, etc... Como já defendia o Cardeal Ratzinger e outros eminentes membros do clero.
Em um de seus livros entrevista, o Papa Bento disse que para a reforma da reforma litúrgica ocorrer, o ideal era que um novo Movimento Litúrgico acontecesse, vindo de lideranças católicas, sacerdotes e alguns bispos; uma “canetada” da cúpula não resolveria os problemas atuais.
E eu creio piamente que esse é um dos objetivos do papa com o Motu Proprio. Que entre leigos, teólogos, liturgistas, sacerdotes, bispos, etc... comece um sadio debate sobre o Rito Antigo e o Rito Novo e o gritante contraste que existe entre eles (por que bons sacerdotes costumam preferir o Rito Antigo e maus sacerdotes o odeiam e prefere o novo e ainda o bagunçam?). E assim, quem sabe, no futuro, a Igreja possa realizar a reforma querida pelo CVII e em conformidade com a Tradição.
Sobre a possibilidade de usar-se o Lecionário Novo em vernáculo eu vejo algo muito maior e mais profundo, o uso do Novo Calendário com todos seus ciclos (anos A,B,C, ímpar e par), o que, com absoluta certeza, é um ganho imenso ao uso antigo, que tem leituras fixas em todos os domingos, festas e dias feriais (ou seja, mais ou menos, como um, e apenas um, grande Ano Litúrgico). A fusão do Novo Ano Litúrgico com o uso antigo seria imensamente satisfatória.
O ano litúrgico tradicional é assim dividido:
Ciclo do Natal - corresponde ao Mistério da Encarnação
Ciclo da Páscoa - corresponde ao Mistério da Redenção
O Ciclo do Natal se divide em três Tempos:
Tempo do Advento: preparação do Natal: 4 semanas penitenciais: cor roxa
Tempo do Natal: celebração do Natal: festa do Natal e da Epifania: cor branca
Tempo depois da Epifania: prolongamento: de 3 a 6 semanas antes da Septuagésima: cor verde
O Ciclo da Páscoa se divide em cinco Tempos:
Tempo da Septuagésima: preparação afastada: 3 semanas já sem o Aleluia: Septuagésima, Sexagésima e Quinquagésima: cor roxa
Tempo da Quaresma: preparação próxima: 4 semanas penitenciais, começando com o jejum da quarta-feira de cinzas: cor roxa
Tempo da Paixão:preparação imediata: Domingo da Paixão, Domingo de Ramos, Semana Santa
Tempo da Páscoa: festa da Páscoa, cinco domingos depois da Páscoa, Ascensão, Pentecostes, Santíssima Trindade: cor branca
Tempo depois de Pentecostes: prolongamento: 24 semanas depois de Pentecostes: simboliza o mistério da Igreja peregrina neste mundo: cor verde.
A simplificação veio com a reforma de Paulo VI, com o Novus Ordo. Acho que a nova gradação das festividades, mais simples, é justamente um dos pontos positivos da forma moderna do rito romano, e que poderia ser aproveitada em uma “reforma da reforma”.
A Reforma da Reforma será, antes de tudo, um desenvolvimento harmônico do rito de São Pio V, incorporando elementos positivos da reforma de Paulo VI, entre os quais o uso do vernáculo, a maior possibilidade de incenso (que no rito anterior estava reservado às Missas cantadas e às Missas solenes), o “omissões” no Confiteor, as novas orações eucarísticas, os Próprios novos, e o novo Lecionário.
Falando de modo simplório, seria uma mescla, mas, na profundidade seria, isso sim, um desenvolvimento natural do rito romano tradicional, sem deixar de aproveitar muito do rito novo, a fim de que tenhamos uma futura unidade de usos dentro do mesmo rito. Como por exemplo, o uso dos altares de parede.
Na verdade, os altares não são nem versus populum nem versus Deum. A celebração é que o é.
Pois um altar que não é junto à parede pode ser usado para uma celebração versus populum, mas também versus Deum. Nos anos 50, as Missas na Igreja Prelatícia, mesmo nesse altar separado da parede, tenham sido, ordinariamente, versus Deum. Muitos altares era construídos separados da parede desde a Idade Média (as basílicas romanas são um exemplo) e isso NÃO é invenção da reforma litúrgica.
Aliás, os missais tridentinos (como um de altar na edição de 1962, reeditado) trazem o dispositivo para a incensação dos dois tipos de altar: grudado na parede, e separado da mesma (quando, então, a incensação é feita circundando-o).
Claro, um altar grudado na parede não permite uma celebração versus populum, mas, todo altar separado pode ser usado tanto para uma quanto para outra modalidade.
É verdade que as rubricas nunca disseram que o padre devia estar “de costas”, mas o costume bimilenar da Igreja assim o mandava, exceto em São Pedro (quando, na consagração, o povo é que virava "de costas" ao altar). Assim, é certo que na forma antiga, o normal era a celebração versus Deum. Entretanto, em anos mais recentes, algumas celebrações passaram a ser versus populum.
E no rito novo, embora o costume geral seja de celebração versus populum, o versus Deum é permitido, mesmo em altares separados da parede.
Interessante é notar que os altares separados NÃO foram construídos, originalmente, para que a Missa fosse celebrada versus populum, e sim para que o padre pudesse circundá-lo na incensação.
A celebração versus Deum é própria das basílicas romanas. Mas aí o costume inteiro seria, na consagração, o povo virar-se de costas para todos olharem ao oriente.
É claro que com base em argumentos históricos, teológicos e espirituais o versus Deum explicita mais a ideia do Sacrifício e gostaríamos de ver uma restauração de sua obrigatoriedade (por lei ou por costume), mas claro que “sentimos com a Igreja” e não vemos mal ontológico algum na celebração versus populum, que, aliás, pode ser celebrada fisicamente versus populum, mas espiritualmente versus Deum - se o padre se concentrar mais em Deus do que no povo à sua frente). Aliás, essa celebração fisicamente versus populum, mas espiritualmente versus Deum, eu a vejo, na prática, quando o Santo Padre celebra, quando padres ligados ao Opus Dei e ao Regnum Christi também. Parece que o povo nem está lá de tão absorto em Deus que fica o sacerdote.
A celebração versus populum não se trata de dar as costas a Cristo, mas de não olhar para Ele quando consuma suas núpcias com a Igreja. Não deixa de ter uma relação com o pudor, de certo modo (como, quando a celebração é versus Deum, a casula do padre “protege” a intimidade das bodas do Cordeiro com a Igreja, ou, na versus populum, os nossos olhos baixos durante a Consagração também têm o mesmo fim, ou ainda, no rito bizantino, quando a porta real da iconostase se fecha durante a Consagração).
Peter Elliott, de ortodoxia inatacável, diz que, embora preferindo a celebração versus Deum, não deixa de ver ao menos uma vantagem na versus populum: que o povo veja, em detalhes, o que se passa no altar. O problema é que isso foi deixado de lado na prática, e na maioria dos lugares parece que o padre tem que ficar de frente ao povo como se fossem os dois pólos da celebração, como se o padre celebrasse para o povo (e não em benefício do povo).
Engana-se quem pensa que antes da reforma litúrgica, todos os altares eram colados na parede. Nem todos! Muitas catedrais e basílicas possuíam o altar no meio do presbitério, e isso vem desde antes da Idade Média. O próprio Missal tridentino dava instruções de como incensar os altares não grudados.
A volta de alguns elementos que constavam do rito romano primitivo e foram deixadas de lado após a Idade Média é válida. A oração dos fiéis, a procissão do ofertório, a pax dada aos fiéis também. Mas não precisavam jogar pela janela coisas que, embora não constassem do rito primitivo, foram a ele se incorporando de modo natural: as orações ao pé do altar, o último Evangelho, o ofertório tradicional.
E há muitos que se perguntam: pode o padre rezar a Oração ao pé no Altar no Novus Ordo?
Certas cerimônias que fazem parte de nossa tradição litúrgica podem ser mantidas sem previsão nas rubricas atuais, mas aí não seria uma mistura, e sim a preservação de gestos de devoção: abençoar a água que se misturará ao vinho, o modo de incensar o altar e as oblatas, os polegares unidos aos indicadores desde a consagração da hóstia até a purificação, a voz mais baixa (mas não “vox submissa”, por causa da norma explícita da IGMR) e mais pausada na consagração, os modos de soar a campainha, as genuflexões, a união das mãos ao pronunciar o Gloria in excelsis Deo, etc.
O fato é que as rubricas de 1969/2002 deixam algumas cerimônias sem descrição precisa de modo proposital: pensa-se que o sacerdote, ao executá-las, irá fazê-lo com base na tradição litúrgica anterior. Não descreve com precisão porque na mente do legislador os padres iriam, por si só, manter os gestos.
Na prática sabemos que não é bem assim, e também, pela falta de norma escrita, nem mesmo estão constrangidos a isso. Mas o sentido de certas omissões é esse.
Tanto é assim que o Cerimonial dos Bispos no rito moderno, cuja edição é de 1985, se não me engano, traz, em suas notas de rodapé, citações do Cerimonial dos Bispos do rito tradicional, como referência para certos gestos. Está claro, assim, a continuidade litúrgica.
O Cânon Romano no rito tradicional e no rito moderno não diferem quanto à fórmula (exceto em duas partes da Consagração, mas não na forma substancial do sacramento). A diferença é mais nas rubricas. E são bem ínfimas, notadas só por quem conhece do assunto, quem gosta de liturgia.
Não se trata de um novo Cânon Romano, mas do mesmo, desenvolvido com levíssimas modificações.
A noção sacrifical permanece intacta nas duas orações eucarísticas (antiga e nova).
Dizer as orações ao pé do altar de modo privado (mas não em vox secreta, pois isso requeriria mexer os lábios, ao menos) pode ser lícito como ato devocional, pois isso demoraria uns 2 minutos, no mínimo, além de duplicar o Confiteor, que será dito depois. Se o padre quiser fazer as tais orações por devoção, o lugar indicado - não obrigatório -, no rito moderno, é na sacristia. Até porque, na Idade Média, era na sacristia que se as rezava, sendo incorporada ao rito da Missa só depois, com São Gregório Magno.
Como disse, indicado, mas não obrigatório. Daria muito gosto de ver os padres remontando a Tradição rezando as orações no Novus Ordo, após a saudação inicial. Mesmo em português, pois é nesse espírito de retorno que se clama e que o Papa Bento vai atender, como é o desejo de seu coração, para a Reforma da Reforma.
Referências:
Curso de Liturgia Romana, Dom Antonio Coelho O.S.B, Ed Ora e Labora
Igreja e Anti-Igreja - Teologia da Libertação, Paulo Rodrigues, LAO
Rafael Vitola Brodbeck - Fóruns de discussões - Google+
Diz-se “introito”, isto é, começo da Missa, entrada para ela. A palavra vem de “ab introendo”, porque quando o sacerdote entra, simboliza ele o princípio da boa obra, os vaticínios dos profetas e o desejo dos patriarcas da vinda do Filho de Deus encarnado.
A subida do sacerdote ao altar significa a vinda de Cristo do Céu à Terra. O começar a Missa do lado direito do altar, depois passar para o esquerdo e voltar novamente ao direito simboliza que Cristo veio da direita do Pai à esquerda do mundo, e que voltou à direita do Pai no dia da sua Ascenção. “exivi a Patre et veni in mundum; iterum relinqui mundum et vado ad Patrem” - Saí do Pai e vim ao mundo, deixo o mundo e vou para o Pai.
Isto também está simbolizado em o sacerdote persingar-se. Estar o sacerdote à direita do altar, no começo da Missa, representa a retidão de Adão no estado de inocência. O passar para a esquerda simboliza a queda das delícias do Paraíso, na miséria do pecado. O pôr-se no meio do altar simboliza a morte de Cristo, que padeceu em Jerusalém - no meio do mundo - e voltar para o lado direito simboliza a restauração da humanidade pela Paixão e Morte do Senhor.
Também ir o sacerdote para a direita simboliza: Cristo veio ao mundo para o povo judeu. Ir da direita para a esquerda simboliza: os judeus recusaram a Cristo; ela passou a procurar o povo gentio - lado esquerdo. No fim da Missa volta à direita, significando que, no fim do mundo, o judeu se converterá. Termina a Missa no lado esquerdo. Cristo, no fim, arrebanhará judeus e gentios.
No introito se diz o Gloria Patri, para significar que se pede à Santíssima Trindade a vinda de Cristo para remir o mundo.
Uma das razões que deixou muitos católicos estranhos ao Missal de 1970 apresentado ao mundo foi a inexistência da Oração ao pé do altar. Embora no seu lugar a saudação paulina tenha eco na Tradição a supressão desse elemento causou uma insuficiência para a explicitação da doutrina do Sacrifício.
Nos Estados Unidos, embora haja muito progressismo, existe também muito tradicionalismo tanto rad-trad quando mais sensato, ambos querendo a Missa Tridentina. Surpreendo-me ao ler, nos blogs americanos, pessoas contando de que se lembram dos seus pais, na época, confusos e mal dispostos quanto à alteração “overnight” (do dia para a noite) do Rito da Missa.
Quem pode dizer que não haveria abusos na Missa Tridentina se jamais houvesse sido decretado um rito novo? O fato de o rito antigo ser celebrado com muito menor frequência, e em ambientes restritos e cuidadosos, obviamente o faz imune aos abusos que a pobre Missa Nova sofre.
Mesmo em português, a maioria das pessoas não entende as palavras tão teológicas pronunciadas na Missa, e nem por isso deixam de participar com fruto (até mais, por vezes, do que aqueles que compreendem perfeitamente o sentido de cada termo). Não é preciso compreender as palavras ditas na Missa, e sim o que é a Missa, e o que ocorre em cada momento.
Além disso, a Missa em uma língua sagrada faz que tenhamos a consciência de estarmos em uma ação sagrada, distinta daquelas em que usamos nossa linguagem habitual, e isso predispõe a alma a uma maior comunhão com Deus. Somos seres psicossomáticos, e as ajudas à nossa psicologia são de grande valia para que a graça se torne eficaz.
O nosso temor é que alguns se encastelem no rito tradicional, como se ele fosse a resposta aos abusos, e deixem o rito novo aos modernistas e progressistas. Assim, quem quer Missa bem celebrada e sóbria teria o rito tradicional, e o rito novo seria sinônimo de bagunça, como se nele pudéssemos fazer tudo.
Não acho que a Missa Nova ficará completamente abandonada nas mãos dos modernistas. Primeiro porque existe uma resistência à celebração do Rito Antigo ainda (existem padres diocesanos que são caluniados por simplesmente quererem celebrar a Missa Nova em latim e versus Deum, que dirá o Rito Antigo...), por isso muitos bons sacerdotes continuarão a celebra-la. E segundo porque, podendo estar errado, grupos como o Opus Dei e os Legionários (reconhecidos pela excelência litúrgica) não vão aderir em peso ao Motu Proprio.
E caso acontecesse esse abandono do Rito Novo, nossa única preocupação por deixá-la nas mãos de modernistas é a profanação que Nosso Senhor Sacramentado sofreria. Pois o Rito Novo é caso perdido e necessita de uma reforma, que OBRIGUE o uso do Latim, a celebração Versus Deum, retorne as belas orações ao pé do altar, destaque novamente a distinção entre o sacerdote e o povo, etc... Como já defendia o Cardeal Ratzinger e outros eminentes membros do clero.
Em um de seus livros entrevista, o Papa Bento disse que para a reforma da reforma litúrgica ocorrer, o ideal era que um novo Movimento Litúrgico acontecesse, vindo de lideranças católicas, sacerdotes e alguns bispos; uma “canetada” da cúpula não resolveria os problemas atuais.
E eu creio piamente que esse é um dos objetivos do papa com o Motu Proprio. Que entre leigos, teólogos, liturgistas, sacerdotes, bispos, etc... comece um sadio debate sobre o Rito Antigo e o Rito Novo e o gritante contraste que existe entre eles (por que bons sacerdotes costumam preferir o Rito Antigo e maus sacerdotes o odeiam e prefere o novo e ainda o bagunçam?). E assim, quem sabe, no futuro, a Igreja possa realizar a reforma querida pelo CVII e em conformidade com a Tradição.
Sobre a possibilidade de usar-se o Lecionário Novo em vernáculo eu vejo algo muito maior e mais profundo, o uso do Novo Calendário com todos seus ciclos (anos A,B,C, ímpar e par), o que, com absoluta certeza, é um ganho imenso ao uso antigo, que tem leituras fixas em todos os domingos, festas e dias feriais (ou seja, mais ou menos, como um, e apenas um, grande Ano Litúrgico). A fusão do Novo Ano Litúrgico com o uso antigo seria imensamente satisfatória.
O ano litúrgico tradicional é assim dividido:
Ciclo do Natal - corresponde ao Mistério da Encarnação
Ciclo da Páscoa - corresponde ao Mistério da Redenção
O Ciclo do Natal se divide em três Tempos:
Tempo do Advento: preparação do Natal: 4 semanas penitenciais: cor roxa
Tempo do Natal: celebração do Natal: festa do Natal e da Epifania: cor branca
Tempo depois da Epifania: prolongamento: de 3 a 6 semanas antes da Septuagésima: cor verde
O Ciclo da Páscoa se divide em cinco Tempos:
Tempo da Septuagésima: preparação afastada: 3 semanas já sem o Aleluia: Septuagésima, Sexagésima e Quinquagésima: cor roxa
Tempo da Quaresma: preparação próxima: 4 semanas penitenciais, começando com o jejum da quarta-feira de cinzas: cor roxa
Tempo da Paixão:preparação imediata: Domingo da Paixão, Domingo de Ramos, Semana Santa
Tempo da Páscoa: festa da Páscoa, cinco domingos depois da Páscoa, Ascensão, Pentecostes, Santíssima Trindade: cor branca
Tempo depois de Pentecostes: prolongamento: 24 semanas depois de Pentecostes: simboliza o mistério da Igreja peregrina neste mundo: cor verde.
A simplificação veio com a reforma de Paulo VI, com o Novus Ordo. Acho que a nova gradação das festividades, mais simples, é justamente um dos pontos positivos da forma moderna do rito romano, e que poderia ser aproveitada em uma “reforma da reforma”.
A Reforma da Reforma será, antes de tudo, um desenvolvimento harmônico do rito de São Pio V, incorporando elementos positivos da reforma de Paulo VI, entre os quais o uso do vernáculo, a maior possibilidade de incenso (que no rito anterior estava reservado às Missas cantadas e às Missas solenes), o “omissões” no Confiteor, as novas orações eucarísticas, os Próprios novos, e o novo Lecionário.
Falando de modo simplório, seria uma mescla, mas, na profundidade seria, isso sim, um desenvolvimento natural do rito romano tradicional, sem deixar de aproveitar muito do rito novo, a fim de que tenhamos uma futura unidade de usos dentro do mesmo rito. Como por exemplo, o uso dos altares de parede.
Na verdade, os altares não são nem versus populum nem versus Deum. A celebração é que o é.
Pois um altar que não é junto à parede pode ser usado para uma celebração versus populum, mas também versus Deum. Nos anos 50, as Missas na Igreja Prelatícia, mesmo nesse altar separado da parede, tenham sido, ordinariamente, versus Deum. Muitos altares era construídos separados da parede desde a Idade Média (as basílicas romanas são um exemplo) e isso NÃO é invenção da reforma litúrgica.
Aliás, os missais tridentinos (como um de altar na edição de 1962, reeditado) trazem o dispositivo para a incensação dos dois tipos de altar: grudado na parede, e separado da mesma (quando, então, a incensação é feita circundando-o).
Claro, um altar grudado na parede não permite uma celebração versus populum, mas, todo altar separado pode ser usado tanto para uma quanto para outra modalidade.
É verdade que as rubricas nunca disseram que o padre devia estar “de costas”, mas o costume bimilenar da Igreja assim o mandava, exceto em São Pedro (quando, na consagração, o povo é que virava "de costas" ao altar). Assim, é certo que na forma antiga, o normal era a celebração versus Deum. Entretanto, em anos mais recentes, algumas celebrações passaram a ser versus populum.
E no rito novo, embora o costume geral seja de celebração versus populum, o versus Deum é permitido, mesmo em altares separados da parede.
Interessante é notar que os altares separados NÃO foram construídos, originalmente, para que a Missa fosse celebrada versus populum, e sim para que o padre pudesse circundá-lo na incensação.
A celebração versus Deum é própria das basílicas romanas. Mas aí o costume inteiro seria, na consagração, o povo virar-se de costas para todos olharem ao oriente.
É claro que com base em argumentos históricos, teológicos e espirituais o versus Deum explicita mais a ideia do Sacrifício e gostaríamos de ver uma restauração de sua obrigatoriedade (por lei ou por costume), mas claro que “sentimos com a Igreja” e não vemos mal ontológico algum na celebração versus populum, que, aliás, pode ser celebrada fisicamente versus populum, mas espiritualmente versus Deum - se o padre se concentrar mais em Deus do que no povo à sua frente). Aliás, essa celebração fisicamente versus populum, mas espiritualmente versus Deum, eu a vejo, na prática, quando o Santo Padre celebra, quando padres ligados ao Opus Dei e ao Regnum Christi também. Parece que o povo nem está lá de tão absorto em Deus que fica o sacerdote.
A celebração versus populum não se trata de dar as costas a Cristo, mas de não olhar para Ele quando consuma suas núpcias com a Igreja. Não deixa de ter uma relação com o pudor, de certo modo (como, quando a celebração é versus Deum, a casula do padre “protege” a intimidade das bodas do Cordeiro com a Igreja, ou, na versus populum, os nossos olhos baixos durante a Consagração também têm o mesmo fim, ou ainda, no rito bizantino, quando a porta real da iconostase se fecha durante a Consagração).
Peter Elliott, de ortodoxia inatacável, diz que, embora preferindo a celebração versus Deum, não deixa de ver ao menos uma vantagem na versus populum: que o povo veja, em detalhes, o que se passa no altar. O problema é que isso foi deixado de lado na prática, e na maioria dos lugares parece que o padre tem que ficar de frente ao povo como se fossem os dois pólos da celebração, como se o padre celebrasse para o povo (e não em benefício do povo).
Engana-se quem pensa que antes da reforma litúrgica, todos os altares eram colados na parede. Nem todos! Muitas catedrais e basílicas possuíam o altar no meio do presbitério, e isso vem desde antes da Idade Média. O próprio Missal tridentino dava instruções de como incensar os altares não grudados.
A volta de alguns elementos que constavam do rito romano primitivo e foram deixadas de lado após a Idade Média é válida. A oração dos fiéis, a procissão do ofertório, a pax dada aos fiéis também. Mas não precisavam jogar pela janela coisas que, embora não constassem do rito primitivo, foram a ele se incorporando de modo natural: as orações ao pé do altar, o último Evangelho, o ofertório tradicional.
E há muitos que se perguntam: pode o padre rezar a Oração ao pé no Altar no Novus Ordo?
Certas cerimônias que fazem parte de nossa tradição litúrgica podem ser mantidas sem previsão nas rubricas atuais, mas aí não seria uma mistura, e sim a preservação de gestos de devoção: abençoar a água que se misturará ao vinho, o modo de incensar o altar e as oblatas, os polegares unidos aos indicadores desde a consagração da hóstia até a purificação, a voz mais baixa (mas não “vox submissa”, por causa da norma explícita da IGMR) e mais pausada na consagração, os modos de soar a campainha, as genuflexões, a união das mãos ao pronunciar o Gloria in excelsis Deo, etc.
O fato é que as rubricas de 1969/2002 deixam algumas cerimônias sem descrição precisa de modo proposital: pensa-se que o sacerdote, ao executá-las, irá fazê-lo com base na tradição litúrgica anterior. Não descreve com precisão porque na mente do legislador os padres iriam, por si só, manter os gestos.
Na prática sabemos que não é bem assim, e também, pela falta de norma escrita, nem mesmo estão constrangidos a isso. Mas o sentido de certas omissões é esse.
Tanto é assim que o Cerimonial dos Bispos no rito moderno, cuja edição é de 1985, se não me engano, traz, em suas notas de rodapé, citações do Cerimonial dos Bispos do rito tradicional, como referência para certos gestos. Está claro, assim, a continuidade litúrgica.
O Cânon Romano no rito tradicional e no rito moderno não diferem quanto à fórmula (exceto em duas partes da Consagração, mas não na forma substancial do sacramento). A diferença é mais nas rubricas. E são bem ínfimas, notadas só por quem conhece do assunto, quem gosta de liturgia.
Não se trata de um novo Cânon Romano, mas do mesmo, desenvolvido com levíssimas modificações.
A noção sacrifical permanece intacta nas duas orações eucarísticas (antiga e nova).
Dizer as orações ao pé do altar de modo privado (mas não em vox secreta, pois isso requeriria mexer os lábios, ao menos) pode ser lícito como ato devocional, pois isso demoraria uns 2 minutos, no mínimo, além de duplicar o Confiteor, que será dito depois. Se o padre quiser fazer as tais orações por devoção, o lugar indicado - não obrigatório -, no rito moderno, é na sacristia. Até porque, na Idade Média, era na sacristia que se as rezava, sendo incorporada ao rito da Missa só depois, com São Gregório Magno.
Como disse, indicado, mas não obrigatório. Daria muito gosto de ver os padres remontando a Tradição rezando as orações no Novus Ordo, após a saudação inicial. Mesmo em português, pois é nesse espírito de retorno que se clama e que o Papa Bento vai atender, como é o desejo de seu coração, para a Reforma da Reforma.
Referências:
Curso de Liturgia Romana, Dom Antonio Coelho O.S.B, Ed Ora e Labora
Igreja e Anti-Igreja - Teologia da Libertação, Paulo Rodrigues, LAO
Rafael Vitola Brodbeck - Fóruns de discussões - Google+