Mas, como há ordem sobrenatural, o homem tem aderir à religião sobrenatural, revelada.
O
homem pode fazer o bem sem a graça. Perfeitamente. Mas não pode fazer
todo tempo, resistir a todas as tentações, evitar todos os pecados,
cumprir toda lei natural quanto à substância, sem uma graça atual
sanante (aquela que atende a uma debilidade ou fraqueza da natureza).
Cumprir a lei natural quanto à substância significa cumpri-la perfeitamente mediante atos naturais eticamente honestos. Mediante atos saudáveis, chama-se cumpri-la segundo o modo.
Ainda que fosse possível ao homem cumprir toda lei natural, com ou sem a ajuda da graça atual, só entraria na glória após ser purificado do pecado original e receber as virtudes e qualidades do estado de justificação. Nos adultos, essa passagem do estado de pecado para o estado de graça se dá mediante a fé. Portanto, ninguém pode ir para o céu, depois de adulto, sem ao menos ter fé sobrenatural.
Cumprir a lei natural quanto à substância significa cumpri-la perfeitamente mediante atos naturais eticamente honestos. Mediante atos saudáveis, chama-se cumpri-la segundo o modo.
Ainda que fosse possível ao homem cumprir toda lei natural, com ou sem a ajuda da graça atual, só entraria na glória após ser purificado do pecado original e receber as virtudes e qualidades do estado de justificação. Nos adultos, essa passagem do estado de pecado para o estado de graça se dá mediante a fé. Portanto, ninguém pode ir para o céu, depois de adulto, sem ao menos ter fé sobrenatural.
O conhecimento dos mistérios sagrados é absolutamente necessário e não
adianta meramente o cumprimento da lei natural ou saber que Deus pune e
recompensa porque a salvação vem justamente pela revelação desses
mistérios, por ser revelação seria impossível o conhecimento deles
através dos meios naturais.
A fé nos mistérios sobrenaturais é necessária, mas alguns mistérios
admitem uma fé apenas implícita, como é o caso do mistério da Igreja.
Sobre se o mistério da Trindade e da Encarnação admitiria uma fé implícita, isso é passível de discussão. Santo Tomás diz que não. Mas a maioria dos teólogos admite, baseado em Heb 11,6, que apenas a existência de Deus e a retribuição futura sobrenatural devem ser objetos de absoluta fé explícita.
Sobre se o mistério da Trindade e da Encarnação admitiria uma fé implícita, isso é passível de discussão. Santo Tomás diz que não. Mas a maioria dos teólogos admite, baseado em Heb 11,6, que apenas a existência de Deus e a retribuição futura sobrenatural devem ser objetos de absoluta fé explícita.
Fé explícita é aquilo que você crê professando diretamente, por exemplo,
o Credo. Fé implícita é aquilo que você professa indiretamente ao
admitir certa verdade ou conduta de fé, por exemplo, quem crê
sinceramente em Deus por meio de uma fé sobrenatural adere
implicitamente a demais conteúdos dessa fé, ainda que não os conheça
atualmente. Da mesma forma, aquele que se dispõe a fazer a Sua vontade,
professa implicitamente o desejo do batismo. Diz-se que faz um voto de
batismo implícito. Tanto o voto implícito, quanto o explícito, quando
não há possibilidade de se batizar, são suficientes para a justificação.
Disso deduz-se que, quem morre ateu, não pode se salvar, nem como
cumpridor da lei natural. Além de que um ateu naturalmente não cumpre a
lei natural, pois uma das virtudes da lei natural é a religião.
Existe talvez a possibilidade de que Deus desculpe o ateu que sofre de
verdadeira ignorância invencível a respeito da existência de Deus, mas
como não pode ser justificado sem o batismo ou seu desejo, não pode ir
para o céu. Seria também temerário cogitar, acredito, sobre a sua
possibilidade de ida ao limbo, mediante graças naturais necessárias para
cumprir toda a lei natural.
Cap. 4 – A justificação do pecador
796. Nestas palavras se descreve a justificação do pecador, como sendo uma passagem daquele estado em que o homem, nascido filho do primeiro Adão, [passa] para o estado de graça e de adoção de filhos (Rom 8, 15) de Deus por meio do segundo Adão, Jesus Cristo, Senhor Nosso. – Esta transladação, depois da promulgação do Evangelho, não é possível sem o lavacro da regeneração [cân. 5 sobre o Batismo] ou sem o desejo do mesmo, segundo a palavra da Escritura: se alguém não tiver renascido da água e do Espírito Santo, não poderá entrar no reino de Deus (Jo 3, 5).
Eu também não sei se eu posso afirmar que uma pessoa boa, que nunca teve
fé sobrenatural, possa evitar todo o pecado mortal apenas com graças
atuais, sem necessidade de justificação. Não se trata de dizer que o
homem pode resistir a todos os pecados e fazer todo o bem natural sem a
graça, mas sem a graça habitual. Nesse caso, a lógica diz que ele não
poderá ser condenado, devendo ir para o limbo. Mas não há nenhuma
autoridade que me permita concluir que um adulto possa ir para o limbo.
"E o que fica dito, vale não só dos cristãos, mas
de todos os homens de boa vontade, em cujos corações a graça opera
ocultamente (31). Com efeito, já que por todos morreu Cristo (32) e a
vocação última de todos os homens é realmente uma só, a saber, a divina,
devemos manter que o Espírito Santo a todos dá a possibilidade de se
associarem a este mistério pascal por um modo só de Deus conhecido."
Constituição Pastoral Gaudium et Spes
31. Cfr. Conc. Vat. II, Const. dogm. De Ecclesia, Lumen gentium, cap. II, n. 16: AAS 57 (1965), p. 20.
32. Cfr. Rom. 8,32.
Constituição Pastoral Gaudium et Spes
31. Cfr. Conc. Vat. II, Const. dogm. De Ecclesia, Lumen gentium, cap. II, n. 16: AAS 57 (1965), p. 20.
32. Cfr. Rom. 8,32.
O texto da Gaudium et Spes não permite inferir que a fé explícita
não seria necessária, pois a fé é uma obra da graça que age em todos os
homens. O texto não fala nada de ser necessária uma fé implícita nas
obras ou explícita, como resultado da concordância do homem com a graça.
É certo, contudo, que as obras, consideradas enquanto obras, não são
suficientes, mesmo se feitas sob o influxo da graça atual, por exemplo,
as obras preparatórias para a justificação (embora haja a promessa de
dar a graça habitual).
Em outras palavras, os justos que viveram antes de Cristo tiveram remido
o pecado original em estado de viador (ninguém pode tê-lo remido fora
do estado de viador, pois a morte assinala ao homem o seu último
estado). Estavam, pois, em idêntica condição com aqueles que gozam da
boa morte após a vinda de Cristo. Apenas aguardavam, felizes, sem
tormentos, nem penas, a consumação da obra de Cristo, para a sua entrada
na visão beatífica.