Cristo edificou a Igreja sobre si mesmo. O Papa é o sinal visível disso e o é enquanto persevera na graça. O capítulo XVI de Mateus deixa claro.
O Papa testemunha a sucessão Petrina, os Bispos testemunham a sucessão apostólica, os fiéis a unidade do corpo junto ao clero. Nós somos a testemunha da vida nova em Cristo, nós somos os bem aventurados porque cremos sem ver, mas continuamos o testemunho dos que viram o Senhor Ressuscitado.
Infelizmente, dada a enormidade da crise que vive hoje a Igreja Católica, esse testemunho tem sido muito atacado dentro dela mesma. Como é difícil nós católicos testemunharmos o Cristo dentro da própria Igreja! A apostasia é das pessoas e não da Igreja. A doutrina dela não muda e nem se contradiz.
A crise atual é de fé, em contraposição com crises anteriores, de governo. Até mesmo o “sensus fidei”, que tem ajudado em momentos difíceis a condução da Barca de Pedro, encontra-se afetado por essa crise.
A Igreja pode viver sem crises? Não! A vida eclesial, assim como a vida de cada pessoa nesta terra de exílio, é composta de crises sem fim. O que é crise? Crise é a tensão da mudança e, no mundo material, a mudança é constante. Há um conflito, derivado das consequências do pecado original, entre a tendência à permanência de nosso componente espiritual e o fato da mudança que é inerente à corporalidade. Na vida da Igreja ocorre algo parecido, pois sempre teremos uma tensão entre a inamovibilidade doutrinária e realidade social mutável onde o Evangelho é pregado. Não há como fugir disso. Não há século sem crise.
Contudo, nem todos as crises possuem o mesmo teor. Em geral os conflitos surgem no lado encarnado da Igreja, como nos escândalos morais do clero, nas falcatruas financeiras ou políticas, nas dificuldades humanas que são postas ao apostolado, etc. Algumas, porém, surgem no lado da doutrina, essas são as piores (são piores porque é próprio da doutrina não mudar, só se desenvolver, e, portanto, se temos uma crise é porque algo está se movimentando para a mudança), como foi a crise ariana. A crise atual, que é doutrinária, que é de fé como dizia Gustavo Corção, está, portanto, entre as piores. Agora, se é a pior de todos os tempos até eu não tenho como avaliar.
É bastante lógico associar os acontecimentos atuais na Igreja ao segredo de Fátima, mesmo que nós não tenhamos conhecimento dele todo em sua íntegra. Se é segredo é porque a mensagem não se destina à multidão. Foi confiado à Igreja. O Papa é o representante da Igreja e conta ao mundo se achar que deve - não tem nenhuma obrigação de fazê-lo. A parte da mensagem que nos diz respeito conhecemos - rezar e fazer penitência.
Magistério, ação pastoral e obediência
Algumas passagens do livro do Pe. Calderón é identificável mais claramente a raiz dele dizer que o magistério atual não tem autoridade. Parece-me uma teoria completamente errônea: ela parece dizer o seguinte: a luz que ilumina o magistério é uma luz divino-humana, derivada da ciência divino-humana. Isso faz com que as declarações do magistério não infalíveis estejam numa ordem superior à da fé e da razão, participem da ordem hipostática de tal modo que não possam estar par a par com argumentos humanos, derivados da razão. Tal postura, descamba no mais completo fideísmo.
A consequência dentro da crise da Igreja: se o magistério não tiver consciência de que possui essa ciência de ordem divino-humana, e acima das especulações racionais, bem como da própria fé, não tem nenhuma autoridade.
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É absolutamente certo que o magistério possui um auxílio prudencial e infalível da parte do Espírito Santo ou a mente de Cristo, mas o magistério não possui a ciência divino-humana de Cristo. Nem essa ciência de Cristo se opõe aos argumentos de ordem especulativa, do contrário, haveria duas classes de verdades, logo, duas classes de ser, sendo a verdade um dos transcendentais do ser. Isso acaba por destruir a analogia e a semelhança entre Deus e as criaturas, a correspondência entre fé e razão, o Credo ut intelligam, etc.
Não sabemos se essa assistência prudencial e infalível do Espírito Santo consiste, de fato, numa iluminação. Não seria necessário uma iluminação. Nem todo auxílio divino se insere na ordem sobrenatural. Deus pode auxiliar o Papa e a Igreja, sem dúvida, para não errar, com sua Providência geral, e, ainda assim, de modo absolutamente infalível, como sua Providência penetra até o mais ínfimo do ser das coisas. Caso, no entanto, nós estejamos enganados, não acreditamos que essa iluminação proveniente da ordem hipostática produza verdades mais certas do que as que já são de certeza absoluta. O próprio Santo Tomás dizia que ninguém pode ter fé e admitir racionalmente uma mesma sentença. Os bem-aventurados, na glória, que veem claramente, não precisam e não possuem mais a virtude da fé.
Eis algumas citações de A Candeia debaixo do Alqueire:
“(...) no entanto, a sentença do magistério eclesiástico não está por debaixo, mas por cima da fé, não é regulada, mas que regula imediatamente o dogma: porque por seu meio se expressa o Divino Mestre e portanto o critério de verdade que a rege é a ciência divino-humana de Jesus Cristo. Por isso, a reflexão teológica toma seus princípios nas sentenças do magistério eclesiástico e nunca pode modificá-las em seu valor de verdade. E consta que isso vale não só para as opiniões mais ou menos prováveis do magistério simplesmente autêntico. Por mais que uma conclusão possa se dizer teologicamente certa, a argumentação teológica nunca pode elevar-se ao grau de probabilidade ou certeza com que a apresenta o magistério, porque são duas ordens diferentes: as opiniões e certezas teológicas pertencem à ordem gratuito-humana (fé e razão), enquanto que as do magistério pertencem à ordem hipostática. Por esta razão é impossível um verdadeiro diálogo entre teólogos e magistério, porque aqueles não têm acesso ao superior critério deste. Acaso Nosso Senhor tinha algo a aprender de Nicodemos?
O que conduz a verdade por meio de um verdadeiro diálogo não propõe sua sentença à fé de autoridade. Pois então, o magistério conciliar efetivamente propõe à Igreja e ao mundo alcançar a verdade por meio de um diálogo verdadeiro. Portanto, não exerce sua autoridade magisterial em nenhum grau.
Ao magistério conciliar não só não se deve conceder ninguém grau de autoridade doutrinal, mas se deve mesmo evitar ouvir a sua voz, como a de todo autor de cunho modernista; porque aceitou a proposta subjetiva das ideologias modernas, que vicia desde a medula toda doutrina.”
Modificando um pouco o que foi dito, a assistência é sobrenatural sim, pois, segundo meu raciocínio, supõe da parte do Papa e dos bispos em união com ele, no ato infalível, que esse ato seja acompanhado de um ato mais perfeito de fé, posto que até então o seu ato de fé não contemplava aquela questão não definida. É deles esse primeiro ato de fé mais perfeito, e, como se julga, para todos atos sobrenaturais, requer-se especificamente a graça atual. No caso específico, talvez seja uma graça que merecesse uma outra nomenclatura diferente da graça elevante e da excitante. Seria uma graça necessária para realizar atos mais intensos do que os hábitos infusos, uma vez que, com a definição, não se dá uma nova revelação ou inspiração divina.
Não podemos, consequentemente, julgar que o ato pelo qual o Papa define, seja inspirado por Deus, como parece dar a entender a tese do Pe. Calderón, de que é participação na ciência divino-humana. De qualquer forma, como não somos teólogos, e estamos a léguas de distância de um teólogo afamado como ele, deixamos em aberto a possibilidade de estarmos expressando equivocadamente.
Mas que é um tipo de auxílio sobrenatural, parece que se prova pela Encíclica “Mit brennender Sorge”, de Pio XI (sim, aquela mesma contra o nazismo):
“E isto se verifica em um sentido mais alto e nobre donde, como no caso da Igreja, e só na Igreja, à tal autoridade se prometeu a assistência sobrenatural do Espírito Santo e seu apoio invencível”
Não radica, portanto, esse auxílio infalível na Providência ordinária, embora a Providência ordinária seja também infalível.
Abaixo, Ludwig Ott confirma essa sentença e faz considerações importantíssimas para o que foi apresentado:
“d) Razão da infalibilidade é a assistência sobrenatural do Espírito santo que preserva ao supremo meste da Igreja de todo erro. Convém distinguir entre essa assistência e a revelação, pela qual Deus comunica alguma verdades ao que recebe a revelação; e é mister distingui-la também da inspiração, que é um influxo positivo de tal de Deus sobre o escritor, que Deus mesmo resulta ser o autor daquele escrito, que é palavra de Deus. A assistência consiste em que o Espírito Santo preserva ao Supremo mestre da Igreja de dar uma definição errônea (assistência negativa) e o conduz, enquanto seja necessário ao reto conhecimento e proposição da verdade, valendo-se para isso de graças externas e internas (assistência positiva). A assistência divina não dispensa ao sujeito do magistério infalível da obrigação que tem de esforçar-se para chegar ao conhecimento da verdade com os meios naturais, principalmente com o estudo das fontes da revelação; cf. Dz 1836.”
Segue abaixo o parecer do confrade Rui Ribeiro Machado pois pode contribuir, ao ser lida e criticada pelos leitores do Pe Calderón, para um maior esclarecimento de sua posição.
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“Na verdade, ele (Pe. Calderón) coloca a sentença do magistério acima da própria fé, e isso para mim não seria possível, já que a definição dogmática surge como um ato de fé mais profundo da parte do magistério. Esse ato de fé é subentendido já que o magistério não pode afirmar aquilo que não crê. Mesmo um Papa que caiu em heresia interna, portanto, ainda é Papa, faz um ato de fé externo ao definir uma sentença dogmática. Portanto, não é um ato de ordem superior à ordem gratuita. Para o Pe. Calderón a fonte da declaração não é, de modo nenhum, a fé, pois um Papa que caiu em heresia interna se vê também assistido. Mas eu digo que é um ato de fé, mesmo externo, ou que, no mínimo, não é possível dizer que a fonte de tal declaração não seja a fé, enquanto emana da fé, por ser melhor explanação dela. A fé participa, ainda que como elemento material da declaração, uma vez que, antes da definição, a sentença conserva o "status" de dogma material. Se não tomasse a fé como fonte, suporia uma nova revelação.
Também a ordem hipostática não está acima da ordem da graça, uma vez que a graça de Cristo é também uma graça criada. Não existe necessariamente, como a natureza divina. A graça, por sua vez, mesmo a de Cristo, não elimina a natureza, mas a supõe.
Quanto ao magistério, Pe. Calderón não aceita que o magistério atual tenha qualquer valor, porque julga que o magistério perdeu a referência de si próprio, ao equiparar a ciência recebida de Cristo, que é a que ele possui, com os argumentos teológicos, derivados da ordem da fé e da razão. Ou seja, mesmo que imponha doutrina aos cristãos, já não a impõe supondo essa ordem superior em todas as suas declarações. Logo, deixa de ser magistério. Para o Pe. Calderón, o diálogo entre o teólogo e o magistério seria impossível, dada a diferença de ordem.
É verdade que alguns teólogos julgaram que a sentença, mesmo não infalível, do magistério, sempre comportará uma dúvida razoável também em relação ao teólogo examinador, pois este também pode enganar-se em seu juízo e não conta com a assistência da qual o magistério dispõe. No entanto, eles não parecem entender que haja uma discrepância entre a ordem da qual deriva e a ordem das especulações racionais e teológicas. Alguns admitem a suspensão do juízo e mesmo a proposição de novos argumentos ao órgão do magistério que emanou a sentença controvertida (é bem verdade que o Pe. Calderón admitiria essa proposição de novos argumentos, mas não à maneira de diálogo, mas para que o magistério possa propor com mais precisão, uma vez que está obrigado a não impor sua doutrina com maior certeza do que permite o "status quaestionis" teológico, salvo em circunstância que o obrigue a dar maior firmeza a suas declarações, para acabar com uma disputa, chegando até mesmo a uma definição dogmática).”
Uma reflexão sobre essa primeira parte:
Uma reflexão sobre essa primeira parte:
“Nem tenham medo os católicos de cair no excesso de obediência ao Papa, que alguns fariseus do catolicismo liberal, com simulação estudada, fingem ter, como fatal «às almas»: e por isso contra os jornalistas, promotores fervorosos desta obediência, lançam as flechas mais envenenadas dos seus aljavas jansenistas. Nessa matéria, o excesso, não só não é temível mas nem mesmo possível. Um excesso de obediência cristã e verdadeira, como aquela que nós falamos, se reduziria a um excesso de amor por Jesus Cristo, isso é, a um excesso daquela virtude que, única entre todas, não é capaz de excessos. O pharisaei hypocritae, [O fariseu hipocrita N.d.R.] Você ainda pode participar de uma culpa assim tao bela!” (Raffaele Ballerini, La Civillità Cattolica, Florença 1877 Pag. 257-272)
Sobre a destituição de Dom Rogélio Livieres
Não adianta mais tapar o sol com a peneira e tentar achar uma razão bacaninha paras as coisas. Parece ser um inverneco. Francisco já disse que daqui uns 2 anos se aposenta. Isso se ele não for assassinado antes pelo ISIS. O governo do Papa possui infalibilidade prática, isto se refere ao geral dos casos, mas não para cada um de seus atos isolados. Erros pastorais de Papas existiram na história.
O Papa não pode usar os atos do Magistério para favorecer o erro (doutrina, leis universais etc), mas pode prejudicar a Igreja, favorecendo os maus e prejudicando os bons, por meio dos seus atos de governo. É a hipótese tratada por Belarmino que justificaria a resistência por parte dos reis e mesmo de um concílio em relação as ordens más de um Papa.
Os próximos padres, bispos e leigos serão mais santos, devido as provações que passaram. Isso é mortificação, meio de santidade.
Não podemos confundir obediência com papolatria. O problema é que agir em defesa cega do Papa na machadada simplesmente cortando o assunto também alimenta o outro espectro do erro, que é dar a alguém superpoderes que não tem. E aí incluamos a criançada carismática para a qual tudo é unicamente sobrenatural. Poder-se-ia ser tratado de maneira mais sérias, mostrando os prós e contras. De maneira Escolástica mesmo. É saber diferenciar “o Papa tem problemas” de “o Papado tem problemas”.
O confrade Rafael Vitola Brodback faz um resumo geral do que nós sentimos e pensamentos nesse momento:
“E mesmo erros pastorais de Papas santos e que tiveram outros acertos. Penso que Francisco é um grande pregador, dá muita ênfase no essencial do cristianismo que pode, sim, ser perdido se nos fixarmos APENAS nas formas e nas normas, é muito prático como um bom jesuíta, enfim, que tem inúmeros pontos positivos em seu governo, mas essa destituição, se for confirmada que é apenas motivada por interesses dos progressistas, sem nenhum outro elemento grave que porventura desconheçamos, é um erro pastoral lamentável do Papa.”
Como amar o Papa?
“Parece inacreditável, e é contudo doloroso, que haja padres aos quais se deve fazer esta recomendação, mas nos nossos dias nós estamos infelizmente nesta dura e triste condição de dever dizer a padres: Amai o Papa!
E como se deve amar o Papa? Não por palavras somente, mas por atos e com sinceridade. “Non verbo neque lingua, sed opere et veritate” (1 Jn 3,18) Quando amamos a alguém, procuramos nos conformar em tudo a seus pensamentos, a executar suas vontades e a interpretar seus desejos. E se Nosso Senhor Jesus Cristo dizia de si mesmo: “Si quis diligit me, sermonem meum servabit” - se alguém me ama, guardará minha palavra - Jn 14, 23), assim para mostrar nosso amor ao Papa, é necessário obedecer.
É por isso que, quando se ama ao Papa, não se fica a discutir sobre o que ele manda ou exige, a procurar até onde vai o dever rigoroso da obediência, e a marcar o limite desta obrigação.Quando se ama o Papa, não se objeta que ele não falou muito claramente, como se ele estivesse obrigado a repetir diretamente no ouvido de cada um sua vontade e de exprimi-la não somente de viva voz, mas cada vez por cartas e outros documentos públicos.
Não se põem em dúvida suas ordens, sob fácil pretexto, para quem não quer obedecer, de que elas não dimanam diretamente dele, mas dos que o rodeiam! Não se limita o campo onde ele pode e deve exercer sua autoridade; não se opõe à autoridade do Papa a de outras pessoas, por muito doutas que elas sejam, que diferem da opinião com o Papa. Por outro parte, seja qual for sua ciência, falta-lhes santidade, pois não poderia haver santidade onde há dissentimento com o Papa.
É o desabafo de um coração dolorido… para deplorar a conduta de tantos padres que, não somente se permitem discutir e criticar as vontades do Papa, mas que não têm a receio de chegar a atos de desobediência imprudente e atrevida, ao grande escândalo dos bons e para a ruína das almas.”
(S. Pio X: Alocução aos Padres da Confraria “A União Apostólica” 18 novembro 1912)
RESUMO EXPLICATIVO DA SITUAÇÃO DA
DIOCESE DE CIUDAD DEL ESTE ANTE A VISITA APOSTÓLICA
A VISITA APOSTÓLICA
LUGO E LIVIERES
A “COMUNHÃO ECLESIAL”
OS RELIGIOSOS
O CLERO
NOVOS SEMINÁRIOS PARA O TERCEIRO MILÊNIO
A PEDRA DE ESCÂNDALO
O PADRE CARLOS URRUTIGOITY
MONS. PASTOR CUQUEJO
NOVAS COMUNIDADES
TEMAS ECONÔMICOS
JAVIER MIRANDA
QUE A HISTÓRIA NÃO SE REPITA
***
O seminarista de Ciudad del Este Hernane Maria envia com exclusividade o relatório da Diocese que na época foi publicado dias antes da Visita Apostólica elucidando toda a questão.
RESUMO EXPLICATIVO DA SITUAÇÃO DA
DIOCESE DE CIUDAD DEL ESTE ANTE A VISITA APOSTÓLICA
A VISITA APOSTÓLICA
Oficialmente, o Núncio Apostólico no Paraguai anunciou em
conferência à imprensa em 2 de julho que a Diocese de Ciudad del Este receberia
uma iminente Visita Apostólica “a fim de oferecer-lhe uma assistência para o
bem daquela Igreja particular”. Oficiosamente,
os meios de imprensa disseram que se tratava de uma verdadeira “intervenção na
Diocese”, ou seja, de um processo que
culminaria, ou com a renúncia, ou com a destituição de nosso Bispo e o stop à obra que vem concretizando.
Apresentamos agora um resumo explicativo que demarca os principais
pontos dessa conjuntura com seus feitos e documentos probatórios. Mostramo-lo
no estilo simples e direto do Povo de Deus, e com a honestidade e transparência
a que nos tem habituado Mons. Rogelio.
LUGO E LIVIERES
O Bispo paraguaio mais famoso, sem dúvida, é o “padre-Bispo” Fernando
Lugo, ex-Presidente da República. Assumiu como Presidente em agosto de 2008,
logo depois de ser dispensado de suas obrigações como consagrado e voltar ao
estado laical. Foi destituído em 2012, após um julgamento político no
Congresso.
Lugo e a minúscula, mas inteligente, esquerda do país jamais haveriam
chegado ao poder, derrotando o Partido Colorado, sem uma aliança com a primeira
maioria, o Partido Liberal, e o apoio massivo (expresso ou tácito) da Igreja
hierárquica. Há algumas décadas, no
Paraguai, estão sendo sistematicamente designados como Bispos somente candidatos
de certa tendência anti-Partido Colorado e, além disso, embebidos de uma formação difusa dos
derivados ideológicos da Teologia da Libertação.
Como toda regra, teve sua exceção: Mons.
Livieres levantou a voz (muito publicamente) para se opor à candidatura de
Lugo, ficando assim como o único defensor da postura do Vaticano. As
críticas assinaladas foram de dois tipos. Por uma parte, se opôs à confusão fundamentalista entre religião e política que
levou a Lugo e tantos outros consagrados a abandonarem seus compromissos
evangélicos para “se meter em política”.
Por outra, advertiu sobre a
irresponsabilidade moral e administrativa do candidato, encoberta por
tantos eclesiásticos e religiosos, pois “todos
sabiam”.
A “COMUNHÃO ECLESIAL”
A polêmica em torno de Lugo não foi a primeira ocasião em que Mons.
Livieres cutucou a colmeia de Bispos. A
acusação de que “rompia com a comunhão eclesial”
começou antes inclusive de que colocara o pé na Diocese e, portanto, de que
pudera “meter a pata”. Efetivamente, a Conferência Episcopal escreveu a São João
Paulo II expressando seu vivo desacordo com a nomeação do novo irmão que
nem sequer havia estado na terra dos candidatos, sendo “imposto” por Roma. Alguns líderes leigos também fizeram eco a esses
protestos. A Santa Sé não cedeu. E depois, contra o vento e a maré, como a
barca do Evangelho, apoiou o novo Bispo em sua gestão.
Mas a Conferência Episcopal não cheirava tão mal. Definitivamente, Mons. Livieres, do Opus Deis, representava
uma orientação eclesial distinta ao férreo modelo dominante. Em honra à
verdade, deve-se reconhecer que ele nunca pretendeu impor suas linhas pastorais
aos outros Bispos. Não tomou uma atitude de contraposição, mas sim de
complementaridade enriquecedora da Igreja. (Com frequência, se confunde a unidade na fé e no amor, a autêntica
“comunhão eclesial”, com uniformidade imposta).
Um momento particularmente difícil para a convivência episcopal se
produziu com a filtragem de uma carta
confidencial e pessoal que Mons. Rogelio entregara em mãos do Papa Bento XVI, a
pedido de Sua Santidade, durante a visita ad limina. Como ocorrera depois com o “Vatileaks”, foi filtrada à
imprensa a partir do mesmo Vaticano (por alguns agentes que buscaram fazer dano
ao Papa emérito?). A carta insistia sobre a
necessidade, se se quer realmente superar a crise da Igreja, de eleger os
futuros Bispos entre os melhores candidatos desde o ponto de vista da vida da
fé e a idoneidade litúrgica, sapiencial e de governo; e não entre aqueles “aceitos por todos” para manter o status quo.
O Bispo de Ciudad del Este, digno filho de seu pai exilado seis vezes
pelo governo militar de Stroessner, se tornou um infatigável batalhador por sua liberdade religiosa e de seus fiéis.
OS RELIGIOSOS
Os desencontros se deram também com a Conferência de Religiosos do
Paraguai. Não se deveram a uma incompreensão da vida religiosa, o que
claramente vem fomentando Mons. Rogelio em sua Diocese, mas muito mais à profunda crise de identidade e disciplina
que sofrem muitas comunidades, especialmente de origem ou formação européia.
Boa parte dos religiosos a nível nacional se identificaram com a atuação
de Lugo. Ademais, quando se produziram casos de agudas crises sociais, como foi
o massacre de Curuguaty nessa Diocese, pontapé que precipitou a caída política
do ex-Bispo, emitiram pronunciamentos e assumiram posturas em certas
dissonâncias com a fé. Citando o direito canônico, Livieres proibiu sob pena de sanções a instrumentalização política ou
ideológica da pastoral social. Também objetou uma falsa “pastoral indígena”
que, em contraposição aos santos missionários de tantos séculos, quer impedir o
direito dos nativos de lhes predicar a Boa Nova do Evangelho.
Os numerosos sacerdotes, seminaristas, religiosos e leigos que o Bispo
mobilizou durante crises sociais e catástrofes naturais intervieram com
energia, mas sempre desde o estritamente espiritual e humanitário. O princípio
seguido tem sido simples: “a Deus o que é de Deus e a César o que é de César”.
O CLERO
Vários dos 16 sacerdotes diocesanos que encontrou em sua chegada Mons.
Livieres tiveram reservas frente às novas linhas pastorais e à renovação da
disciplina eclesial. A incompreensão chegou a tal ponto que, com o apoio de alguns Bispos, 10 desses
sacerdotes escreveram ao Papa Bento XVI pedindo “a intervenção”. Poucos
meses depois, 150 sacerdotes do restante
do país, em sua maior parte religiosos, fizeram o mesmo. Foi o Arcebispo de
Assunção, fino e distinto opositor de Mons. Rogelio, quem foi até Roma a
protestar. O Papa, contudo, não respondeu e, ao contrário, sugeriu a Mons.
Livieres que era necessário “formar um
novo clero”. A proposta foi um sábio conselho: a imensa maioria do clero diocesano, agora jovem e numeroso (um pouco
mais de 70), sente o Bispo como seu Pai, o veem como seu Pastor e compartem
suas orientações pastorais.
Quanto aos leigos locais, somente
um grupo muito reduzido, porém vociferante e sustentado desde afora da Diocese,
manteve uma atitude crítica, particularmente um tal Javier Miranda, sobre
quem trataremos no final. Sem contar com algumas exceções, os fiéis e seus
dirigentes, tanto dos movimentos já aprovados a nível nacional ou internacional,
como dos numerosos que foi reconhecendo, promovendo e guiando Mons. Rogelio
durante seu ministério, todos apoiaram e
apoiam seu Bispo, que tanta liberdade e espaço de ação lhes deu “para fazer barulho” e avançar na
evangelização e a missão continental de Aparecida.
NOVOS SEMINÁRIOS PARA O TERCEIRO MILÊNIO
Quando em 3 de outubro de 2004 Monsenhor
Livieres assumiu como Bispo de Ciudad del Este, não tardou a descobrir o maior
desafio que lhe esperava: dispunha de pouco mais de 70 sacerdotes (entre
religiosos e diocesanos) para atender espiritualmente a uma população em torno
de 1.000.000 almas, ou seja, 1 pastor para mais de 10.000 ovelhas. A
perspectiva para o futuro era ainda pior, com apenas uma dezena de seminaristas
diocesanos formando-se no Seminário Nacional de Assunção.
Não é preciso explicitar a gravidade da
situação àqueles que reconhecem com humildade “teocêntrica” que a Igreja
fundada por Jesus Cristo “vive da
Eucaristia”, quer dizer, dos sacramentos nos quais Ele “está conosco todos os dias até o fim do
mundo” e cuja administração fiel encomendou aos sacerdotes.
Sem rendas e sem estudos de factibilidade
Monsenhor tomou de imediato a decisão estratégica de assumir como primeira
prioridade de seu ministério o que o assinalavam o Diretório para os Bispos e o Código
de Direito Canônico: aprovou a
abertura de seu próprio Seminário diocesano.
Pronto se descobriu por que o Dono da
Vinha o havia elegido como Bispo: o Padre Rogelio havia atraído e cultivado
numerosas vocações ao Opus Dei. O mesmo fez em sua Diocese, onde a pastoral
vocacional não é delegada. Cada domingo,
com a cooperação de um grupo animado de formadores, o Bispo atende em sua
própria casa a todos aqueles interessados em considerar uma vocação sacerdotal.
Um pouco de esportes, uma palestra para a formação, direção espiritual e confissão,
adoração ao Santíssimo e reza do Rosário, uma tertúlia com perguntas “à queima-roupa”
e uma tão esperada merenda realizam o mágico resultado de 130 interessados por
ano, dos quais são admitidos uma média de 30 a 40. O segredo do êxito, além do
interesse direto e pessoal do Bispo, está no entusiasmo com que os mesmos
aspirantes e os seminaristas saem a pescar vocações entre amigos, parentes e conhecidos
(marketing viralizador...).
O Seminário Maior São José tem sido avaliado positivamente pela Santa Sé
em reiteradas cartas, e tem ordenado mais de 60 sacerdotes ao cabo de 10
anos. Mas Mons. Rogelio, preocupado por melhorar a qualidade de suas pescas e a
crise do sistema educativo geral, criou
em 2012 o Seminário Menor Santo André. Paralelamente, buscando uma
aplicação mais radical dos alinhamentos do Concílio Vaticano II e dos
documentos pós-conciliares sobre a formação sacerdotal, iniciou a experiência
do Instituto de Formação Sacerdotal São
Irineu de Lyon. No momento essa casa de formação funciona apenas em seu
ciclo propedêutico, baseado no ensino das artes liberais clássicas e da
discussão em aulas-seminário dos Grandes Livros da cultura ocidental.
A PEDRA DE ESCÂNDALO
A decisão de formar seus próprios seminaristas como um pai educa os seus
próprios filhos tomou de surpresa à Igreja no Paraguai. Os Bispos resistiram de
início a essa peregrina ideia, pois romperia
(e rompeu) o esquema monolítico de formação sacerdotal (tanto de diocesanos
como de religiosos) que tinha sido acordado com a criação do Seminário Nacional
e seu Instituto de Teologia no século passado.
Em vão a Santa Sé os lembrou do direito e da conveniência de que cada Bispo
conte com seu próprio Seminário quando isso é possível. “Para que um novo
Seminário, se sempre existiu somente um?”, se perguntam os que ainda hoje
parecem não ter refletido sobre a indicação nº 33 de Evangelii Gaudium: “abandonar
o cômodo critério de ‘sempre se fez assim’”.
O PADRE CARLOS URRUTIGOITY
Um capítulo a parte nessa história de oposição a nosso Bispo e ao novo
Seminário é, sem dúvida, o ataque contra Padre Carlos. Chegou a Diocese em
2005, junto a outros sacerdotes e
leigos que depois estabeleceriam as Comunidades Sacerdotais de São João. Veio recomendado por alguns Cardeais com
funções na Santa Sé (um deles, eleito poucos dias depois Sucessor de
Pedro). Trazia nas costas uma dura campanha de difamação nos EUA, sobre a qual Mons. Livieres escreveu uma carta de
esclarecimento muito detalhada sobre o tema.
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Desde o começo provou ser um próximo colaborador do Bispo. Por isso mesmo, seu caso
foi utilizado como um cavalinho de batalha para questionar os logros pastorais
na diocese e, especialmente a formação do novo clero, já que ele ajudou no
início a formar o novo seminário. Depois
deixou essa atividade para assistir ao Bispo na Cúria Diocesana.
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Não obstante os reiterados desmentidos desde o
Bispado, uma imprensa repetitiva e autorreferencial seguiu citando-se e
recitando-se sobre supostas “acusações
de pedofilia” que, em realidade, jamais existiram. No Paraguai, essas
campanhas vêm sendo geralmente encabeçadas pelo mesmo periódico que, anteriormente,
havia forçado a renúncia de outro Bispo Livieres. (A justiça, também nesse caso,
posteriormente deixou clara a falsidade dessas acusações, feitas por
testemunhas pagas numa manobra destruidora). A imprensa, no caso de Padre Carlos, foi atiçada pelos opositores
eclesiásticos paraguaios que já mencionamos, e que tem influentes contatos nos
EUA e em Roma, com os quais compartem idênticas tendências e lobby.
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De tudo, enfim, menos provas de pedofilia.
Porque, por pior que seja para os detratores, não há acusações de vítima alguma, mas sim algumas calúnias novamente
fritadas por terceiros interessados. Por isso nunca prosperou processo
penal algum, nem condenação em tribunal de nenhum país, nem da Santa Sé. Para acúmulo
de bens, sua heterossexualidade ficou
confirmada por duas avaliações psicológicas independentes, uma nos EUA e outra
no Canadá, que também
descartaram a presença de psicopatias ou desordens de personalidade.
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Tão pouco é correto
que se sigam somando cada vez mais acusações, ainda que sempre sem poder
prová-las. Todas se reduzem à repetição sem razão daquelas inventadas há vários
anos, não por supostas vítimas, mas por dois perseguidores ideológicos de Padre
Carlos os quais, um na Argentina e outro nos EUA, alimentaram respectivas
campanhas: uma conventual; e a outra midiática e cibernética. O primeiro foi um
sacerdote “sedevacantista” argentino que não reconhece a nenhum Papa desde João
XXIII até Francisco I e que, ademais, se fez “consagrar bispo”, invalidamente
para a Igreja católica. O segundo foi um norte-americano, um ex-empregado,
descontente porque o Bispo de Scranton, Mons. Timlin, o havia afastado de um
projeto educativo do qual queria apoderar-se.
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A única acusação apresentada contra o Padre Urrutigoity ante o foro
penal americano (em nome de uma pessoa adulta chamada Michael Prorock) foi
desestimada in limine (de entrada) pelas investigações independentes de dois
fiscais em Pensilvânia.
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Ficam claras, então, duas conclusões chave: 1ª) que a acusação contra o Padre Carlos não implicava um caso de
pedofilia, pois o denunciante era maior de idade quando haviam ocorridos os
supostos feitos; 2ª) que, por causa do desestímulo dos fiscais, nunca se
iniciou uma causa penal nos EUA.
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Nos tribunais da Igreja, a
Congregação para a Doutrina da Fé negou a possibilidade de abrir um processo canônico
penal pela mesma razão: não havia nenhuma acusação de pedofilia.
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Esse fracasso da acusação penal prejudicou seriamente aos advogados do
acusador em seu propósito de obter uma suculenta indenização no foro civil como
é habitual nos EUA, onde acusaram de diversos delitos o Bispo James Timlin, a
Diocese de Scranton e alguns de seus sacerdotes, a Fraternidade São Pedro, a
Academia São Gregory, e a Sociedade de São João, fundada pelo Padre Carlos.
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Para as pessoas não habituadas às intrigas legais, é necessário aclarar
que, por um mesmo motivo, podem iniciar-se dois juízos independentes: um no
foro penal e outro no civil. O êxito desse último, ou seja, a quantidade de
dinheiro a obter como reparação por danos e prejuízos, fica muito debilitado se
fracassa a denúncia penal. Mas nos EUA, vale a pena intentá-lo porque, ainda
que as acusações no foro penal nem sequer tenham chegado a juízo – por falta de
fatos ou inexistência de provas – existe em seu sistema legal mais
possibilidades de lograr algum dinheiro através de uma causa civil. Em efeito,
como os custos para defender a inocência perante a justiça civil americana são
elevadíssimos (se estima que, em média, uma Diocese deve gastar por volta de U$
2.000.000 em cada caso), é regra chegar
a um acordo pré-judicial com aprovação do juiz do caso.
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A Sociedade de São
João, que se negou em princípio a chegar a um acordo, foi forçada pela Diocese
de Scranton, já dirigida por Mons. Martino, a somar-se a um acordo total por U$
450.000, dos quais lhe correspondia contribuir com U$ 55.000, uma cifra
insignificante para as quantidades usuais nesses casos e que se explica porque
os advogados acusadores careciam de provas minimamente sólidas para pretender
mais dinheiro da Sociedade ou para descartar o acordo proposto e iniciar o
juízo civil. A Sociedade de São João impôs como condição para firmar o acordo
que os acusados deixassem assentado por escrito, de uma vez, sua inocência, e
que o acusador, por sua parte, renunciasse de igual modo a qualquer outra
campanha posterior de acusações ou a outra ação civil.
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Vê-se que em todas as partes, “por dinheiro
baila o macaco”, sem se importar o engano ao público, nem o descrédito dos
inocentes. Em relação agora aos bailarinos de Ciudad del Este, em 23 de julho
desse ano, a causa 2014-6130 do Juizado Penal de Garantias Nº6 do Alto Paraná, a fiscal encarregada, María Graciela Vera Colmán,
solicitou que se desestimem e arquivem,
por carecer em absoluto de qualquer sustento probatório, as acusações iniciadas telefonicamente (!) ante a Fiscalização por
uma radio de Assunção contra o Presbítero Urrutigoity “por suposto abuso sexual
de crianças, não mencionando nomes de vítimas... além de não identificar...
direção e/ou data, lugar em que ocorrera o fato
denunciado”. Tudo proveio das diabruras feitas –e gravadas- num programa da Rádio Unión pelo conhecido
denunciante serial Javier Miranda quem, intimado pela fiscal a comparecer para
dar “declaração de testemunho”, jamais se apresentou, nem enviou evidência
alguma, confirmando assim suas inegáveis condições autorais.
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Pastor, e não mercenário que foge de lobos,
Mons. Livieres se manteve sempre inflexível na defesa de inocentes. No caso de
Padre Carlos, o fez inclusive frente àqueles que, ainda que reconhecendo a
justiça do caso, consideravam imprudente primeiro sua recepção na Diocese e
logo sua promoção a distintos cargos, já que tais ações implicariam pôr em
perigo a imagem da gestão e a “carreira eclesiástica” do Bispo. Contudo,
Monsenhor julgou mais sadio e realista aproveitar os recursos humanos concretos
que a Providência colocava em suas mãos.
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Apesar da ocasional algazarra midiática e
protesto clerical, o Vaticano
respeitou a decisão do Bispo e, após um prudente tempo de espera e experiência
na nova Diocese, autorizou a
incardinação de Padre Carlos em Ciudad del Este por meio de seu Representante,
o Núncio Apostólico no Paraguai, com o consentimento do Bispo excardinante. Além
disso, nesse mesmo ano emitiu a carta
laudatória dando seu consentimento à elevação como Sociedade de Vida Apostólica
das Comunidades Sacerdotais de São João.
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Quanto ao juízo do Povo de Deus na Diocese, os seminaristas, sacerdotes, religiosos e
leigos da diocese, em seu conjunto apoiaram e apoiam ao Bispo e ao sacerdote, sendo
depois de quase 10 anos testemunhas diretas de seu exemplar ministério e de
suas qualidades humanas e honestidade moral. Esses apoios não são suposições. Ficaram
gravados para quem queira examiná-los em manifestados escritos e firmados à
imprensa e ao público geral. E mais: quando chegou a hora de nomear um novo
Vigário Geral, consultados os sacerdotes e os dirigentes leigos quase por
unanimidade propuseram Padre Carlos como o candidato de sua eleição. Ainda que
ele mesmo se tenha se oposto à ideia por parecer-lhe imprudente, o Bispo
confirmou respaldo à decisão de seu presbiterado e laicato.
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Cabe destacar finalmente que, quando Mons. Livieres enfrentou verdadeiros
casos de corrupção ou violações do celibato sacerdotal, em qualquer de suas
formas, não teve dúvidas em proceder, inclusive frente a fortes pressões,
conforme o direito, castigando proporcional ou medicinalmente os culpados.
MONS. PASTOR CUQUEJO
O Arcebispo de Assunção
acrescentou publicamente uma nova onda de ataques contra Padre Carlos, ao afirmar ante a
imprensa que seu caso não estava claro e que poderia, na qualidade de Arcebispo
Metropolitano, solicitar à nova
administração em Roma que reabrisse a investigação da Congregação para a
Doutrina da Fé encerrada in limine
por Bento XVI por falta de acusações de menores.
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Indignado, Mons.
Livieres respondeu-lhe no terreno em que havia pronunciado o Arcebispo. O fez
porque seus reiterados esclarecimentos eram desacreditados abertamente e porque
se pedia contra toda justiça a reabertura de uma investigação sem que tivessem
ocorridas novas acusações, nem novos elementos de juízo. A pedra atirada por
Mons. Cuquejo estava não somente dirigida a pôr em dúvida a probidade do
realizado por Mons. Livieres, mas sim da mesma Santa Sé.
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Sem rodeios de sua parte, ainda que talvez com
excesso, assinalou ao Arcebispo a
incongruência de alegar escândalo e solicitar investigações públicas quando o
mesmo Mons. Cuquejo havia sido não apenas acusado, mas também processado por
atividade homossexual, e não por terceiras pessoas, mas por implicados
diretos.
NOVAS COMUNIDADES
Como é costume criticar aos pais
com mais de dois filhos, foi questionado o número de vocações sacerdotais e dos
novos carismas laicos e religiosos, plantando uma falsa oposição entre
quantidade e qualidade.
Incredulamente, alguns se perguntam se é possível que Deus abençoe tão
generosamente a uma Diocese, ou se a multiplicação é mais um fruto da
negligência e o afã de estatísticas.
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A árvore se julga por
seus frutos. O juízo do povo sobre seus novos pastores é muito positivo e estão
encantados com os variados serviços que lhes proveem as comunidades religiosas
e os movimentos laicos. Claramente, sempre se pode fazer mais e melhor. Seguramente
a Visita Apostólica colaborará com sugestões e correções que permitam chegar
ainda mais longe.
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Porém, é inegável que Ciudad del Este, há pouco
tempo conhecida por seu contrabando e outros tráficos, se está convertendo em um centro de vitalidade espiritual,
religiosidade e cultura reconhecida no país. É difícil correr pelas ruas da
cidade sem observar jovens de batinas e hábitos religiosos. Para cada fim de
semana há 2.000 pessoas que saem de suas periferias e pobrezas humanas para
participar de retiros de conversão e formação, organizados na maioria das vezes
pelos leigos acompanhados de seus capelães. Por sua vez, os múltiplos cursos de
formação para dirigentes sobre Bíblia, liturgia e catequese contam com grande
participação de assistentes.
TEMAS ECONÔMICOS
Ocupemo-nos agora das alegações relacionadas às
finanças. Duas são as cobranças neste campo:
malversação das doações outorgadas pela Binacional Itaipu e a dilapidação do
patrimônio imobiliário da Diocese.
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Itaipu doou à Diocese uma importante quantidade
de dinheiro (U$ 300.000) que o Bispo destinou por completo à manutenção do
Seminário. Foi acusado pelo Sr. Javier Miranda de malversação de fundos e de
abuso aos pobres e necessitados da região. Mons. Rogelio justificou sua decisão
assinalando que os futuros sacerdotes seriam os mais efetivos agentes de ação social
e, portanto, que era o melhor modo de servir aos pobres num largo prazo. A Justiça do Paraguai deu razão a Mons.
Rogelio em todas as instâncias, incluída a Corte Suprema, reconhecendo a razão
de seu proceder e comprovando que se havia gastado até o último centavo em
cobrir as necessidades da Igreja, sem desvios a bolsos particulares.
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Sempre sob a urgência de conseguir fundos para
pagar pela educação de quase 200 seminaristas e o desenvolvimento de pastorais
cada vez mais ativas e variadas, ou seja, em ordem de capitalizar
espiritualmente a sua Diocese, o Bispo, sem rendas disponíveis por ser muito
recente a criação da mesma, procedeu vendendo alguns imóveis que não tinham
usos pastorais nem produziam outros benefícios econômicos. O mesmo haviam feito
seus predecessores, inclusive sem possuir Seminário próprio para manter. Apesar
disso, o Sr. Miranda o denunciou como uma manobra dolosa e irresponsável.
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De todos os modos, para buscar uma solução
definitiva a essa precariedade econômica, o Bispo, seguindo a recomendação que
havia recebido por parte do Núncio Apostólico ao assumir o cargo, comissionou a leigos qualificados o estudo
e execução de projetos que produzam rendas no futuro para cobrir ao menos
os 75% dos custos operativos estimados.
JAVIER MIRANDA
A nota tragicômica dessa saga corresponde a Javier Miranda, um agitador político pouco
familiarizado com o rigor da verdade. Autoproclamado “Presidente dos Leigos
do Alto Paraná”, ainda que não siga nenhum movimento laico, vem acusando tão obstinada
como contraditoriamente a Mons. Rogelio e aos seus colaboradores dos crimes
mais variados, chegando em seu delírio a afirmar na imprensa que possuía provas
confiáveis de que o Bispo havia contraído em um cassino do Uruguai uma dívida
de milhões de dólares (sic).
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Ainda que desautorizado
pelos fatos – e até pelos falíveis tribunais humanos – segue sendo marionete útil de certos grupos de esquerda
e dos oponentes eclesiásticos de sempre. Esse sim, com êxito e apoio
popular escassíssimo.
QUE A HISTÓRIA NÃO SE REPITA
O crescimento e a pujança do Povo de Deus no
Paraguai foram cruelmente mutilados à raiz do injusto processo e supressão dos
missionários jesuítas em fins do século XVIII. Também eles foram acusados por
eclesiásticos questionáveis em aliança com poderosos lobbies e políticos.
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Os que apostam em que a história se repita
agora em nossa Diocese podem levar a surpresa de descobrir que, dessa vez, o
Bispo de Roma é um herdeiro desses jesuítas caluniados e suprimidos, disposto a
escrever a história de um modo novo.
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