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A Complexidade Irredutível e a natureza da mutação


"Darwin sabia que sua teoria de evolução progressiva, através de seleção natural, carregava um pesado fardo:
Se pudesse ser demonstrada a exislência de qualquer órgão complexo que não poderia ler sido formado por numerosas, sucessivas e ligeiras modifi­cações, minha teoria desmoronaria por completo.

É seguro dizer que a maior parte do ceticisimo científico sobre o darwinismo, no último século, centralizou-se nessa condição. Da preocupação de Mivart com os estágios incipientes de novas estruturas à refutação da evolução gradual por Margulis, os críticos de Darwin suspeitaram que seu critério de fracasso havia sido atendido. Mas como podemos confiar nisso? Que tipo de sistema biológico não poderia ser formado por meio de "numerosas, sucessivas e ligeiras modificações"?

Bem, para começar, um sistema que seja irredutivelmente complexo. Com irredutivelmente complexo quero dizer um sistema único composto de várias partes compatíveis, que interagem entre si e que contribuem para sua função básica, caso em que a remoção de uma das partes faria com que o sistema deixasse de funcionar de forma eficiente. Um sistema irredutivel­mente complexo não pode ser produzido diretamente (isto é, pelo me­lhoramento contínuo da função inicial, que continua a atuar através do mesmo mecanismo) mediante modificações leves, sucessivas, de um sis­tema precursor, porque qualquer precursor de um sistema irredutivelmente complexo ao qual falte uma parte é, por definição, não-funcional. Um sistema biológico irredutivelmente complexo, se por acaso existir tal coisa, seria um fortíssimo desafio à evolução darwiniana. Uma vez que a seleção natural só pode escolher sistemas que já funcionam, então, se um sistema biológico não pudesse ser produzido de forma gradual, ele teria que surgir como uma unidade integrada, de uma única vez, para que a seleção natural tivesse algo com que trabalhar.

Mesmo que um sistema seja irredutivelmente complexo (e, portanto, não possa ter sido produzido diretamente), não podemos excluir por completo a possibilidade de uma rota indireta, tortuosa. Aumentando-se a complexi­dade de um sistema interatuante, porém, cai bruscamente a possibilidade dessa rota indireta. E, à medida em que aumenta o número de sistemas biológicos irredutivelmente complexos, inexplicados, nossa confiança em que o critério de fracasso de Darwin tenha sido atingido sobe vertiginosa­mente para o máximo que a ciência permite.”





Fonte:
Michael Behe: “A Caixa Preta de Darwin”. Zahar Editor. Rio Janeiro, 1997,
p. 57

 

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