Seria esse ato tão simples e banal um pecado?
“A mentira é uma comunicação (significatio) falsa unida à intenção de enganar.” Santo Agostinho, Contra mendacium, 26: PL 40, 537
Santo Tomás explica que a intenção de enganar (voluntas fallendi) (Suma, II-II, q. 110, a.1); é uma forma que esta fica qualificada moralmente pela falsidade formal, isto é, pela simples vontade de dizer - ou fazer - o que é falso, de expressar algo contrário ao próprio pensamento. Daí o conceito em latim que considera a mentira locutio contra mentem.
Mentir “para si mesmo” em absoluto seria mais grave do que mentir “para outro” enquanto não mente “para si mesmo” .
Isto é, a mentira no coração seria intrinsicamente má. Tendo a verdade in corde, só mentirá in verbis com vista a um determinado fim. Neste caso, o fim da mentira é que será o lastro do seu valor moral.
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Mentir por caridade para com o próximo continua sendo ilícito, e continua sendo pecado, embora não seja mortal. É pecado venial, vai contra a perfeição, a mentira, tanto jocosa, quanto oficiosa.
A mentira trai a confiança e a promessa que toda palavra-sinal significa para o outro, com efeitos socialmente destruidores. Toda comunidade e sociedade procedem do encontro livre de pessoas que se comunicam, abrindo-se mutuamente na verdade do próprio pensamento. A palavra, pronunciada ou expressada de qualquer maneira, é ato de confiança mútua, instauradora de relações humanas. Comunicar é da fé à palavra.
Vejam o que diz Santo Tomás:
Segundo isto, se se enuncia algo falso crendo que o que se diz é verdade, haverá nisso falsidade material, não formal, porque não se tinha intenção de dizer nada falso. Falta, aqui, portanto, a razão formal perfeita do conceito de mentira, porque o não intencionado é meramente acidental e, em consequência, não pode constituir a diferença específica. Mas quem diz uma falsidade com vontade de dizê-la, embora resulte que o que diz é verdade, seu ato enquanto voluntário e moral de si é falso, e só casualmente resulta em verdade. Isto é, portanto, pelo que se especifica a mentira. No entanto, o intento de falsear o pensamento de outro, enganando-o, não é o que especifica a mentira, por mais que resulte ser complemento da mesma. De igual modo que, nas coisas naturais, a espécie se obtém por aquisição da forma, ainda no caso de que não se siga o efeito da mesma. Tal ocorre, por exemplo, nos corpos pesados, mantidos a força no alto para que não caiam conforme sua propensão natural.” (S. Th., IaIIae, q.110, a.1, co.)
Jesus trapaceria por algum motivo? A resposta é não!
Cristo é o nosso norte SEMPRE. As vezes nos preocupamos tanto com questões pastorais que não deveríamos ficar complexando as coisas. Se Cristo não faria nós tambem não fazemos. No fim estaremos felizes da vida e com a alma em paz por saber que procuramos pensar e agir como Cristo e não como os teólogos de praia dos nossos tempos. Cristo basta!