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A Suma Teológica de Santo Tomas de Aquino em forma de Catecismo (1ª Parte, Tópico 2)


“A Suma Teológica de Santo Tomas de Aquino em forma de Catecismo” do Pe. Tomas Pégues, O. P., é uma excelente obra para aqueles que desejam iniciar o estudo da Obra Magna de Santo Tomás. Um tanto raro aqui no Brasil, haja vista que sua última edição em português data do início da década de 40, este livro é formulado como todos os catecismos tradicionais em perguntas e respostas e é de agradável leitura.

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PRIMEIRA PARTE: DE DEUS, SER SOBERANO E SENHOR DE TODAS AS COISAS

II. DA NATUREZA E ATRIBUTOS DE DEUS

Quem é Deus?

Um Espírito em três Pessoas; Criador e Soberano Senhor de todas as coisas.

Que quereis dizer quando dizeis que Deus é espírito?

Quero dizer que não tem corpo como nós, mas que está, absolutamente, isento da matéria e de qualquer elemento estranho ao seu ser (III, 1-4).

Que consequências derivam destes princípios?

Resulta que Deus é, no sentido mais absoluto e transcendental, o Ser por essência, e as coisas restantes são seres particulares, são tais seres e não “o Ser”. (III,4).

Deus é perfeito?

Sim, porque nada lhe falta (VII, 1).

Deus é bom?

É a própria bondade, como principio e fim de todos os amores (VI).

Deus é infinito?

Sim, porque coisa alguma pode limitá-lo.

Deus está em toda parte?

Sim, porque tudo o que existe, Nele e por Ele existe (VII).

Deus é imutável?

Sim, porque nada pode adquirir (IX).

Deus é eterno?

Sim, porque Nele não há sucessão (X).

Quantos deuses há?

Um só (XI).

Existem em Deus os referidos atributos?

Sim, e se não os possuísse não seria “o Ser” por essência.

Podereis demonstrá-lo?

Sim. Deus não seria “o Ser” por essência, se não fosse o que existe per si, ou como dissemos, por necessidade de sua natureza. O que existe per si concentra em si mesmo todos os modos do ser; é, portanto perfeito e, sendo perfeito, necessariamente há de ser bom. É, além disso, infinito, condição indispensável para que nenhum ser tenha ação sobre Ele e o limite; e se é infinito possui o dom da ubiquidade (onipresença).

É imutável, porque, se mudasse, haveria de ser em busca de uma perfeição que lhe faltasse. Sendo imutável, é eterno, porque o tempo é sucessão e toda sucessão revela mudança. Sendo perfeito em grau infinito, não pode haver mais do que um; se houvesse dois seres infinitamente perfeitos, nada teria um que o outro não possuísse; não haveria meios de distingui-los e seriam, portanto, um (III-XI).

Podemos ver a Deus enquanto vivemos neste mundo?

Não. Não o consente o nosso corpo mortal (XI, 11).

Poderemos vê-lo no céu?

Sim, com os olhos da alma glorificada (XII, 1-10).

De quantos modos podemos conhecer a Deus neste mundo?

De dois modos: por meio da fé e da razão (XII-12-13).

O que significa conhecer a Deus por meio da razão?

Significa conhecê-lo mediante as criaturas, obras de suas mãos (XII, 12).

O que significa conhecer a Deus por meio da fé?

Significa conhecê-lo sabendo quem Ele é, pelo que nos revelou de Si mesmo (XII, 13).

Qual destes dois modos de conhecimento é mais perfeito?

Indubitavelmente, o da fé, dom sobrenatural que nos mostra Deus com uma claridade como jamais o pode conjecturar a razão humana; e ainda que, devido à imperfeição de nosso entendimento percebemos esta claridade manchada de sombras e obscuridades impenetráveis, é, todavia, da luz da fé, como aurora do dia feliz da visão perfeita, que se constituirá a nossa Bem-Aventurança no céu (XII, 15).

As palavras e proposições que usamos para falar de Deus expressam alguma coisa de positivo, determinado e real?

Sim, porque, ainda que sejam usadas primeiramente para designar as perfeições das criaturas, podem empregar-se para manifestar o que em Deus corresponde a essas perfeições (XIII, 1-4).

Estas palavras e proposições têm o mesmo sentido quando aplicadas a Deus e às criaturas?

Sim, porém com alcance diverso: quer dizer que, quando aplicadas às criaturas, manifestam plenamente a natureza e as perfeições que expressam; porém, quando usadas para designar perfeições divinas, ainda que tudo a que se refiram seja verdadeiro em Deus, não alcançam expressá-lo de modo elevado como está em Deus (XIII, 1-4).

Por conseguinte, Deus é inefável qualquer que seja a nossa linguagem e a sublimidade das expressões que usemos para falar Dele?

É inefável. Apesar disso, não pode ter o homem ocupação mais digna e proveitosa do que a de falar de Deus e dos seus atributos, apesar do confuso e impreciso da nossa linguagem, durante esta vida mortal (XIII, 6,12).

 

©2009 Tradição em foco com Roma | "A verdade é definida como a conformidade da coisa com a inteligência" Doctor Angelicus Tomás de Aquino