Os princípios da RCC, que não são modernistas, devem receber nosso apoio, mas a maneira como ela põem tais princípios em prática tem de passar por uma séria revisão já que, da maneira que está, a renovação muitas vezes “protestantiza” a Igreja.
Os que são modernistas devem ser extirpados, pura e simplesmente.
A aprovação de um movimento, ordem, etc. , como elementos não essenciais que são, é passível de erro, ainda mais num momento em que a heresia modernista está espalhada pela Igreja.
A RCC tem na sua base um sentimento positivo, de rejeição às conseqüências do modernismo na Igreja, mas, por falta de orientação, fazem isso com elementos do próprio modernismo. Ela tem de ser purificada e, aí sim, desenvolverá suas potencialidades.
.
Pouco a pouco tirar tudo que tenha relação com o subjetivismo excessivo, com o conspiracionismo milenarista e com o protestantismo e, por outro lado, incentivar, sob uma roupagem mais equilibrada, o que ela já tem de bom, como: a vida de oração, o uso dos meios de comunicação de massa na evangelização, os vários apostolados sociais, etc.
Um fato, é que vários carismáticos, quando bem orientados, acabam virando tradicionalistas. Se a isso, juntarmos o vigor apostólico que os caracteriza, termos uma verdadeira renovação.
Trataremos, a seguir, da possibilidade de purificação da RCC que tem tido um avanço considerável pela influência dos tradicionais e das lideranças carismáticas que tem por fonte de seus estudos e regras de vida a própria Tradição da Igreja.
Quando a RCC for “purificada” então ela se tornará uma outra coisa, dado o grande número de práticas nada católicas e o papel relevantíssimo que estas têm dentro da maioria dos grupos, ainda que contrariamente à vontade dos seus dirigentes. Agora, se ela se tornar uma outra coisa, desde que conserve o que o movimento tem de bom, desde que se transorme em algo ortodoxo, etc, etc, etc, tbm não vejo problema algum. Pode se chamar RCC ou como queiram. O negócio é que quando os fiéis passam a conhecer a Doutrina, aos poucos vão colocando a Igreja acima dos “grupos”, “movimentos”, e coisas do gênero, ao ponto de só desejarem participar dos mesmos, caso estes sejam verdadeiramente católicos. Isso é o que importa.
Agora, considerando a crise que estamos atravessando, em uma época em que muitos fiéis não tem a menor noção de pontos doutrinários elementares, pra que estas correções possam mesmo acontecer, acho mais prudente falar em “purificação” mesmo. Não creio que seja muito eficaz entrar num grupo de oração dizendo que “nós temos de extirpar esse câncer da Igreja”. Isso não dá bons resultados.
Deus usa os mais diversos instrumentos para fazer sua obra.
Que grupo na Igreja não tem seus defeitos e seu lado obscuro? Não são esdrúxulos o sedevacantismo e a pantomima conclavista derivadas dos problemas dentro do tradicionalismo? E como podem os progressistas falar algo de alguém quando confundem Deus com a natureza e o Evangelho com um pensamento filosófico contingente?
O que é que não precisa de purificação? Que vida não tem seus claros e escuros? Não só a vida dos indivíduos precisa de uma conversão constante, mas a dos movimentos e organizações internas da Igreja também.
O que vamos fazer com isso? A didática ensinada pelo Divino Mestre foi uma didática de exclusão? Vamos simplesmente apresentar os erros das pessoas e não dar nenhuma alternativa? E não se venha com a noção de: somos puramente católicos. Todos nós somos puramente católicos, mas estamos católicos sempre dentro de um contexto pessoal, social e espiritual, onde erros e acertos convivem.
Não dá para dissociar a RCC das partes que a formam, já que ela é um “movimento”. Também não se pode dissociar o tradicionalismo, como postura, dos problemas da FSSPX.
Mas o ponto é o seguinte: o fato de haver heresias não quer dizer que seja herético (da mesma foram que alguns críticos do rito paulino quando dizem que ele é heretizante não querem dizer que ele é herético - pelo menos os com a cabeça no lugar). Para ser herético teria de haver uma incompatibilidade essencial entre ela e a doutrina da Igreja e, mesmo levando em conta a base protestante onde a RCC nasceu, isso não existe (pois nem tudo que há no meio do protestantismo é, de si, errado).
E mesmo que fosse herética, a essência poderia ser rejeitada e o isntrumental aproveitado.
Não vamos transformar a palavra “heresia” num fetiche, vamos encarar o problema e seguir em frente. Como já mencionado, TODOS os grupos internos da Igreja têm o seu lado “escuro”.
Os problemas existem e as perguntas que se impõem são:
1) O que fazer com eles?
2) Isso desvaloriza a experiência eclesial da RCC como um todo?
As respostas são:
1) Corrigir de maneira fraterna.
2) Não, pois todos os outros grupos da Igreja também ensinam uma ou outra coisa errada e, mesmo que isso fosse só na RCC, ainda assim a justiça pediria que o que ela tem de bom fosse levado em conta. É só pensar no trecho que citei do Gênesis.
Um outro ponto que deve ser lembrado é que coisas que certos grupos imputam a RCC como erros não o são, pelo menos de um ponto de vista teórico. Aqui, muitas vezes, se transforma um determinada vivência da fé como o único referencial (como se só um catolicismo eurocêntrico e oitocentista fosse legítimo).
O foco acima de tudo é a fidelidade à Verdade Revelada e ensinada pela Igreja.
Essa mesma Igreja tem filhos santos e pecadores. Querer que todos os cristãos sejam santos sempre é uma utopia que não tem nada haver com o Magistério de Cristo, mas com a necessidade de satisfação psicológica de alguns. Se alguns erraram, eles possuem até o último instante de vida para se corrigir. Nada demais. Pensar o contrário seria farisaísmo, o farisaísmo de quem não quer enfrentar a realidade e por isso fica buscando a “igreja dos homens imaculados”, princípio das divisões que vemos tanto entre cismáticos de rito oriental quanto entre protestantes.
Achar que as várias realidades eclesiais citadas (neo-conservadores, tradicionalistas, carismáticos e progressistas) remetem à confusão é uma análise superficial, pois a questão é tratar de divisões sobre pontos da Fé, mas de posições sociológicas. Um carismático- católico é católico, um tradicionalista-católico é católico e assim por diante. Nosso esforço é mostrar como tais divisões são aparentes no que se refere ao Depósito da Fé.
Supondo que os carismas sejam verdadeiros (pelo menos em alguns casos) o único caminho possível é a orientação, como fez São Paulo. Toda vez que as lideranças da Igreja tentaram impedir uma legítima manifestação extraordinária de Deus o resultado não foi nada bom (é só ver o quanto o Pe. Pio sofreu na mão dos burocratas). Excesso de zelo também é um problema.
E se muitos carismáticos caem pelo sentimentalismo, muitos tradicionalistas leitores de sites caem pelo estudo criticista da doutrina. Perigos existem em cada posicionamento.
Não é loucura uma manifestação verdadeira ocorrer no meio de outras falsas, pois as pessoas que são susceptíveis a influências psicológicas se não orientadas, certamente vão mimetizar alguma coisa. Isso não é inédito na história da Igreja, pois todo grande movimento místico, toda manifestação extraordinária de Deus, abriu espaço para ações semelhantes (não necessariamente culpáveis, visto o dado psicológico).
Quanto a questão da RCC levar a um misticismo fenomênico, isso é verdade apenas para os grupos ainda próximos do neo-pentecostalismo protestante. Muitos outros, em especial do que chamo vertente “monástica”, têm uma espiritualidade bem mais complexa (embora com uma abertura maior aos carismas que outros setores da Igreja, afinal esse é o diferencial deles).
Dois fatos que a RCC está conseguindo muito bem :
-Evitar o crescimento protestante.
-Despertar nas pessoas um amor maior pela sua Igreja!
Os pontos básicos são esses:
- O pentecostalismo teve origem no protestantismo.
- A RCC se inspirou nele.
- O pentecostalismo valoriza os carismas.
- Nenhum carisma existe fora da Igreja.
- Alguns carismas em seitas protestantes ou “ortodoxas” podem ser verdadeiros na medida em que seus membros estejam em ignorância e eles os ajudem a se voltar para o catolicismo (ou seja, na verdade são católicos)
- A Igreja já instrumentalizou coisas boas surgidas fora de seu âmbito.
Realmente a RCC prima pelas consolaççoes sensíveis, mas não se resume só a isso e tal intento pode ser bem direcionado. O milagre pode ocorrer numa seita se ele servir para a conversão das pessoas ou for o auxílio a um coração em ignorância e que procura a Verdade.
.
Considerações do confrade Rafael Vitola Brodback:
.
Sim, o Espírito Santo pode agir “mais fortemente” em determinadas épocas do que em outras. Assim, na Idade Média, agiu através de uma renovação feita a partir das ordens monásticas, depois mediante as ordens mendicantes. Em seguida a Trento, com a Contra-Reforma e suas várias manifestações: jesuítas, surgimento dos seminários para formação do clero, outras ordens e congregações (teatinos, barnabitas). Depois com a renovação da vida nas dioceses com as várias confrarias de leigos, e mesmo ordens missionárias e de apoio à reforma de costumes no clero. Também os vários avivamentos espirituais que se seguiram a algumas aparições de Nossa Senhora e à pregação de certos santos e suas congregações. Assim, esse “agir mais fortemente” não é algo novo na história da Igreja.
É bem verdade que, com os novos movimento e, PRINCIPALMENTE, MAS NÃO SÓ, através da RCC, esse “agir mais fortemente” em nossa época ganhou novos contornos e parece, sim, mais forte ainda. Isso é ortodoxo, mas não se deve, por isso achar que o Espírito Santo esteve ausente da Igreja ou não agiu, ou ainda agia "mais fracamente", ou que outros despertamentos não houve antes (que provado existirem no ponto 2).
Outro problema da RCC é, na maioria das vezes, tamanha a ênfase nos dons carismáticos, esquecerem dos infusos.
Mesmo porque ela é uma realidade e disso não se pode fugir. O que devemos e podemos fazer é aprender o correto e ensinar o correto, com amor àqueles que aderiram ao movimento e passaram a amar muito a Igreja e tudo que nela encerra.
A questão se resume em ensino, a começar pela liderança. Os membros pequenos e humildes aqui de baixo, só seguem a cartilha.
Criticismo não leva ninguém a lugar nenhum. O que devemos e podemos fazer é mostrar a bela doutrina que temos e aos poucos vão compreendendo. Aqui falo em ajudar pessoas em particular, já que ao próprio movimento a meu ver é impossível, o que não quer dizer que não possamos ver seus erros.
A RCC ideal, é uma RCC que leve a sério a busca da verdadeira doutrina, e que ponha em seu interior a Tradição da Igreja, ela muitas vezes foge do que a Igreja nos propõe. Existe nela um sentimentalismo exagerado e uma contaminação protestante que faz com os membros, mesmo sem notar, coloque a Bíblia como única fonte de fé e cada um pode, na maioria das vezes, interpreta-la a seu modo, sem levar em conta o Magistério da Igreja.
A busca exagerada dos dons é outro problema, pois não se leva em conta o estudo da mística católica na sua riqueza e seu conteúdo. Os grupos de orações no que tem de católico, é maravilhoso, pois os considero uma porta de entrada para aqueles que estavam longe da Igreja.
São acolhidos e amados, mas são ensinados sobre os dons desde o primeiro dia que chegam, daí que depois disso não há o alimento sólido baseado na doutrina genuinamente católica e a pessoa fica ali anos, fazendo encontros, que pela participação dos irmãos são maravilhosos, mas que são simples repetecos de todos os outros. Sempre os mesmos seminários de vida com os mesmos temas, não fazendo com aquele católico cresça. É certo que muitos saem e se tornam pessoas engajadas na Igreja o que é uma benção, mas é fato também que muitos se tornam protestantes.
Os que são modernistas devem ser extirpados, pura e simplesmente.
A aprovação de um movimento, ordem, etc. , como elementos não essenciais que são, é passível de erro, ainda mais num momento em que a heresia modernista está espalhada pela Igreja.
A RCC tem na sua base um sentimento positivo, de rejeição às conseqüências do modernismo na Igreja, mas, por falta de orientação, fazem isso com elementos do próprio modernismo. Ela tem de ser purificada e, aí sim, desenvolverá suas potencialidades.
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Pouco a pouco tirar tudo que tenha relação com o subjetivismo excessivo, com o conspiracionismo milenarista e com o protestantismo e, por outro lado, incentivar, sob uma roupagem mais equilibrada, o que ela já tem de bom, como: a vida de oração, o uso dos meios de comunicação de massa na evangelização, os vários apostolados sociais, etc.
Um fato, é que vários carismáticos, quando bem orientados, acabam virando tradicionalistas. Se a isso, juntarmos o vigor apostólico que os caracteriza, termos uma verdadeira renovação.
Trataremos, a seguir, da possibilidade de purificação da RCC que tem tido um avanço considerável pela influência dos tradicionais e das lideranças carismáticas que tem por fonte de seus estudos e regras de vida a própria Tradição da Igreja.
Quando a RCC for “purificada” então ela se tornará uma outra coisa, dado o grande número de práticas nada católicas e o papel relevantíssimo que estas têm dentro da maioria dos grupos, ainda que contrariamente à vontade dos seus dirigentes. Agora, se ela se tornar uma outra coisa, desde que conserve o que o movimento tem de bom, desde que se transorme em algo ortodoxo, etc, etc, etc, tbm não vejo problema algum. Pode se chamar RCC ou como queiram. O negócio é que quando os fiéis passam a conhecer a Doutrina, aos poucos vão colocando a Igreja acima dos “grupos”, “movimentos”, e coisas do gênero, ao ponto de só desejarem participar dos mesmos, caso estes sejam verdadeiramente católicos. Isso é o que importa.
Agora, considerando a crise que estamos atravessando, em uma época em que muitos fiéis não tem a menor noção de pontos doutrinários elementares, pra que estas correções possam mesmo acontecer, acho mais prudente falar em “purificação” mesmo. Não creio que seja muito eficaz entrar num grupo de oração dizendo que “nós temos de extirpar esse câncer da Igreja”. Isso não dá bons resultados.
Deus usa os mais diversos instrumentos para fazer sua obra.
Que grupo na Igreja não tem seus defeitos e seu lado obscuro? Não são esdrúxulos o sedevacantismo e a pantomima conclavista derivadas dos problemas dentro do tradicionalismo? E como podem os progressistas falar algo de alguém quando confundem Deus com a natureza e o Evangelho com um pensamento filosófico contingente?
O que é que não precisa de purificação? Que vida não tem seus claros e escuros? Não só a vida dos indivíduos precisa de uma conversão constante, mas a dos movimentos e organizações internas da Igreja também.
O que vamos fazer com isso? A didática ensinada pelo Divino Mestre foi uma didática de exclusão? Vamos simplesmente apresentar os erros das pessoas e não dar nenhuma alternativa? E não se venha com a noção de: somos puramente católicos. Todos nós somos puramente católicos, mas estamos católicos sempre dentro de um contexto pessoal, social e espiritual, onde erros e acertos convivem.
Não dá para dissociar a RCC das partes que a formam, já que ela é um “movimento”. Também não se pode dissociar o tradicionalismo, como postura, dos problemas da FSSPX.
Mas o ponto é o seguinte: o fato de haver heresias não quer dizer que seja herético (da mesma foram que alguns críticos do rito paulino quando dizem que ele é heretizante não querem dizer que ele é herético - pelo menos os com a cabeça no lugar). Para ser herético teria de haver uma incompatibilidade essencial entre ela e a doutrina da Igreja e, mesmo levando em conta a base protestante onde a RCC nasceu, isso não existe (pois nem tudo que há no meio do protestantismo é, de si, errado).
E mesmo que fosse herética, a essência poderia ser rejeitada e o isntrumental aproveitado.
Não vamos transformar a palavra “heresia” num fetiche, vamos encarar o problema e seguir em frente. Como já mencionado, TODOS os grupos internos da Igreja têm o seu lado “escuro”.
Os problemas existem e as perguntas que se impõem são:
1) O que fazer com eles?
2) Isso desvaloriza a experiência eclesial da RCC como um todo?
As respostas são:
1) Corrigir de maneira fraterna.
2) Não, pois todos os outros grupos da Igreja também ensinam uma ou outra coisa errada e, mesmo que isso fosse só na RCC, ainda assim a justiça pediria que o que ela tem de bom fosse levado em conta. É só pensar no trecho que citei do Gênesis.
Um outro ponto que deve ser lembrado é que coisas que certos grupos imputam a RCC como erros não o são, pelo menos de um ponto de vista teórico. Aqui, muitas vezes, se transforma um determinada vivência da fé como o único referencial (como se só um catolicismo eurocêntrico e oitocentista fosse legítimo).
O foco acima de tudo é a fidelidade à Verdade Revelada e ensinada pela Igreja.
Essa mesma Igreja tem filhos santos e pecadores. Querer que todos os cristãos sejam santos sempre é uma utopia que não tem nada haver com o Magistério de Cristo, mas com a necessidade de satisfação psicológica de alguns. Se alguns erraram, eles possuem até o último instante de vida para se corrigir. Nada demais. Pensar o contrário seria farisaísmo, o farisaísmo de quem não quer enfrentar a realidade e por isso fica buscando a “igreja dos homens imaculados”, princípio das divisões que vemos tanto entre cismáticos de rito oriental quanto entre protestantes.
Achar que as várias realidades eclesiais citadas (neo-conservadores, tradicionalistas, carismáticos e progressistas) remetem à confusão é uma análise superficial, pois a questão é tratar de divisões sobre pontos da Fé, mas de posições sociológicas. Um carismático- católico é católico, um tradicionalista-católico é católico e assim por diante. Nosso esforço é mostrar como tais divisões são aparentes no que se refere ao Depósito da Fé.
Supondo que os carismas sejam verdadeiros (pelo menos em alguns casos) o único caminho possível é a orientação, como fez São Paulo. Toda vez que as lideranças da Igreja tentaram impedir uma legítima manifestação extraordinária de Deus o resultado não foi nada bom (é só ver o quanto o Pe. Pio sofreu na mão dos burocratas). Excesso de zelo também é um problema.
E se muitos carismáticos caem pelo sentimentalismo, muitos tradicionalistas leitores de sites caem pelo estudo criticista da doutrina. Perigos existem em cada posicionamento.
Não é loucura uma manifestação verdadeira ocorrer no meio de outras falsas, pois as pessoas que são susceptíveis a influências psicológicas se não orientadas, certamente vão mimetizar alguma coisa. Isso não é inédito na história da Igreja, pois todo grande movimento místico, toda manifestação extraordinária de Deus, abriu espaço para ações semelhantes (não necessariamente culpáveis, visto o dado psicológico).
Quanto a questão da RCC levar a um misticismo fenomênico, isso é verdade apenas para os grupos ainda próximos do neo-pentecostalismo protestante. Muitos outros, em especial do que chamo vertente “monástica”, têm uma espiritualidade bem mais complexa (embora com uma abertura maior aos carismas que outros setores da Igreja, afinal esse é o diferencial deles).
Dois fatos que a RCC está conseguindo muito bem :
-Evitar o crescimento protestante.
-Despertar nas pessoas um amor maior pela sua Igreja!
Os pontos básicos são esses:
- O pentecostalismo teve origem no protestantismo.
- A RCC se inspirou nele.
- O pentecostalismo valoriza os carismas.
- Nenhum carisma existe fora da Igreja.
- Alguns carismas em seitas protestantes ou “ortodoxas” podem ser verdadeiros na medida em que seus membros estejam em ignorância e eles os ajudem a se voltar para o catolicismo (ou seja, na verdade são católicos)
- A Igreja já instrumentalizou coisas boas surgidas fora de seu âmbito.
Realmente a RCC prima pelas consolaççoes sensíveis, mas não se resume só a isso e tal intento pode ser bem direcionado. O milagre pode ocorrer numa seita se ele servir para a conversão das pessoas ou for o auxílio a um coração em ignorância e que procura a Verdade.
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Considerações do confrade Rafael Vitola Brodback:
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O “novo Pentecostes” é uma expressão dos Papas que quer enfatizar uma nova ação do Espírito Santo em nossa época, com o florescimento de carismas e espiritualidades. Todavia, ele NÃO se aplica SOMENTE à RCC. Os vários movimentos e realidades eclesiais surgidas nos últimos anos se inserem no “novo Pentecostes”. Tanto é assim que a celebração de Pentecostes, no Vaticano, é feita com representantes DE TODOS OS MOVIMENTOS NOVOS (Neocatecumenato, comunidades da RCC, Focolares, Regnum Christi, Sant'Egidio etc).
Sim, o Espírito Santo pode agir “mais fortemente” em determinadas épocas do que em outras. Assim, na Idade Média, agiu através de uma renovação feita a partir das ordens monásticas, depois mediante as ordens mendicantes. Em seguida a Trento, com a Contra-Reforma e suas várias manifestações: jesuítas, surgimento dos seminários para formação do clero, outras ordens e congregações (teatinos, barnabitas). Depois com a renovação da vida nas dioceses com as várias confrarias de leigos, e mesmo ordens missionárias e de apoio à reforma de costumes no clero. Também os vários avivamentos espirituais que se seguiram a algumas aparições de Nossa Senhora e à pregação de certos santos e suas congregações. Assim, esse “agir mais fortemente” não é algo novo na história da Igreja.
É bem verdade que, com os novos movimento e, PRINCIPALMENTE, MAS NÃO SÓ, através da RCC, esse “agir mais fortemente” em nossa época ganhou novos contornos e parece, sim, mais forte ainda. Isso é ortodoxo, mas não se deve, por isso achar que o Espírito Santo esteve ausente da Igreja ou não agiu, ou ainda agia "mais fracamente", ou que outros despertamentos não houve antes (que provado existirem no ponto 2).
Outro problema da RCC é, na maioria das vezes, tamanha a ênfase nos dons carismáticos, esquecerem dos infusos.
Mesmo porque ela é uma realidade e disso não se pode fugir. O que devemos e podemos fazer é aprender o correto e ensinar o correto, com amor àqueles que aderiram ao movimento e passaram a amar muito a Igreja e tudo que nela encerra.
A questão se resume em ensino, a começar pela liderança. Os membros pequenos e humildes aqui de baixo, só seguem a cartilha.
Criticismo não leva ninguém a lugar nenhum. O que devemos e podemos fazer é mostrar a bela doutrina que temos e aos poucos vão compreendendo. Aqui falo em ajudar pessoas em particular, já que ao próprio movimento a meu ver é impossível, o que não quer dizer que não possamos ver seus erros.
A RCC ideal, é uma RCC que leve a sério a busca da verdadeira doutrina, e que ponha em seu interior a Tradição da Igreja, ela muitas vezes foge do que a Igreja nos propõe. Existe nela um sentimentalismo exagerado e uma contaminação protestante que faz com os membros, mesmo sem notar, coloque a Bíblia como única fonte de fé e cada um pode, na maioria das vezes, interpreta-la a seu modo, sem levar em conta o Magistério da Igreja.
A busca exagerada dos dons é outro problema, pois não se leva em conta o estudo da mística católica na sua riqueza e seu conteúdo. Os grupos de orações no que tem de católico, é maravilhoso, pois os considero uma porta de entrada para aqueles que estavam longe da Igreja.
São acolhidos e amados, mas são ensinados sobre os dons desde o primeiro dia que chegam, daí que depois disso não há o alimento sólido baseado na doutrina genuinamente católica e a pessoa fica ali anos, fazendo encontros, que pela participação dos irmãos são maravilhosos, mas que são simples repetecos de todos os outros. Sempre os mesmos seminários de vida com os mesmos temas, não fazendo com aquele católico cresça. É certo que muitos saem e se tornam pessoas engajadas na Igreja o que é uma benção, mas é fato também que muitos se tornam protestantes.
As práticas carismáticas na luz da Tradição
. Esta é uma comunidade da RCC que é um exemplo, não vejo abusos, vejo modéstia e sacralidade. Pablo Valente de Maria ta realizando um bom trabalho e faço questão de divulgar. Está de fato evangelizando e levando a Igreja. Modéstia, uso do véu, santa escravidão. Isso sim, é a RCC à luz da Tradição.
Na realidade os termos usados estão confusos para expressar o que realmente acontece. Este é um erro muito comum na RCC que ao invés de se usar termos objetivos, começam a florear o que se diz fezendo-nos virar nosso cerebro para baixo para entendermos o óbvio.
Todo manual de ascetica nos ensina de forma fácil e reto, que seria depois do Batismo sacramento haveremos de crescer na graça em busca da perfeição que nos chama o Pai tal a semelhança de Seu Filho e isto se faz a cada dia, com renuncias, com mortificações e na busca dos sacramentos, do que seja santo, do que seja puro, nas orações em comum etc.
Mas ao invés de dizer assim, rebuscam a coisa de uma tal forma que os que não sabem como a Igreja nos ensina sobre a ação do Espírito acham que entende e sai repetindo sem ao menos compreender de fato sua ação e quem entende um pouco acha pouco produtivo e as vezes até uma perda de tempo e de objetividade este discurso todo.
De fato a plenitude só teremos no céu e para tanto é preciso intimidade com o Espírito Santo sempre, pedindo sua vinda e nos abrindo para recebe-lo. Esta é a efusão que pode e acontece em nós, mas não só nos membros da RCC e não só nos grupos, pode muito bem contecer com quem está em silencio rezando o santo terço. Deus é o doador, cabe a Ele faze-lo como quizer. A nós cabe aceita-lo, ama-lo e servi-lo, sem esperar nada. Buscar dons é um erro, devemos buscar sermos santos, sem o qual ninguem O verá.
Duas concepções de Igreja bem diferentes:
1- Concepção Liberal
Para esta a Deus fala imediatamente a cada homem , o espirito sopra diretamente na alma de cada fiel; assim sendo o papel da autoridade não é a de definir nada mas apenas a de conferir a confirmação ao sentir comum dos fiéis .A autoridade do magistério é aí apenas serva da unidade , pois para os liberais o sentir comum dos fieis é que é a regra próxima do magistério pois a assistencia do espírito teria sido dada primeiro a comunidade dos fiéis. O magistério ficaria assim reduzido ao papel de um moderador de um grupo de debate : tem um oficio dependente ordenado a unificar pareceres.
Assim muitos carismáticos acham que os dons não podem ser julgados pelo magistério.
2- Concepção tradicional
Para esta o magistério ensina com certeza , não coordena. A autoridade é mestra da verdade e não serva da unidade dos diferentes pontos de vista. O Espírito assiste a autoridade que é a regra da fé comum do sensus fidei. A autoridade aperfeiçoa a liberdade e portanto seu exercício deve ser elevado ao máximo.
Assim para um católico tradicional a renovação carismática se quer ser católica deve obedecer aos ditames da autoridade.
A única postura condizente com a fé católica é a segunda já que a primeira constitui numa heresia protestante presente nas correntes modernistas.
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.O VERDADEIRO DOM DAS LÍNGUAS
A Virgem Santíssima e o dom das línguas
Questão IV: Se a Virgem recebeu o dom de línguas, chamado por alguns “glossolalia”.
a) “Afirmativamente, porque recebeu este dom com os apóstolos no dia de Pentecostes, e, como disse Santo Alberto Magno: A Virgem estava com eles quando apareceram as línguas repartidas como de fogo, logo recebeu o dom das línguas com eles” (Mariale, q. CXVII);
b) Ademais, ainda que não tivesse de ir pregar o Evangelho as diversas nações e gentes, todavia, no principio da Igreja nascente se concedia com freqüência este dom aos fiéis, ainda a aqueles a quem não se havia conferido o ministério de pregar e propagar o Evangelho como consta (At, XIX, 6);
c) E assim convinha, porque acudindo Maria muitos fiéis de diversas nações, já por piedade filial, e que buscavam de instruções, devia conhecer seus idiomas para entendê-los e instruí-los plenamente nas coisas da fé.
d) Finalmente, Suarez julga provável que ainda antes de Pentecostes, Maria já tivesse usado desta graça, caso a necessidade ou a ocasião tivesse exigido, como quando Cristo foi adorado pelos magos, é de crer que Maria entendeu a sua linguagem, como é também crível que, quando foi ao Egito, entendia e falava a língua dos egípcios.
(In 3, disp. XX) – (ALASTRUEY, Gregório. Tratado de la Virgen Santíssima. Madrid: BAC, 1945, p. 350-351)
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.Padres da Igreja e o dom das línguas
No séculos II, Santo Irineu (c.115-200) se refere a uma fala extática não-idiomática, do tipo que os pentecostais praticam hoje. Descreve e condena as ações de um certo Marcos que “profetizava”, sob influência “demoníaca”. Marcos compartilhava o seu “dom” e outros também “profetizavam”. Seduzia mulheres e lhes prometia o carisma. Quando a recebiam, falavam algo sem sentido:
“Então ela, de maneira vã, imobilizada e exaltada por estas palavras e grandemente excitada... seu coração começa a bater violentamente, alcança o requisito, cai em audácia e futilidade, tanto quanto pronuncia algo sem sentido, assim como lhe ocorre”. (Contra Heresias I, XIII, 3)
Irineu também se refere ao dom de línguas dos apóstolos e da época em que vivia. Cita II Cor. 2:6, explicando que “os perfeitos” falam em “todos os tipos” as línguas:
“... nós também ouvimos muitos irmãos na Igreja,... e que através do Espírito, falam todos os tipos de línguas, e trazem à luz para o benefício geral as coisas escondidas dos homens, e declaram os mistérios de Deus...”. (Contra Heresias V,VI,1)
Ao informar que falam todos os tipos de língua, Irineu parece se referir a línguas que admitem classificação.
O curioso é que o movimento de herético de Montano (c.150-200) envolveu um êxtase religioso, com elocuções não-idiomáticas, semelhantes à pseudo-glossolalia pentecostal.
De acordo com descrições registradas por Eusébio (c.265-?), Montano entrou em uma espécie de delírio e balbuciava “coisas estranhas”. Ele “encheu” duas mulheres com o “falso espírito”, e elas falaram “extensa, irracional e estranhamente”:
“ficou fora de si e [começou] a estar repentinamente em uma sorte de frenesi e êxtase, ele delirava e começava a balbuciar e pronunciar coisas estranhas, profetizando de um modo contrário ao costume constante da igreja (...) E ele, excitado ao lado de duas mulheres, encheu-as com o falso espírito, tanto que elas falaram extensa, irracional e estranhamente, como a pessoa já mencionada.” (História da Igreja V,XVI:8,9 )
Depreende-se deste texto que o fenômeno lingüístico montanista envolvia:
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.(a) uma forte expressão emocional, deduzida das menções de “êxtase”, “frenesi” e delírio;
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.(b) o texto indica uma linguagem não-idiomática, de “balbucios”, e um falar “estranho”, “irracional”. Tomadas em conjunto, estas características assemelham-se à glossolalia pentecostal. A comparação torna-se tão evidente, ao ponto de o montanismo ser apelidado de “protótipo dos pentecostais”.
Sabe-se que a “glossolalia” montanista se tratava de uma reminiscência dos excessos frígios. Sob esta ótica, a glossolalia pentecostal perdeu o apoio da igreja do segundo século e se alinhou com uma religião não-cristã da mesma época.
Orígenes (c.195-254) em sua época, se opôs a um certo Celso, que clamava ser divino, e falava línguas incompreensíveis:
“A estas promessas, são acrescentadas palavras estranhas, fanáticas e completamente ininteligíveis, das quais nenhuma pessoa racional poderia encontrar o significado, porque elas são tão obscuras, que não têm um significado em seu todo.” (Contra Celso, VII:9)
Uma linguagem ininteligível soa “estranha”, “obscura” e “fanática” para Orígenes. Assim como para Irineu e mais tarde foi para Eusébio. Para Orígenes, as palavras “completamente ininteligíveis”, eram mais o subproduto de uma distorção religiosa.
Arquelau, bispo de Carcar no fim do segundo século comenta sobre o dom de línguas no Pentecostes. O contexto indica uma identificação como idiomas naturais. Para Arquelau, Mane era incapaz de conhecer a língua dos gregos porque não possuía o dom de línguas do Espírito, que o capacitaria a entendê-las:
“Ó seu bárbaro persa, você nunca foi capaz de conhecer a língua dos gregos, dos egípcios, ou dos romanos, ou de qualquer nação, (...). Pelo que diz a Escritura? Que cada homem ouvia os apóstolos falarem em sua própria língua através do Espírito, o Parácleto”. (Disputa com Mane, XXXVI)
Na Didaquê Siríaca comenta-se o evento do Pentecostes. Os discípulos estavam preocupados sobre como iriam pregar ao mundo, se eles não conheciam os idiomas. Então, receberam o dom de falar idiomas estrangeiros e foram para os países onde esses idiomas eram falados:
“de acordo com a língua que cada um deles tinha diferentemente recebido, para que a pessoa se preparasse para ir ao país no qual a língua era falada e ouvida”. (Didaquê Síriaca, seção introdutória).
No século IV, Cirilo de Alexandria (c.315-387), Doutor da Igreja em seus Sermões Catequéticos (sermão XVII: 16), interpreta o dom de línguas do Pentecostes como idiomas estrangeiros. Isto indica que, pelo começo do quarto século, a glossolalia apostólica também era tida como um idioma comum. Cita por nome alguns idiomas falados pelos apóstolos:
“O galileu Pedro ou André falavam persa ou medo. João e o resto dos apóstolos falavam todas as línguas para aquela porção de gentios (...) Mas o Santo Espírito os ensinou muitas línguas naquela ocasião, línguas que em toda a vida deles nunca conheceram” (Sermões Catequéticos (sermão XVII: 16)
Para Gregório Nazianzeno (c.330-390), Doutor da Igreja, o dom de línguas em Atos também se referia a idiomas estrangeiros:
“Eles falaram com línguas estranhas, e não aquelas de sua terra nativa; e a maravilha era grande, uma língua falada por aqueles que não as aprenderam”. Gregório ainda argumenta que o dom foi de falarem línguas estrangeiras e não dos ouvintes as entenderem. Segundo ele, se fosse assim, o milagre não seria dos que “falam” em línguas, mas “dos que ouvem”.” (Do Pentecostes, oração XLI:16)
Ambrósio (330-397), também Doutor da Igreja, embora não discuta a natureza do dom de línguas, ressalta que cada pessoa recebe dons espirituais diferentes. Para ele, “todos os dons divinos não podem existir em todos os homens, cada um recebe de acordo com a sua capacidade ao deseja ou merece” (Do Espírito Santo II, XVIII, 149)
Se Ambrósio também quer dizer com isto que o falar em línguas não se manifesta em todos os cristãos, a citação pode se confrontar e divergir completamente com a posição pentecostal de que todos devem ter “o” dom de línguas.
São João Crisóstomo (Doutor da Igreja) (347-406), é o primeiro a interpretar detidamente a glossolalia em I Coríntios. Em sua conhecida retórica de orador, questiona a ausência do dom de línguas: “Por que então eles aconteceram, e agora não mais?”
São João Crisóstomo detalha sua explicação. Ele vê o dom de línguas do N.T. como um fenômeno reverso ao da Torre de Babel. Os discípulos receberam o dom porque deveriam
“ir afora para todos os lugares (...) e o dom era chamado de dom de línguas porque ele poderia falar de uma vez diversas línguas”.
Comentando I Co. 14:10, aplica a passagem à diversidade de idiomas:
“i.e., muitas línguas, muitas vozes de citianos, tracianos, romanos, persas (...) inumeráveis outras nações.”
E sobre I Co. 14,14, São João Crisóstomo sublinha que aquele que fala em línguas não as entende, porque não conhece o idioma em que fala:
“Pois se um homem fala somente em persa ou outra língua estrangeira, e não entende o que ele diz, então é claro que ele será para si, dali em diante, um bárbaro (...) Pois existiam (...) muitos que tinham também o dom da oração, junto com a língua; e eles oravam e a língua falava, orando tanto em persa ou linguagem latina, mas o entendimento deles não sabia o que era falado”.98 (Homilias na Epístola de Paulo aos Coríntios, capítulo XXXV).
Para Agostinho (Doutor da Igreja) (354-430), o dom de línguas concedido aos apóstolos no Pentecostes se tratava da capacidade sobrenatural de falar línguas estrangeiras. Demonstra que, no período apostólico, o Espírito operava...
“sensíveis milagres... para serem credenciais da fé rudimentar” (Contra os Donatistas: Sobre o Batismo, III:16).
Agostinho reforça o dom de línguas como idiomas naturais. Eram línguas que os discípulos “não tinham aprendido”. E, na pregação posterior,
o... “evangelho corria através de todas as línguas”.100 (Epístola de São João, Homilia VI:10)
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“Nos primeiros tempos, o Espírito Santo descia sobre os fiéis e estes falavam em línguas, sem as ter aprendido conforme o Espírito lhes dava a falar. Foram sinais oportuno para esse tempo... o sinal dado passou depois” (Comentário da Primeira Carta de São João, Tratado IV, 10).
Algo a se notar nos Padres da Igreja é a completa ausência do dom de línguas do tipo pentecostal. Percebe-se que na Igreja do tempo dos Padres, o dom de línguas não esboçava qualquer centralidade, ou mesmo relevância como possui hoje em dia para a heresia pentecostal. Caso o dom de línguas como se difunde hoje, fosse fundamental na doutrina apostólica como evidência do batismo do Espírito Santo, teria certamente teria feito parte dos credos e da tradição dos Padres da Igreja.
Existem duas formas do dom de línguas :
Aquela que se manifestou em Pentecostes onde os apostólos falavam na sua propria língua e cada um entendia na sua.
Aquela que se manifestava em certas comunidades ,em que cristãos manifestavam línguas estranhas (não conhecidas pelos ouvintes , porém verdadeiras línguas com caráter idiomático). Nesse caso elas precisavam ser interpretadas.
O problema das línguas na RCC é que tal manifestação não é idiomática mas uma expressão de sons guturais (qualquer estudioso especialista em fala pode detectar isso) parecidos com aqueles emitidos por bebes em fase de aprendizagem.
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Continuação da Catequese sobre dons de línguas.
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.Logo, num prisma negativo, pseudo-glossolalia pentecostal considerados neste artigo não encontram suporte nos Pais da Igreja:
(1) A glossolalia não-idiomática :
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(a) não foi considerada como dom do Espírito;
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(b) foi rejeitada pela igreja da época;
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(c) revelou origens e feições não-cristãs. Tida como principal manifestação lingüística do pentecostalismo, a glossolalia não-idiomática encontra reprovação no conjunto dos Pais da Igreja.
Nos Pais da Igreja a glossolalia:
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(a) não é indicadora da plenitude do Espírito Santo;
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(b) não é indicadora indireta da própria salvação do crente; ou
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(c) não é um elemento distintivo dos verdadeiros crentes.
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Em relação à glossolalia como o dom, os Pais da Igreja têm o falar em línguas como:
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(a) não-obrigatório para o cristão;
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(b) o dom de línguas na patrística é apenas “um” entre outros.
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A doutrina do dom das línguas em Santo Tomás de Aquino.
Santo Tomás de Aquino, ao comentar o Capítulo XIV da primeira carta de São Paulo aos Coríntios, escreveu:
“Quanto ao dom de línguas, devemos saber que como na Igreja primitiva eram poucos os consagrados para pregar ao mundo a Fé em Cristo, a fim de que mais facilmente e a muitos se anunciasse a palavra de Deus, o Senhor lhes deu o dom de línguas” (S. Tomas de Aquino, Comentario a la primera espistola a los Conrintios, Tomo II, pag 178.)
Vê-se, portanto, que o dom de línguas foi dado aos primeiros cristãos para que anunciassem a religião verdadeira com mais facilidade. Os Coríntios, por sua vez, desvirtuaram o verdadeiro sentido do dom de línguas:
“Porém, os coríntios, que eram de indiscreta curiosidade, prefeririam esse dom ao dom de profecia. E aqui, por ‘falar em línguas’ o Apóstolo entende que em língua desconhecida e não explicada: como se alguém falasse em língua teutônica a um galês, sem explicá-la; esse tal fala em línguas. E também é falar em línguas o falar de visões tão somente, sem explicá-las, de modo que toda locução não entendia, não explicada, qualquer quer seja, é propriamente falar em língua” (S. Tomas de Aquino, Comentario a la primera espistola a los Conrintios, Tomo II, pg 178-179.).
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.Temos aqui uma consideração importante. Para São Tomás, o “falar em línguas” pode ser entendido de duas formas:.
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a) falar em uma língua desconhecida, mas existente, como no caso de Pentecostes, no qual pessoas de várias línguas compreendiam o que os apóstolos pregavam.
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b) a pregação ou oração sobre visões ou símbolos.
E o doutor angélico confirma isso mais adiante:
“suponhamos que eu vá até vós falando em línguas’ (I Co 14, 6). O qual pode entender-se de duas maneiras, isto é, ou em línguas desconhecidas, ou a letra com qualquer símbolos desconhecidos” (Santo Tomas de Aquino, Comentario a la primera espistola a los Conrintios, Tomo II, pg 183.)
Haja vista que a primeira forma de falar em línguas é suficientemente clara – ou seja, que é um milagre pelo qual uma pessoa, que tem por ofício pregar às almas, fala numa língua existente sem nunca a ter estudado – consideremos a segunda forma de manifestação desse dom, segundo São Tomás. Neste caso, falar em línguas é uma simples predicação numa linguagem pouco clara, como, por exemplo, falar sobre símbolos, visões, em parábolas, etc:
“(...) se se fala em línguas, ou seja, sobre visões, sonhos (...)” (Santo Tomas de Aquino, Comentario a la primera espistola a los Conrintios, Tomo II, pg 208.).
E ainda:
[lhes falarei] “ ‘Em línguas estranhas’, isto é, lhes falarei obscura e em forma de parábolas” (Santo Tomas de Aquino, Comentario a la primera espistola a los Conrintios, Tomo II, pg 200).
“(...) em línguas, isto é, por figuras e com lábios (...)” (Santo Tomas de Aquino, Comentario a la primera espistola a los Conrintios, Tomo II, pg 200.)
Para São Tomás, quem assim procede, isto é, usa de símbolos nas práticas espirituais, tem o mérito próprio da prática de um ato de piedade. Caso o indivíduo compreenda racionalmente o que diz, lucra, além do mérito, o fruto intelectual da ação.
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Aqui Santo Ambrósio fala do dom do Espírito já recebido no batismo e na Crisma. Tanto que ele diz “conserva o que recebeste. Deus Pai te marcou com o seu sinal, Cristo Senhor te confirmou e colocou em teu coração o penhor do Espírito.” fazendo referencia indireta ao batismo (que imprime um sinal , uma marca indelével) e a crisma que confirma e aperfeiçoa este dom recebido
Falar de efusão do espírito só faz sentido se significa uma atualização de um dom já dado e não no sentido de uma nova forma de derramamento do Espírito. Esse infelizmente é o sentido que muitos carismáticos dão ao termo. A oração para a efusão do Espírito Santo consiste na oração, cheia de fé e esperança, que uma comunidade cristã eleva a Jesus glorificado, para que derrame, de maneira nova e em maior abundância o Espírito Santo sobre a pessoa que ardentemente o pede e por quem os demais oram.
Essa oração, geralmente, é feita mediante a imposição de mãos, não se tratando de um gesto mágico, nem de um rito sacramental, mas um gesto sensível de amor fraterno, com o desejo ardente, submetido à vontade de Deus, de que Jesus derrame sobre aquele (a) por quem oramos o dom do Espírito Santo. Contudo, não são as pessoas reunidas ao redor de alguém que “batizam no Espírito Santo”, pois somente o Senhor Ressuscitado, que recebe do Pai o Dom do Espírito Santo, o derrama sobre os discípulos. Portanto, quem batiza no Espírito Santo é o Senhor Jesus."
Para a teologia católica todas as graças salvíficas (relacionadas diretamente a nossa salvação e a elevação do homem a vida da graça ) são veiculadas pelos sacramentos.
Afirmar que existe um modo de derramamento novo do espírito sem a mediação sacramental é herético.Pois esse modo novo seria um modo distinto de operação da graça na alma do fiel, modo não dado , não conferido pelos outros sacramentos. Não adianta dizer que não se trata de outro sacramento se se fala de um modo novo de derramamento.
Sendo assim restam duas possibilidades para a chamada efusão do Espírito ou Batismo do Espírito.
1- A efusão é uma novo dom do espírito (distinto do batismo que confere as tres virtudes teologais - fé , esperança e caridade- nos limpa do pecado original , nos torna templos do espírito santo e filho adotivos de Deus; e distinto da crisma que nos confere os sete dons) onde se receberiam os dons extraordinários (dom de línguas , de cura , de ciencia , etc.)
2- A efusão seria apenas a atualização dos dons recebidos , não uma nova forma de derramamento, mas um aprofundamento daquilo que já foi recebido.
O catecismo difere as graças habituais (que é a graça santificante que torna o homem capaz da vida de Deus ) e as graças atuais (que são intervenções especiais de Deus na vida do fiel no decorrer da obra de santificação) - estas não produzem a santificação mas apenas a desenvolvem e a asseguram.
Ainda há outra distinção a fazer: entre as graças sacramentais(dons próprios dos sacramentos ) e as graças especiais ( carismas extraordinários : dom dos milagres , das línguas , da profecia) ordenados a santificação da Igreja. Entre estas o Catecismo destaca as graças de estado que acompanham o exercício dos ministérios no seio da Igreja.
Ora a recepção dos carismas extraordinários não é um evento que possa ser chamado de "batismo no Espírito" como se antes houvera ocorrido apena o Batismo com água (distinção por sinal feita pela teologia neopentecostal evangelica). Fomos batizados no Espírito no dia de nosso Batismo sacramental. Podemos em certa ocasião da vida receber os dons extraordinários mas eles não são resultantes de um batismo já realizado mas de uma graça especial dada a quem já é batizado.
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.Visto que tal fenômeno é de ordem muito íntima, reservado à experiência pessoal dos místicos, não nos é possível avaliar a freqüência com que tenha ocorrido no passado.
Como vemos este fenomeno ocorre em experiencias místicas, e quase sempre vem acompanhado de muitas cruzes, basta vermos as biografias dos santos que experimentaram estes fenomenos. Que o dom de linguas existe, isto é fato, tanto na forma de falar em liguas, quanto na forma de jubilação. O que podemos questionar é - seguindo o exposto - se o que ocorre hoje, seria mesmo dom de linguas ou somente algo subjetivo, consequencia de ensinamentos ou de estimulos externos, aliados a ignorancia do mesmo.
Uma coisa é certa: ele entra no rol dos fenomenos extraordinarios, raros e transitorios e ao contrario do que dizem, não devem ser pedidos, já que depende da vontade de Deus concede-los ou não.
Temos um tesouro tão grande a desfrutar, que muitas vezes por causa de ensinamentos erroneos - e um deles passa pela pregação equivocada de que o Espírito Santo ficou inativo nas almas por um longo tempo, precisando por causa disto vir um movimento para o reacender e faze-lo agir novamente - que as pessoas deixam de buscar o que é verdadeiramente santo para suas vidas. Olham para este movimento como se fosse ele a salvação, quando ele seria um meio e um otimo meio se ensinasse corretamente as almas - para que estas se elevassem até Deus, que é o que realmente importa.
Cabe aos catolicos - seja de que movimento for - descobrir e entender o que nos pede o Senhor, para que todos possam viver esta vida fazendo o que lhe agrada, seguindo os caminhos que Ele mesmo nos traçou.
O Batismo no Espírito em comparação aos sacramentos da Igreja
Precisamos entender que o verdadeiro Batismo no Espírito Santo acontece no Sacramento do Batismo e na Confirmação onde se completa a graça batismal, nos enraizando mais profundamente na filiação divina. Além disso, o Crisma incorpora-nos mais solidamente em Cristo, torna-nos mais firme o laço que nos prende à Igreja, associa-nos mais à sua missão e ajuda-nos a dar testemunho da fé cristã pela palavra, acompanhada de obras (Cat 1316)
Para conseguir entender a diferenciação entre o Batismo Sacramento e o “Batismo no espírito” nos moldes da RCC, temos que primeiro compreender o que de fato acontece quando recebemos o Sacramento do Batismo.
Ao sermos batizados recebemos de Deus a graça santificante - esta que nos modifica de uma forma acidental, em nossa natureza e capacidade de ação, nos tornando semelhantes a Ele, capaz de atingi-lo pela visão beatífica, quando esta graça for transformada em glória e de o ver face a face, como Ele se vê a Si mesmo. Participamos, por ela, da natureza de Deus -, e nos tornamos capazes de crer e esperar n'Ele e O amar, pelas virtudes teologais; – estas que nos dão o poder de viver e agir sob a moção do Espírito Santo e pelos seus dons – nos permitindo crescer no bem, pelas virtudes morais.
Através do Batismo, nos tornamos filhos de Deus capazes de realizar atos sobrenaturais e deiformes, atos meritórios de vida eterna com os auxílios do próprio Senhor que agora habita em nós. Tudo isso por mérito de Cristo, que através de sua redenção veio em favor do homem caído e condenado, para refazer este homem desfigurado pela culpa o repondo em certo sentido, num estado melhor que o anterior à queda.
Reafirmando, esta vida sobrenatural que recebemos e que foi inserida em nossa alma pela graça habitual, exige, para operar e se desenvolver, faculdades de ordem sobrenatural que são as virtudes infusas e dons do Espírito Santo: « O homem justo, diz Leão XIII, que vive da graça e opera por meio das virtudes que nele desempenham as faculdades, necessita igualmente dos sete dons do Espírito Santo”.
As virtudes nos dão força e capacidade, são as asas com que devemos subir até Deus, deixando para trás nossa natureza e sob a direção da prudência, nos permitem operar sobrenaturalmente com o concurso da graça atual, que é um auxílio sobrenatural e transitório que Deus nos dá para nos iluminar e por em movimento, a inteligência e fortalecer a vontade na produção dos atos sobrenaturais.
E os dons trazem-nos as velas, que ele mesmo enche e faz avançar com poderoso vento (no dia de Pentecostes, manifestou-se ele desta forma). Ele próprio, como vento impetuoso que desce do céu e a ele sobe, deve sustentar nosso voo, e fazendo-nos subir como que apoiados em sua mão.
Precisamente, segundo a doutrina de S. Tomas, a estas velas ou aptidões, pelas quais pode nossa alma ser facilmente movida pelo Espírito Santo para as mais nobres atividades, chamamos os sete dons do Espírito Santo. (S. Theol. 1-11, q. 68) -, que nos tornam tão dóceis à ação do Espírito que, guiados por uma espécie de instinto divino, somos, por assim dizer, movidos e dirigidos por este divino Espírito. Sua finalidade consiste em fortalecer e firmar as sete virtudes principais e, ao mesmo tempo, afastar de nossa alma a serpente dos sete pecados capitais, dominando-a com uma força irresistível.
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. Mas é preciso dizer que estes dons - segundo Tanquerey -, que nos são conferidos com as virtudes e a graça habitual ou santificante, não se exercem de modo freqüente e intenso senão nas almas mortificadas, que, por longa prática das virtudes morais e teologais, adquirem essa maleabilidade sobrenatural que as torna completamente dóceis às inspirações do Espírito Santo.
A diferença essencial entre as virtudes e os dons vem, pois, pela maneira diferente de operar em nós. Mediante os atos das sete virtudes; realizados sob o impulso e o auxilio dos sete dons do Espírito Santo, adquirimos também as Bem - Aventuranças, prometidas pelo Senhor, no sermão da Montanha. Segundo a doutrina de S. Tomás, gozaremos “já parcialmente, nesta vida, destas bem-aventuranças, que o exercício cuidadoso dos dons do Espírito Santo e das virtudes sobrenaturais nos promete para a outra vida.” ( Veja que há um ordem, uma sequencia logica, e uma submissão total entre tudo que nos dá o Divino Espirito)
O exercício e o uso das virtudes sobrenaturais e dos dons do Espírito Santo, nos farão produzir frutos de verdadeiros filhos de Deus, nos assemelhando a Ele. Os frutos do Espírito são: caridade, alegria, paz, paciência, longanimidade, doçura, bondade, benevolência, fidelidade, modéstia, continência, castidade. Dentre eles, a caridade é a mãe e a fonte de todos os demais atos de virtudes, e é ela que nos comunica este celeste prazer e esta paz inefável, inspiração do Espírito Santo, o eterno amor.
Esta vida maravilhosa que recebemos tão gratuitamente de Deus, deve ser preservada, conservada, alimentada e se por ventura alguém pelo pecado mortal, perde a graça e os dons do Espírito Santo, deve se empenhar em conquista-los de novo, através do Sacramento da Penitencia, com suas devidas disposições. E mesmo que esteja em estado de graça não deve por obstáculo a obra do Espírito Santo, colaborando fiel e assiduamente com a graça.
O Espírito Santo, que é o autor de toda santificação, quer transfigurar cada vez mais a alma, por seus sete dons, e transforma-la em imagem de Deus; quer erguer sempre mais a construção do templo de Deus, por Ele começado, até conseguir tocar o próprio céu. Daí deduzimos a ingratidão, a perversidade e grosseira ignorância de reter, neste maravilhoso trabalho, a mão do divino artista, que só quer nosso bem, porque nos ama.
Portanto, a vida cristã se deve aperfeiçoar, que, de sua natureza, é essencialmente progressiva e não atingirá o seu termo senão no Céu. Devemos pois, unirmos a Deus, como disse, pela prática das virtudes cristãs e não podemos evidentemente aperfeiçoar-nos senão aproximando-nos d’Ele sem cessar. E, como não podemos fazer, sem nos unirmos a Jesus, que é o caminho necessário para irmos ao Pai, a nossa perfeição consistirá em viver para Deus em união com Jesus Cristo: «Vivere summe Deo in Christo Iesu» - (Vejam que não basta aceitar Jesus - é uma união, o Espirito nos leva a Cristo e nós, unidos a Cristo, buscamos o Espirito)
Praticar as virtudes é tudo que nos pede o Senhor para sermos santos como Ele é santo e sem o qual ninguém O verá. Praticando-as nos uniremos a Deus e podemos imitar Nosso Senhor Jesus Cristo nosso modelo. Mas para isso devemos ao mesmo tempo que exercitamos o amor de Deus, que é a plenitude da vida, renunciar ao amor desordenado de si mesmo ou à tríplice concupiscência, portanto, na prática, é necessário juntar o sacrifício ao amor.
Muito ajuda-nos na luta a santa devoção à santíssima Trindade, ao Verbo Encarnado e à Santíssima Virgem, aos Anjos e aos Santos, nossos amigos e modelos.
Nesta luta que devemos travar sempre, será contra a concupiscência da carne, dos olhos e soberba da vida, contra a mundo e contra o demônio. Nosso homem velho corrompido pelas concupiscências e o novo renascido em Cristo, entram fatalmente em conflito: a carne, ou o homem velho, deseja e procura o prazer, sem se lhe dar da sua moralidade; o espírito bem lhe recorda que há prazeres proibidos e perigosos que é mister sacrificar ao dever, isto é, à vontade de Deus; mas, como a carne persiste em seus desejos, a vontade ajudada pela graça, é obrigada a mortificá-la e, se necessário for, a crucificá-la.
Somos pois, um soldado, um atleta que combate por uma coroa imortal, até à morte. Esta luta é perpétua: porquanto, apesar dos nossos esforços, não podemos desembaraçar-nos jamais do homem velho; não podemos senão enfraquecê-lo, encadeá-lo, e fortificar ao mesmo tempo o homem novo contra os seus ataques.
Mas Deus que é rico em misericórdia, e sabedor de nossa fraqueza, nos deu através dos Sacramentos e de toda graça atual, forças para este combate e devemos saber que são exatamente para ele e não para o repouso que nos deu todos estes auxílios, pois enquanto estivermos aqui neste mundo somos lutadores, atletas, ascetas, e que devemos, como São Paulo, lutar até o fim, para merecer a nossa coroa: “Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. Não me resta mais que receber a coroa de justiça que me dará o Senhor” . É à graça de Deus que devemos a vitória.
É indubitável que Deus, que nos criou livres, respeita a nossa liberdade, e não nos santificará contra a nossa vontade; mas não cessa de nos exortar a que nos aproveitemos das graças que nos dá tão liberalmente, Pois, foi Ele mesmo que disse: “Exortamo-vos a que não recebais a graça de Deus em vão”. Para não recebe-la em vão convém clamarmos muito os auxílios de Deus e esta nova efusão, que terá sentido quando compreendida como um desenvolvimento dos dons do Espírito Santo e consequente crescimento da santidade.
Como disse, a vida da graça é para crescer e se desenvolver, mas pressupõe o estado de graça e a prática das virtudes morais. E é neste contexto que entra o pedir o Espírito Santo a muito recomendado pela Igreja, para que estejamos despertos na luta e para que Ele nos cumule com suas graças para obtermos a vitória sendo fieis até o fim. Este é o ensino católico e quem o segue não erra.
Pelas apostilas da EPA, que é a escola de formação da RCC, na parte onde trata da identidade do movimento, temos visto um grande equivoco quando ensina sobre este batismo. De fato e você analisou bem, se é utilizado para respaldar este “batismo” - (uso este termo apesar de ser errado, já que foi pedido para dizer efusão, mas a RCC o utiliza e você o utilizou, por isso abri esta exceção) -, os versículos - e até o catecismo -, que são utilizados para explicar o Sacramento do Batismo e do Crisma, além de condicionar a vinda e a plenitude do Espírito Santo neste dito batismo. Ora, vimos que a vinda e a plenitude ocorrem através dos Sacramentos, onde recebemos por sinais visíveis a graça invisível de Deus, e não somente através de uma oração pedindo esta nova efusão. E quem não passou por esta oração e não pertence a RCC, não tem os frutos e os dons do Espírito Santo?
Todos nós somos chamados a viver e sermos conduzidos pelo Espírito, e a efusão pode acontecer e muitas vezes acontece mesmo, na oração silenciosa. A alma em contato com Deus, aquela que busca a santidade, recebe do Espírito Santo muitas inspirações e auxílios para crescer cada dia mais. Não se pode dizer que só acontece na RCC e no momento da oração em que se pede a vinda do Espírito Santo, que Ele de fato tenha vindo. E não se pode dizer que mesmo na RCC se dá Sua vinda exatamente no momento da oração.
Sabemos que devemos pedi-lo sempre. “Se Ele é aquele que guia, santifica e que habita no Batizado, deve ser então “nosso” Mestre e nosso guia. – “É pela “intimidade”da Sua união com Ele que medem os seus progressos de santidade” - (La Divinisation du Chrétien – Pe. P. Ramiére, pag. 218)
E Santo Tomás nos ensina que é possível esta nova vinda do Espírito: “Que o Espírito Santo seja enviado ou venha de novo, não quer dizer que se tenha ido embora mas que surge na criatura um relacionamento novo com o Espírito: ou porque nunca estivera ali ou talvez porque começa a estar de maneira diferente que estivera antes.” (S. Th., I, q. 43, a. 1)" -, O que não podemos dizer que é a partir da oração de efusão como ocorre na RCC que acontece de fato esta vinda, assim como somente depois dela é que estaremos cheios para manifestar os carismas, que notoriamente nas apostilas, dizem que fora da RCC eles não passam para muitos católicos de mera teoria. Ora, muitas vezes estamos praticando os dons e os carismas sem ao menos nos darmos conta, já que é algo interior e é o Senhor quem nos conduz a praticá-los.
Veja, não é um acontecimento mágico. O que concluí do que acontece na RCC é que as pessoas por estarem em contato com os elementos católicos: oração, louvor, Palavra de Deus - e desejosas de recebe-Lo, recebem de Deus graças atuais para que acordem para a vida de santidade. Muitos se convertem ao Senhor, mas a partir daí devem necessariamente buscar crescer espiritualmente na maneira que o próprio Espírito ensinou à Igreja. Nada, mas nada é mágico e todos, - os que são da RCC e os que não são -, devem buscar a santidade para ver a Deus.
Um erro da apostila neste sentido está expresso quando dizem: “O dado novo que tem ocorrido na Renovação, em relação ao Batismo no Espírito Santo, é que no seu seio essa graça tem sido dinâmica e se renova continuamente, como acontecia na Igreja Primitiva. Assim, essa renovação constante do batismo, bem como o seu dinamismo, nos tem dado uma identidade ímpar, em se tratando de Igreja Católica; infelizmente única, pois o ideal é que todos os católicos, senão todas as pessoas, vivam essa graça.”
O que ela faz é condicionar esta efusão somente aos membros da RCC, como se os católicos em geral não renovassem os efeitos da graça do Batismo que receberam.
Apesar da apostila dizer que Sacramento do Batismo é uma coisa e o Batismo no Espírito ser outra coisa, se confundem quando na hora de explica-los: .
“Visto que o Batismo no Espírito Santo não é uma repetição do Batismo Sacramental, vejamos o que ele é: Para isso partiremos de uma idéia apresentada por Jesus no principal dia de uma das Festas dos Tabernáculos realizada em Jerusalém, quando Ele, de pé, proclamava: “Se alguém tiver sede, venha a mim e beba. Quem crê em mim, como diz a Escritura: Do seu interior manarão rios de água viva” (João 7,37-38). O Evangelista segue esclarecendo o significado destas palavras de Jesus, dizendo: “(Jesus) Dizia isso, referindo-se ao Espírito que haviam de receber os que cressem nele”(João 7,39).
Veja que Jesus falava aqui exatamente do que acontece naquele que recebe o Batismo Sacramento, - e não da efusão -, onde recebemos nossa filiação através da recepção da graça perdida pelo pecado. A partir daí temos o poder de Deus que age em nós e por nós, mesmo que muitos não tenham esta consciência. A RCC a meu ver, acende esta consciência da presença do Espírito Santo, mas a custa de ensinos equivocados.
A santidade deve ser buscada a todo custo e esta deve ser nossa meta – enquanto a RCC exortar neste sentido está correta, o que não se pode é ensinar que basta encontrar-se com Jesus e o Espírito Santo faz o resto ( palavras da apostila). Exortar a crescer na graça é um pedido da própria Igreja e do próprio Cristo e todos nós somos chamados a ela.
Quanto aos dons extraordinários, como dom de linguas, milagres, profecias, e os carismas que são "gratis datae", carismáticos, - conforme Tanquerey. -, em que o Senhor dá a quem Ele quer e na hora que Ele quer para que esta pessoa possa servir a sua Igreja, mas não são condicionados ao estado de graça., não devemos pedir por conta de sermos enganados por ditas experiências e que podemos muito bem julga-las erroneamente. Cabe a Igreja o discernimento dos dons que ocorrem em seu seio e não os próprios membros que analisam de são ou não são de Deus.
Veja o quer diz sobre isto a Lumen Gentium:
“Não se devem porém, pedir temerariamente, os dons extraordinários nem deles se devem esperar com presunção os frutos das obras apostólicas; e o juízo acerca da sua autenticidade e recto uso, pertence àqueles que presidem na Igreja e aos quais compete de modo especial não extinguir o Espírito mas julgar tudo e conservar o que é bom” (cfr. 1 Tess. 5, 12. 19-21).
São Vicente Ferrer, continuando o ensino de Santo Tomás e de São João da Cruz sobre o assunto, diz:
“Os que queiram viver na vontade de Deus não devem desejar obter [...] sentimentos sobrenaturais superiores ao estado ordinário daqueles que têm um temor e um amor a Deus sinceros. Tal desejo, de fato, só pode vir de um fundo de orgulho e de presunção de uma vã curiosidade em relação a Deus e de uma fé demasiada frágil. A graça de Deus abandona o homem que está preso a este desejo e o deixa à mercê de suas próprias ilusões e das tentações do diabo que o seduz com revelações e visões enganosas”.
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A RCC acertaria se dissesse que ela a partir do momento que se abriu a devoção ao Espírito Santo – aliás muito bem lembrado por nosso papa Leão XIII como o “divino desconhecido” - buscando a santidade e como conseqüência Deus quis derramar em profusão os dons e carismas, mesmo sabendo que para o exercício deles, há de se ter uma caminhada – isto para os dons -, mas ao invés disso condicionam esta avalanche de dons ao Batismo no Espírito, este até agora não comprovado que aconteça nos moldes e no momento em que a RCC diz que acontece.
Muitos tiveram suas vidas transformadas a partir do momento em que participaram da RCC e acredito mesmo nesta transformação, afinal, Deus além de todas as graças interiores que nos dá para nos santificarmos, nos dá outras que se chamam exteriores, - graças abundantes vividas nos grupos de orações e poderosas para nos ajudar a nos abrirmos ao Espírito Santo -, como nos ajuda a entender, Tanquerey e que cabe bem no que acontece: “e que, atuando diretamente sobre os sentidos e faculdades sensitivas, atingem indiretamente as nossas faculdades espirituais, tanto mais que muitas vezes são acompanhadas de verdadeiros auxílios interiores. Assim, a leitura dos Livros Santos ou duma obra cristã, a assistência a um sermão, a audição dum trecho de música religiosa, uma conversa boa são graças exteriores; é certo que, por si mesmas, não fortificam a vontade; mas produzem em nós impressões favoráveis, que movem a inteligência e a vontade e as inclinam para o bem sobrenatural. E por outro lado Deus acrescentar-Ihes-á muitas vezes moções interiores, que, iluminando a inteligência e fortificando a vontade, nos ajudarão poderosamente a nos convertermos ou tornarmos melhores. Enfim, Deus, que sabe que nós nos elevamos do sensível ao espiritual, adapta-se à nossa fraqueza, e serve-se das coisas visíveis, para nos levar à virtude.” (Cfr. Tanquerey)
O que acontece na RCC é devido à abertura e a presença de Deus que tanto quer santificar seus filhos, mas nada mágico. Pois exige luta e luta árdua!
FIM DA PRIMEIRA PARTE
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Referência do corpus textual fórum de debates Google+ Apologética Católica.
Todo manual de ascetica nos ensina de forma fácil e reto, que seria depois do Batismo sacramento haveremos de crescer na graça em busca da perfeição que nos chama o Pai tal a semelhança de Seu Filho e isto se faz a cada dia, com renuncias, com mortificações e na busca dos sacramentos, do que seja santo, do que seja puro, nas orações em comum etc.
Mas ao invés de dizer assim, rebuscam a coisa de uma tal forma que os que não sabem como a Igreja nos ensina sobre a ação do Espírito acham que entende e sai repetindo sem ao menos compreender de fato sua ação e quem entende um pouco acha pouco produtivo e as vezes até uma perda de tempo e de objetividade este discurso todo.
De fato a plenitude só teremos no céu e para tanto é preciso intimidade com o Espírito Santo sempre, pedindo sua vinda e nos abrindo para recebe-lo. Esta é a efusão que pode e acontece em nós, mas não só nos membros da RCC e não só nos grupos, pode muito bem contecer com quem está em silencio rezando o santo terço. Deus é o doador, cabe a Ele faze-lo como quizer. A nós cabe aceita-lo, ama-lo e servi-lo, sem esperar nada. Buscar dons é um erro, devemos buscar sermos santos, sem o qual ninguem O verá.
Duas concepções de Igreja bem diferentes:
1- Concepção Liberal
Para esta a Deus fala imediatamente a cada homem , o espirito sopra diretamente na alma de cada fiel; assim sendo o papel da autoridade não é a de definir nada mas apenas a de conferir a confirmação ao sentir comum dos fiéis .A autoridade do magistério é aí apenas serva da unidade , pois para os liberais o sentir comum dos fieis é que é a regra próxima do magistério pois a assistencia do espírito teria sido dada primeiro a comunidade dos fiéis. O magistério ficaria assim reduzido ao papel de um moderador de um grupo de debate : tem um oficio dependente ordenado a unificar pareceres.
Assim muitos carismáticos acham que os dons não podem ser julgados pelo magistério.
2- Concepção tradicional
Para esta o magistério ensina com certeza , não coordena. A autoridade é mestra da verdade e não serva da unidade dos diferentes pontos de vista. O Espírito assiste a autoridade que é a regra da fé comum do sensus fidei. A autoridade aperfeiçoa a liberdade e portanto seu exercício deve ser elevado ao máximo.
Assim para um católico tradicional a renovação carismática se quer ser católica deve obedecer aos ditames da autoridade.
A única postura condizente com a fé católica é a segunda já que a primeira constitui numa heresia protestante presente nas correntes modernistas.
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.O VERDADEIRO DOM DAS LÍNGUAS
A Virgem Santíssima e o dom das línguas
Questão IV: Se a Virgem recebeu o dom de línguas, chamado por alguns “glossolalia”.
a) “Afirmativamente, porque recebeu este dom com os apóstolos no dia de Pentecostes, e, como disse Santo Alberto Magno: A Virgem estava com eles quando apareceram as línguas repartidas como de fogo, logo recebeu o dom das línguas com eles” (Mariale, q. CXVII);
b) Ademais, ainda que não tivesse de ir pregar o Evangelho as diversas nações e gentes, todavia, no principio da Igreja nascente se concedia com freqüência este dom aos fiéis, ainda a aqueles a quem não se havia conferido o ministério de pregar e propagar o Evangelho como consta (At, XIX, 6);
c) E assim convinha, porque acudindo Maria muitos fiéis de diversas nações, já por piedade filial, e que buscavam de instruções, devia conhecer seus idiomas para entendê-los e instruí-los plenamente nas coisas da fé.
d) Finalmente, Suarez julga provável que ainda antes de Pentecostes, Maria já tivesse usado desta graça, caso a necessidade ou a ocasião tivesse exigido, como quando Cristo foi adorado pelos magos, é de crer que Maria entendeu a sua linguagem, como é também crível que, quando foi ao Egito, entendia e falava a língua dos egípcios.
(In 3, disp. XX) – (ALASTRUEY, Gregório. Tratado de la Virgen Santíssima. Madrid: BAC, 1945, p. 350-351)
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.Padres da Igreja e o dom das línguas
No séculos II, Santo Irineu (c.115-200) se refere a uma fala extática não-idiomática, do tipo que os pentecostais praticam hoje. Descreve e condena as ações de um certo Marcos que “profetizava”, sob influência “demoníaca”. Marcos compartilhava o seu “dom” e outros também “profetizavam”. Seduzia mulheres e lhes prometia o carisma. Quando a recebiam, falavam algo sem sentido:
“Então ela, de maneira vã, imobilizada e exaltada por estas palavras e grandemente excitada... seu coração começa a bater violentamente, alcança o requisito, cai em audácia e futilidade, tanto quanto pronuncia algo sem sentido, assim como lhe ocorre”. (Contra Heresias I, XIII, 3)
Irineu também se refere ao dom de línguas dos apóstolos e da época em que vivia. Cita II Cor. 2:6, explicando que “os perfeitos” falam em “todos os tipos” as línguas:
“... nós também ouvimos muitos irmãos na Igreja,... e que através do Espírito, falam todos os tipos de línguas, e trazem à luz para o benefício geral as coisas escondidas dos homens, e declaram os mistérios de Deus...”. (Contra Heresias V,VI,1)
Ao informar que falam todos os tipos de língua, Irineu parece se referir a línguas que admitem classificação.
O curioso é que o movimento de herético de Montano (c.150-200) envolveu um êxtase religioso, com elocuções não-idiomáticas, semelhantes à pseudo-glossolalia pentecostal.
De acordo com descrições registradas por Eusébio (c.265-?), Montano entrou em uma espécie de delírio e balbuciava “coisas estranhas”. Ele “encheu” duas mulheres com o “falso espírito”, e elas falaram “extensa, irracional e estranhamente”:
“ficou fora de si e [começou] a estar repentinamente em uma sorte de frenesi e êxtase, ele delirava e começava a balbuciar e pronunciar coisas estranhas, profetizando de um modo contrário ao costume constante da igreja (...) E ele, excitado ao lado de duas mulheres, encheu-as com o falso espírito, tanto que elas falaram extensa, irracional e estranhamente, como a pessoa já mencionada.” (História da Igreja V,XVI:8,9 )
Depreende-se deste texto que o fenômeno lingüístico montanista envolvia:
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.(a) uma forte expressão emocional, deduzida das menções de “êxtase”, “frenesi” e delírio;
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.(b) o texto indica uma linguagem não-idiomática, de “balbucios”, e um falar “estranho”, “irracional”. Tomadas em conjunto, estas características assemelham-se à glossolalia pentecostal. A comparação torna-se tão evidente, ao ponto de o montanismo ser apelidado de “protótipo dos pentecostais”.
Sabe-se que a “glossolalia” montanista se tratava de uma reminiscência dos excessos frígios. Sob esta ótica, a glossolalia pentecostal perdeu o apoio da igreja do segundo século e se alinhou com uma religião não-cristã da mesma época.
Orígenes (c.195-254) em sua época, se opôs a um certo Celso, que clamava ser divino, e falava línguas incompreensíveis:
“A estas promessas, são acrescentadas palavras estranhas, fanáticas e completamente ininteligíveis, das quais nenhuma pessoa racional poderia encontrar o significado, porque elas são tão obscuras, que não têm um significado em seu todo.” (Contra Celso, VII:9)
Uma linguagem ininteligível soa “estranha”, “obscura” e “fanática” para Orígenes. Assim como para Irineu e mais tarde foi para Eusébio. Para Orígenes, as palavras “completamente ininteligíveis”, eram mais o subproduto de uma distorção religiosa.
Arquelau, bispo de Carcar no fim do segundo século comenta sobre o dom de línguas no Pentecostes. O contexto indica uma identificação como idiomas naturais. Para Arquelau, Mane era incapaz de conhecer a língua dos gregos porque não possuía o dom de línguas do Espírito, que o capacitaria a entendê-las:
“Ó seu bárbaro persa, você nunca foi capaz de conhecer a língua dos gregos, dos egípcios, ou dos romanos, ou de qualquer nação, (...). Pelo que diz a Escritura? Que cada homem ouvia os apóstolos falarem em sua própria língua através do Espírito, o Parácleto”. (Disputa com Mane, XXXVI)
Na Didaquê Siríaca comenta-se o evento do Pentecostes. Os discípulos estavam preocupados sobre como iriam pregar ao mundo, se eles não conheciam os idiomas. Então, receberam o dom de falar idiomas estrangeiros e foram para os países onde esses idiomas eram falados:
“de acordo com a língua que cada um deles tinha diferentemente recebido, para que a pessoa se preparasse para ir ao país no qual a língua era falada e ouvida”. (Didaquê Síriaca, seção introdutória).
No século IV, Cirilo de Alexandria (c.315-387), Doutor da Igreja em seus Sermões Catequéticos (sermão XVII: 16), interpreta o dom de línguas do Pentecostes como idiomas estrangeiros. Isto indica que, pelo começo do quarto século, a glossolalia apostólica também era tida como um idioma comum. Cita por nome alguns idiomas falados pelos apóstolos:
“O galileu Pedro ou André falavam persa ou medo. João e o resto dos apóstolos falavam todas as línguas para aquela porção de gentios (...) Mas o Santo Espírito os ensinou muitas línguas naquela ocasião, línguas que em toda a vida deles nunca conheceram” (Sermões Catequéticos (sermão XVII: 16)
Para Gregório Nazianzeno (c.330-390), Doutor da Igreja, o dom de línguas em Atos também se referia a idiomas estrangeiros:
“Eles falaram com línguas estranhas, e não aquelas de sua terra nativa; e a maravilha era grande, uma língua falada por aqueles que não as aprenderam”. Gregório ainda argumenta que o dom foi de falarem línguas estrangeiras e não dos ouvintes as entenderem. Segundo ele, se fosse assim, o milagre não seria dos que “falam” em línguas, mas “dos que ouvem”.” (Do Pentecostes, oração XLI:16)
Ambrósio (330-397), também Doutor da Igreja, embora não discuta a natureza do dom de línguas, ressalta que cada pessoa recebe dons espirituais diferentes. Para ele, “todos os dons divinos não podem existir em todos os homens, cada um recebe de acordo com a sua capacidade ao deseja ou merece” (Do Espírito Santo II, XVIII, 149)
Se Ambrósio também quer dizer com isto que o falar em línguas não se manifesta em todos os cristãos, a citação pode se confrontar e divergir completamente com a posição pentecostal de que todos devem ter “o” dom de línguas.
São João Crisóstomo (Doutor da Igreja) (347-406), é o primeiro a interpretar detidamente a glossolalia em I Coríntios. Em sua conhecida retórica de orador, questiona a ausência do dom de línguas: “Por que então eles aconteceram, e agora não mais?”
São João Crisóstomo detalha sua explicação. Ele vê o dom de línguas do N.T. como um fenômeno reverso ao da Torre de Babel. Os discípulos receberam o dom porque deveriam
“ir afora para todos os lugares (...) e o dom era chamado de dom de línguas porque ele poderia falar de uma vez diversas línguas”.
Comentando I Co. 14:10, aplica a passagem à diversidade de idiomas:
“i.e., muitas línguas, muitas vozes de citianos, tracianos, romanos, persas (...) inumeráveis outras nações.”
E sobre I Co. 14,14, São João Crisóstomo sublinha que aquele que fala em línguas não as entende, porque não conhece o idioma em que fala:
“Pois se um homem fala somente em persa ou outra língua estrangeira, e não entende o que ele diz, então é claro que ele será para si, dali em diante, um bárbaro (...) Pois existiam (...) muitos que tinham também o dom da oração, junto com a língua; e eles oravam e a língua falava, orando tanto em persa ou linguagem latina, mas o entendimento deles não sabia o que era falado”.98 (Homilias na Epístola de Paulo aos Coríntios, capítulo XXXV).
Para Agostinho (Doutor da Igreja) (354-430), o dom de línguas concedido aos apóstolos no Pentecostes se tratava da capacidade sobrenatural de falar línguas estrangeiras. Demonstra que, no período apostólico, o Espírito operava...
“sensíveis milagres... para serem credenciais da fé rudimentar” (Contra os Donatistas: Sobre o Batismo, III:16).
Agostinho reforça o dom de línguas como idiomas naturais. Eram línguas que os discípulos “não tinham aprendido”. E, na pregação posterior,
o... “evangelho corria através de todas as línguas”.100 (Epístola de São João, Homilia VI:10)
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“Nos primeiros tempos, o Espírito Santo descia sobre os fiéis e estes falavam em línguas, sem as ter aprendido conforme o Espírito lhes dava a falar. Foram sinais oportuno para esse tempo... o sinal dado passou depois” (Comentário da Primeira Carta de São João, Tratado IV, 10).
Algo a se notar nos Padres da Igreja é a completa ausência do dom de línguas do tipo pentecostal. Percebe-se que na Igreja do tempo dos Padres, o dom de línguas não esboçava qualquer centralidade, ou mesmo relevância como possui hoje em dia para a heresia pentecostal. Caso o dom de línguas como se difunde hoje, fosse fundamental na doutrina apostólica como evidência do batismo do Espírito Santo, teria certamente teria feito parte dos credos e da tradição dos Padres da Igreja.
Existem duas formas do dom de línguas :
Aquela que se manifestou em Pentecostes onde os apostólos falavam na sua propria língua e cada um entendia na sua.
Aquela que se manifestava em certas comunidades ,em que cristãos manifestavam línguas estranhas (não conhecidas pelos ouvintes , porém verdadeiras línguas com caráter idiomático). Nesse caso elas precisavam ser interpretadas.
O problema das línguas na RCC é que tal manifestação não é idiomática mas uma expressão de sons guturais (qualquer estudioso especialista em fala pode detectar isso) parecidos com aqueles emitidos por bebes em fase de aprendizagem.
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Continuação da Catequese sobre dons de línguas.
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.Logo, num prisma negativo, pseudo-glossolalia pentecostal considerados neste artigo não encontram suporte nos Pais da Igreja:
(1) A glossolalia não-idiomática :
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(a) não foi considerada como dom do Espírito;
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(b) foi rejeitada pela igreja da época;
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(c) revelou origens e feições não-cristãs. Tida como principal manifestação lingüística do pentecostalismo, a glossolalia não-idiomática encontra reprovação no conjunto dos Pais da Igreja.
Nos Pais da Igreja a glossolalia:
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(a) não é indicadora da plenitude do Espírito Santo;
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(b) não é indicadora indireta da própria salvação do crente; ou
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(c) não é um elemento distintivo dos verdadeiros crentes.
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Em relação à glossolalia como o dom, os Pais da Igreja têm o falar em línguas como:
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(a) não-obrigatório para o cristão;
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(b) o dom de línguas na patrística é apenas “um” entre outros.
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A doutrina do dom das línguas em Santo Tomás de Aquino.
Santo Tomás de Aquino, ao comentar o Capítulo XIV da primeira carta de São Paulo aos Coríntios, escreveu:
“Quanto ao dom de línguas, devemos saber que como na Igreja primitiva eram poucos os consagrados para pregar ao mundo a Fé em Cristo, a fim de que mais facilmente e a muitos se anunciasse a palavra de Deus, o Senhor lhes deu o dom de línguas” (S. Tomas de Aquino, Comentario a la primera espistola a los Conrintios, Tomo II, pag 178.)
Vê-se, portanto, que o dom de línguas foi dado aos primeiros cristãos para que anunciassem a religião verdadeira com mais facilidade. Os Coríntios, por sua vez, desvirtuaram o verdadeiro sentido do dom de línguas:
“Porém, os coríntios, que eram de indiscreta curiosidade, prefeririam esse dom ao dom de profecia. E aqui, por ‘falar em línguas’ o Apóstolo entende que em língua desconhecida e não explicada: como se alguém falasse em língua teutônica a um galês, sem explicá-la; esse tal fala em línguas. E também é falar em línguas o falar de visões tão somente, sem explicá-las, de modo que toda locução não entendia, não explicada, qualquer quer seja, é propriamente falar em língua” (S. Tomas de Aquino, Comentario a la primera espistola a los Conrintios, Tomo II, pg 178-179.).
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.Temos aqui uma consideração importante. Para São Tomás, o “falar em línguas” pode ser entendido de duas formas:.
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a) falar em uma língua desconhecida, mas existente, como no caso de Pentecostes, no qual pessoas de várias línguas compreendiam o que os apóstolos pregavam.
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b) a pregação ou oração sobre visões ou símbolos.
E o doutor angélico confirma isso mais adiante:
“suponhamos que eu vá até vós falando em línguas’ (I Co 14, 6). O qual pode entender-se de duas maneiras, isto é, ou em línguas desconhecidas, ou a letra com qualquer símbolos desconhecidos” (Santo Tomas de Aquino, Comentario a la primera espistola a los Conrintios, Tomo II, pg 183.)
Haja vista que a primeira forma de falar em línguas é suficientemente clara – ou seja, que é um milagre pelo qual uma pessoa, que tem por ofício pregar às almas, fala numa língua existente sem nunca a ter estudado – consideremos a segunda forma de manifestação desse dom, segundo São Tomás. Neste caso, falar em línguas é uma simples predicação numa linguagem pouco clara, como, por exemplo, falar sobre símbolos, visões, em parábolas, etc:
“(...) se se fala em línguas, ou seja, sobre visões, sonhos (...)” (Santo Tomas de Aquino, Comentario a la primera espistola a los Conrintios, Tomo II, pg 208.).
E ainda:
[lhes falarei] “ ‘Em línguas estranhas’, isto é, lhes falarei obscura e em forma de parábolas” (Santo Tomas de Aquino, Comentario a la primera espistola a los Conrintios, Tomo II, pg 200).
“(...) em línguas, isto é, por figuras e com lábios (...)” (Santo Tomas de Aquino, Comentario a la primera espistola a los Conrintios, Tomo II, pg 200.)
Para São Tomás, quem assim procede, isto é, usa de símbolos nas práticas espirituais, tem o mérito próprio da prática de um ato de piedade. Caso o indivíduo compreenda racionalmente o que diz, lucra, além do mérito, o fruto intelectual da ação.
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Santo Ambrósio, conforme CIC, 1.303, diz: “Lembra-te, por-tanto, de que recebeste o sinal espiritual, o Espírito de sabedoria e de inteligência, o Espírito de conselho e força, o Espírito de co-nhecimento e de piedade, o Espírito do santo temor, e conserva o que recebeste. Deus Pai te marcou com o seu sinal, Cristo Senhor te confirmou e colocou em teu coração o penhor do Espírito.”Aqui Santo Ambrósio fala do dom do Espírito já recebido no batismo e na Crisma. Tanto que ele diz “conserva o que recebeste. Deus Pai te marcou com o seu sinal, Cristo Senhor te confirmou e colocou em teu coração o penhor do Espírito.” fazendo referencia indireta ao batismo (que imprime um sinal , uma marca indelével) e a crisma que confirma e aperfeiçoa este dom recebido
Falar de efusão do espírito só faz sentido se significa uma atualização de um dom já dado e não no sentido de uma nova forma de derramamento do Espírito. Esse infelizmente é o sentido que muitos carismáticos dão ao termo. A oração para a efusão do Espírito Santo consiste na oração, cheia de fé e esperança, que uma comunidade cristã eleva a Jesus glorificado, para que derrame, de maneira nova e em maior abundância o Espírito Santo sobre a pessoa que ardentemente o pede e por quem os demais oram.
Essa oração, geralmente, é feita mediante a imposição de mãos, não se tratando de um gesto mágico, nem de um rito sacramental, mas um gesto sensível de amor fraterno, com o desejo ardente, submetido à vontade de Deus, de que Jesus derrame sobre aquele (a) por quem oramos o dom do Espírito Santo. Contudo, não são as pessoas reunidas ao redor de alguém que “batizam no Espírito Santo”, pois somente o Senhor Ressuscitado, que recebe do Pai o Dom do Espírito Santo, o derrama sobre os discípulos. Portanto, quem batiza no Espírito Santo é o Senhor Jesus."
Para a teologia católica todas as graças salvíficas (relacionadas diretamente a nossa salvação e a elevação do homem a vida da graça ) são veiculadas pelos sacramentos.
Afirmar que existe um modo de derramamento novo do espírito sem a mediação sacramental é herético.Pois esse modo novo seria um modo distinto de operação da graça na alma do fiel, modo não dado , não conferido pelos outros sacramentos. Não adianta dizer que não se trata de outro sacramento se se fala de um modo novo de derramamento.
Sendo assim restam duas possibilidades para a chamada efusão do Espírito ou Batismo do Espírito.
1- A efusão é uma novo dom do espírito (distinto do batismo que confere as tres virtudes teologais - fé , esperança e caridade- nos limpa do pecado original , nos torna templos do espírito santo e filho adotivos de Deus; e distinto da crisma que nos confere os sete dons) onde se receberiam os dons extraordinários (dom de línguas , de cura , de ciencia , etc.)
2- A efusão seria apenas a atualização dos dons recebidos , não uma nova forma de derramamento, mas um aprofundamento daquilo que já foi recebido.
O catecismo difere as graças habituais (que é a graça santificante que torna o homem capaz da vida de Deus ) e as graças atuais (que são intervenções especiais de Deus na vida do fiel no decorrer da obra de santificação) - estas não produzem a santificação mas apenas a desenvolvem e a asseguram.
Ainda há outra distinção a fazer: entre as graças sacramentais(dons próprios dos sacramentos ) e as graças especiais ( carismas extraordinários : dom dos milagres , das línguas , da profecia) ordenados a santificação da Igreja. Entre estas o Catecismo destaca as graças de estado que acompanham o exercício dos ministérios no seio da Igreja.
Ora a recepção dos carismas extraordinários não é um evento que possa ser chamado de "batismo no Espírito" como se antes houvera ocorrido apena o Batismo com água (distinção por sinal feita pela teologia neopentecostal evangelica). Fomos batizados no Espírito no dia de nosso Batismo sacramental. Podemos em certa ocasião da vida receber os dons extraordinários mas eles não são resultantes de um batismo já realizado mas de uma graça especial dada a quem já é batizado.
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.Visto que tal fenômeno é de ordem muito íntima, reservado à experiência pessoal dos místicos, não nos é possível avaliar a freqüência com que tenha ocorrido no passado.
Como vemos este fenomeno ocorre em experiencias místicas, e quase sempre vem acompanhado de muitas cruzes, basta vermos as biografias dos santos que experimentaram estes fenomenos. Que o dom de linguas existe, isto é fato, tanto na forma de falar em liguas, quanto na forma de jubilação. O que podemos questionar é - seguindo o exposto - se o que ocorre hoje, seria mesmo dom de linguas ou somente algo subjetivo, consequencia de ensinamentos ou de estimulos externos, aliados a ignorancia do mesmo.
Uma coisa é certa: ele entra no rol dos fenomenos extraordinarios, raros e transitorios e ao contrario do que dizem, não devem ser pedidos, já que depende da vontade de Deus concede-los ou não.
Temos um tesouro tão grande a desfrutar, que muitas vezes por causa de ensinamentos erroneos - e um deles passa pela pregação equivocada de que o Espírito Santo ficou inativo nas almas por um longo tempo, precisando por causa disto vir um movimento para o reacender e faze-lo agir novamente - que as pessoas deixam de buscar o que é verdadeiramente santo para suas vidas. Olham para este movimento como se fosse ele a salvação, quando ele seria um meio e um otimo meio se ensinasse corretamente as almas - para que estas se elevassem até Deus, que é o que realmente importa.
Cabe aos catolicos - seja de que movimento for - descobrir e entender o que nos pede o Senhor, para que todos possam viver esta vida fazendo o que lhe agrada, seguindo os caminhos que Ele mesmo nos traçou.
O Batismo no Espírito em comparação aos sacramentos da Igreja
Precisamos entender que o verdadeiro Batismo no Espírito Santo acontece no Sacramento do Batismo e na Confirmação onde se completa a graça batismal, nos enraizando mais profundamente na filiação divina. Além disso, o Crisma incorpora-nos mais solidamente em Cristo, torna-nos mais firme o laço que nos prende à Igreja, associa-nos mais à sua missão e ajuda-nos a dar testemunho da fé cristã pela palavra, acompanhada de obras (Cat 1316)
Para conseguir entender a diferenciação entre o Batismo Sacramento e o “Batismo no espírito” nos moldes da RCC, temos que primeiro compreender o que de fato acontece quando recebemos o Sacramento do Batismo.
Ao sermos batizados recebemos de Deus a graça santificante - esta que nos modifica de uma forma acidental, em nossa natureza e capacidade de ação, nos tornando semelhantes a Ele, capaz de atingi-lo pela visão beatífica, quando esta graça for transformada em glória e de o ver face a face, como Ele se vê a Si mesmo. Participamos, por ela, da natureza de Deus -, e nos tornamos capazes de crer e esperar n'Ele e O amar, pelas virtudes teologais; – estas que nos dão o poder de viver e agir sob a moção do Espírito Santo e pelos seus dons – nos permitindo crescer no bem, pelas virtudes morais.
Através do Batismo, nos tornamos filhos de Deus capazes de realizar atos sobrenaturais e deiformes, atos meritórios de vida eterna com os auxílios do próprio Senhor que agora habita em nós. Tudo isso por mérito de Cristo, que através de sua redenção veio em favor do homem caído e condenado, para refazer este homem desfigurado pela culpa o repondo em certo sentido, num estado melhor que o anterior à queda.
Reafirmando, esta vida sobrenatural que recebemos e que foi inserida em nossa alma pela graça habitual, exige, para operar e se desenvolver, faculdades de ordem sobrenatural que são as virtudes infusas e dons do Espírito Santo: « O homem justo, diz Leão XIII, que vive da graça e opera por meio das virtudes que nele desempenham as faculdades, necessita igualmente dos sete dons do Espírito Santo”.
As virtudes nos dão força e capacidade, são as asas com que devemos subir até Deus, deixando para trás nossa natureza e sob a direção da prudência, nos permitem operar sobrenaturalmente com o concurso da graça atual, que é um auxílio sobrenatural e transitório que Deus nos dá para nos iluminar e por em movimento, a inteligência e fortalecer a vontade na produção dos atos sobrenaturais.
E os dons trazem-nos as velas, que ele mesmo enche e faz avançar com poderoso vento (no dia de Pentecostes, manifestou-se ele desta forma). Ele próprio, como vento impetuoso que desce do céu e a ele sobe, deve sustentar nosso voo, e fazendo-nos subir como que apoiados em sua mão.
Precisamente, segundo a doutrina de S. Tomas, a estas velas ou aptidões, pelas quais pode nossa alma ser facilmente movida pelo Espírito Santo para as mais nobres atividades, chamamos os sete dons do Espírito Santo. (S. Theol. 1-11, q. 68) -, que nos tornam tão dóceis à ação do Espírito que, guiados por uma espécie de instinto divino, somos, por assim dizer, movidos e dirigidos por este divino Espírito. Sua finalidade consiste em fortalecer e firmar as sete virtudes principais e, ao mesmo tempo, afastar de nossa alma a serpente dos sete pecados capitais, dominando-a com uma força irresistível.
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. Mas é preciso dizer que estes dons - segundo Tanquerey -, que nos são conferidos com as virtudes e a graça habitual ou santificante, não se exercem de modo freqüente e intenso senão nas almas mortificadas, que, por longa prática das virtudes morais e teologais, adquirem essa maleabilidade sobrenatural que as torna completamente dóceis às inspirações do Espírito Santo.
A diferença essencial entre as virtudes e os dons vem, pois, pela maneira diferente de operar em nós. Mediante os atos das sete virtudes; realizados sob o impulso e o auxilio dos sete dons do Espírito Santo, adquirimos também as Bem - Aventuranças, prometidas pelo Senhor, no sermão da Montanha. Segundo a doutrina de S. Tomás, gozaremos “já parcialmente, nesta vida, destas bem-aventuranças, que o exercício cuidadoso dos dons do Espírito Santo e das virtudes sobrenaturais nos promete para a outra vida.” ( Veja que há um ordem, uma sequencia logica, e uma submissão total entre tudo que nos dá o Divino Espirito)
O exercício e o uso das virtudes sobrenaturais e dos dons do Espírito Santo, nos farão produzir frutos de verdadeiros filhos de Deus, nos assemelhando a Ele. Os frutos do Espírito são: caridade, alegria, paz, paciência, longanimidade, doçura, bondade, benevolência, fidelidade, modéstia, continência, castidade. Dentre eles, a caridade é a mãe e a fonte de todos os demais atos de virtudes, e é ela que nos comunica este celeste prazer e esta paz inefável, inspiração do Espírito Santo, o eterno amor.
Esta vida maravilhosa que recebemos tão gratuitamente de Deus, deve ser preservada, conservada, alimentada e se por ventura alguém pelo pecado mortal, perde a graça e os dons do Espírito Santo, deve se empenhar em conquista-los de novo, através do Sacramento da Penitencia, com suas devidas disposições. E mesmo que esteja em estado de graça não deve por obstáculo a obra do Espírito Santo, colaborando fiel e assiduamente com a graça.
O Espírito Santo, que é o autor de toda santificação, quer transfigurar cada vez mais a alma, por seus sete dons, e transforma-la em imagem de Deus; quer erguer sempre mais a construção do templo de Deus, por Ele começado, até conseguir tocar o próprio céu. Daí deduzimos a ingratidão, a perversidade e grosseira ignorância de reter, neste maravilhoso trabalho, a mão do divino artista, que só quer nosso bem, porque nos ama.
Portanto, a vida cristã se deve aperfeiçoar, que, de sua natureza, é essencialmente progressiva e não atingirá o seu termo senão no Céu. Devemos pois, unirmos a Deus, como disse, pela prática das virtudes cristãs e não podemos evidentemente aperfeiçoar-nos senão aproximando-nos d’Ele sem cessar. E, como não podemos fazer, sem nos unirmos a Jesus, que é o caminho necessário para irmos ao Pai, a nossa perfeição consistirá em viver para Deus em união com Jesus Cristo: «Vivere summe Deo in Christo Iesu» - (Vejam que não basta aceitar Jesus - é uma união, o Espirito nos leva a Cristo e nós, unidos a Cristo, buscamos o Espirito)
Praticar as virtudes é tudo que nos pede o Senhor para sermos santos como Ele é santo e sem o qual ninguém O verá. Praticando-as nos uniremos a Deus e podemos imitar Nosso Senhor Jesus Cristo nosso modelo. Mas para isso devemos ao mesmo tempo que exercitamos o amor de Deus, que é a plenitude da vida, renunciar ao amor desordenado de si mesmo ou à tríplice concupiscência, portanto, na prática, é necessário juntar o sacrifício ao amor.
Muito ajuda-nos na luta a santa devoção à santíssima Trindade, ao Verbo Encarnado e à Santíssima Virgem, aos Anjos e aos Santos, nossos amigos e modelos.
Nesta luta que devemos travar sempre, será contra a concupiscência da carne, dos olhos e soberba da vida, contra a mundo e contra o demônio. Nosso homem velho corrompido pelas concupiscências e o novo renascido em Cristo, entram fatalmente em conflito: a carne, ou o homem velho, deseja e procura o prazer, sem se lhe dar da sua moralidade; o espírito bem lhe recorda que há prazeres proibidos e perigosos que é mister sacrificar ao dever, isto é, à vontade de Deus; mas, como a carne persiste em seus desejos, a vontade ajudada pela graça, é obrigada a mortificá-la e, se necessário for, a crucificá-la.
Somos pois, um soldado, um atleta que combate por uma coroa imortal, até à morte. Esta luta é perpétua: porquanto, apesar dos nossos esforços, não podemos desembaraçar-nos jamais do homem velho; não podemos senão enfraquecê-lo, encadeá-lo, e fortificar ao mesmo tempo o homem novo contra os seus ataques.
Mas Deus que é rico em misericórdia, e sabedor de nossa fraqueza, nos deu através dos Sacramentos e de toda graça atual, forças para este combate e devemos saber que são exatamente para ele e não para o repouso que nos deu todos estes auxílios, pois enquanto estivermos aqui neste mundo somos lutadores, atletas, ascetas, e que devemos, como São Paulo, lutar até o fim, para merecer a nossa coroa: “Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. Não me resta mais que receber a coroa de justiça que me dará o Senhor” . É à graça de Deus que devemos a vitória.
É indubitável que Deus, que nos criou livres, respeita a nossa liberdade, e não nos santificará contra a nossa vontade; mas não cessa de nos exortar a que nos aproveitemos das graças que nos dá tão liberalmente, Pois, foi Ele mesmo que disse: “Exortamo-vos a que não recebais a graça de Deus em vão”. Para não recebe-la em vão convém clamarmos muito os auxílios de Deus e esta nova efusão, que terá sentido quando compreendida como um desenvolvimento dos dons do Espírito Santo e consequente crescimento da santidade.
Como disse, a vida da graça é para crescer e se desenvolver, mas pressupõe o estado de graça e a prática das virtudes morais. E é neste contexto que entra o pedir o Espírito Santo a muito recomendado pela Igreja, para que estejamos despertos na luta e para que Ele nos cumule com suas graças para obtermos a vitória sendo fieis até o fim. Este é o ensino católico e quem o segue não erra.
Pelas apostilas da EPA, que é a escola de formação da RCC, na parte onde trata da identidade do movimento, temos visto um grande equivoco quando ensina sobre este batismo. De fato e você analisou bem, se é utilizado para respaldar este “batismo” - (uso este termo apesar de ser errado, já que foi pedido para dizer efusão, mas a RCC o utiliza e você o utilizou, por isso abri esta exceção) -, os versículos - e até o catecismo -, que são utilizados para explicar o Sacramento do Batismo e do Crisma, além de condicionar a vinda e a plenitude do Espírito Santo neste dito batismo. Ora, vimos que a vinda e a plenitude ocorrem através dos Sacramentos, onde recebemos por sinais visíveis a graça invisível de Deus, e não somente através de uma oração pedindo esta nova efusão. E quem não passou por esta oração e não pertence a RCC, não tem os frutos e os dons do Espírito Santo?
Todos nós somos chamados a viver e sermos conduzidos pelo Espírito, e a efusão pode acontecer e muitas vezes acontece mesmo, na oração silenciosa. A alma em contato com Deus, aquela que busca a santidade, recebe do Espírito Santo muitas inspirações e auxílios para crescer cada dia mais. Não se pode dizer que só acontece na RCC e no momento da oração em que se pede a vinda do Espírito Santo, que Ele de fato tenha vindo. E não se pode dizer que mesmo na RCC se dá Sua vinda exatamente no momento da oração.
Sabemos que devemos pedi-lo sempre. “Se Ele é aquele que guia, santifica e que habita no Batizado, deve ser então “nosso” Mestre e nosso guia. – “É pela “intimidade”da Sua união com Ele que medem os seus progressos de santidade” - (La Divinisation du Chrétien – Pe. P. Ramiére, pag. 218)
E Santo Tomás nos ensina que é possível esta nova vinda do Espírito: “Que o Espírito Santo seja enviado ou venha de novo, não quer dizer que se tenha ido embora mas que surge na criatura um relacionamento novo com o Espírito: ou porque nunca estivera ali ou talvez porque começa a estar de maneira diferente que estivera antes.” (S. Th., I, q. 43, a. 1)" -, O que não podemos dizer que é a partir da oração de efusão como ocorre na RCC que acontece de fato esta vinda, assim como somente depois dela é que estaremos cheios para manifestar os carismas, que notoriamente nas apostilas, dizem que fora da RCC eles não passam para muitos católicos de mera teoria. Ora, muitas vezes estamos praticando os dons e os carismas sem ao menos nos darmos conta, já que é algo interior e é o Senhor quem nos conduz a praticá-los.
Veja, não é um acontecimento mágico. O que concluí do que acontece na RCC é que as pessoas por estarem em contato com os elementos católicos: oração, louvor, Palavra de Deus - e desejosas de recebe-Lo, recebem de Deus graças atuais para que acordem para a vida de santidade. Muitos se convertem ao Senhor, mas a partir daí devem necessariamente buscar crescer espiritualmente na maneira que o próprio Espírito ensinou à Igreja. Nada, mas nada é mágico e todos, - os que são da RCC e os que não são -, devem buscar a santidade para ver a Deus.
Um erro da apostila neste sentido está expresso quando dizem: “O dado novo que tem ocorrido na Renovação, em relação ao Batismo no Espírito Santo, é que no seu seio essa graça tem sido dinâmica e se renova continuamente, como acontecia na Igreja Primitiva. Assim, essa renovação constante do batismo, bem como o seu dinamismo, nos tem dado uma identidade ímpar, em se tratando de Igreja Católica; infelizmente única, pois o ideal é que todos os católicos, senão todas as pessoas, vivam essa graça.”
O que ela faz é condicionar esta efusão somente aos membros da RCC, como se os católicos em geral não renovassem os efeitos da graça do Batismo que receberam.
Apesar da apostila dizer que Sacramento do Batismo é uma coisa e o Batismo no Espírito ser outra coisa, se confundem quando na hora de explica-los: .
“Visto que o Batismo no Espírito Santo não é uma repetição do Batismo Sacramental, vejamos o que ele é: Para isso partiremos de uma idéia apresentada por Jesus no principal dia de uma das Festas dos Tabernáculos realizada em Jerusalém, quando Ele, de pé, proclamava: “Se alguém tiver sede, venha a mim e beba. Quem crê em mim, como diz a Escritura: Do seu interior manarão rios de água viva” (João 7,37-38). O Evangelista segue esclarecendo o significado destas palavras de Jesus, dizendo: “(Jesus) Dizia isso, referindo-se ao Espírito que haviam de receber os que cressem nele”(João 7,39).
Veja que Jesus falava aqui exatamente do que acontece naquele que recebe o Batismo Sacramento, - e não da efusão -, onde recebemos nossa filiação através da recepção da graça perdida pelo pecado. A partir daí temos o poder de Deus que age em nós e por nós, mesmo que muitos não tenham esta consciência. A RCC a meu ver, acende esta consciência da presença do Espírito Santo, mas a custa de ensinos equivocados.
A santidade deve ser buscada a todo custo e esta deve ser nossa meta – enquanto a RCC exortar neste sentido está correta, o que não se pode é ensinar que basta encontrar-se com Jesus e o Espírito Santo faz o resto ( palavras da apostila). Exortar a crescer na graça é um pedido da própria Igreja e do próprio Cristo e todos nós somos chamados a ela.
Quanto aos dons extraordinários, como dom de linguas, milagres, profecias, e os carismas que são "gratis datae", carismáticos, - conforme Tanquerey. -, em que o Senhor dá a quem Ele quer e na hora que Ele quer para que esta pessoa possa servir a sua Igreja, mas não são condicionados ao estado de graça., não devemos pedir por conta de sermos enganados por ditas experiências e que podemos muito bem julga-las erroneamente. Cabe a Igreja o discernimento dos dons que ocorrem em seu seio e não os próprios membros que analisam de são ou não são de Deus.
Veja o quer diz sobre isto a Lumen Gentium:
“Não se devem porém, pedir temerariamente, os dons extraordinários nem deles se devem esperar com presunção os frutos das obras apostólicas; e o juízo acerca da sua autenticidade e recto uso, pertence àqueles que presidem na Igreja e aos quais compete de modo especial não extinguir o Espírito mas julgar tudo e conservar o que é bom” (cfr. 1 Tess. 5, 12. 19-21).
São Vicente Ferrer, continuando o ensino de Santo Tomás e de São João da Cruz sobre o assunto, diz:
“Os que queiram viver na vontade de Deus não devem desejar obter [...] sentimentos sobrenaturais superiores ao estado ordinário daqueles que têm um temor e um amor a Deus sinceros. Tal desejo, de fato, só pode vir de um fundo de orgulho e de presunção de uma vã curiosidade em relação a Deus e de uma fé demasiada frágil. A graça de Deus abandona o homem que está preso a este desejo e o deixa à mercê de suas próprias ilusões e das tentações do diabo que o seduz com revelações e visões enganosas”.
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A RCC acertaria se dissesse que ela a partir do momento que se abriu a devoção ao Espírito Santo – aliás muito bem lembrado por nosso papa Leão XIII como o “divino desconhecido” - buscando a santidade e como conseqüência Deus quis derramar em profusão os dons e carismas, mesmo sabendo que para o exercício deles, há de se ter uma caminhada – isto para os dons -, mas ao invés disso condicionam esta avalanche de dons ao Batismo no Espírito, este até agora não comprovado que aconteça nos moldes e no momento em que a RCC diz que acontece.
Muitos tiveram suas vidas transformadas a partir do momento em que participaram da RCC e acredito mesmo nesta transformação, afinal, Deus além de todas as graças interiores que nos dá para nos santificarmos, nos dá outras que se chamam exteriores, - graças abundantes vividas nos grupos de orações e poderosas para nos ajudar a nos abrirmos ao Espírito Santo -, como nos ajuda a entender, Tanquerey e que cabe bem no que acontece: “e que, atuando diretamente sobre os sentidos e faculdades sensitivas, atingem indiretamente as nossas faculdades espirituais, tanto mais que muitas vezes são acompanhadas de verdadeiros auxílios interiores. Assim, a leitura dos Livros Santos ou duma obra cristã, a assistência a um sermão, a audição dum trecho de música religiosa, uma conversa boa são graças exteriores; é certo que, por si mesmas, não fortificam a vontade; mas produzem em nós impressões favoráveis, que movem a inteligência e a vontade e as inclinam para o bem sobrenatural. E por outro lado Deus acrescentar-Ihes-á muitas vezes moções interiores, que, iluminando a inteligência e fortificando a vontade, nos ajudarão poderosamente a nos convertermos ou tornarmos melhores. Enfim, Deus, que sabe que nós nos elevamos do sensível ao espiritual, adapta-se à nossa fraqueza, e serve-se das coisas visíveis, para nos levar à virtude.” (Cfr. Tanquerey)
O que acontece na RCC é devido à abertura e a presença de Deus que tanto quer santificar seus filhos, mas nada mágico. Pois exige luta e luta árdua!
FIM DA PRIMEIRA PARTE
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Referência do corpus textual fórum de debates Google+ Apologética Católica.