“A Suma Teológica de Santo Tomás de Aquino em forma de Catecismo” do Pe. Tomas Pégues, O. P., é uma excelente obra para aqueles que desejam iniciar o estudo da Obra Magna de Santo Tomás. Um tanto raro aqui no Brasil, haja vista que sua última edição em português data do início da década de 40, este livro é formulado como todos os catecismos tradicionais em perguntas e respostas e é de agradável leitura.
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SEGUNDA PARTE: O HOMEM PROCEDE DE DEUS E PARA DEUS DEVE VOLTAR
SEGUNDA PARTE: O HOMEM PROCEDE DE DEUS E PARA DEUS DEVE VOLTAR
SEGUNDA SEÇÃO: ESTUDO CONCRETO DOS MEIOS QUE O HOMEM DEVE EMPREGAR PARA VOLTAR PARA DEUS
II. DA NATUREZA DA FÉ – FÓRMULA E QUALIDADES DE SEUS ATOS – O CREDO – PECADOS OPOSTOS À FÉ: A INFIDELIDADE, HERESIA, APOSTASIA E BLASFÊMIA.
Que coisa é a fé?
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Uma virtude sobrenatural, por cujo influxo o entendimento adere irrestritamente esse temor de errar a Deus, como fim e objeto da eterna bem-aventurança, e às verdades por Ele reveladas, embora não as compreenda (I, II, IV).
Como o entendimento pode admitir de modo tão absoluto verdades que não compreende?
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Baseando-se na autoridade de Deus que não pode enganar-se, nem enganar-nos (I, 1).
Por que Deus não pode enganar-se, nem enganar-nos?
Porque é a verdade por essência (I, 1; IV, 8).
Como podemos certificar-nos de quais sejam as verdades reveladas por Deus?
Mediante o testemunho daqueles a quem as revelou, ou daqueles a quem confiou o depósito da revelação (I, 6-10).
A quem as revelou?
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Primeiramente à Adão no Paraíso, mais tarde, aos Profetas do Antigo Testamento; por último, aos Apóstolos no tempo de Jesus Cristo. (I, 7).
Como é que sabemos?
Pelas asserções bem comprovadas da história que refere o fato da revelação sobrenatural, e os milagres realizados por Deus, em testemunho de sua autenticidade.
O milagre é a prova concludente da intervenção sobrenatural divina?
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Sim; uma vez que é ato próprio de Deus e nenhuma criatura pode realizá-lo com seus próprios meios.
Onde se acha escrita a história da revelação e de outras ações sobrenaturais de Deus?
Na Sagrada Escritura, também chamada de Bíblia.
O que entendeis por Sagrada Escritura?
Uma coleção de livros divididos em dois grupos, chamados Antigo e Novo Testamento.
Estes livros são, talvez, resumo e síntese de outros livros?
Não, porque os demais livros foram escritos por homens, e estes pelo próprio Deus.
O que significa “que foram escritos pelo próprio Deus”?
Que Deus é seu autor principal, e para escrevê-los utilizou, à maneira de instrumentos, alguns homens por Ele escolhidos.
Logo, o conteúdo dos livros sagrados é divino?
Em relação ao primeiro autógrafo original dos Escritores Sagrados, sim; as cópias o são na medida em que se conformem com o original.
Logo, a leitura destes livros equivale a ouvir a palavra divina?
Sim.
Podemos equivocar e torcer o sentido da divina palavra?
Sim, porque embora na Sagrada Escritura haja passagens claríssimas, também abundamas difíceis e obscuras.
Donde provém a dificuldade de entender a palavra divina?
Em primeiro lugar, dos mistérios que ela contém, já que não raro enuncia verdades superiores ao alcance das inteligências criadas, e que somente Deus pode compreender; provém, além disso, da dificuldade que existe em interpretar livros antiquíssimos, escritos primeiramente para povos que tinham idioma e costumes diferentes dos nossos; finalmente, dos equívocos que tenham podido escapar, tanto nas cópias dos originais, como nas traduções feitas por elas e em suas cópias.
Há alguém que esteja seguro de não se equivocar ao interpretar o sentido da palavra de Deus contida na Bíblia Sagrada?
Sim; o Romano Pontífice, e com ele a Igreja Católica, no magistério universal (I,10).
Por quê?
Porque Deus quis que fossem infalíveis.
E por que o quis?
Porque, se não o fossem, os homens careceriam de meios seguros para alcançar o fim sobrenatural para que estão chamados (ibid.).
Portanto, o que entendemos quando se diz que o Papa e a Igreja são infalíveis em matéria de fé e costumes?
Que quando enunciam e interpretam a palavra divina, não podem enganar-se nem enganar-no sem relação ao que estamos obrigados a crer e a praticar para alcançarmos a bem-aventurança eterna.
Existe algum compêndio das verdades essenciais da fé?
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Sim; o Credo ou Símbolo dos Apóstolos (I, 6).
Ei-lo aqui conforme o reza diariamente a Igreja:
“Creio em Deus Pai Todo-Poderoso,
Criador do céu e da terra;
E em Jesus Cristo seu único Filho, Nosso Senhor,
o qual foi concebido do Espírito Santo;
nasceu da Virgem Maria;
padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos,
foi crucificado, morto e sepultado;
desceu aos infernos;
ao terceiro dia ressuscitou de entre os mortos;
subiu aos céus
e está sentado à mão direita de Deus Pai Todo-Poderoso;
Donde há de vir a julgar os vivos e os mortos.
Creio no Espírito Santo,
na santa Igreja Católica,
na Comunhão dos Santos,
na remissão dos pecados,
na ressurreição da carne,
navida eterna.
Amém”.
A recitação do Credo ou Símbolo dos Apóstolos é o ato de fé por excelência?
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Sim; e nunca devemos cessar de recomendar aos seus fiéis a sua prática diária.
Podereis indicar-me alguma outra fórmula breve, exata e suficiente para praticar a virtude sobrenatural da fé?
Sim; eis aqui uma, em forma de súplica:
“Deus e Senhor meu; confiado em vossa divina palavra, creio tudo o que haveis revelado para que os homens, conhecendo-Vos, Vos glorifiquem na terra e gozem um dia de vossa presença no céu.”
Quem pode fazer atos de fé?
Somente aqueles que possuem a correspondente virtude sobrenatural (IV, V).
Logo, os infiéis não podem fazê-los?
Não; porque não creem na Revelação, ou seja, porque a ignorando, não se entregam confiadamente nas mãos de Deus, nem se submetem ao que deles exige ou porque, conhecendo-a, recusam prestar-lhe assentimento (X).
Os ímpios podem fazê-los?
Tão pouco, porque, embora eles tenham por certas as verdades reveladas, fundadas na absoluta veracidade divina, a sua fé não é efeito de acatamento e submissão a Deus, a quem destetam, ainda que com pesar seu se vejam obrigados a confessá-lo (V, 2, ad 2).
É possível que haja homens sem fé sobrenatural e que creiam desta forma?
Sim; e nisto imitam a fé dos demônios (V, 2).
Os hereges podem crer com fé sobrenatural?
Não; porque, embora admitam algumas verdades reveladas, não fundam o assentimento na autoridade divina, mas sim no próprio juízo (V, 3).
Logo, os hereges, estão mais afastados da verdadeira fé que os ímpios, e que os demônios?
Sim; porque não se apoiam na autoridade de Deus.
Os apóstatas podem crer com fé sobrenatural?
Não; porque rejeitam o que haviam crido por virtude da palavra divina (XII).
Os pecadores podem crer com fé sobrenatural?
Podem desde que conservem a fé, como virtude sobrenatural; e pode tê-la, embora emestado imperfeito, ainda quando, por efeito do pecado mortal, estejam privados da caridade (IV, 1-4).
Logo, nem todos os pecados mortais destroem a fé?
Não (X, 1, 4).
Em que consiste o pecado contra a fé chamado infidelidade?
Em recusar a submeter o entendimento, por veneração e amor de Deus, às verdades sobrenaturalmente reveladas (X, 1-3).
E sempre queisso acontece, é por culpa do homem?
Sim; porque resiste à graça atual com que Deus o convida e impele a submeter-se (VI,1, 2).
Deus concede esta graça atual a todos os homens?
Com maior ou menor intensidade, e em medida prefixada nos decretos de sua providência, sim.
É grande e muito estimável a mercê que Deus nos faz, ao infundir-nos a virtude da fé?
É de certa forma o maior de todas.
Por quê?
Porque, sem fé sobrenatural, nada podemos intentar em ordem a nossa salvação, e estamos perpetuamente excluídos da glória, se Deus não se digna conceder-no-la antes da morte (II, 5-8, IV, 7).
Então, quando se tem a ventura de possui-la, que o pecado será, frequentar companhias, manter conversações ou dedicar-se à leituras capazes de fazê-la perder?
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Pecado gravíssimo, fazendo-o espontânea e conscientemente e de qualquer modo ato reprovável, que sempre o é, expor-se a semelhante perigo.
Logo, importa sobremaneira escolher com acerto as nossas amizades e leituras para encontrar nelas, não obstáculos, mas estímulos para arraigar a fé?
Sim; e especialmente nesta época, em que o desfreio da expressão, chamado liberdade de impressa, oferece tantas ocasiões e meios de perdê-la.
Há algum outro pecado contra a fé?
Sim; o pecado de blasfêmia (XIII).
Por que a blasfêmia é um pecado contra a fé?
Por ser diretamente oposta ao ato exterior da fé que consiste em confessá-la por palavras, e a blasfêmia consiste em proferir palavras injuriosas contra Deus e seus Santos (XIII, 1).
A blasfêmia é sempre um grave pecado?
Sim(XIII, 2-3).
O costume de proferi-las desculpa ou atenuar a sua gravidade?
Em vez de atenuá-la, agrava-a, pois o costume demonstra que se deixou arraigar o mal, em lugar de dar-lhe remédio (XIII, 2, ad 3).

