“A Suma Teológica de Santo Tomás de Aquino em forma de Catecismo” do Pe. Tomas Pégues, O. P., é uma excelente obra para aqueles que desejam iniciar o estudo da Obra Magna de Santo Tomás. Um tanto raro aqui no Brasil, haja vista que sua última edição em português data do início da década de 40, este livro é formulado como todos os catecismos tradicionais em perguntas e respostas e é de agradável leitura.
SEGUNDA PARTE: O HOMEM PROCEDE DE DEUS E PARA DEUS DEVE VOLTAR
SEGUNDA SEÇÃO: ESTUDO CONCRETO DOS MEIOS QUE O HOMEM DEVE EMPREGAR PARA VOLTAR PARA DEUS
III. DOS DONS DO ESPÍRITO SANTO CORRESPONDENTES À FÉ: DOM DO ENTENDIMENTO E DOM DE CIÊNCIA. VÍCIOS OPOSTOS: CEGUEIRA DO ESPÍRITO E INSENSIBILIDADE
É suficiente a virtude da fé para conhecer as verdades sobrenaturais na medida com que podemos conhecê-las nesse mundo?
Com a colaboração de alguns dons do Espírito Santo, sim (VIII, 2).
Quais são os dons do Espírito Santo destinados a cooperar com fé?
Os de entendimento e ciência (VIII, IX).
De que maneira o dom do entendimento auxilia a virtude da fé para conhecer as verdades reveladas?
Quando se trata de verdades que não excedam a capacidade do nosso entendimento, fazendo que este, sob o influxo direto do Espírito Santo, penetre no sentido íntimo e mais recôndito dos enunciados divinos e das proposições que com eles guardam relação; e quando se trata de mistérios, fazendo-lhe ver que não se lhes opõe nenhuma outra verdade conhecida, apesar dos problemas e dificuldades que os mistérios apresentam (ibid.).
Logo, o dom do entendimento, é o dom de iluminação por excelência?
Sim, e o quanto de claridade e puros gozos intelectuais de ordem sobrenatural há em nós, o devemos ao dom do entendimento, o qual faz frutificar na alma os germes da verdade infinita, objeto próprio e direto da virtude da fé (VIII, 2).
Isso afeta também o dom do entendimento na prática das virtudes?
Sim; já que tem por objeto por em relevo os bens sobrenaturais anunciados e prometidos na Revelação, com o intuito de que a vontade, divinizada pelo amor de caridade, as busque como meio de alcançar a eterna Bem-aventurança (VIII, 3, 4, 5).
Podereis dizer-me em que distingue a fé e outros dons do Espírito Santo, tais como os de sabedoria, ciência e conselho, do dom do entendimento, suposto que a fé e os outros dons aperfeiçoam a mesma inteligência?
Sim; a fé tem por objeto propor-nos três classes de verdades reveladas: umas referentes a Deus na ordem sobrenatural, outras às criaturas, e outras à direção e governo dos atos humanos. Pode o homem prestar-lhes assentimento mediante a fé; porém não pode compreendê-las, nem penetrar o seu sentido íntimo, de modo que lhe sirvam de base para formular juízo fundado e seguro. Manifestar o sentido íntimo, próprio e exclusivo das verdades reveladas é objeto do dom do entendimento; formar juízo reto e seguro nas referentes a Deus, é o objeto do dom da sabedoria; naquelas relacionadas às criaturas, é objeto do dom da ciência, e no que diz respeito às ações humanas, é objeto do dom do conselho (VIII, 6).
Tendo em conta estas doutrinas, explicai-me o objeto e o alcance do dom da ciência.
O dom da ciência é uma virtude por mercê da qual, o cristão, no estado da graça e diretamente movido pelo Espírito Santo, conhece e distingue imediatamente, sem discurso, nem raciocínio de modo direto ou razão, poderíamos dizer, intuitivo, o que é objeto da fé, regra bem proceder e ato virtuoso, daquilo que não é objeto de fé, e a maneira como havemos de servir-nos das criaturas para nos aproximarmos da Verdade Suprema, o objeto da fé e último fim de nossas ações (IX, 1-3).
Esse dom tem especial importância hoje?
Sim, porque é o remédio por excelência para uma das maiores pragas que afligem o gênero humano desde a época da Renascença.
A que praga vos referis?
A uma que prevaleceu até nos povos, em outro tempo, profundamente cristãos, o reinado da falsa ciência que, esquecida de como as criaturas devem servir como um meio para aproximar-nos do Criador, na ordem especulativa converteu o estudo em arma para combater a fé e, na prática, renovou os costumes corrompidos dos antigos pagãos, tanto mais perniciosos, quanto sucediam a um esplêndido florescimento das virtudes sobrenaturais praticadas pelos santos.
É esta uma das principais causas dos males que afligem a sociedade moderna?
Sim.
Onde, então, encontrar poderoso remédio contra os males desta sociedade ímpia e afastada de Deus?
Na virtude da fé, e em seus aliados inseparáveis, quando o homem está em graça, os dons do entendimento e da ciência.
Quais são os vícios opostos a estes dons?
Ao dom da ciência, se opõe a ignorância; ao do entendimento, a cegueira do espírito e a insensibilidade ou embrutecimento dos sentidos.
Donde provêm esses vícios, especialmente os dois últimos?
Particularmente dos pecados carnais que asfixiam a alma. (XV, 3).

