“A Suma Teológica de Santo Tomás de Aquino em
forma de Catecismo” do Pe. Tomas Pégues, O. P., é uma excelente
obra para aqueles que desejam iniciar o estudo da Obra Magna de Santo Tomás. Um
tanto raro aqui no Brasil, haja vista que sua última edição em português data do
início da década de 40, este livro é formulado como todos os catecismos
tradicionais em perguntas e respostas e é de agradável leitura.
SEGUNDA PARTE: O HOMEM PROCEDE DE DEUS E PARA DEUS DEVE
VOLTAR
SEGUNDA SEÇÃO: ESTUDO CONCRETO DOS MEIOS QUE O HOMEM DEVE
EMPREGAR PARA VOLTAR PARA DEUS
IX. DOS EFEITOS
DE CARIDADE: ALEGRIA OU GOZO, PAZ, MISERICÓRDIA, BENEFICÊNCIA, ESMOLA E
CORREÇÃO FRATERNA.
Quais efeitos o
exercício da virtude da Caridade produz na alma?
Primeiramente gozo ou alegria (XXVIII, 1).
O gozo, efeito da
caridade, anda misturado com alguma tristeza?
Quando é gozo de complacência em Deus como Bem Infinito, não; mas afirmativamente, quando nos alegramos em Deus, termo de nossa bem-aventurança futura e não possuída, como acontece às almas do purgatório e a quantos vivem na terra (XXVIII, 2).
Por que neste
caso anda acompanhado de tristeza?
Porque há ou pode haver algum obstáculo físico ou moral que se oponha à união íntima com Ele.
E, nesse caso, predomina
a alegria ou a tristeza?
Predomina a alegria que tem por objeto e causa principal a felicidade e o gozo eterno, pacífico, seguro, que, na contemplação de sua essência, desfruta o divino Amigo (ibid.).
O ato principal
da Caridade produz algum outro efeito?
Sim; produz a paz (XXIX, 3).
Em que consiste?
Na tranquilidade que o espírito desfruta quando todos os nossos pensamentos e afetos, e os de todas as criaturas intelectuais, se orientam e dirigem a Deus, fim supremo da felicidade (XXIX, 1).
A caridade produz
algum outro fruto ou ato secundário?
Sim; o ato de misericórdia (XXX).
O que entendeis
por misericórdia?
Uma virtude especial, fruto da Caridade, ainda que distinta dela, que inclina o ânimo a compadecer-se das misérias e desgraças do próximo, considerando-as, de algum modo, como próprias, visto que afligem ao nosso irmão, e tendo em conta que podemos ver-nos em condições idênticas (XXX, 1-3).
A virtude da
Misericórdia possui nobreza especial?
É por excelência a virtude de Deus, não porque Ele é seja capaz de sentimentos afetivos de dor ou tristeza, mas pelos benefícios que concede por impulsos do seu amor (XXX, 4).
É entre os
homens a virtude própria dos perfeitos?
Sim; pois quanto mais um ser se aproxima de Deus, tanto mais compassivo e inclinado está para remediar desgraças e misérias, por todos os meios espirituais e temporais ao seu alcance (ibid.).
É de grande
proveito a prática desta virtude para restabelecer e garantir a paz social?
Sim.
Há algum ato
exterior que seja efeito da virtude da caridade?
Existem vários, e o primeiro é a beneficência (XXXI, 1).
Em que consiste
a beneficência?
Como o seu próprio nome indica, consiste em fazer algum bem a outrem (ibid.).
É sempre ato da
virtude da caridade?
Sempre, sim (ibid.).
Pode ser ato de
virtudes distintas da caridade, ainda que dela dependentes?
Pode e de fato o é, quando à razão geral do bem que se faz ao próximo, se ajunta a de ser necessário, devido, ou outras razões especiais (ibid.).
Que virtude
intervém na beneficência, quando é obrigatória?
A virtude da Justiça (XXXI, 1, ad 3).
E quando, sem o ser,
se acha o próximo em necessidade?
A virtude da misericórdia (ibid.).
Como se chama o
ato de caridade que consiste em beneficiar ao próximo, mediante a virtude da
misericórdia?
Chama-se esmola (XXXII, 1).
Quantas classes
de esmola há?
Duas: espiritual e corporal (XXXII, 2).
Quais são as
esmolas corporais?
São as seguintes: dar de comer a quem tem fome, dar de beber a quem tem sede, vestir os nus, dar pousada aos peregrinos, visitar os enfermos, remir os cativos e sepultar os mortos (ibid.).
Quais são as
espirituais?
Rogar a Deus por vivos e defuntos, ensinar os ignorantes, dar bom conselho a quem precisa, consolar os tristes, castigar os que erram e perdoar as injúrias (ibid.).
Deus dá grande
importância à esmola?
Dá-lhe tanta que, de acordo com o Evangelho, ela servirá de critério no dia do Juízo para fundamentar a sentença de prêmio ou condenação eterna.
Quando teremos
obrigação grave e estrita de dar esmolas?
Quando o próximo se ache em necessidade espiritual ou corporal grave e não haja quem o socorra (XXXII, 5).
Ainda que a necessidade
não seja grave, nem opressora, há obrigação estrita de não acumular, mas de
empregar em proveito do próximo ou da sociedade, os bens espirituais e
corporais supérfluos que tenhamos recebido de Deus?
Sim.
Há alguma esmola
que tenha particularíssima importância?
Sim; a correção fraterna (XXXIII, 1).
O entendeis por
correção fraterna?
A esmola espiritual ordenada a dar remédio aos pecados do próximo (ibid.).
É esta esmola ato
da virtude da caridade?
Sim; por intermediário de misericórdia e com o concurso da prudência, encarregada de excogitar meios adequados para conseguir fim tão excelente, como delicado e difícil (ibid.).
Constitui
obrigação de preceito?
Havendo ocasião e circunstâncias oportunas, sim (XXXIII, 2).
Quem está
obrigado corrigir?
Todos aqueles que se sentem animados do espírito de caridade e sem as faltas ou pecados que tratam de emendar, estão obrigados a corrigir o seu próximo, seja ele quem for, ainda que seja superior, com a obrigação de guardar as devidas atenções e considerações, e contanto que possam abrigar a esperança fundada de emenda; em caso contrário, estão dispensados, e devem abster-se de corrigir (XXXIII, 3-6).

