Antes do Concílio Vaticano II, todos os manuais consultados consideram a sentença de que Cristo morreu por todos os homens sem exceção alguma próxima à fé.
É dogma que Cristo não morreu somente pelos predestinados. Mas a sentença de que morreu por todos os adultos, até pelos infiéis (o que exclui as crianças que morrem sem o batismo, porque elas não recebem nenhuma graça) é sentença próxima à fé.
“Próxima à fé” se diz de uma doutrina que os teólogos geralmente
concordam que foi revelada divinamente, mas que não há um pronunciamento
por parte do Magistério.
No caso da universalidade da redenção,
que o Cardeal Arinze diz ser um dogma, isso pode ser interpretado de
acordo com o que eu expliquei acima, e também pelo fato de ser um
ensinamento constante, tendo sua infalibilidade assegurada pelo
Magistério Ordinário.
Quando se trata da Redenção objetiva, sim, o “por todos” está correto.
Mas quando se trata da Redenção subjetiva, não, só o “por muitos” é que
está correto.
Ocorre que, embora se possa aplicar o “por todos” da Missa em português para a Redenção objetiva, a expressão reproduz o discurso de Cristo, e nele o Senhor fala “por muitos”, pois está se referindo à Redenção subjetiva, não à objetiva.
Ocorre que, embora se possa aplicar o “por todos” da Missa em português para a Redenção objetiva, a expressão reproduz o discurso de Cristo, e nele o Senhor fala “por muitos”, pois está se referindo à Redenção subjetiva, não à objetiva.
Alguns consideram doutrina próxima à fé, que é uma doutrina que, por
consenso quase unânime dos teólogos, se encontra na Palavra de Deus
escrita ou transmitida. De qualquer forma, a mudança altera o sentido do
que Cristo quis dizer, pois o Catecismo Romano diz que “Houve acerto em
não dizer por todos”. De qualquer forma, a Igreja pode conceder essa
mudança, já que ela não altera a fórmula em si consecratória.
De acordo com o Concílio Tridentino, a Igreja pode mudar tudo o que não
seja a substância dos sacramentos (“salvo sua substância”). Isso explica
que a tradução para o missal em português seja aprovada da forma que
está, e que a Igreja agora tenha se expressado por mandar corrigi-la.
No documento abaixo, o Papa João Paulo II considerava legítima a tradução:
4. «Hoc est enim corpus meum quod pro vobis tradetur». O corpo e o sangue de Cristo são entregues para a salvação do homem, do homem todo e de todos os homens. É uma salvação integral e simultaneamente universal, porque não há homem - salvo livre ato de recusa - que esteja excluído da força salvadora do sangue de Cristo: «qui pro vobis e pro multis effundetur». Trata-se dum sacrifício oferecido por « muitos », como se lê no texto bíblico (Mc 14, 24; Mt 26, 28; cf. Is 53, 11-12) com uma típica figura literária semita que, aliando dois opostos - no nosso caso, a multidão abrangida pela salvação e um só, Cristo, que a realizou -, indica a totalidade do seres humanos aos quais a salvação é oferecida: é sangue «derramado por vós e por todos», como legitimamente se explicita nalgumas traduções. A carne de Cristo é realmente entregue «pela vida do mundo» (Jo 6, 51; cf. 1 Jo 2, 2) FONTE
4. «Hoc est enim corpus meum quod pro vobis tradetur». O corpo e o sangue de Cristo são entregues para a salvação do homem, do homem todo e de todos os homens. É uma salvação integral e simultaneamente universal, porque não há homem - salvo livre ato de recusa - que esteja excluído da força salvadora do sangue de Cristo: «qui pro vobis e pro multis effundetur». Trata-se dum sacrifício oferecido por « muitos », como se lê no texto bíblico (Mc 14, 24; Mt 26, 28; cf. Is 53, 11-12) com uma típica figura literária semita que, aliando dois opostos - no nosso caso, a multidão abrangida pela salvação e um só, Cristo, que a realizou -, indica a totalidade do seres humanos aos quais a salvação é oferecida: é sangue «derramado por vós e por todos», como legitimamente se explicita nalgumas traduções. A carne de Cristo é realmente entregue «pela vida do mundo» (Jo 6, 51; cf. 1 Jo 2, 2) FONTE
Segundo as palavras de João Paulo II, a Igreja permitiu aos uma leve
alteração de sentido nas palavras da Instituição, alteração esta que não
torna inválida a Eucaristia. Que alteração foi esta? Trocar as palavras “pro multis” , que só podem significar a redenção subjetiva, pelas
palavras “pro ominibus” , que só podem significar a redenção objetiva.
Nesse caso, as palavras da Instituição ficam alteradas não só em relação à forma, mas também em relação ao sentido que possuíam quando no tempo da publicação do Concílio de Trento.
Essa interpretação não fere a autoridade de João Paulo II, nem o sentido exato que o Catecismo Romano quis dar às palavras “pro multis” .
Essa interpretação não fere a autoridade de João Paulo II, nem o sentido exato que o Catecismo Romano quis dar às palavras “pro multis” .
A explicação abaixo é do Catecismo Romano:
“As palavras que se ajuntam ‘por vós e por muitos’ foram tomadas uma de São Mateus, outra de São Lucas. A Santa Igreja, guiada pelo Espírito de Deus, coordenou-as numa só frase, para que exprimissem o fruto e vantagem da Paixão.
“De fato, se consideramos sua virtude, devemos reconhecer que o Salvador derramou o Sangue pela salvação de todos os homens. Se atendemos, porém, ao fruto que os homens dele auferem, não custa compreender que sua eficácia se não estende a todos, mas só a ‘muitos’ homens.
“Dizendo, pois, ‘por vós’, Nosso Senhor tinha em vista quer as pessoas presentes, quer os eleitos dentre os judeus, como o eram os discípulos a quem falava, com exceção de Judas.
“No entanto, ao acrescentar ‘por muitos’, queria aludir aos outros eleitos, fossem judeus ou gentios. Houve, pois, acerto em não dizer ‘por todos’, visto que o texto só alude aos frutos da Paixão, e esta surtiu efeito salutar unicamente para os escolhidos.”
“As palavras que se ajuntam ‘por vós e por muitos’ foram tomadas uma de São Mateus, outra de São Lucas. A Santa Igreja, guiada pelo Espírito de Deus, coordenou-as numa só frase, para que exprimissem o fruto e vantagem da Paixão.
“De fato, se consideramos sua virtude, devemos reconhecer que o Salvador derramou o Sangue pela salvação de todos os homens. Se atendemos, porém, ao fruto que os homens dele auferem, não custa compreender que sua eficácia se não estende a todos, mas só a ‘muitos’ homens.
“Dizendo, pois, ‘por vós’, Nosso Senhor tinha em vista quer as pessoas presentes, quer os eleitos dentre os judeus, como o eram os discípulos a quem falava, com exceção de Judas.
“No entanto, ao acrescentar ‘por muitos’, queria aludir aos outros eleitos, fossem judeus ou gentios. Houve, pois, acerto em não dizer ‘por todos’, visto que o texto só alude aos frutos da Paixão, e esta surtiu efeito salutar unicamente para os escolhidos.”
Para quem quiser fazer o download do Catecismo Romano – também chamado
Catecismo do Concílio de Trento –, em espanhol, é só fazer uso desse link
Voltando à doutrina, o Catecismo Romano relaciona a redenção objetiva com a virtude (ou suficiência), e a redenção subjetiva com a eficácia; potência e ato.
O Concílio de Trento:
795. Embora tenha ele morrido por todos (2 Cor 5, 15), não obstante nem todos recebem o benefício de sua morte, mas somente aqueles aos quais é comunicado o merecimento de sua Paixão. (...)
No entanto, algum efeito da Paixão também tem lugar entre os não-batizados, pois o Papa Alexandre VIII proscreveu, em 1690, a tese sustentada pelo teólogo belga Cristiano Lupus, segundo a qual pagãos, judeus, hereges, não recebem nenhum influxo vindo de Cristo.
O Concílio de Trento:
795. Embora tenha ele morrido por todos (2 Cor 5, 15), não obstante nem todos recebem o benefício de sua morte, mas somente aqueles aos quais é comunicado o merecimento de sua Paixão. (...)
No entanto, algum efeito da Paixão também tem lugar entre os não-batizados, pois o Papa Alexandre VIII proscreveu, em 1690, a tese sustentada pelo teólogo belga Cristiano Lupus, segundo a qual pagãos, judeus, hereges, não recebem nenhum influxo vindo de Cristo.
Tese proscrita:
D-1295 5. Los paganos, judíos, herejes y los demás de esta laya, no reciben de Cristo absolutamente ningún influjo; y por lo tanto, de ahí se infiere rectamente que la voluntad está en ellos desnuda e inerme, sin gracia alguna suficiente.
D-1295 5. Los paganos, judíos, herejes y los demás de esta laya, no reciben de Cristo absolutamente ningún influjo; y por lo tanto, de ahí se infiere rectamente que la voluntad está en ellos desnuda e inerme, sin gracia alguna suficiente.
De acordo com maioria dos teólogos, as palavras essenciais na fórmula da
consagração seriam “Isto é o meu corpo” e “Este é o [cálix do] meu
sangue” .
A consagração em São Mateus:
26. Durante a refeição, Jesus tomou o pão, benzeu-o, partiu-o e o deu aos discípulos, dizendo: Tomai e comei, isto é meu corpo.
27. Tomou depois o cálice, rendeu graças e deu-lho, dizendo: Bebei dele todos,
28. porque isto é meu sangue, o sangue da Nova Aliança, derramado por muitos homens em remissão dos pecados. (Mt 22,26-28)
A consagração em São Lucas:
19. Tomou em seguida o pão e depois de ter dado graças, partiu-o e deu-lho, dizendo: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim.
20. Do mesmo modo tomou também o cálice, depois de cear, dizendo: Este cálice é a Nova Aliança em meu sangue, que é derramado por vós... (Lc 22,19-20)
26. Durante a refeição, Jesus tomou o pão, benzeu-o, partiu-o e o deu aos discípulos, dizendo: Tomai e comei, isto é meu corpo.
27. Tomou depois o cálice, rendeu graças e deu-lho, dizendo: Bebei dele todos,
28. porque isto é meu sangue, o sangue da Nova Aliança, derramado por muitos homens em remissão dos pecados. (Mt 22,26-28)
A consagração em São Lucas:
19. Tomou em seguida o pão e depois de ter dado graças, partiu-o e deu-lho, dizendo: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim.
20. Do mesmo modo tomou também o cálice, depois de cear, dizendo: Este cálice é a Nova Aliança em meu sangue, que é derramado por vós... (Lc 22,19-20)
“Vós” : aqueles que estavam ouvindo, aqueles para quem Jesus falava. Ou seja, os presentes na Ceia, os Apóstolos.
“Muitos” : os demais homens, de todos os tempos.
“Muitos” : os demais homens, de todos os tempos.
O que a Igreja fez foi combinar a ambas.
Não é para trocar por “por muitos” até que saia a tradução da nova
edição do missal. Caso o padre faça questão (e é salutar que faça), que
faça a Consagração em latim.