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A divisão do reino sedevacantista

Aparentemente, os 12/13 sedevacantistas são um grupelho forte, destemido e corajoso. A esperança de receber a coroa (Ap 19,11-21) por serem fiéis nesse tempo apocalíptico de apostasia conciliar os fazem unidos e amorosos entre si.


Mas debaixo dos panos isso não acontece.




A princípio, faremos um pequeno resumo do que seja essa corrente para o leitor que nunca ouviu falar e que nos lê pela primeira vez.


Queria aproveitar e agradecer a um leitor que nos enviou as informações (que foram muitas) que serão sintetizadas e arrumadas ao longo do artigo.


O sedevacantismo como estrutura formal organizada por leigos e clérigos nasceu em 1972 na França quando começaram a levantar a teoria de que Paulo VI não era legitimamente Papa pelo vendaval do "Espírito do Concílio" ter tomado força e pelo fato do Romano Pontífice não ter tomado nenhuma atitude para frear o incêncio que estava tomando conta de toda a Igreja Universal.


Note-se que esse era o motivo principal, sendo incorporado mais tarde a posição de que o Concílio Vaticano II havia ensinado heresias.


Dentro dessa ideologia de que "O Papa não é Papa" também está inserida a idéia de que os sacramentos no rito novo não tem validade, teoria já refutada em nossos arquivos e pelos próprios sedevacantistas na prática uma vez que se confessam e são absolvidos no rito novo, assistem Missa Nova, chamam padres 'conciliares' para administrarem a unção dos enfermos em seus entes agonizantes, batizam e casam, etc.


Utilizam de várias teses e estudos teológicos para defenderem a ideologia sedevacantista como doutrina católica, um dos textos mais citados para defender a posição é a bula Cum ex Apostolatus Officio, de Paulo IV, que pune com excomunhão e exclusão dos cargos eclesiásticos os hereges de profissão púlica, que diga-se de passagem está revogada pela Igreja.


Mesmo assim, eles fazem um marabalismo para de alguma forma justificar a 'aplicação' da sentença da letra morta da bula.


A lógica por si mostra que o raciocínio desse grupelho está totalmente equivocado:


Bula Cum Ex Apostolatus Officio = Consideram que a letra ainda é aplicável


Concílio Vaticano II = Consideram que ensinou heresias
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Logo, todos são hereges, excomungados e sem cargos eclesiásticos


Seguindo essa mentalidade que estamos sem Papa, sem Cardeais e sem Bispos, restam-se um número muito pequeno de *bispos* (levando em consideração que as ordenações de Tchuc são dúbias) e de padres *validademente ordenados* espalhados por aí.


Com os que sobraram, restam sagrar novos bispos e ordenar padres à torto e direito, levando em conta o atual Estado de Necessidade.


É aí que vem a divisão ideológica interna:


O sedevacantista de classe A, acredita que a Sé está vacante, que estamos num tempo apocalíptico, esperando piedosamente a segunda vinda de Cristo que irá levá-los para um lugar seguro e punir todo o planeta terra por não aderi-los, qualquer semelhança com o adventismo do 7º dia, testemunha de jeová, mormos, etc é mera coincidência.


Esse sedevacantista defende a tese exterminalista, ou seja, ele sabe que a sagração de bispos sem Mandato Apostólico é um sacrilégio horrendo aos céus e sua consequência é a excomunhão latae sententiae e a suspensão ad divinis das ordens. Com isso, não se deve sagrar nem ordenar sob hipótese alguma, os *bispos* sedevacantistas devem falecer sem deixar sucessores uma vez que eles em si já estão excomungados e suspensos das ordens uma vez que foram também sagrados sem licença papal.


O fato também de que os candidatos nem sempre são homens vocacionados ao sacerdócio, os sedevacantistas aceitam qualquer um que pule a janela de sua casa e se ofereça como fabricantes de sacramentos, seja ele casado, homossexual, eunuco, etc.


O único critério é crêr que a Sé está vacante, o resto, a Providência ajeitará.


O de classe A nem se apóia na questão de lei eclesiástica, que teoricamente pode contornar os cânones por grave necessidade, -necessidade essa determinada por esses leigos -. Ele tem como base para defender a sua tese a lei divina que não admite epiquéia.


“O poder de ordem depende do poder de jurisdição no que se refere à legitimidade de seu exercício, de modo que em absolutamente nenhum caso pode ser devidamente e licitamente exercido sem ser em conformidade com os cânones e as estipulações da autoridade donde emana essa jurisdição.” (Cardeal Billot, De Ecclesia, de Ordine, q. IX, p. 339)


“Se alguém disser que (…) aqueles que não são nem ordenados, nem enviados [missi] verdadeira e legitimamente pelo Poder Eclesiástico e Canônico, mas que vêm doutra parte, são todavia legítimos Ministros da Palavra de Deus e dos Sacramentos: seja anátema.” (Santo Concílio de Trento, Sessão XXIII, Cânon VII).


“Por onde, cremos e confessamos firmemente que seja qual for a retidão, a piedade, a santidade e a prudência de um homem, ele não pode e não deve consagrar a Eucaristia nem confeccionar o sacrifício do altar se não for padre regularmente ordenado por um bispo visível e tangível…corretamente constituído nesse ofício.” (Papa Inocêncio III, Ejus exemplo, Denz. 424).


“O poder de ordem separado dos princípios que tornam legítimo o seu exercício está no mesmo estado que nas seitas de hereges e de cismáticos.” (Cardeal Billot, De Ecclesia, de Ordine, q. IX, p. 344)


“Essas ordenações não são reconhecidas pela Igreja; eis por que é preciso considerar os sujeitos como leigos no que se refere aos efeitos canônicos, incluindo aí o direito de casar-se.”
(Monitum do Santo Ofício de 8 de maio de 1959 referente ao estatuto dos padres ordenados por um certo Giovanni Tadei, tendo este recebido regularmente o sacerdócio mas irregularmente, numa seita, o episcopado, cuja validade porém não era posta em dúvida.)


“…Toda a pessoa que não tem a missão por parte da Igreja Católica, por esse mesmo fato ministra ilicitamente, e toda a pessoa que recebe um sacramento comungando assim com o pecado do ministro, recebe-o de modo sacrílego.”
(Cardeal Billot, De Sacramentis, tese XVI).


“Como é divina e sagrada, essa autoridade das Chaves, que, descendo do céu no Romano Pontífice, dele deriva, por intermédio dos Prelados das Igrejas, sobre toda a sociedade cristã que ela deve reger e santificar! Seu modo de transmissão pôde variar conforme os séculos; mas nem por isso todo o poder deixava de emanar, por pouco que fosse, da Cátedra de Pedro. (…) Cabe então a nós, sacerdotes e fiéis, interrogar qual a fonte donde nossos pastores hauriram o poder deles, qual a mão que a eles transmitiu as Chaves. A missão deles emana da Sé Apostólica? Sendo assim, eles vêm da parte de Jesus Cristo, que confiou a eles, por intermédio de Pedro, Sua autoridade; honremo-los, sejamos-lhes submissos. Caso eles se apresentem sem serem enviados pelo Romano Pontífice, não nos unamos em absoluto a eles; pois Cristo não os conhece. Ainda que estivessem revestidos do caráter sagrado conferido pela unção episcopal, eles não são nada na Ordem Pastoral; as ovelhas fiéis devem afastar-se deles.”
(Dom Guéranger, Ano Litúrgico, Cátedra de São Pedro em Antioquia.)


“Ainda que um homem seja divinamente separado dos outros homens, e mesmo de seus confrades do presbiterato, pelo caráter episcopal, e ainda que ele seja repleto de poder espiritual pela extensão sacramental na ordenação episcopal, esse poder permanecerá para sempre preso dentro de seu íntimo para ele; ele será incapaz de atuação lícita e de dar seu fruto segundo a vontade de Deus sem a jurisdição e a autoridade que lhe atribuem uma diocese e lhe dão um rebanho. E essa jurisdição não pertence ao Bispo pelo expediente de sua sagração episcopal, mas pela autoridade apostólica da Santa Sé.”
(Mons. Ullathorne, Ecclesiastical Discourses [Discursos Eclesiásticos], 1876, p. 100).


“A Encarnação é missão do Filho de Deus ao mundo, e essa missão se perpetua e difunde através da multiplicidade dos ministérios eclesiásticos em todos os tempos. Como o meu Pai me enviou… Assim como, no Antigo Testamento, os profetas e até mesmo os anjos não intervinham jamais sem terem sido enviados, assim, no Novo, não existe nenhum ministro da Redenção, não digo apenas sem um chamado ou vocação que o torne apto, mas sem missão formal que o aplique à obra. E Deus não é então menos cioso de Seu direito exclusivo de enviar. Ora, essa missão dos ministros hierárquicos, bem como o chamado mesmo, só vêm de Deus passando pela Igreja. (…) A distinção entre o poder de ordem e o poder de jurisdição é fundada sobre esta necessidade permanente de missão… Sem a missão, ao menos sob a forma elementar de uma permissão, o poder sacerdotal, embora permanecendo válido, deixa de honrar a Deus, deixa de oferecer sacrifício de agradável odor… (…) Nos tempos de heresia e de cisma, é a necessidade mesma de missão que é repudiada.” (Rev. Pe. Humbert Clérissac, O.P., Le Mystère de l’Église [O Mistério da Igreja].)


O sedevacantista de classe A compreende que fabricantes de sacramentos e quem recebe desses mesmos sacramentos profanados estão situação gravíssima. Ele se sustenta O Sacrossanto Concílio nos Papas Pio XII, Pio VI e Inocêncio III que tem valor magisterial que condena infalivelmente as sagrações sem mandato tradicionalistas, sedevacantistas ou não, inexistindo questão disputada nessa matéria.


Também defende que os *bispos* sedevacantistas não são Bispos da Hierarquia e repudia a idéia da construção de uma Igreja paralela cita o caso de Dom Mayer que confiou em Frei Guérard de Lauriers, de quem partiu o erro das sagrações sem mandato. Todos os principais discípulos dele, não somente o Pe. Belmont mas também os Pes. Lucien, Blignières, etc. (eles próprios reconhecidamente grandes teólogos e filósofos), abandonaram Frei Guérard quando ele fez essa besteira das sagrações sacrílegas, em 1982.


O sedevacantista de classe A, em síntese, sabe que essas sagrações definitivamente não fazem de seus receptores legítimos Sucessores dos Apóstolos, ainda mais com *testemunhos* de *padres* sedevacantistas que se veêm com dor na consciência por não recitar o nome de Bento XVI no Cânon da Missa, uma vez que a menção do Soberano Pontífice no Cânon concerne, pois, diretamente a catolicidade do Santo Sacrifício, do celebrante, dos assistentes exprimindo a adesão que cada católico deve ter ao Papa regra viva da fé e detentor da plenitude do poder de Ordem na Igreja. Ela realiza a nossa pertença à Igreja una cum o Vigário de Jesus Cristo.


A menção do Soberano Pontífice é, pois, um ato de vassalagem ao Papa, um ato de pertença à Igreja da qual o Papa é o chefe que possui em sua pessoa a plenitude da Autoridade, e um ato de fidelidade de particular eficácia, pois estamos no coração do sacramento por excelência. Essa menção é, por conseguinte, um ato grave que diz respeito tanto ao padre celebrante quanto aos fiéis participantes, pois ela explicita a união à Igreja na sua ação mais nobre e mais fundamental. Tal ação vigora em concretude com a menção de Bento XVI no missal.


A posição do sedevacantista de classe B, que se apoía no fictício Estado de Necessidade ignorando totalmente as punições canônicas no que se cerne a esta questão, chegado até o cúmulo de admitir um possível conclave. Acredita que podem se beneficiar das missas sacrílegas de tais padres sedevacantistas (sem vocação, casados, homossexuais de vida ativa) Sabem do erro, mas recorrem assim mesmo a estes padres, por "falta de opção" e pela necessidade de não se expor a uma perigosa privação de sacramentos. Recorre a textos comparando eventos passados para dar legitimidade ás sagrações feitas pelo Thuc.


Situações diferentes, épocas diferentes, interpretações diferentes.


Esse mesmo leitor também nos informou que há um *vocacionado* sedevacantista brasileiro, que está apredendo mais sobre a teoria da Sé Vacante na Argentina e que será ordenado em uma questão de MESES! Tudo isso pela importância desses tempos apocalípticos em que se pega qualquer um para fabricar sacramentos aos grupelhos.


E é assim que vive o cérebro de um sedevacantista, tudo gira em torno do vacante .

 

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