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Puritanismo moderno entre tradicionalistas


Puritano é aquele que vê pecado em tudo, considerando o que é neutro, pecado. Geralmente, fazem uma análise superficial da circunstância.

O puritanismo, como todo pecado, também é um erro moral, e portanto não pode ser aferido simplesmente de tais iniciativas de reuniões de festas ligadas a uma temática cristã. Da mesma forma que uma balada "normal" não é pecaminosa em si mesma, uma "balada cristã" não é puritana em si mesma. Tudo depende da mentalidade com que ela é promovida.

Pode-se muito bem, por exemplo, desejar oferecer a uma comunidade e a amigos ligados a ela, que desejam estar unidos em uma comemoração secular, como o carnaval, mas aproveitando essa data para também louvar a Deus. Principalmente se a pessoa não vê graça nenhuma em fazer outra coisa na data.

Nos meios virtuais parecem que as pessoas tem mais horror ao puritanismo do que pelo próprio pecado.

Não acredito que ele por si possa santificar alguém, mas pode haver no íntimo do pecador o desejo de agradar e fazer a vontade do Senhor em não macular seu corpo, sua lucidez, e de viver uma vida regrada. Tal zelo em demasia pode ser o puritanismo.

O erro pode estar no sujeito em achar que pelo seu modo privado de santificação seja o melhor do que o outro do irmão, até se julgar mais santo por conta disso.

O puritanismo começou não apenas como uma classificação de comportamento exagerado, mas como um movimento organizado. Nasceu entre os protestantes europeus que consideravam a "igreja da Inglaterra" (assim como todas as outras) muito liberais. No fundo, era quase uma reformulação dos movimentos Dolcinianos (como depois os Cátaros), e migrou para os EUA para implantar suas idéias com "liberdade".

É mais um grupo de hereges que acredita que a Igreja deveria ser "reformada".

O pior de tudo é localizar aspectos do movimento em alguns Católicos. Isso sim é frustrante.


A palavra puritano, embora tenha tido origem num grupo de protestantes formalistas, hoje ganhou uma conotação que atravessa as divisões religiosas, indicando, tão somente, uma aplicação rigorosa dos princípios morais.

O puritanismo nunca é um bom caminho. Penetrando em certos ambientes, ele encontra muito vivaz o amor à austeridade ou mesmo a necessidade dela, tendo em vista situações como a do descontrole do consumo de álcool. Assim, forma-se um “coágulo”. E, se bem que consiga em matéria de aparência todos os triunfos, não alcança êxitos iguais em matéria de sensualidade. Em tais ambientes, goza-se a vida por meio dos discretos deleites, e não pelas grosserias da carne.

A austeridade, acalentada pelo orgulho exacerbado ("não peco, não me misturo com os pecadores"), reage exageradamente contra a sensualidade, mas essa reação, por obstinada que seja, é estéril: cedo ou tarde, por inanição, será destroçada pelos falsos princípios (é só pensar nos orgulhosos luteranos que hoje abrem os braços para o divórcio).

Não é de um puritanismo hirto, frio, mumificado, que pode partir o sopro de vida que regenerará a terra.

Há grupos tradicionais que para se manter fiéis à Deus criam um mundo medieval na cabeça, e esquecem que estão no ano de 2012. Outro criam um mundo "carismático" onde a linguagem muitas vezes é infantilizada baseada em sentimentos. Outros acham que somente a ação política prova ou mostra que podemos estar no mundo livre do mundo, ou seja, sonhando em mudar o mundo através da politica, etc. Católicos de todas as vertentes inventam seu modo de serem fiéis à Deus se mantendo livres da corrupção do mundo. O Opus Dei tem uma linguagem bem eficiente nesse sentido.

Não existe "mundo católico", nunca houve nem haverá. Mesmo na Idade Média isso não existia, ainda que a sociedade estivesse embebecida dos valores do Evangelho. Somos cidadãos de outra pátria bem melhor que essa.

O texto de São Francisco de Sales sobre os bailes.

"As danças e os bailes são coisas de si inofensivas; mas os costumes de nossos dias tão afeitos estão ao mal, por diversas circunstâncias, que a alma corre grandes perigos nestes divertimentos. Dança-se à noite e nas trevas, que as melhores iluminações não conseguem dissipar de todo, e quão fácil que debaixo do manto da escuridão se façam tantas coisas perigosas num divertimento como este, que é tão propício ao mal. Fica-se aí alta hora da noite, perdendo-se a manha seguinte e conseguintemente o serviço de Deus.

Numa palavra, é uma loucura fazer da noite dia e do dia noite, e trocar os exercícios de piedade por vãos prazeres. Todo baile está cheio de vaidade e emulação e a vaidade é uma disposição muito favorável às paixões desregradas e aos amores perigosos e desonestos, que são as conseqüências ordinárias dessas reuniões. Referindo-me aos bailes, Filotéia, digo-te o mesmo que os médicos dizem dos cogumelos, afirmando que os melhores não prestam para nada"

OS BAILES E OUTROS DIVERTIMENTOS PERMITIDOS, MAS PERIGOSOS - CAPÍTULO XXXIII São Francisco de Sales (1567-1622), do livro Filotéia.

A primeira frase do texto desmonta a demonização feita pelos tradicionalistas aos bailes:

As danças e os bailes são coisas de si inofensivas; mas os costumes de nossos dias tão afeitos estão ao mal, por diversas circunstâncias, que a alma corre grandes perigos nestes divertimentos.

Apenas o fato dele matizar a diferença entre o uso e o abuso já é uma prova de que o grande São Francisco de Sales jamais seria puritano, coisa totalmente estranha ao Catolicismo.

Seria ele puritano se visse o baile, ou a dança, como algo intrinsicamente mau. E tanto ele não vê que adiante prescreve que se for necessária a ida a um baile, que se cuide de não se expor aos comportamentos perigosos. Ora, se existe um uso adequado que se opõe a um uso inadequado (abuso), então não pode ser algo intrinsicamente mau, pois se o fosse não poderia existir uso lícito.

Ainda lembro que o santo se referia aos "costumes de nossos dias". Talvez os costumes dos dias dele não sejam os mesmos que os de hoje, ou de qualquer outra época. Assim, é preciso extrair a essência do ensinamento, que nada mais é que saber usar dos prazeres que Deus nos disponibilizou no mundo, sem jamais abusar dessa liberdade.

E todo sentimento no campo da sexualidade é, em si mesmo, negativo?

Não sentir nada não é algo humano. Aqui é que vai atuar o discernimento pessoal para avaliar se o "sentir" está dentro do equilíbrio ou é algo que desencadeia paixões descontroladas.

Cabe uma palavra sobre consentimento e tentação.

Em relação à tentação, temos três momentos: a sugestão, a deleitação e o consentimento.

A sugestão, por maior que seja, contanto que não tenha sido procurada deliberadamente, nunca é pecado.

A deleitação, que é o cerne da questão posta aqui, ocorre quando a parte inferior da alma se inclina sobre o mal sugerido. Essa deleitação não é um pecado, mas é um perigo, pois solicita a vontade a prestar seu consentimento.

Se a vontade nega o consentimento, luta contra a tentação e a rechaça, sendo vencedora, temos um ato meritório. Se, ao contrário, se compraz com o deleite e consente, já se cometeu pecado.

Não consentimos quando, apesar da sugestão e do deleite instintivo, sentimos desgosto de nos vermos tentados e vivo horror pelo mal que nos é proposto. Podemos até ter culpa na tentação em sua causa, quando sabemos que tal ou qual ação, que podemos evitar, será gênese para ela; mas tal culpa terá relação com a previsibilidade da situação.

O consentimento é imperfeito (há pecado venial):

1) Quando não a rechaçamos a tentação prontamente, mas o fazemos no final.

2) Quando vacilamos: queremos nos deleitar um pouco, mas também não queremos ofender a Deus e, ao final, não assentimos com a tentação.

3) Quando rechaçamos a tentação debilmente, de um modo incompleto.

O consentimento será pleno se deixamos nossa vontade ser arrastada ao prazer proibido. Se a matéria é grave, o pecado é mortal.

Refletindo a problemática do deleite e de outras questões relativas ao puritanismo, sabe-se que em muitos lugares no Brasil, principalmente nas cidades interiores do nordeste onde se preservam bons costumes de longas gerações, preservam este costume, mas não é visto muitas vezes como algo puritano. Se selecionarmos na história da Igreja os grandes curas de almas como São João Maria Vianney, São Pio de Pietrelcina, e aqui no Brasil padres como o saudoso Frei Damião de Bozzano OFM Cap., veremos que todos eles foram 'severos' num bom sentido, mas profundamente eram homens de grande doçura e que queriam levar os fiéis a perfeição, tanto que os mesmos ganhavam uma certa estima sobretudo entre os jovens.

Lendo o livro que conta a história de São João Maria Vianney, o Cura d'Ars, quando o cura encontrava nestas situações, não dizia nem certo e nem errado. Ele simplesmente dizia: "A responsabilidade é de vocês"

Hoje, isso é visto como um grande desafio sobretudo entre muitos jovens, que tem errado muito em ver situações subjetivas como objetivas, ou seja, se eu disser para um jovem de hoje em dia que um sacerdote 'não recomenda' que os namorandos devam beijar na boca, vêem isso como algo opressor, de que um jovem religioso deve levar no seu bolso uma lista do que pode e o que não pode, quer dizer, veêm assim portanto coisas subjetivas como objetivas.

De fato, o que víamos antigamente era uma "dupla moral", onde socialmente não se concebia que uma moça "de família" beijasse, mas era normalíssimo os rapazes, com 14 ou 15 anos, freqüentarem prostíbulos (em uma ou outra família o compromisso com a Fé era real, mas as excessões confirmam a regra). Isso não é exemplo de uma cultura pautada nos parâmetros do Evangelho. É verdade que tudo não era tão "na cara", mas os homens sempre foram homens.

Por outro lado, a doçura desses santos ao tratarem do assunto é o melhor a ser feito. Doçura que é o método ideal ao se propor a perfeição. E essa era a missão deles. Isso atrai o povo.

Contudo, na prática, tomar a perfeição como algo ordinário, na minha opinião, não tem um bom efeito no longo prazo. O que ocorre é que as pessoas ficam com parâmetros irreais na cabeça e quando caem (e vão cair) dão um valor desproporcional a tal queda. O resultado espiritual disso é péssimo, para não falar em conseqüências físicas e psicológicas.

A sentenã a seguir não é apenas em tese, mas é visto muitos casos assim.

O "fulano" se converte, por meio de algum grupo (carismático, tradicionalista ou neo-conservador), e passa a se achar "o tal", sempre propondo como regra de vida ordinária a interpretação mais exigente do Doutrina de Nosso Senhor. Os outros, que já têm uma caminhada de anos, são vistos como "mornos". Pois bem, passa algum tempo e o "fulano" começa a cair em pecado, sempre dando um valor desequilibrado a tais quedas. Ele, com todas essa "neuras", ao procura ter um relacionamento com uma mulher, não consegue interagir direito com ela, dada uma espécie de frieza afetiva, e, no casamento, isso descamba, muitas vezes, para uma ejaculação precoce. Percebendo que não conseguirá viver assim e, associando essas coisas à essência da vida cristã, acaba abandonando a Fé.

O cumprimento dos conselhos evangélicos dever ser proposto? Claro, evidente, sem dúvida. Mas também temos de propor a vida cristã da maneira que ela poderá ser vivida pela maioria das pessoas, ou seja, tendo por base os mandamentos. De outro modo, o apostolado será infrutífero e daremos espaço para a formação de "alas" sociologicamente sectárias dentro da Igreja e com muitos membros com uma sexualidade neurótica.

A moral nos remete para um horizonte que não é o da ordinariedade sim, pois a ordinariedade é consusbtanciada na nossa natureza afeta pelo pecado original. O ponto não este, pois sair dele é o que todos nós procuramos. A questão, como a vejo, envolve uma confusão entre o "dever ser ordinário", ou seja, sair da "condição ordinária" a partir do cumprimento dos mandamentos, e o "dever ser extraordinário", ou seja, sair da "condição ordinária" a partir dos conselhos evangélicos (que, diga-se de passagem, pressupõe o "dever ser ordinário").

O pecado é o deleite em certos tipos de desejos. Se olho para uma mulher e a acho bonita e isso desperta algo sexual em mim (afinal, nós somos seres sexuais), isso não é um problema. O problema vai estar em como esse despertar vai prosseguir. A diferença está no consentimento.

Para se viver como Deus quer, para buscar seu auxílio, temos de admitir primeiramente o problema que temos. A negação ou a fantasia sobre como somos proporcionará uma construção da vida espiritual sobre um fundamento instável e neurótico.

A Imitação de Cristo e O Diálogo de Santa Catarina de Sena colocam com muita propriedade que o auto-conhecimento deve estar na ordem do dia para o católico.

O rigorismo e a permissividade sem nenhum limite partem de uma antropologia comum: a separação absoluta entre o psiquismo e a matéria, entre racional e biológico. A única diferença consiste na avaliação que se atribui a cada um desses elementos. O que para uns tem primazia, mal conta para os outros.

Diante dessa dupla atitude extremista, a Igreja quis palmilhar caminho intermédio. Seu Magistério foi condenando de maneira constante todas as heresias e exageros quanto ao sexo, ao corpo e ao casamento, ainda que estivessem muito difusos e se justificassem com argumentos espirituais. E ainda com mais força, se possível, manteve-se também firme perante toda classe de hedonismo que reduzisse a pessoa a simples biologia.

Infelizmente, o equilíbrio pretendido nem sempre se manteve no centro, se levarmos em conta as conseqüências práticas...

Um clima de nervosismo e suspeita foi criado. Era preciso inventar mentiras piedosas e fábulas no sentido de não saciar a curiosidade normal sobre os temas, e o conhecimento buscava-se às escondidas, em atmosfera clandestina e de mau gosto, como se a sexualidade fosse terra cercada, aonde se tivesse que entrar à força e de maneira subreptícia. A educação oferecida era antes contraproducente por uma simples razão: a primeira norma pedagógica exige que o educador esteja convencido e entusiasmado pelo que ensina.

Não basta manifestar esse apreço só com a palavra. Os conteúdos mais autênticos e eficazes são aqueles que transmitimos sem querer, de forma inconsciente, os que desvelam nossa verdadeira atitude interior, oculta muitas vezes sob a exterioridade de nossas idéias e mensagens racionalizadas. Ainda que se “pense” de uma maneira, pode-se “viver” de outra, e essa vida é que se comunica através de linguagem muito mais significativa: a de nossas reações afetivas. O rubor, o medo, as meias palavras, a mudança de conversa, o nervosismo, a falta de naturalidade, o pudor excessivo..., como a espontaneidade artificial, o prurido de informação, a morbosidade e o mau gosto... impedem que todo o bom que se afirma atinja seu objetivo.

Vamos ser realistas: a vivência profunda do sexo era demasiado problemática em muitos de nossos ambientes católicos.

O Pe. Eduardo López Azpitarte, catedrático de Teologia Moral na Universidade de Granada, na sua obra Ética da Sexualidade e do Matrimônio diz:

Essa mesma insistência, ao lado do receio tradicional para com o prazer, fez com que a sexualidade perdesse seu caráter festivo para muitos cristãos. A satisfação que provoca devia ficar a serviço da espécie, como estímulo e compensação pelo cumprimento laboriosos dessa tarefa. O ideal seria quase tentar eliminá-lo, pois a busca exclusiva da experiência de prazer constituiu para muitos motivo de pecado até tempos recentes. E por isso nunca se apresentava como comportamento digno do cristão, uma vez que o degrada a nível inferior. No entanto, nenhuma espécie de prazer, pelo simples fato de sê-lo, deve-se catalogar como pecaminoso. A satisfação que produz não é nada mais que o sinal de uma plenitude que acompanha uma atividade sensível, de sorte que, se deixasse na consciência um sentido de vazio e frustração, não se poderia considerar como experiência prazenteira. Querer excluí-lo a todo custo da existência seria sintoma de uma estrutura muito aproximada do patológico.

Ninguém pode ignorar os riscos de todo gozo sensível. Essa plenitude da sensibilidade é convite a nela submergir e a valorizá-lo de tal sorte que o prazer surja como um absoluto da vida. O que é fim secundário, aspecto acidental e adjetivação da conduta, diviniza-se como valor supremo. O homem sente a tentação, quando experimenta seu calor e proximidade, de convertê-lo em ídolo, mas o pecado não nasce da satisfação produzida, mas do gesto idolátrico com que o aceita e adora. Desmistificar as múltiplas formas com que se absolutiza o prazer constitui tarefa educadora de todos os tempos.

Ora, para evitar esse perigo não podemos condená-lo, negando-lhe seu próprio valor. Essa condenação absoluta manifesta que somos culpáveis de estimulá-lo em demasia. Ao ter medo de que se converta em todo, queremos desprestigiá-lo até sua completa eliminação. Sua legitimidade não provém de que esteja a serviço de outra função, como recompensa permitida por ter conseguido outra finalidade. Dentro de sua ambigüidade, e com os perigos que implica, é fenômeno eticamente neutro. Como sempre, as duas posturas extremas negam-lhe sua função da existência humana. Nem o hedonismo exagerado nem o ascetismo morboso souberam colocá-lo em seu verdadeiro contexto.

Quando se idolatra, essa atitude de adoração constitui mentira e, se brota de conduta perversa, fica ferido o prazer por essa mesma malícia. Mas se se rejeita como norma ou se considera pecaminoso, fora dessas circunstâncias, não há outra explicação senão o erro ou a patologia. Entre os dois extremos, a reconciliação e sua defesa se fazem necessárias. Enquanto não se absolutizar como valor supremo ou acompanhar uma conduta desumanizante, deve-se considerar o prazer como bom e apetecível. Assim o problema não está em saber se se deve aprová-lo ou condená-lo, mas em valorizar a atividade da qual é inseparável ou descobrir a primazia que se lhe concede.

O citado autor complementa:

Ao insistir na função procriadora, finalmente, a ética reduzida à pura genitalidade, como se a excitação venérea constituísse a única fonte possível de pecado. Os manuais só se ocupavam desse aspecto, e inclusive, quando faziam referência a outras ações, analisava-se exclusivamente o perigo mais ou menos justificante que pudesse existir para a aceitação desse risco. A complexidade desses fatores, em seus diversos graus, motivava uma série de orientações concretas que se multiplicavam sem fim.

A problemática sobre os bailes, beijos, carícias, espetáculos, leituras, olhares, etc., estava perpassada por essa mentalidade. O corpo humano – e até o dos próprios animais – surgia escrupulosamente dividido em zonas anatômicas, cuja valorização radicava em seu poder estimulante, de acordo com o sentido que sobre elas atuasse e tendo em conta outras circunstâncias pessoais. A moral considerava pecaminoso qualquer comportamento que pudesse despertar essa reação venérea sem qualquer motivo justificante. Alguns autores chegavam a defender que a simples aceitação desse risco, ainda que não consentisse no prazer, se ocorresse, já era suficiente para a falta grave.


A imperfeição dessa proposição não está no que se afirma, que se poderia admitir como orientação básica, eliminando muito de seu casuísmo extremo, mas no que esquece e deixa por completo na penumbra. A ética tem de ir além da pura genitalidade, pois em toda relação sexuada podem ocorrer atitudes que, sem repercutir em nada nessa zona, constituem conduta desumanizante. É possível que o encontro entre sexos diferentes adquira matizes utilitários e egoístas. A busca do outro não interessa como pessoa, mas como um motivo de satisfação solitária, ainda que diga respeito só a sua psicologia e não produza ressonância em outros níveis.

Se o interesse que o companheiro desperta repousa na utilidade que traz, ou se se cria uma atitude fechada para se instalar no gozo que não se compartilha, os gestos, as palavras, o olhar, o sorriso ou o passeio estão manchados em suas raízes primeiras. Existe uma falsificação de fundo que impede um autêntico diálogo humano. Ainda que o genital não intervenha, é necessária a denúncia dos comportamentos que adulteram a relação sexual em seu sentido mais amplo.

E o único modelo mesmo é Nosso Senhor (e os santos o são na medida em que se ajustam ao Divino Mestre), nós, todos nós, nas situações que a vida coloca, em especial no campo da sexualidade, pretendemos melhorar, é um "vir a ser" constante, que só vai parar com a morte.

Alguns sofrem os problemas mais variados, de traições, saída com prostitutas a homossexualismo e sempre dizemos: vamos caminhar juntos meu irmão! Nesse aspecto, a calma, a prudência e o entendimento de que há um "gap" entre o Projeto de Deus e nossa natureza desordenada, perfaz a melhor perspectiva para um ajuste da afetividade à perfeição evangélica. Não considerar o ser humano como ser humano não leva a nada aqui, antes, acaba é gerando sérios problemas para um comprometimento sadio com a fé.

PARA CITAR ESTE ARTIGO:

Puritanismo moderno entre tradicionalistas David A. Conceição, fevereiro de 2012, blogue Tradição em Foco com Roma.


CRÍTICAS E CORREÇÕES SÃO BEM-VINDAS:


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