O conteúdo dessa sequência apologética foi enviada para o Prior do Mosteiro de Santa Cruz - Dom Tomás de Aquino, para o responsável do Grupo Permanência - Dom Lourenço Fleichman e Pio Espina - sacerdote sedevacantista argentino.
“2.5. O obscurecimento da noção da santidade da
Igreja, que pertence ao depósito da fé. Lê-se, efetivamente, que a
"Igreja [do Cristo — N. da R.], que encerra em seu seio os pecadores,
que é santa e, ao mesmo tempo, sempre deve ser purificada, procura sem
cessar a penitência e a renovação" (Lumen Gentium 8), o que é um erro
teológico evidente, já que é o pecador que tem necessidade de
purificação e não a Igreja, graças à qual o pecador a obtém (...)É, portanto, completamente errado escrever, nisso persistindo, que aqueles que se confessam "se reconciliam com a Igreja que seu pecado tinha ferido (quam peccando vulnaverunt)" (Lumen Gentium 11) ou que a Igreja é "aureolada por uma santidade verdadeira mas imperfeita" (Lumen Gentium 48) por causa do pecado que a fere continuadamente: é errado porque o pecado ofende a Deus, mas fere e portanto prejudica somente àquele que o comete e isso é tão verdade que a pena só se aplica a ele (o Julgamento é individual). A Igreja Católica, enquanto tal, não pode ser ferida pelo pecado de um de seus membros, muito menos ainda o depósito da fé.”
SOLUÇÃO:

Esta resposta por razão da complexidade do problema que toca será dividida em cinco partes:
1. A Igreja é Santa em absoluto.
2. Forma não herética da afirmação que a Igreja é “Santa e pecadora”
3. Resposta preliminar
4. A Tradição
5. Conclusão
A IGREJA É SANTA EM ABSOLUTO
Deve-se
dizer que a Igreja essencialmente é só Santa. Não há lugar para pecado
Dela. Nosso Credo diz que Ela é Santa, e como tal não pode ter espaço
para o erro. Neste contexto quando biblicamente lemos a palavra “santo”
é para significar, em primeiro lugar, tanto como sermos chamados por
Ele quanto pertencer a Deus. Deve-se passar longe da teologia
protestante que ao negar o dogma tem uma interpretação absurda do que é a
santidade da Igreja, atribuindo só a Cristo. Em suas palavras a sola
gratia leva a solus Christus. A teológica católica diz que a santidade
da Igreja pode ser vista sob vários aspectos, ao menos em dois,
certamente: a santidade ontológica e a santidade ética ou moral.
Jesus
Cristo, que é Deus Santo, é Cabeça da Igreja esta está por Ele
santificada. Sua Santidade em Sua Esposa está na medida em que Ela
participa de sua própria pertença a Deus. A Doutrina que nos chegou é
igualmente santa. Além disso, os sacramentos perfeitos, instituídos por
Cristo para santificar as almas, pelo qual recebemos o Espírito Santo,
são fontes de santificação para toda a Igreja. O batizado, converte-se
em outro, ocorrendo uma profunda transformação, ou seja, pela fé Nele e
pelo sacramento da fé é libertado o pecado, considerado como apartamento
de Deus. A pessoa no batismo é “limpa de toda mancha e rugas (Ef.
5,27), e nesta pureza o Senhor quer que ela continue.”
Santidade ética ou moral.
A
esta santidade ontológica deve necessariamente corresponder a santidade
moral dos membros da Igreja. É rigorosamente necessário que pelo fato
de existirem meios de santificação que acabamos de indicar sejam
produzidos os frutos dessa santidade nos membros da mesma Igreja.
Segundo as palavras do Senhor Jesus: “Toda árvore boa produz bons
frutos” (Mt 7. 17-19). Enquanto Cristo não tentou melhorar o mundo por
vias políticas, mas ordenar as relações dos homens com Deus, a
moralidade predicada por Ele tem também suas consequências inevitáveis
na transformação para o mundo. Também São Paulo supõe esta santidade
quando em suas palavras os cristãos “estão mortos para o pecado, vivos
no Espírito” (Rom. 8, 9-10)
Sintetizamos com Santo Tomás: “Se
chama santidade à aplicação que o homem faz de sua mente e de seus atos a
Deus. Sua diferença, para tanto, com a religião não é essencial, mas
simples distinção de razão. A religião oferece o serviço devido a Deus
no que especialmente toca ao culto divino, como o sacrifício, a oblação
ou coisas similares. A santidade, além disso, refere a Deus as obras das
restantes virtudes, o bem faz que o homem se disponha por certas obras
boas ao culto divino” (ST 2-2, q. 81, a. 8: ed. BAC cit., 32-33)
Por
todas as razões expostas deve-se dizer que a Igreja é Santa, e
considerá-la absolutamente assim. Os pecados de seus membros não são
pecados da Igreja em si mesma. Como nos diz o Papa Pio XII “Não se pode
imputar a Ela se alguns de seus membros sofrem de chagas ou doenças; por
eles ora a Deus todos os dias: "Perdoai-nos as nossas dívidas" e
incessantemente com fortaleza e ternura materna trabalha pela sua cura
espiritual.” (Enc. Mystici Corporis, 65)
FORMA NÃO HERÉTICA DA AFIRMAÇÃO QUE A IGREJA É “SANTA E PECADORA”
Contudo,
nem sempre a expressão Igreja “santa e pecadora” deve ser considerada
herética. O Papa João Paulo II diz explicitamente: “E aqui estou,
convosco, peregrino entre peregrinos, nesta assembleia da Igreja peregrina,
da Igreja viva, santa e pecadora, para “louvar o Senhor, porque é
eterna a sua misericórdia” (Ps. 135, 1)” (Discurso do Papa João Paulo II
ao Bispo de Leiria na chegada à Fátima) Convém ao fiel ter a sensatez
de interpretá-la no sentido católico. P. Rahner dividia bem a questão,
admitindo que Ela possa chamar-se “pecadora”, porém apenas “em seu corpo
da carne, em sua forma “histórico-temporal” (Kirche der Sünder 12-20.
Véase Dejaifve, art.cit. em bibli.).
É claro que não pode chamar-se
pecadora se a entendemos em toda sua completude, todo o aspecto divino
Dela: Cristo, sua Cabeça, o Espírito Santo, sua alma, o depósito da fé,
os sacramentos, etc. E neste sentido há de se dizer ao lugar que a
Igreja é santa e santificadora. Todavia, podemos falar de “Igreja
pecadora” enquanto seus membros, parte essencial dela, são
verdadeiramente “Igreja”. Consideraremos para tanto o aspecto humano,
temporal, apenas para essa descrição. O Papa Pio XII diz claramente,
considerando a parte pelo todo, que os leigos não apenas pertencem à
Igreja, mas “são a Igreja” (Alocução aos novos cardeais em 20 de
fevereiro de 1946, AAS 38 (1946) 149. Trad. castellana "Ecclesia"
(1946) I 231).
Ora, uma vez que é possível dizer que os leigos são a
Igreja, por consequência é legítimo dizer que a Igreja é “pecadora”, por
um silogismo simples, em que a premissa menor é que “os leigos são
pecadores”. Concluindo que logo a Igreja é pecadora nesse sentido, pela
própria definição dada. Mas é claro que ela não é completa e não
considera a Igreja em toda sua dimensão. Desta maneira o binômio com
aparência antitético “santidade-pecado” da Igreja nos leva ao
entendimento do mistério real da Igreja. Que ela tem aspecto humano e
divino. Mostra-nos a “immaculata ex maculatis”, imaculada de maculados
ou manchados, segundo a expressão de Santo Ambrósio (In Lc. I, 71: ml
15, 1540.) Deve-se evitar essa expressão pelo fato de gerarem más
interpretações, mas em si mesma não há nada que prove que é herética.
RESPOSTA PRELIMINAR
Apesar
da Igreja Católica ser totalmente Santa, o Concílio diz que Ela é
“semper purificanda” (sempre necessitada de purificação). A primeira
vista isso pode parecer contraditório, mas se olharmos atentamente para o
tema veremos que sua resolução é possível, sendo clara na Tradição.
Duas realidades são manifestas, uma que a Igreja possui, realmente,
santidade, e outra, que essa santidade não é perfeita. Ainda há de
possuir a perfeição total no estado escatológico, não se deve esperar
isso na realidade terrena. Dizer o contrário é cair na heresia
pelagiana, tão combatida por Santo Agostinho, propondo uma Igreja
perfeita já na terra.
As palavras do apóstolo Paulo que Cristo quis
apresentar a Igreja a si mesmo “como igreja gloriosa, sem mancha nem
ruga ou coisa semelhante, mas santa e inculpável.” (Ef 5,27) não valem
apenas para o momento presente, mas, principalmente, na sua Glória, onde
não haverá nenhum resquício do pecado. Esta é uma interpretação dos
Pais da Igreja e de Santo Tomás, como adiante mostrarei. Ela é levada à
Santidade perfeita. Acontece que os pecados dos filhos da Igreja
obscurecem, caducam, sua santidade, embora seja obustecida pela
força do Senhor ressuscitado.
A Igreja, como extensão de Cristo, também
carrega o peso dos erros e culpas de seus filhos possuem. Ora, Ela é
Cristo continuado, não há nada estranho nisso. A Comissão Teológica
Internacional sobre isso diz: “Esta Igreja - que abraça os seus filhos
do passado, assim como os do presente, numa real e profunda comunhão - é
a única Mãe na Graça que carrega em si o peso das culpas também
passadas para purificar a memória e viver a renovação do coração e da
vida segundo a vontade do Senhor.
Pode fazê-lo porquanto Jesus Cristo -
de que é o Corpo misticamente prolongado na história - assumiu em si, de
uma vez por todas, os pecados do mundo.” (Memória e Reconciliação: A
Igreja e as Culpas do Passado). Daí, devemos dizer que a Igreja precisa
de purificação ou reforma. Purificação não porque seja pecadora, mas
porque não possui santidade perfeita, mas é o que está buscando. Em
resumo: apesar dela não ser impura em si, as impurezas de seus filhos
afetam sua santidade. É por isso que Lumen Gentium tem completa razão
quando diz que a Igreja possui uma santidade imperfeita (LG, 48).
Também
o Catecismo quando repete: “Já na terra a Igreja está ornada de
verdadeira santidade, embora imperfeita." (§825). Ora, este é o mesmo
Catecismo que cita: “A Igreja... é, aos olhos da fé, indefectivelmente
santa.” [LG 39] (§822) E mais: “A Igreja é santa, mesmo tendo pecadores
em seu seio, pois não possui outra vida senão a da graça” [SPF 19]
(§827). Entre a Igreja ser Santa “sempre necessitando de purificação” ou
reforma e ser pecadora há uma enorme diferença. Nas palavras do Papa
Paulo VI Deus purifica o corpo de Cristo “dos defeitos de muitos dos
seus membros e estimulando-o a novas virtudes." (Paulo VI, Ecclesiam
suam, 22).
Na Relatio explica-se a decisão adotada, isto é, o uso da
expressão supracitada, é também atendendo o pedido de vários Padres, e
está inspirada no discurso de Paulo VI à cúria romana do dia 22 de
Setembro de 1963 que diz: “daquela reforma perene de que a Igreja,
enquanto instituição terrestre e humana, tem uma necessidade permanente”
(Cfr. F. GIL HELLÍN (ed.), Concilii Vaticani II Synopsis. Constitutio
Dogmatica De Ecclesia Lumen Gentium, Città del Vaticano 1995, pp. 66s.
Link).
A purificação toma aí o mesmo sentido de reforma. Como dizia o
Papa Inocêncio III "pro universali Ecclesia reformanda" (Sermão VI, In
Concilio Generali Lateranensi Habitus).
Nada melhor que o próprio Paulo VI para explicar isso:
“Se
alguma sombra ou defeito ao compará-la com Ele aparecesse no rosto da
Igreja ou sobre sua Veste Nupcial, o que deveria ela fazer como por
instinto, com todo valor? Claramente: reformar-se, corrigir-se e
esforçar-se para devolver a si mesma a conformidade com seu divino
modelo que constitui seu dever fundamental. Recordemos as palavras do
Senhor em sua oração sacerdotal ao aproximar-se sua iminente paixão: “Eu
me santifico a mim mesmo para que eles sejam santificados na verdade
(Jo. 17, 19).
O Concílio Ecumênico Vaticano II deve colocar-se, a nosso
parecer, nesta ordem essencial querida por Cristo (...) Sim, o Concílio
tende a uma nova reforma. Porém atenção: não é que ao falar assim e
expressar estes desejos reconheçamos que a Igreja católica de hoje pode
ser acusada de infidelidade substancial ao pensamento de seu divino
Fundador, mas sim o reconhecimento de sua profunda fidelidade
substancial cheio de gratidão e humildade e lhe infunde o valor de
corrigir-se das imperfeições que são
próprias da debilidade
humana (...) Não é pois, a reforma que pretende o Concílio uma mudança
radical da vida presente da Igreja ou uma ruptura da Tradição...”
(Abertura da Segunda Etapa Conciliar, 29 de setembro de 1963 AAS55
(1963), 841-859)
É neste sentido que o Concílio diz que a Igreja
necessita de uma purificação permanente. Assim, Cristo se santificava
por nós. Nem Cristo e nem a Igreja, por isso, tiveram, ou Ela ainda
teria, algum pecado ou falta.
A TRADIÇÃO
Neste ítem passarei algumas passagens dos Pais da Igreja e de Santo Tomás que corroboram claramente com a ideia do Concílio.
Santo Agostinho:
“A Igreja no seu conjunto afirma: Perdoai-nos os nossos pecados! Ela,
portanto, tem manchas e rugas. Mas, mediante a confissão as rugas são
removidas, mediante a confissão as manchas são lavadas. A Igreja está em
oração para ser purificada pela confissão, e enquanto os homens viverem
na terra isto será assim” (Sermo 181,5,7: PL 38, 982.)
“Mas
longe de nós que qualquer um do nosso número deva chamar-se de tal
maneira justo, ou que ele deva estabelecer sua própria justiça, como se
lhe fosse conferido por si mesmo, enquanto que se diz a ele: "O que você
tem que não tenha recebido?" (1 Coríntios 4,7) ou vangloriar-se como
sendo sem pecado neste mundo, como os donatistas se declaram em nossa
conferência que eram membros de uma Igreja que já não tem mancha nem
ruga, nem coisa semelhante, (Efésios 5,27), mas sem saber que isto só se
cumpre naqueles indivíduos que saem deste corpo imediatamente após o
batismo, ou depois da remissão dos pecados, para quais fazemos petições
em nossas orações, mas que para a Igreja, em seu conjunto, o tempo não
virá em que será completamente sem mancha nem ruga, nem coisa
semelhante, até o dia em que vamos escutar as palavras: " Onde está, ó
morte, o seu aguilhão? Onde está, ó morte, a sua vitória? O aguilhão da
morte é o pecado" (1 Coríntios 15, 55-56)
39. Mas nesta vida,
quando o corpo corruptível torna pesada a alma (Sabedoria 9,15), se sua
Igreja já é de tal natureza que eles alegam, eles não proferir a Deus a
oração que Nosso Senhor nos ensinou a empregar: "Perdoa-nos as nossas
dívidas" (Mateus 6, 12). Se todos os pecados foram remidos no batismo,
por que a Igreja fazer esta petição, se já, mesmo nesta vida, não tem
nem mancha nem ruga, nem coisa semelhante? Eles também têm uma luta ao
desprezar a advertência do Apóstolo João, quando ele grita em sua
epístola: "Se dissermos que não temos pecado algum, enganamos a nós
mesmos, e a verdade não está em nós.
Mas se confessamos os nossos
pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar
de todas a injustiça." (1 João 1, 8-9) Por conta dessa esperança a
Igreja univrersal profere a petição, "Perdoa-nos as nossas dívidas", ao
Ele ver que não somos vangloriosos, mas prontos a confessar os nossos
pecados, Ele pode nos purificar de toda a injustiça, e que por
isso o Senhor Jesus Cristo pode mostrar a si mesmo naquele dia uma
Igreja gloriosa, sem mancha nem ruga, nem coisa semelhante,que agora Ele
limpa com a lavagem de água pela palavra: porque, por um lado, não há
nada que fica para trás no batismo para impedir o perdão de todos os
pecados passados (tanto tempo, isto é, como o batismo não é recebido a
efeito sem a Igreja, mas ou é administrado dentro da Igreja, ou, pelo
menos, se foram já administrados sem, o destinatário não fica de fora
com ele), e, por outro lado, qualquer que seja a poluição do pecado, de
qualquer tipo, é contraido pela fraqueza da natureza humana por aqueles
que vivem aqui depois do batismo, são purificados em virtude da eficácia
da mesma pia.
Por isto não é de qualquer proveito para alguém que não
foi batizado dizer: "Perdoa-nos as nossas dívidas"." (EPISTLE CLXXXV,
cap. 9)
"Pelágio foi acusado de ter dito: "Que a Igreja
aqui é sem mancha nem ruga". Foi neste ponto que os donatistas também
estavam constantemente em conflito conosco em nossa conferência. Temos
utilizado, em seu caso, de dar ênfase especial sobre a mistura de homens
ruins com bons, como do joio com o trigo, e fomos levados a essa ideia a
semelhança da eira.
Podemos aplicar a mesma ilustração em resposta aos
nossos adversários presentes, a não ser que de fato eles tenham a Igreja
consistindo apenas de homens bons, que eles afirmam ser isentos de
qualquer pecado, que assim a Igreja poderia ser sem mancha nem ruga. Se
este é o seu significado, então repito as mesmas palavras que eu citei
agora, pois como eles podem ser membros da Igreja, dos quais a voz de
uma humildade sincera declara: "Se dissermos que não temos pecado,
enganamos nós mesmos, e a verdade não está em nós"? ou como a Igreja
poderia oferecer a oração que o Senhor a lhe ensinou a usar, "Perdoa-nos
as nossas dívidas" se neste mundo a Igreja é, sem mancha ou defeito?
Em
suma, eles devem se submeter e ser estritamente catequizados a
respeito: será que eles realmente aceitam que eles tenham quaisquer
pecados próprios? Se sua resposta for negativa, então eles devem ser
claramente informados de que eles estão enganando a si mesmos, e a
verdade não está neles. Se, no entanto, deverem reconhecer que eles
cometem pecados, o que é isso, se não uma confissão de suas próprias
manchas e rugas?
Eles, portanto, não são membros da Igreja, porque a
Igreja é sem mancha e sem ruga, enquanto eles tem tantas manchas e
rugas. Mas esta objeção ele respondeu com cuidado atento, como os juízes
católicos sem dúvida aprovados. "Não tem", disse ele, "foi afirmado por
mim, - mas em tal sentido que a Igreja é, pela pia limpa de toda
mancha e rugas, e nesta pureza o Senhor quer que ela continue." Foi
então que o sínodo disse: "É isto também que nós aprovamos." E quem
entre nós nega que no batismo os pecados de todos os homens são remidos,
e que todos os crentes ficam sem pecados e puros da pia da regeneração?
Ou o cristão católico não pretende, como o seu Senhor também quer, e
como Ele tem feito para ser, que a Igreja deva permanecer sempre sem
mancha nem ruga? Pois Deus de fato na Sua misericórdia e verdade,
fazendo para sua santa Igreja realizar-se a este estado perfeito em que
ela deve permanecer sem mancha nem ruga, para sempre.
Mas entre a pia,
onde todas as manchas do passado e deformidades são removidas, e o
reino, onde a Igreja permanecerá para sempre sem qualquer mácula, nem
ruga, há o tempo presente intermediário de oração, durante o qual o seu
grito de necessidade deve ser: "Perdoa-nos as nossas dívidas." Daí
surgiu a objeção contra eles por dizer que "a Igreja aqui na terra é sem mancha nem ruga" (Sobre o processo de Pelágio, cap. 27 e 28)
“Em
que, de fato, no louvor dos santos, eles não vão nos levar com o zelo
do que o publicano à fome e sede de justiça, mas com a vaidade dos
fariseus, por assim dizer, a transbordar com suficiência e plenitude, o
que serve-lhes que, em oposição aos maniqueus, que querem acabar com
batismo, dizem "que os homens são perfeitamente renovados pelo batismo",
e aplicam o testemunho do apóstolo para isso, - "que testemunha que,
por meio da lavagem de água, a Igreja é feita santa e imaculada entre os
gentios"-, quando, com um significado orgulhoso e perverso, que
apresentam os seus argumentos em oposição às orações da Igreja a si
mesma.
Pois eles dizem isto com o fim de que a Igreja pode acreditar que
após santo batismo, em que é realizado o perdão de todos os pecados
para que não tenhamos pecados mais, quando, em oposição a eles, desde o
nascimento do sol até o seu pôr, em todos seus membros que clama a Deus:
"Perdoa-nos nossas dívidas." Porém, se se interrogam sobre essa
matéria, não encontram o que responder. Porque se dissermos que não
temos pecados, João responde-lhes, que eles se enganam, e que a verdade
não está neles.
Mas se confessarem seus pecados, já que desejam ser
membros do corpo de Cristo, como será que o corpo, isto é, a Igreja, É
ainda neste tempo perfeitamente, como eles pensam, sem mancha nem ruga,
se seus membros sem falsidade confessam ter pecados? Portanto, no
batismo todos os pecados são perdoados, e, por isso a lavagem de água
pela palavra, a Igreja é apresentada em Cristo, sem mancha, ou ao menos
se já não fossem batizados, seria em vão dizer: "Perdoa-nos as nossas
dívidas", até que ser trazida para a glória, quando nela não haverá
absolutamente nenhuma mancha nem ruga." (Contra duas cartas dos
Pelagianos (Livro IV)
São Jerônimo:
"Por
isso o Apóstolo, falando de nosso Senhor, diz que, no fim do mundo,
quando todas as virtudes devem receber sua consumação, Ele vai
apresentar sua santa Igreja a Si mesmo sem mancha nem ruga, e ainda
assim você acha que a Igreja perfeita, enquanto ainda na carne, que está
sujeito à morte e decadência. "(Diálogos contra Pelagianos, Livro III,
13)
Papa Leão I:
"Alegramo-nos com o
Senhor e na glória do dom da Sua graça, que Tem nos mostrado um seguidor
do Evangelho, que temos identificado apartir de sua carta, amada, e por
conta dos nossos irmãos que nós enviamos a Constantinopla: Por agora
através da fé do sacerdote aprovado, estamos justificando ao supor que
toda a igreja comprometida com ele não terá nenhuma ruga nem mancha de
erro, como diz o Apóstolo, "porque vos desposei com um esposo único para
vos apresentar como virgem pura a Cristo."" (Carta LXXX (Ao Anatolius,
Bispo de Constantinopla)
Santo Tomás:
"Ainda
mais: o Apóstolo disse em Ef. 5, 25-27 que Cristo se entregou pela
Igreja, para apresentá-la a si mesmo gloriosa, sem mancha nem ruga ou
coisa semelhante. Mas há muitos, mesmo fiéis, no quais se encontra a
mancha ou a ruga do pecado(...)
A segunda deve-se dizer: A Igreja
gloriosa, sem mancha nem ruga, é o último fim ao que somos conduzidos
pela paixão de Cristo. Por isso isto será realidade na patria celestial,
mas não nesta vida, durante a qual, se dissermos que não temos pecados,
enganamos a nós mesmos, como se escreve em 1 Jo 1,8. (Summa Theol.,
III, q. 8, a. 3, ad 2)
CONCLUSÃO
Constatamos
que as palavras da Lumen Gentium vão a encontro à razão e Tradição. Não
contraria o dogma, pelo contrário, desenvolve-o. Resumindo com Santo
Tomás poderíamos dizer: “Ele apresenta a Si Próprio a Igreja num estado
Imaculado, já aqui pela graça e no futuro pela glória.” (Ad Ephesios, V,
27)
Finalizo com o renomado teólogo Michael Schmaus:
“A
comunidade enquanto tal não é, pois, capaz de uma decisão pecaminosa. Só
os membros da Igreja podem ser pecadores. Como sem dúvida pecam
enquanto membros da Igreja, como não se pode abstrair o fato de que
pertencem à Igreja, a santidade da Igreja mesma se obscurece por seus
pecados. Como, segundo as palavras de São João, todos os batizados,
apesar de sua comunhão com Cristo (no caso em que não lhes seja
concedida uma graça divina especial), cometem pecados, todos contribuem a
desfigurar a santidade da Igreja. E como os indivíduos se reúnem em um
“nós” nele tem boa razão o dizer “Padre nosso”: perdoa-nos nossas
dívidas (Mt. 6, 12).
Contudo, enquanto a santidade da Igreja seja
obscurecida pelos pecados de seus filhos, irrompe continuamente com
luminoso esplendor e através da treva no amor pronto o sacrifício de
seus membros. E assim é certo que a santidade perfeita é um bem futuro,
mas a imperfeita é um bem presente e atual. Quando a Igreja diz que
alguns de seus filhos, que viveram santamente dentro da história e agora
estão na plenitude (canonização), não se trata de palavras vazias, mas
de uma fiel reflexão da realidade (vol. I, § 11).
Não obstante, a
Igreja olha ansiando a hora em que pertencerá a seu Senhor sem reservas
como Esposa (Apoc. 22, 10-17). Então se cumprirão as palavras de Eph.
5, 26-27, que em pleno sentido devem ser escatologicamente entendidas,
da qual a Igreja será sem mancha e sem ruga, santa e imaculada. Até que
rompa essa hora, manifesta-se como a santa Igreja de Cristo em seus
mártires, que jamais tem faltado e se mantiveram firmes em seu amor a
Cristo até a morte, em suas virgens, que sacrifica o terreno no fogo do
amor celestial, e em todo o que ama a Deus e serve ao próximo.”
(Teologia Dogmática, IV A Igreja, p. 609, Madrid, 1960)
PARA CITAR ESTE ARTIGO:

Os erros da Hermenêutica da Ruptura [6]. Nelson Monteiro S. Silva, setembro de 2012, blogue Tradição em Foco com Roma.
CRÍTICAS E CORREÇÕES SÃO BEM-VINDAS:
nelson.sarmento@gmail.com







