O Apostolado Tradição em Foco com Roma seguirá com um conjunto de
estudos que refutará os vários erros que se atribuem ao Concílio
Vaticano II. Alguns serão tirados da tradução da versão francesa do
jornal SiSiNoNo (publicada a partir do número 247, de julho-agosto de
2002), outros de diversos sites, e alguns nem serão tratados por já
estarem plenamente batidos neste blog. O intuito é que após isso
possamos fazer um índice com todos os erros elencados refutados para um
melhor baseamento do leitor frente os tradôs e sedevacantistas. Já
adiantamos que a finalização desse trabalho não será em curto prazo,
pois como ensina São Jerônimo refutar o erro sempre é um trabalho mais
penoso do que simplesmente anunciá-lo. O leitor que quiser participar
desta iniciativa poderá nos enviar sua refutação para nosso email
(tradicaoemfococomroma@hotmail.com), e poderá ver aqui publicada sua
refutação.
http://www.capela.org.br/Crise/Vaticano2/sinopse2.htm
Supostos erros concernentes a Santa Igreja
Santo
Tomás: "E contra essa autoridade [do Papa], nem Jerônimo, nem
Agostinho, nem nenhum dos santos doutores defende a opinião própria."
(Summa, IIa, IIae)
OBS: Apesar do conteúdo dessa sequência apologética ter sido enviado e lido por todos os defensores da leitura da ruptura, nenhum texto até agora foi refutado
ACUSAÇÃO
“2.6. Uma deformação antropocêntrica da noção de
pecado, já que se afirma, no fim do artigo 13 da Lumen Gentium, que "o
pecado é, por fim, uma diminuição do próprio homem na medida em que o
impede de chegar à sua própria plenitude (a plenitudine consequenda eum
repellens)", no lugar de dizer que ele "o impede de alcançar sua
salvação", como se a "plenitude" do homem, a ausência de contradições
consigo mesmo, fossem valores principais e mais ainda constitutivos da
noção de pecado que, ao contrário, é a ofensa feita a Deus, pela qual
merecemos a justa sanção, compreendendo nela a danação eterna.” .
Primeiro, houve um equívoco na tradução, pois o
período citado não está no artigo 13 da Lumen Gentium, mas na Gaudium et
Spes. Nota-se a ambiguidade do autor. Afinal, o problema do trecho
seria dizer que o pecado impede o homem de chegar à sua própria
plenitude ou está em pôr isso no lugar de dizer que “impede de alcançar
sua salvação”? Pois, tanto um dito quanto outro não entram em choque.
Qual o motivo da conjunção comparativa (como se)? Por que o autor não
quis ser direto? Eu posso dizer: João lutou como se fosse um soldado.
Contudo, não quero dizer que João de fato era um soldado. O autor
conclui a acusação ao mesmo tempo em que (talvez até inconscientemente)
demonstra que de fato é ridículo que o Concílio pudesse achar que o
período fosse de valor maior e principal na noção do pecado do que o
impedimento da salvação. Mas que o Concílio não tem esse entendimento é
pelo parágrafo anterior que constatamos: “Muitas vezes, recusando
reconhecer Deus como seu princípio, perturbou também a devida orientação
para o fim último e, ao mesmo tempo, toda a sua ordenação quer para si
mesmo, quer para os demais homens e para toda a criação.” Nem precisaria
dizer que o fim último é a salvação. É posto na primeira ordem, para
depois falar da contradição do homem por causa do pecado.
Sobre a diminuição do homem por causa do pecado e a contradição não é
antropocentrismo, o homem de fato se divide. É essa própria condição
humana pelo pecado original que faz termos esse problemas em nossas
naturezas. Sobre Rom. III vejamos o que Racine comenta:
“Meu Deus que combate terrível!
Percebo dois homens em mim
Um quer que, ceio de amor por ti,
Meu coração te seja fiel;
Outro, rebelde à tua vontade,
Revolta-se contra tua lei.”
“...tendo o homem, inclinação natural para a virtude, segundo já
estabelecemos (q. 60, 1; q. 63, 1), essa mesma inclinação é um certo bem
natural... a inclinação natural para a virtude, fica diminuído pelo
pecado. Pois, os atos humanos produzem uma certa inclinação para outros
atos semelhantes, como já se demonstrou (q. 50, a. 1). Necessariamente
porém, aquilo que se inclina para um contrário fica com a inclinação
diminuída para o outro. Por onde, sendo o pecado contrário à virtude, o
próprio pecar do homem diminui-lhe o bem da natureza, que é a inclinação
para a virtude." (ST II, Q. 85, art 1. sol)
2.7. A atribuição à Santa Sé de uma nova missão, que
não corresponde ao que sempre foi ensinado: realizar a unidade do gênero
humano (v. supra, sobre a alocução de abertura de João XXIII). Lumen
Gentium afirma que "a Igreja do Cristo" é "um sinal e um meio de operar a
união íntima com Deus e a unidade de todo o gênero humano" (Lumen
Gentium 1). Ao processo de unificação do mundo que se considerava então
em curso de realização, a Igreja deveria trazer sua contribuição
permitindo ao mundo atingir "igualmente sua plena unidade no Cristo"
(ibidem). E isto não tinha nada de espantoso, já que "promover a
unidade" do gênero humano — escrevia-se — "corresponde à missão íntima
da Igreja" (Gaudium et Spes 42). Mas não se trata de uma unidade em
função da salvação das almas, unidade a ser atingida portanto pela
conversão ao Catolicismo (como qualquer ingênuo poderia eventualmente
pensar), pois essa unidade parece simplesmente resultar da "íntima união
com Deus" de todo o gênero humano enquanto tal.
Parecer ser, segundo o juízo humano, portanto falho do
autor, não é ser. Essa “íntima união com Deus” ocorre na Igreja
Católica (visivelmente ou não) e não fora, de modo que a interpretação
do autor não colhe. É a própria Lumen Gentium no cap. 13 que diz: "Todos
os homens são chamados a esta unidade católica do Povo de Deus, a qual
anuncia e promove a paz universal; a ela pertencem, de vários modos, ou a
ela se ordenam, quer os católicos quer os outros que acreditam em
Cristo quer, finalmente, todos os homens em geral, pela graça de Deus
chamados à salvação." Essa união do gênero humano já tinha sido proposto
pelo Papa Pio XII na encíclica Summi Pontificatus.
“Verdades
sobrenaturais estas, que estabelecem bases profundas e solidíssimos
vínculos de união, reforçados pelo amor de Deus e do divino Redentor, do
qual recebem todos a saúde "pela edificação do corpo de Cristo, até que
cheguemos todos a unidade da fé, ao pleno conhecimento do Filho de
Deus, ao estado do homem perfeito, segundo a medida da plenitude de
Cristo" (Ef 4, 12-13).” (II, 32)
"É
inegável que a tese principal na primeira encíclica "Summi Pontificatus
Annum" de Pio XII é a idéia de união do gênero humano. A religião de
Cristo é, antes de tudo, a religião da união (...) Os invidíduos -
afirma S. S. - aparecem e são unidos por seleções orgânicas, harmoniosas
e recíprocas." (A Ordem, setembro 1940, p. 16)
2.8. A noção segundo a qual a Santíssima Virgem
"progride no caminho da fé" (Lumen Gentium 58), como se Ela não tivesse
sabido depois da Anunciação que Jesus era o Filho de Deus,
consubstancial ao Pai, o Messias anunciado.
Novamente a conjunção (como se). Como se o autor
estivesse ciente que sua conclusão não pode partir da premissa que Maria
progride no caminho da fé. O texto não nega que Ela já tinha esse
conhecimento, pelo menos geral. O autor parece não saber a diferença
entre a ciência infusa per se de Maria e sua ciência adquirida ao longo
de sua vida. A própria noção do mistério da Trindade conhecida por Maria
Santíssima desde a Anunciação foi amplamente melhor explicada por seu
Filho mais tarde (cf. Francis J. Connel, Mariologia, 1964, p. 706.
Direção do Pe. J. B. Carol) Leiamos o que os teólogos têm a dizer sobre
isso:
“Com o correr do tempo, a
ciência infusa de Maria cresceu, sem dúvida, mediante a concessão lhe
fazia o Altíssimo de novas espécies, e assim, enquanto podemos sustentar
que não conheceu desde o princípio de sua existência todo o plano de
Deus a salvação do gênero humano, e inclusive o papel que ela
desempenharia no cumprimento deste desígnio maravilhoso(...)” (Ibid)
Pe. Benito Enrique Merkelbach, O. P.:
102. Progresso da ciência em Maria – Assim pois, a Virgem Santíssima pôde crescer em ciência de vários modos:
1º.
Por sua própria inteligência, isto é, falando verdades, aprendendo ou
confirmando pela experiência, penetrando mais profundamente: pelo que
Eadmero, de Exc. B. V. M., cap. 7, disse: “Havia aprendido muitas
coisas... sobre os mistérios de Nosso Senhor Jesus Cristo, por si mesma,
não só pela simples ciência, mas pelo afeto e experiência” (PL, 159,
558);
2º. Por meio da instrução recebida de seus pais, ou no
templo; pelo menos enquanto algumas verdades secundárias, ou enquanto as
circunstâncias das verdades sobrenaturais, ou pelo que se refere o
conhecimento de certos lugares da Escritura;
3º. Pela lição contínua da Sagrada Escritura;
4º. Por ministério dos anjos, como por sua aparição corporal, como também pela interna ilustração de sua mente (...);
5º. Pelo trato familiar com seu Filho, especialmente em sua vida oculta, maior;
6º. Também por revelações especiais;
7º. No dia de Pentecostes, quando o Espírito Santo desceu.
(...)
8º.
Por isso mesmo teve uma ciência sagrada, teológica, perfeita, que na
verdade, devia ser aumentada progressivamente segundo a conveniência das
circunstâncias, segundo disse São Alberto Magno, no Mariale, q. 109:
“Os apóstolos souberam teológica, enquanto não a haviam aprendido; logo
com muita mais razão a Virgem Santíssima”, como rainha da Igreja e
mestre dos Apóstolos. Pelo o que disse Bartolomeu de Medina, segundo a
opinião de seu tempo: “A Santíssima Virgem teve um conhecimento dos
mistérios da fé, maior que todos os Profetas, que os Apóstolos e que os
Evangelistas (In III P., q. 27, a. 5.)” (Mariologia, Tratado da
Santíssima Virgem Maria, Mãe de Deus e Mediadora entre Deus e os
homens, 1954, p. 276-277)
Pe. Gabrielle Roschini:
“Enquanto ao conhecimento do futuro,
especialmente em relação aos divinos decretos que se referem a
santificação e a salvação da humanidade, a Santíssima Maria devia, por
necessidade, conhece-los como Co-rendentora, de modo geral ao menos, se
não em todos seus detalhes particulares, e isto desde o momento da
anunciação” (O.c., p. 190, apud Francis J. Connel)
D. Gregório Alastruey:
“Questão 2. De que modo a Bem-aventurada Virgem adquiriu a ciência.
Há
dois modos de adquirir a ciência, a saber: encontrando e aprendendo;
dos quais o principal é pela invenção e o secundário pelo estudo e
ensinamento porque é mais nobre instruir-se por si mesmo que por outro.
1º. A Bem-aventurada Virgem alcançou a ciência pelo próprio engenho:
a)
Porque teve um entendimento superior, ao qual serviam muito bem o corpo e
os sentidos; e assim Maria aprendeu perfeitamente pela própria
inteligência e sem dificuldade os objetos que lhe convinham saber e se
podem aprender pela luz do entendimento do agente, subministrados pelos
sentidos, segundo ensina Santo Tomás que lhe ocorreu a Cristo seu Filho.
b) Ademais, ultrapassou também na ciência pela assídua leitura e
meditação das Sagradas Escrituras e pela contemplação dos mistérios
divinos; o qual expressa Orígenes com estas palavras: “Tinha a ciência
da lei, e havia conhecido os vaticínios dos Profetas com a diária
meditação dos mistérios”
c) Finalmente, dava matéria de conhecimento a
Bem-aventurada Virgem sua experiência pessoal externa e internela, e por
ela percebia muitos efeitos, para outros inexplorados, visíveis e
invisíveis; v. gr., que concebeu sem varão, que deu a luz sem dor, etc.
2º.
A Bem-aventurada Virgem recebeu a ciência também do Mestre, não
certamente no sentido que a houvesse aprendido dos homens, mas enquanto
que foi instruída por só seu Filho. (...)
Por outra parte,
bastava para a mais perfeita instrução da Santíssima Virgem o trato
familiar com seu divino Filho, em cujos rios de celestial doutrina bebeu copiosamente por esse espaço de trinta anos, e cujas conversas
ouviu mais avidamente que nada.” (Tratado da Virgem Santíssima, 1952, p.
366-367)
Mais uma vez se demonstra notória a falta teológica do autor da acusação.
PARA CITAR ESTE ARTIGO:

Os erros da Hermenêutica da Ruptura [7] http://twixar.com/D7d. Nelson Monteiro S. Silva, outubro de 2012, blogue Tradição em Foco com Roma.
CRÍTICAS E CORREÇÕES SÃO BEM-VINDAS:
nelson.sarmento@gmail.com

