Deus criou os anjos, e tudo o que Deus cria, cria por
amor. Logo, Deus amava todos os anjos, incluindo Lúcifer. E Deus jamais
pode deixar de amar qualquer uma de suas criaturas. Logo, sim, Deus ama
Lúcier, e todas as criaturas que estão no Inferno.
Pode parecer
estranho, mas reparem que Deus é Onisciente, e já sabe de antemão quem
de nós será ou não condenado, e mesmo assim ele ama a todos. O amor de
Deus é inexplicável tanto pelo seu infinito alcance como pela sua
natureza perfeita.
De todo mal Deus tira o bem, então ele permite o mal.
Deus ama até os condenados e os pune menos do que merecem, e é certo que
até da condenação ao inferno Deus tira um bem e que é tão superior que
por causa dele Deus permite o mal. Deus nunca permite o mal senão por um
bem superior.
Todas as coisas tendem para Deus, e Deus é o fim último de todas elas. No fim, tudo refletirá Deus, em Sua sabedoria e justiça. O fim do mundo, o seu elemento inteligível, é refletir a bondade e a sabedoria do Criador.
A não-existência é melhor do que o tormento eterno. Tanto que os condenados preferem não existir. Até a existência miserável deles se encaminha para
Deus na intenção de louvar a Sua sabedoria e refletir a Sua bondade.
O modo exato de como a condenação dos maus refletirá o Criador pertence
aos desígnios de Deus e, do mesmo modo como não podemos compreender
Deus, não podemos compreender os Seus desígnios, mas podemos, por
exemplo, antever que os justos louvarão eternamente a Deus vendo a
condenação dos maus, por Sua misericórdia para com eles.
O ódio aos pecadores é uma metáfora bíblica porque Deus ama a uns mais
do que outros, e, amando uns menos do que outros, nega certos bens que
delega a outros. Deus não é capaz de ódio, nem de ira, pois o ódio e a
ira são paixões, e Deus, sendo perfeito, não tem paixões, nem é
arrastado por coisa nenhuma. Antes é todo perfeito e todo simples em Sua
essência.
Mesmo o mal no qual Judas caiu - melhor seria que não tivesse nascido - reflete de alguma forma a perfeição do Criador, que é o objetivo de todo bem da criação.
O juízo final é para que cada homem saiba em que medida é devedor do
outro. Não é para assinalar a sorte eterna de cada um. Todos
comparecerão diante do trono de Cristo para a recompensa ou vergonha
eternos. Além disso, toda dimensão do castigo não está dada antes do
juízo final, pois os maus ainda sofrerão nos seus próprios corpos, após o
juízo.
Aquele pecado que você escondeu, e que não quer que ninguém saiba, e
morre de medo de que alguém possa descobrir, pode ter certeza, um dia
virá a público, diante de Cristo, de uma multidão imensa de santos e
anjos, bem como de homens e demônios. Mesmos os pecados confessados.Mas os santos não terão de que se envergonhar, pois terão a
seu favor a graça de Deus e os méritos conquistados com a mesma.
E Santo Agostinho terá imensa alegria quando forem revelados todos os
seus pecados, assim como todos os justos. Porque junto com o pecado,
será revelado o arrependimento. E o arrependimento por cada pecado
redundará em glória para os santos. Por isso, Santo Tomás diz que, se
não fossem revelados tais pecados apagados, isso prejudicaria a glória
dos santos.
Acreditar em Deus faz parte da lei natural, no entanto, mesmo os
preceitos da lei natural podem ser alvo de uma consciência errônea, a
que pese os preceitos primários estarem como que inscritos na
consciência de cada um. Pode haver talvez circunstâncias que impeçam
alguém, numa situação particular, de perceber claramente a existência de
um Deus. No entanto, ninguém é punido por um mal que estava além de
suas forças impedir, e só será punido na medida de sua responsabilidade
em evitar aquele mal.
De toda forma, só acreditar em Deus como autor da ordem natural não é suficiente para a justificação. É necessário crer n'Ele como autor da ordem sobrenatural.
De toda forma, só acreditar em Deus como autor da ordem natural não é suficiente para a justificação. É necessário crer n'Ele como autor da ordem sobrenatural.
Existe uma lenda que diz que Deus extraordinariamente concedeu a
salvação ao imperador Trajano, por conta da oração ou da tristeza de S.
Gregório, que teve misericórdia daquela alma.
Santo Tomás diz que é possível, mas que não se sabe exatamente o que aconteceu, se Deus fez com que Trajano ressuscitasse para voltar a morrer, voltando assim ao estado de merecimento, se ele suspendeu a pena de sentido, ou pelo menos até o juízo final, etc. Trajano estava no inferno. Essa lenda é contada na Legenda Áurea.
Santo Tomás diz que é possível, mas que não se sabe exatamente o que aconteceu, se Deus fez com que Trajano ressuscitasse para voltar a morrer, voltando assim ao estado de merecimento, se ele suspendeu a pena de sentido, ou pelo menos até o juízo final, etc. Trajano estava no inferno. Essa lenda é contada na Legenda Áurea.
Deus pode dar graças eficazes. “O coração do rei está nas mãos do Senhor, incliná-lo-á para onde quiser” (Pr 21,1).
Há uma discussão teológica sobre a natureza da graça eficaz, mas eu acredito na eficácia intrínseca da graça eficaz.
Há uma discussão teológica sobre a natureza da graça eficaz, mas eu acredito na eficácia intrínseca da graça eficaz.
Deus pode dar o dom de se converter a qualquer
alma que Ele queira. Aliás, todos os teólogos afirmam que Deus poderia
salvar quem Ele quisesse, até Judas. Alguns dizem que isso se dá porque
para alguns Deus dá uma graça eficaz, para outros uma graça só
suficiente. Os que discordam disso dizem que Deus poderia fazer com que
um homem que não se converteu se convertesse, caso o fizesse viver em
outras circunstâncias que não aquelas em que ele foi criado, isto é, em
outra ordem possível da Providência.
Deus não participa do tempo, a não ser por meio de Sua natureza humana. E
a natureza divina não está incluída na natureza humana. Estão unidas
por meio da Pessoa divina, mas sem misturar-se uma com a outra.
Além disso, se levarmos em conta a natureza humana, podemos, sem erro, dizer que Deus é temporal, tanto quanto o homem, pois Cristo é homem. Mas, levando em conta a natureza divina, Ele é atemporal, pois não sofre mudança alguma.
Essa atemporalidade dos seres espirituais é absurda. Significa o quê? Que esses seres não têm diversos atos? Que eles são imutáveis? Claro que não. Além disso, se um anjo muda de operação, o que o impediria de mudar a sua vontade, se fosse essa causa deles não se arrependerem?
Além disso, se levarmos em conta a natureza humana, podemos, sem erro, dizer que Deus é temporal, tanto quanto o homem, pois Cristo é homem. Mas, levando em conta a natureza divina, Ele é atemporal, pois não sofre mudança alguma.
Essa atemporalidade dos seres espirituais é absurda. Significa o quê? Que esses seres não têm diversos atos? Que eles são imutáveis? Claro que não. Além disso, se um anjo muda de operação, o que o impediria de mudar a sua vontade, se fosse essa causa deles não se arrependerem?
Os anjos se assemelham mais a Deus pela capacidade que têm de se
utilizarem de menos ideias para conhecer o mundo, até atingir essa
inteligência infindamente simples que é a inteligência divina, capaz de
comportar o infinito num único Ato e numa única Ideia, portanto,
infinitamente distante de qualquer inteligência criada.
Os anjos conhecem tudo num único ato, pois o conhecimento dos anjos é
conatural, isto é, infuso com a sua natureza, mas não significa dizer
que sua ação resuma-se a esse único ato. Os anjos recebem missões, como,
por exemplo, os da última hierarquia, que recebem a missão de atuar
como anjos custódios.
Deus criou esses anjos com a graça santificante, mas não significa que
não possa criar uma graça atual capaz de convertê-los. Realmente, a base
para que não mudem sua vontade é o fato de que seu conhecimento não
progride, como o conhecimento do homem. Mas isso não significa que, se
Deus quisesse, não poderia fazê-lo progredir. Os anjos superiores, como
vimos, podem iluminar os inferiores.
Não é que o conhecimento dos anjos é atemporal, ele é conatural. É como
se os anjos já fossem criados sabendo tudo o que convém à sua natureza
saber. Não significa dizer que os anjos saibam tudo, pois não conheciam
os mistérios da graça, e Deus só os revelou na medida em que quis.
Já o homem não é criado sabendo tudo o que convém à sua natureza saber. Aprende utilizando os primeiros princípios, cujo conhecimento lhe vem por natureza, e os sentidos.
Já o homem não é criado sabendo tudo o que convém à sua natureza saber. Aprende utilizando os primeiros princípios, cujo conhecimento lhe vem por natureza, e os sentidos.
Mesmo no mundo material, existem diversos tempos. Para cada movimento,
há um tempo. E a percepção de um tempo único é ilusória, a não ser que
haja um sistema de referência que abarque todos os movimentos.
No mundo espiritual, é evidente que o tempo não é o mesmo percebido por meio dos sentidos humanos.
No mundo espiritual, é evidente que o tempo não é o mesmo percebido por meio dos sentidos humanos.
Deus não criou os anjos em estado de glória, com a visão beatífica. Ele
os criou em estado de graça. Não se pode confundir graça e glória. Não
há nenhuma razão para dar a graça, senão para merecer a glória. E os
anjos bons mereceram a glória no primeiro instante em que foram criados,
pois, para que haja o mérito sobrenatural, é necessário, uma moção do
livre arbítrio. Imediatamente, adentraram na visão beatífica.
Os anjos maus, por sua vez, criados em graça, a perderam no primeiro instante, e assim, condenaram-se eternamente.
Os anjos maus, por sua vez, criados em graça, a perderam no primeiro instante, e assim, condenaram-se eternamente.
Citações interessantes de Santo Tomás:
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“Entre
dois instantes quaisquer há um tempo intermediário, é verdade se se
demonstra que se trata do tempo contínuo, segundo VI Physic. Mas como os
anjos não estão submetidos ao movimento dos corpos celestes, que é a
primeira medida do tempo contínuo, neles por tempo se entende a sucessão de operações intelectuais e afetivas” (S. Th., Ia, q.63, a.6, ad.4)
Santo Tomás acreditava na existência de um tempo único, gerado pelo movimento da primeira esfera móvel celeste. Atualmente, não temos como provar a existência desse tempo único, que sirva de referência para todos os movimentos. Mas isso não vem ao caso para a questão que nos ocupa: o tempo realmente existe para os anjos, mas é um tempo adequado ao seu movimento, isto é, à sucessão de operações intelectuais (sucessão de pensamentos) e de vontade nos anjos.
Embora o anjo tenha um conhecimento fixo por natureza desde a sua criação, nele existe sucessão de operações intelectuais:
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Santo Tomás acreditava na existência de um tempo único, gerado pelo movimento da primeira esfera móvel celeste. Atualmente, não temos como provar a existência desse tempo único, que sirva de referência para todos os movimentos. Mas isso não vem ao caso para a questão que nos ocupa: o tempo realmente existe para os anjos, mas é um tempo adequado ao seu movimento, isto é, à sucessão de operações intelectuais (sucessão de pensamentos) e de vontade nos anjos.
Embora o anjo tenha um conhecimento fixo por natureza desde a sua criação, nele existe sucessão de operações intelectuais:
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“Ainda quando a inteligência do anjo está por cima do tempo que mede os movimentos corporais, no entanto, nele há tempo enquanto sucessão de pensamentos.
Por isso, diz Agostinho em VIII Super Gen., ad litt.: Deus move a
criatura espiritual no tempo. E posto que, no entendimento do anjo há
sucessão, não está presente a ele tudo o que se faz no transcurso de
todos os tempos.” (S. Th., Ia, q.57, a.3, ad.2)
Sobre o instante da queda dos anjos achei por bem colocar a primeira citação agora na íntegra:
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“Entre dois instantes quaisquer há um tempo intermediário, é verdade se se demonstra que se trata do tempo contínuo, segundo VI Physic. Mas como os anjos não estão submetidos ao movimento dos corpos celestes, que é a primeira medida do tempo contínuo, neles por tempo se entende a sucessão de operações intelectuais e afetivas. Assim, pois, o primeiro instante nos anjos corresponde à operação com a que a mente angélcia se voltou a si mesma pelo conhecimento vespertino. Por isso, no primeiro dia se fala de tarde e não de manhã (Gen 1). Esta operação foi boa em todos. Pois a partir da dita operação, pelo conhecimento matutino, uns se voltaram ao conhecimento e louvor do Verbo; e outros, no entanto, se encerraram em si mesmos, e, inchados de soberba, se fizeram noite, como diz Agostinho em IV Super Gen. ad litt. Portanto, a primeira operaçao foi a mesma em todos, mas na segunda são distintos. Portanto, no primeiro instante foram bons; no segundo se separaram os bons dos maus.” (S. Th., Ia, q.63, a.6, ad.4)
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“Entre dois instantes quaisquer há um tempo intermediário, é verdade se se demonstra que se trata do tempo contínuo, segundo VI Physic. Mas como os anjos não estão submetidos ao movimento dos corpos celestes, que é a primeira medida do tempo contínuo, neles por tempo se entende a sucessão de operações intelectuais e afetivas. Assim, pois, o primeiro instante nos anjos corresponde à operação com a que a mente angélcia se voltou a si mesma pelo conhecimento vespertino. Por isso, no primeiro dia se fala de tarde e não de manhã (Gen 1). Esta operação foi boa em todos. Pois a partir da dita operação, pelo conhecimento matutino, uns se voltaram ao conhecimento e louvor do Verbo; e outros, no entanto, se encerraram em si mesmos, e, inchados de soberba, se fizeram noite, como diz Agostinho em IV Super Gen. ad litt. Portanto, a primeira operaçao foi a mesma em todos, mas na segunda são distintos. Portanto, no primeiro instante foram bons; no segundo se separaram os bons dos maus.” (S. Th., Ia, q.63, a.6, ad.4)
Não faz o menor sentido dizer que isso implicaria na redenção de
Lúcifer, pois somente Deus é capaz de mover Lúcifer ao arrependimento,
por meio da graça, e, para os anjos cessou, com seu primeiro ato de
mérito ou de demérito, o seu estado de merecer e desmerecer.
Além disso, se um anjo tivesse o poder de converter Lúcifer, por que ele faria isso, contradizendo o julgamento divino?
Além disso, nos anjos, há distinção entre essência e existência. A sua
essência não os obriga a existir. E nisso há potência, como se fala em
filosofia, potência para o aniquilamento. Deus não tem absolutamente
nenhuma potência, no sentido passivo, de sofrer qualquer mudança.
Santo Tomás também diz que um anjo não ilumina o outro dando-lhe a luz
natural, nem a luz da graça ou da glória, mas fortalecendo sua luz
natural e manifestando-lhe a verdade sobre o que pertence ao estado de
natureza, de graça e de glória (S. Th., Ia, q.106, a.1, ad.2).
Referências:
Pequena explicação sobre o sacrifício, baseada em obra do Pe. Emanuel (um espiritual francês do século XIX).
Diadoco de Fótice, Cien Capítulos, 77, ed. Ciudad Nueva
A Próxima Cristandade (Philip Jenkins, Ed. Record)
Pe. Frederick William Faber. The Precious Blood, or: the Price of Our Salvation (O Preciosíssimo Sangue, ou: o Preço da Nossa Salvação), 1860, p. 316.
John L. McKenzie S. J., Dicionário Bíblico, São Paulo, Paulinas, 4ª ed., 1983, pp. 2 e 133
A Vida que começa com a morte. D. Estevão Bettencourt O.S.B. Livraria Agir Editora, 3º edição, 1963.
Demonstração Popular da Verdadeira Religião. Frei Affonso Maria ord. carm. Imprensa Industrial, Recife, 1935.
Segundo, TANQUEREY, Adolph: A Vida Espiritual Explicada e Comentada. Anápolis: Aliança Missionária Eucarística Mariana, 2007. pgs. 403-434