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"Grassando na nossa época gravíssimos erros que ameaçam inverter profundamente a religião, este Concílio exorta de coração todos os leigos que assumam mais conscientemente suas responsabilidades na defesa dos princípios cristãos" (Apostolicam Actuositatem, n. 6d). .
Acusação
2.1 A obscura noção de "Igreja do Cristo" como "mistério trinitário", a obscura eclesiologia trinitária, segundo a qual há uma sucessão da Igreja do Pai para a Igreja do Filho e, portanto, para a Igreja do Espírito Santo (Lumen Gentium 2-4); noção desconhecida do depósito da fé e graças à qual, deformando santo Irineu (adv. Haer. III, 24,1), se professa abertamente um rejuvenescimento e uma renovação da Igreja por obra do Espírito Santo, como se estivéssemos em uma terceira idade final da própria Igreja (LG 4); perspectiva que parece reafirmar erros de Joaquim de Fiore condenados pelo Concílio de Latrão (1215), décimo segundo da série de concílios ecumênicos (DZ 431-3 / 803-807).
Solução
Não há quem leia honestamente o número 2 a 4 da Lumen Gentium e possa confundir os períodos da História da Salvação, plenamente tradicionais, com sucessões de Igrejas. O documento não traz nada novo. Dizer que primeiramente há a vontade salvífica do Pai, enviando seu Amado Filho, que N’ele nos elegeu antes de criar o mundo e predestinou para sermos seus filhos de adoção, e que consumado a obra confiada ao Filho, foi enviado o Espírito Santo em Pentecostes para santificar e nos levar a toda a verdade (Jo 16,13), não tem nada de absurdo, aliás, é essência do Cristianismo esta ideia delineada. Que se trata da mesma Igreja a própria citação de Santo Irineu o demonstra. No final do parágrafo se lê: “Assim a Igreja toda aparece como “um povo unido pela unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo”” Custa-me entender qual a dificuldade do autor perante a isso. Que há uma renovação operada pelo Espírito Santo a Bíblia, a Tradição e os teólogos atestam, sem que se siga que defendem uma terceira idade final da Igreja, assemelhando-se a Joaquim de Fiore. A primeira e a segunda afirmação, então, são totalmente gratuitas. A Encíclica Divinum illud Munus do Papa Leão XIII concebe a mesma ideia. O Papa Leão XIII na mesma Encíclica diz:
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“E como a Igreja, que é meio de salvação, há de durar até a consumação dos séculos, precisamente o Espírito Santo a alimenta e acrescenta em sua vida e virtude..”
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Ainda:
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“Que Ela (Maria Santíssima) continue, pois, realçando com seu patrocínio nossas comuns orações, para que no meio das aflitas nações se renovem os divinos prodígios do Espírito Santo, celebrados já pelo profeta Davi: “Se enviais, porém, o vosso sopro, eles revivem e renovais a face da terra”
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O que isso teria de obscuro?
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O teólogo Sertillanges, tomista não passível de nenhuma suspeita de modernismo, em sua obra “A Igreja” diz claramente:
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“Há nela algo fixo, a saber, sua ideia vital essencial (se é lícito expressar assim), seu dogma, sua hierarquia, seu culto, no que tem de fundamental, e, portanto, de independente com respeito a toda circunstância temporal. Esta é a parte do Espírito Santo que nos comunica; este é o fermento espiritual que, unido na humanidade, quer renovar em nós e por nós a face da terra. Mas se há algo fixo, há também algo contingente e perpetuamente renovável na vida da Igreja, e é o que ela leva o homem, que através dos séculos se põe ao serviço desta vida, que a ela se incorpora momentaneamente, mas não tem direito a fixá-la em uma de suas etapas, como não tem o alimento semelhante hoje a nosso corpo a deter a onde vital que corre sempre, idêntica sob incessantes transformações” (cap. VII, o caráter progressivo da Igreja)
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Em nada tem a ver com a perspectiva de Joaquim de Fiore ou de seus discípulos. O documento em nenhum momento triplica a Igreja, não fala de “Evangelho Eterno”, nem de “Reino do Espírito Santo”, não cita nenhuma das passagens bíblicas usadas por Joaquim de Fiore para fundamentar suas teorias, e mais, não segue nenhuma ordem lógica que pareça com a teoria de Joaquim de Fiore. São por demais fantasiosas as afirmações do acusador. Mais um erro crasso do acusador está em suas referências ao Denzinger. O número 431-433 é totalmente outro. É um grande blefe dizer que a sucessão de Igrejas em de Fiore foi condenada pelo Concílio de Latrão. Na verdade, o que se condena nesse primeiro instante é sua ideia que “não existe uma essência Trinitária. A unidade dentro da Trindade se dá apenas enquanto coletividade, como uma família é uma unidade”. Posteriormente, por Alexandre IV, é que se foi condenar a ideia do Reino do Espírito Santo, baseando-se nos escritos dos discípulo de Joaquim de Fiore.
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Como de costume, finalizarei com uma citação. Esta será, mais uma vez, do teólogo Michael Schmaus sobre o tema:
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“O caráter cristológico da missão do Espírito implica que Cristo permanece sempre presente na Igreja por meio do Espírito Santo. Sua relação com a Igreja não pode ser explicada no sentido de que o dia de Pentecostes enviou o Espírito Santo e se retirou da Igreja para que o Espírito Santo a configura-se íntima e ocultamente até a parusía. Cristo estaria então presente só ao princípio e ao fim. Porém Cristo atua sempre na Igreja por meio do Espírito Santo. Quando Cristo ressuscitou e sua humanidade foi glorificada, quando subiu aos céus e lhe foi dado poder sobre o mundo, não se desvinculou da Igreja mas intensificou sua união com ela a fazendo mais próxima e mais íntima. Esta proximidade e intimidade são realizadas precisamente pela missão do Espírito Santo. O Espírito é, de certo modo, o poder pessoal com que Cristo domina a Igreja; isto está claramente expresso na liturgia de Pentecostes; a festa de Pentecostes é festa tanto de Cristo como do Espírito Santo; tem importância e significado cristológico e pneumatológico; já que o Espírito que desceu no dia de Pentecostes é o Espírito enviado por Cristo e vive sempre em relação com Cristo. Por meio dele impera e trabalha Cristo na Igreja. O Apocalipse de São João e os Atos dos Apostólicos dão um amplo testemunho sobre este fato.
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Em definitivo, e do fato, é o Pai quem age no Espírito Santo por meio de Cristo. O Canon da missa romana o atesta ao invocar o Pai na primeira oração para que dê paz à Igreja em toda a redondeza da terra, para que a proteja piedosamente, a unifique e a governe. É, pois, Deus trinitário quem funda a Igreja e a governa e configura enquanto dura sua existência. O Deus trinitário exercita seu domínio salvador na Igreja enquanto que a realiza o Pai no Espírito Santo por meio de Cristo.
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A participação das três pessoas divinas na configuração da Igreja demonstra que a Igreja não pode ser ordenada à época do Espírito Santo que transcende a do Filho, tal como fez Joaquim de Fiore; segundo ele a história da salvação se dividiria em três épocas: a do Pai, a do Filho e do Espírito Santo. A Igreja pertenceria à época do Espírito Santo que elimina e transcende as outras duas (Manual de Dogmática, IV, pág. 324-5)
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Papa Bento XVI “Por outro lado, contudo, é importante notar que São Francisco não renova a Igreja sem ou contra o Papa, mas só em comunhão com ele.” (audiência geral de 27 de janeiro de 2010.)
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