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Os erros da Hermenêutica da Ruptura [9]

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Mistério Pascal
ACUSAÇÃO:

3.0. A adoção da obscura noção do "mistério pascal", cavalo de batalha da nova teologia. A redenção se teria realizado praecipue "no mistério pascal da paixão, da ressurreição e da ascensão" do Cristo (Sacrosantum Concilium 5); portanto ela não resultaria mais, principalmente, de sua Crucifixão, do valor que esta Crucifixão tem de sacrifício expiatório pelo qual a justiça divina foi satisfeita. Além disso, a Santa Missa fica identificada ao "mistério pascal", já que o Concílio declara que a Igreja, desde os primeiros tempos, sempre se reuniu em assembléia "para celebrar o mistério pascal" (SC 6) e que ela "celebra o mistério pascal todos os oitavos dias" (SC 106).

SOLUÇÃO:

São bem hábeis as malícias do acusador. Ele não chega a negar que o mistério da redenção não resultaria também da Ressurreição e Ascensão do Nosso Senhor, mas propõe o advérbio de modo, principalmente. Daí a crítica seria supor que o Concílio diria que a redenção não se dá principalmente pelo valor da paixão de Cristo. Mas isso não é encontrado nos textos conciliares. Não me interessa a interpretação ágil e maliciosa que faz o acusador. Isso não é uma prova de maneira alguma. O Concílio diz apenas que a redenção teria se realizado “no mistério pascal da paixão, da ressurreição e da ascensão”, nada mais. E parece que o acusador concorda, ao menos ficou velado. Além de se achar no direito de criticar o que não diz o Magistério também faz o mesmo com o que o Concílio não disse? Negar a inserção do papel da ressurreição na nossa salvação é assustador! São Paulo diz claramente que se Ele não ressuscitasse ainda estaríamos nos nossos pecados (cf. I Coríntios 15,17), é óbvio que é o mistério da paixão e ressurreição juntos. São Pedro diz que Ele foi ressuscitado e glorificado, a fim de que a nossa fé e nossa esperança se fixem em Deus. (I São Pedro 1,21) Então, mais uma vez é claro que a ressurreição está no mistério da salvação. Sem a ressurreição não seríamos ressuscitados.
 
A questão do sacrifício é como expiação, pagamento dos nossos pecados, a consumação com sua morte, mas isto não resume o mistério da salvação. No próprio concílio se fala da "eficácia da morte E RESSURREIÇÃO DE Cristo" (Sessão VI,9) No Missal Romano, prefácio da páscoa se diz que "morrendo destruiu a nossa morte e ressurgindo restaurou a vida".

Santo Tomás diz comemoramos o domingo porque a nova criatura é incoada na ressurreição de Cristo. (cf. ST I-II, c 103 a. 4) Diz mais "que é pela paixão e pela ressurreição que é libertado o gênero humano do pecado e da morte" (ST II-III c 2, art. 7) Na mesma resposta diz que o homem antes da queda conhecia que Cristo se encarnaria, "mas não enquanto ela ordenada para a libertação do pecado pela paixão de Cristo e ressurreição" (ibid)

O Catecismo Romano é bem claro no papel salvífico da Ressurreição do Nosso Senhor:

“2º. Também foi singular em Cristo ser o primeiro em gozar do benefício divino da ressurreição perfeita, isto é, a ressurreição pela qual quitada toda a necessidade de morrer, somos elevados à vida imortal, de maneira que Cristo não morre outra vez, e a morte não tem domínio sobre Ele (Rom. 6,6).” (Catecismo Romano, Quinto Artigo do Credo, ao terceiro dia ressuscitou entre os mortos, Introdução, 9)

“Causas do por que foi necessário que Cristo ressuscitasse ... Para que  de todo se terminasse o mistério da nossa redenção e salvação; pois Cristo com sua morte nos livrou dos pecados, porém com sua ressurreição nos devolveu os bens principais que perdemos pelo pecado (Rom. 4,26).” (Catecismo Romano, Quinto Artigo do Credo, ao terceiro dia ressuscitou entre os mortos, Introdução, 12)

“A ressurreição de Cristo é causa eficiente e exemplar da ressurreição dos nossos corpos” (Catecismo Romano, Quinto Artigo do Credo, ao terceiro dia ressuscitou entre os mortos, Introdução, 13)

“Porque Cristo com sua morte nos livrou dos pecados, mas com sua ressurreição nos restabeleceu a possessão dos principais bens, que havíamos perdido pelo pecado, por isso diz o Apóstolo: “Cristo foi entregue a morte por nossos pecados, e ressuscitou para nossa justificação.”(Rom.., IV, 25) E assim para que nada faltasse a saúde da linhagem humana, convinha não somente que morresse, mas também que ressuscitasse.” (Catecismo Romano, Quinto Artigo do Credo, ao terceiro dia ressuscitou entre os mortos, cap. XII)

Explica muito bem o Rev. P. Jesús Solano de que modo a ressurreição participa desse mistério (em Suma da Sagrada Teologia Escolástica, V. III, Tratado I, art 2,  tes 29):

“Enquanto à ressurreição das almas ou enquanto à justificação. A dependencia de nossa justificação da ressurreição de Cristo expressa claramente S. Paulo. Rom. 4,25: foi entregado por nossos delitos e ressuscitou (segundo o grego foi ressuscitado) por nossa justificação. Há que pensar em verdade acerca do nexo causal da ressurreição de Cristo em nossa justificação mediante a fé; o objeto desta fé é Deus que ressuscitou a Jesus Cristo, Senhor Nosso, entre os mortos (Rom 4,24).

Mas a causalidade da ressurreição de Cristo é, ademais, exemplar: cf. Rom 6,4s11. Nesta, além disso, uma casualidade moral enquanto que, por meio do sacrificio, a ressurreição de Cristo influenciou em nossa redenção, posto que constitui um unum quid com a norte de Cristo, porque é, por parte de Deus, público reconhecimento e aceitação do sacrificio propiciatório de Deus. Pois é também causalidade eficiente intrumentalmente, porque nós não participamos da vida de Cristo (a justificação), se não como membros do corpo de Cristo, de cujo corpo é cabeça Cristo glorioso. Além disso, esta vida de Cristo é nos dada juntamente pelo Espírito Santo e principalmente na Eucaristia, e Cristo une a sua influência vital com a influência do Espírito Santo, enquanto glorificado. Esta conexão entre a ressurreição de Cristo e nossa justificação se mostra também em S. Paulo com o simbolismo do batismo (Rom 6,3-11) e com a comparaçãodo novo Adão (1 Cor 15, 45-49)

Quanto à ascensão:

“Da ascensão de Cristo. Este fato, do qual se trata geralmente mais detidamente na classe de exegese do Novo Testamento, se enumera entre os dogmas de nossa fé, como já se mostra abundantemente nos símbolos mesmos (cf.D 2, 13, 16, 20, 40, 54, 86). A ascensão de Cristo se une intimamente com a ressurreição, da que temos tratado, e simultaneamente com o assento de Cristo a direita do Pai, da qual trataremos na tese seguinte.

Além das razões pelas quais foi conveniente que Cristo ascendesse aos céus (cf. Sto. To. 3, q,57 a.1), há de considerar a importância soteriológica da ascensão, pela qual a ascensão de Cristo se deve com razão dizer causa de nossa salvação, tanto por parte nossa como por parte de Cristo mesmo. 

Por parte nossa, porque pela ascensão de Cristo nossa mente se move até Ele quando se dá lugar à fé, a esperança, a caridade, a reverência. E por parte Dele mesmo porque Cristo ao ascender ao céu, preparou-nos o camino para subir ao céu e para interceder por nós, e simultáneamente entrou como Senhor no céu para enviar de lá os dons divinos aos homens (cf. S.To. 3 q.57 a.6).”

Após isso, o próximo problema do autor é que se “celebre o mistério pascal”. Uma patente dificuldade no que se refere a Santa Missa, já que na mesma a celebração não se resume ao sacrificio. Ora, foi através Mistério Pascal (Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor e Redentor) que Cristo redimiu o mundo, é justamente o que se renova na Missa.

 ACUSAÇÃO:

“Em seguida se diz que pelo batismo "os homens são enxertados no mistério pascal do Cristo" (SC 6), e não que Ele os faz entrar na Santa Igreja, como se "o mistério pascal" fosse a mesma coisa que a Igreja, o Corpo Místico do Cristo. Trata-se de uma definição vaga, indeterminada, irracional que permite,precisamente por essas características, alterar a significação da redenção e da Missa, ocultando a natureza sacrifical e expiatória desta última, pondo o acento na ressurreição e na ascensão, no Cristo Glorioso, contra o dogma de fé afirmado em Trento.”

SOLUÇÃO:

No batismo somos verdadeiramente enxertados no mistério pascal, pois, como diz o Concílio somos mortos com Ele, sepultados com Ele, com Ele ressuscitados. Várias passagens referenciadas pelo Concílio nesse número mostram:

 «Com Ele fostes sepultados no Baptismo e n'Ele fostes conressuscitados pela fé no poder de Deus, que O ressuscitou dos mortos» (Col. 2,12). É Ele mesmo que cita o verso de Rm 6,4 na UR 17 também.

Além de Ef. 2,6; Col. 3,1; 2 Tim. 2,11. Não há nada de errado nisso. Ocorre que esse documento em questão falava da Sagrada Liturgia e por isso dá ênfase no mistério pascal. E que no batismo somos inseridos na Igreja, corpo Místico, foi falado na Lumen Gentium 7 que tratava de doutrina no primeiro plano. É pelo mistério pascal que passamos a ser incorporados a Cristo. Segundo Concílio de Florença ser membro de Cristo (incorporado) é coisa diferente de ser membro do corpo de Cristo, e é o primeiro caso que o Concílio lembra:

“O primeiro lugar entre os sacramentos é ocupado pelo santo batismo, que é a porta da vida espiritual, pois por ele nos fazemos membros de Cristo e do corpoda Igreja [per ipsum enim membra Christi ac de corpore efficimur Ecclesiae]” (Conc. Florença, Denz., 696 e 1314). 

Santo Tomás diz claramente: “Ora, o batismo é dado para que, nascidos de novo por ele, nos incorporemos a Cristo, tornando-nos membros seus. É o que diz a Epístola de Gálatas: Vós TODOS que fostes batizados em Cristo vos revestistes de Cristo.” (ST IX, q. 68, art. 1) Pelo batismo “como os adultos, as crianças se tornam membros de Cristo” (ST IX, q 69, art 6) Só nos resta interrogações quanto a suposta ocultação da natureza sacrifical e expiatória (que é claro está incluída no mistério pascal) e que o Concílio pôde ir contra algum dogma de fé de Trento.
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PARA CITAR ESTE ARTIGO:

Os erros da Hermenêutica da Ruptura [9]
Nelson M Sarmento 02/2013 Tradição em Foco com Roma.

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