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Filme A órfã e questão da psicopatia


A arte cinematográfica tem o poder de reflexão em todas as esferas em que é produzida. Em particular tenho apreço aos filmes prendem minha atenção para tentar compreender a causa que leva a pessoa a ser psicopata entre outras questões. O filme A órfã é não é um filme de terror psicológico, é só um suspense leve que só dá alguns sustos. 

Na snopse do filme um casal perdeu tragicamente o filho que nem chegou a nascer, e isso até chegou a estremecer o casamento deles. Mas para aliviar um pouco a dor, decidem adotar uma criança. No entanto, o que parecia ser a solução acaba por piorar ainda mais as coisas, pois a garota que adotaram não é tão inocente quanto parece.

Voltando sobre a questão na psicopatia, como esses doentes mentais são vistos pela via católica e pela via temporal? Há chances de salvação para os psicopatas?  Um psicopata é um possesso?
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Existe a caridade, virtude teologal, e a caridade natural. Do contrário, um pai não cristão não amaria seu filho. Se ama, é porque existe o amor enquanto virtude natural. Até mesmo o amor a Deus pode existir enquanto virtude meramente natural, enquanto alguém O adora por ser Criador supremo e Mantenedor da ordem natural, mas não conhece a Sua graça.

Se o psicopata nunca possuiu o uso da razão, vai para o céu, se for batizada. Se morrer sem ser batizada, vai para o limbo, ou, se aprouver à misericórdia de Deus, quitar-lhe o pecado original (ninguém pode provar que Deus faz isso ordinariamente, e com todos os que morrem nessa situação), para o céu. 

Santo Tomás diz que os homicidas condenados odeiam menos seus parentes do que os outros e desejam menos a sua condenação. Ora, isso já seria uma prova de que as almas do inferno não possuem um ódio perfeito por todos. Mas ainda que odiassem ou invejassem seus parentes de alguma forma, o ódio e a inveja produzidos no inferno teriam a característica de fortes paixões, que, por mais fortes que fossem, apenas poderiam arrastar a vontade, irresistivelmente, mas nunca curvar a própria vontade, por sua livre iniciativa. Quando a vontade é arrastada sem que possa resistir, não dizemos que o indivíduo possui uma vontade má, pois a vontade, de fato, não existe. Não tem vontade verdadeira aquela pessoa que não a exerce livremente. 
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E, como vimos, Santo Tomás, admite um certo controle sobre o ódio, logo, admite, nos condenados, uma vontade verdadeira. Ora, se podem controlar o ódio, podem repudiá-lo. Dizer o contrário, é negar o livre arbítrio.

Alguém pode dizer: mas no céu, os bem-aventurados também têm livre arbítrio, logo eles podem renegar a Deus. Resposta: a situação é diferente: quem está no céu, está confirmado em graça, mas quem está no inferno, está abandonado à própria natureza. A natureza não impede o mau uso do livre arbítrio, mas também não impede o bom uso. Já o estado de glória é incompatível com o mau uso, uma vez que a vontade que se põe diante do Sumo Bem se vê determinada a amá-lo exclusivamente de um modo imediato, e outras coisas apenas enquanto a Ele estão ordenadas. 

É conveniente admitir nos condenados uma depravação total da vontade?

Sim, é conveniente, por causa de não admitir nos mesmos uma contrição natural. Ora, se eles são capazes de contrição natural, devem angariar com isso algum mérito. E para eles cessou o estado de merecer e desmerecer.

No entanto, a que pese essa conveniência, não se pode explicar de modo claro a razão física de assim se proceder. Por que tais almas não são capazes da contrição natural? Elas de fato são capazes de se arrepender de seus pecados, diz Santo Tomás, mas por motivos extrínsecos à sua vontade, como, por exemplo, a dor do castigo.

Desta forma, seria o caso, segundo Santo Tomás, de que elas quisessem a salvação de seus parentes, não por caridade, ou vontade própria, mas pela relação que mantêm com eles, e sabendo que alguns serão efetivamente salvos de qualquer jeito.

Santo Tomás parece que põe essa impossibilidade física no conhecimento, pois uma vez que não se dá progressão no conhecimento, não se muda a avaliação que se tem do objeto conhecido. Assim, explica a imutabilidade do pecado dos anjos. No entanto, isso não é uma solução perfeita, pois o livre arbítrio supõe a indiferença mesmo na posse do mesmo conhecimento.

É igualmente conveniente para as almas do limbo, que descansam em posse de seu fim último natural, mas que se contam também entre as condenadas, que não possam mais pecar, logo, que sua vontade se ache de algum modo impedida, seja para o bem, seja para o mal. Logo, como se pode defender que uma alma condenada faça o mal de forma mais contundente de que quando morreu, por exemplo, que um pecador que morreu convertido por atrição tenha seu estado piorado após a condenação? Ou possa cometer pecados ao menos materialmente, como blasfêmias, algo que se nega às almas do limbo, igualmente em estado de condenação?

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O próprio Santo Tomás pode resolver a questão: ele não nega que as almas condenadas possam querem materialmente o bem, mas nega que, nesse querer material, elas se direcionem a Deus como último fim, portanto, esse querer meramente material do bem não é formalmente bom. Por exemplo, uma mãe que continue amando seu filho, e desejando a sua salvação, quer o bem, mas não o quer direcionado a Deus, talvez porque não amou mais a Deus do que a seu próprio filho. Acho que isso resolve a questão.

A citação de Santo Tomás está em S. Th., Suppl., q.98, a.1, co. (suplemento da Suma compilado por Reginaldo de Piperno e recolhido do comentário de Santo Tomás ao Quarto Livro das Sentenças de Pedro Lombardo):

Esta vontade é neles sempre má, e, isto porque eles estão completamente afastados do último fim de uma vontade honesta. Nem pode uma vontade ser boa, exceto se ela é direcionada ao mesmo fim. Portanto, mesmo que eles queiram algo bom, não o querem bem para que alguém possa chamar a sua vontade boa por conta disso.

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Psicopatas são pessoas insensíveis, frias e com ausência de sentimentos genuínos para com outras pessoas,logo o psicopata é totalmente desprovido de consciência moral,tendo em vista que a moral advém dos sentimentos,ou seja,para os psicopatas,matar uma pessoa e não matar é a mesma coisa. Eles são animais LITERALMENTE.
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Não só devem ser punidos, como não deveriam sair da cadeia nunca mais quando são presos. Porque sempre vão repetir o delito. São incorrigíveis.  O grande problema que se coloca na questão do psicopata é a natureza de sua responsabilidade moral, de como se dá a relação entre ele e Deus: Afinal, teve o psicopata liberdade de escolha para cair nesta maldade incorrigível? E por que ele é irrecuperável? Poderia ele escolher outro caminho?

A ciência moderna atualmente trata a psicopatia como coisa geneticamente determinada, o que se comprova empiricamente qunado se vê a relação entre tal comportamento e a ausência de certa função cerebral responsável pela empatia.

Entretanto, concluir que a essência do ser humano é somente o seu sentimento físico, e que não resta ao homem outra coisa senão ser a resultante de uma complexa cadeia de reações bioquímicas, é que seria uma verdadeira psicopatia.

Por isto, para sairmos deste cientificismo desumano, é bom retornarmos às explicações tradicionais da religião e de filosofia a respeito de tão perigoso comportamento.

O sujeito nasce psicopata ou se torna psicopata?

A psicopatia é algo que reflete a essência de um indivíduo, não é um fenômeno que o acomete em algum ponto da vida. Os psiquiatras costumam dizer que a pessoa é psicopata, e não que tem uma psicopatia, da mesma maneira que se poderia dizer que uma pessoa tem, por exemplo, tuberculose. Basicamente o psicopata nasce assim.

Porém, há casos em que pessoas de psique normal agem como se fossem psicopatas, caso que pode ocorrer, por exemplo, em determinadas formas de fanatismo originadas de ideologias, que terminam por anestesiar todo o senso de moralidade e empatia pelos demais. Aqui, um psiquismo normal é acometido de uma patologia, possivelmente curável (não se pode esquecer que psiquismos normais podem sofrer n perturbações).

Ocorre que nestes casos existe uma esfera moral e afetiva nestes indivíduos, que ficam inoperantes, mas podem voltar a se manifestar. Nos psicopatas em sentido clínico, estas esferas não existem. O psicopata
clássico, o chamemos assim, se caracteriza pela amputação congênita da possibilidade sentir afeto e empatia pelos outros.  

Existem duas vertentes dentro da psiquiatria:

1. O sujeito nasce psicopata. Assim, ele é. Defeito de fábrica. Contudo, este defeito não é cognitivo, nem moral. Psicopatas podem ser inteligentes ou burros e todos sabem que estão agindo errado (sabem distinguir o certo do errado). Os psiquiatras NÃO SABEM onde está o defeito. A identificação se dá pelos efeitos que a psicopatia origina: falta de arrependimento, frieza, calculismo, indiferença ao sofrimento alheio, alto grau de dissimulação etc. Dentro desta vertente, há ainda dois grandes grupos: o primeiro que acredita ser a psicopatia um defeito genético, e por isso hereditário (o que em grande parte explicaria os comuns maus tratos que esses indivíduos sofrem na infância --  contudo, há inúmeros casos em que esses indivíduos não sofrem durante a infância, o que, em genética, se explicaria através da combinatória genética, com os genes recessivos e dominantes, e, por isso, se explicaria com o salto de gerações); o segundo grupo acredita que não é genético, e por isso não seria hereditário. 

Que a psicopatia seria proveniente de alguma má formação embrionária, fazendo com que esses indivíduos nascessem diferentes das demais crianças, o que poderia acarretar as violências na infância (pais despreparados tentando endireitar os filhos), assim, cobrindo tanto os casos de violência na infância quanto os casos em que há a ausência dela.
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2. O sujeito nasce normal e adquire a psicopatia. Assim, ela seria causada por uma conjuntura de fatores (a violência que a criança é submetida na infância poderia ser um dos principais fatores -- a criança deixaria de ver a violência como algo moralmente ruim e passaria a tratá-la como algo normal e prazeroso, tornando-se assim sádica). 

Dentro desta vertente há ainda dois grupos: o primeiro acredita que tal como algumas pessoas nascem pré-disposta ao stress,os psicopatas nasceriam com uma pré-disposição para a violência, e que algo poderia ativar tal comportamento (um grande trauma, como abuso sexual, psicológico, afetivo, a perda de um parente próximo de forma violenta etc), assim, a psicopatia só ocorreria nestas pessoas que já possuíssem a predisposição psicológica; o  segundo grupo acredita que os indivíduos nascem tal qual uma folha em branco, e que qualquer um estaria sujeito a desenvolver a psicopatia, desde que ocorresse uma conjuntura de fatores.
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Percentualmente falando, entre os psicopatas, apenas a minoria comete crimes. A grande maioria vive sem cometer crime nenhum. Eles sabem distinguir o certo do errado, mas fazem a escolha pelo errado.
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É importante pesquisar sobre a pedofilia natural e a de fato: a esmagadora maioria dos indivíduos que sentem atração sexual por crianças nunca irão praticar atos de violência contra elas, passarão a vida com suas fantasias sexuais. Já entre os que cometem o crime de pedofilia, mais de 80% não sentem atração sexual por crianças: agem por oportunismo. 

Tem até algumas teorias que tentam explicar como isso acontece, como a teoria da economia do comporto sexual (é mais ou menos assim), que explica tal situação como o oportunismo no qual o indivíduo, que tem seu público sexual alvo restrito de alguma maneira, se aproveita de alguma situação de poder (professor x aluno, padrasto/primo mais velho/tio x enteado/primo mais novo/sobrinho) para subjugar a vítima. 
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Esta teoria explica satisfatoriamente o motivo pelo qual a esmagadora maioria dos abusos sexuais são cometidos por homossexuais (indivíduos que tem seu público sexual drasticamente reduzido quando resolvem sair do armário), por homens senis, por homens com a auto-estima baixa e com disfunções eréteis, etc.  
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Essas hipóteses me foram apresentadas quando lia sobre psicologia, e para todas elas existem argumentos bastante coerentes. Por exemplo, é de conhecimento geral que presos quando são estuprados por muitas pessoas durante muito tempo têm uma tendência a se tornarem predadores sexuais, passam a estuprar, e comete o crime com todos os requintes de um psicopata, embora não agisse assim antes do grande trauma. Enfim, é uma discussão grande, rica e bastante prazerosa.

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PARA CITAR ESTE ARTIGO:

Filme A órfã e questão da psicopatia
David A. Conceição 05/2013 Tradição em Foco com Roma.

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