Retirado do Grupo do Facebook: Tradição
- Vaticano II
Obj: Os argumentos sobre a infalibilidade negativa [ver aqui] da Igreja no Magistério Eclesiástico não me impressionam, eu creio que o Concílio Vaticano II foi ilegítimo, logo nem “Magistério” o considero.
Resp: Essa fuga infeliz vem sido defendida por uma
minoria tradicionalista. Duvidar da legitimidade de um Concílio universal vai
contra a fé, merecendo a censura de próximo à heresia. Entre as “verdades
católicas”, que temos que crer com assentimento “de fide”, está os fatos
dogmáticos (facta dogmática), que têm conexão íntima com uma verdade revelada
(ex: legitimidade de um Papa; episcopado romano de São Pedro). Um Concílio
universal, independente se traz consigo dogmas ou não, está tão intimamente
vinculado com as verdades de fé, que sua impugnação põe em perigo a própria
doutrina revelada.
Obj: O Papa Pio XI na Mortalium Animos disse claramente
que a prece de Cristo ‘para que todos sejam um’... ‘Haverá um só Rebanho e um
só Pastor’ (Jo 27,21; 10,16) não é carente de seu efeito. De outro modo disse o
Concílio Vaticano II várias vezes, citando os mesmos trechos, no Decreto Unitatis Redintegratio sobre o Ecumenismo dando valor a oração pela
unidade.
Resp.: Quando o Papa Pio XI se obrigou a tratar desse assunto estava
lidando com progressistas e pessoas de comunidades eclesiais que negavam a
existência da unidade de fé e de regime da Igreja Católica no transcurso dos
séculos. As pessoas que o Papa se dirigia opinavam que as Igrejas e comunidades
cristãs espalhadas tinham elementos dispersos a serem juntados para daí poder
existir uma Igreja una. Claramente uma opinião vigente contrária à fé católica.
As citações apontadas demonstram também – ao contrário do que o falso
ecumenismo defendia – a unidade indefectível da Igreja. Ocorre que, ainda que a
Igreja seja Una, não atingiu a plenitude da unidade, e esta é querida por
Cristo através da promessa sobredita. As citações têm, contudo, direcionamento
futuro, numa busca sem cessar da Igreja Católica. A Igreja tem sua nota perene
de Unidade, entretanto há outros que são chamados a fazer parte desta unidade,
e esta unidade cresce na medida em que há conversões.
É o próprio Papa Pio XI que faz várias vezes menções dessa unidade total a
ser adquirida, usando os versos para tratar dos acatólicos:
“Que o santo mártir obtenha para todos, sobretudo para Nós – mais carregado
do que nenhum outro com a formidável responsabilidade -, a graça de dar ainda
nosso próprio sangue e a nossa vida, se Deus nos concedesse essa grande honra e
graça, para cooperar de algum modo a realizar a grande aspiração de seu
Coração: ‘fiat unum ovile et unus pastor’, que se realize a unidade do rebanho
sob um só pastor. Aspiração de seu Coração e ao mesmo tempo profecia, posto que
na realidade Ele disse: ‘fiet’, isto é que sucederá, haverá um só rebanho e um
só pastor.” (Alocução aos orientais que vivem em Roma, 6 de dezembro de 1923)
“Sendo isto assim, que coração, diante de tão grande cúmulo de trabalhos
tomados pela Igreja em favor principalmente dos orientais não se levantará com
firmíssima esperança do que há de acontecer que o benigníssimo Redentor dos
homens, Jesus Cisto, compadecendo-se da lamentável desgraça de tantos homens
que vão extraviados faz tanto tempo da reta trilha, e favorecendo a nossos
trabalhos, voltará a atrair por fim a suas ovelhas a um só rebanho para que
sejam governadas por um só pastor?” (Encíclica sobre a intensificação dos
estudos de assuntos orientais, Rerum Orientalium, 8 de novembro de 1928)
(O Santo Padre transmitiu sua bênção
apostólica) “Como auspício daquele dia, cujo desejo tinha expressado em sua
mensagem – E queira Deus que venha em breve! -, no qual o divino Pastor possa
ver realizada sua profecia: Haverá um só rebanho e um só pastor.” (Alocução a
associação de polícias de Londres, 7 de outubro de 1927)
“Nós, certamente, éramos dirigidos por aquele espetáculo, esplendíssimo e
aptíssimo para impressionar os ânimos, da unidade verdadeira, católica e
romana, que ele (o Patriarca Demetrio Cadi) maravilhosamente amava e fomentava,
tanto a pedir com mais veemência ... a bem-aventurança eterna como a repetir de
todo o coração aquela súplica de Cristo, Príncipe dos pastores: Haverá um só
rebanho e um só pastor!” (Alocução aos Emmos. Cardeais 14 de dezembro de 1925)
“Esta união parece a muitos católicos muito conforme com os desejos da
Santa Madre Igreja, a qual não tem coisa mais antiga que chamar e atrair aos
filhos desviados a seu seio.” (Mortalium ânimos, 1928)
Obj: "Mortalium Animos" do Papa Pio XI é oposta ao Unitatis Redintegratio. Um desautoriza e outro autoriza.
Resp: Não é
verdade, o CVII não alterou coisíssima nenhuma a doutrina do Magistério
precedente, pelo menos, nada essencial. A doutrina da Mortalium Animos
permaneceu intocável, mudou-se a orientação disciplinar somente. Sobre o
Ecumenismo enquanto que Pio XI diz para não participar dos congressos,
encontros, etc; Pio XII muda claramente essa diretriz assinando a Instrução do
Santo Ofício de 1949, aceitando até mesmo orações conjuntas. Vai bem mais longe,
diz que o movimento ecumênico nasceu "sob a inspiração da graça do
Espírito Santo"
A Conferência
Geral do Movimento Fé e Constituição, realizada em Lund, em 1953, contará, por
isso, com a participação de observadores católicos.
Outra coisa, se é
verdade que em um momento os católicos foram desautorizados de participar até
mesmo pela novidade e confusão do tema, é verdade também que a Igreja nunca
desautorizou para os que não eram católicos:
"Sua
Santidade todavia não deseja de modo nenhum desaprovar o congresso em questão
para aqueles que não estão unidos à cadeira de Pedro... " (Mensagem do
Papa Bento XV em Roma 16 de maio de 1919 congresso fé e constituição)
Obj: O
Decreto Unitatis Redintegratio chama os hereges e cismáticos de “irmãos
separados” como se estes tivessem comunhão de fé conosco. Isso contraria o
Magistério constante que sempre os apontou como ‘fora da Igreja’.
.
.
Resp: Chamar os
que estão fora da Igreja - cismáticos e hereges - que receberam, obviamente, o
batismo de “irmãos separados” não é errado, na verdade é um reconhecimento
justo. O batismo nos concede marca indelével que nos incorpora a Cristo
necessariamente¹ , fazendo-nos com isso filhos adotivos de Deus. O Catecismo
Romano [de Trento] sobre isso é bem claro: “Que o dom da vida de adoção divina
faz que todos os cristão sejam irmãos...”(Preambulo da Oração Dominical). Os
Pais da Igreja sempre estiveram de acordo com isso no tratamento para com os
hereges. Santo Optato chamava os donatistas de irmãos: “Vós sois nossos irmãos”
(OTTATO DI MILEVI. La vera Chiesa, I, 3. Introduzione, Traduzione e Note a cura
di L. DATTRINO. Roma: Città Nuova, 1988). Santo Agostinho também dizia o mesmo
sobre os donatistas, usando até passagens bíblicas de irmãos para comparar (cf.
De baptismo c. Donatistas) O último vai muito mais longe: "Queiram ou não,
são nossos irmãos. Só deixarão de ser irmãos nossos se deixarem de dizer: Pai
nosso". (In Ps. 32, Enarr. II, 29: PL 36, 299)
Também é falso dizer que os Papas antes do
Concílio se negavam a tratar os hereges assim.
Duas citações claras:
Leão XIII: “Nós
temos nos alegrado em grande medida de tua atividade, pois não temos coisa mais
enraizada no coração que procurar que voltem ao braço da Igreja os irmãos
separados da profissão de fé romana, e com ardentes orações pedimos a Deus e
com todo esforço procuramos que esta unidade de todos os povos sob um só pastor
se apresse” (Carta ao arcebispo de Vrhbosna-Sarajevo, Mons. G. Stadler, Qua
doctrina, 12 de outubro de 1894)
Pio XII: “Que o
calor de vossa caridade resulte acolhedor, em particular para todos vossos
irmãos separados, cuja profunda piedade mariana conhecemos, e a quem
convidávamos em nossa encíclica “Fulgens corona” a voltar com Nós seus olhos a
Maria, pedindo instantemente aquela unidade graças a qual não haverá por fim
mais que um só rebanho sob um só pastor.” (Epístola ao Congresso Mariano de
Beirut (Líbano), Je me suis élevée, 18 de outubro de 1954)
Obs: Os irmãos separados a quem se referia a
Fulgens corona eram os orientais.
Obj: A Infalibilidade da canonização dos santos não é dogmática e conheço um Padre que falou que tem alguns teólogos que não crêem nela.
Resp: Respondemos
com Michael Schmaus: “Atualmente é também doutrina comum dos teólogos que a
Igreja é infalível na canonização de santos, isto é, no juízo definitivo de que
um homem goza da visão e Deus e pode ser venerado em toda a Igreja como santo.”
(Teologia Dogmática, ano 1960, IV. A Igreja, pg 776)
A Igreja é
infalível nas questões reveladas sobre a fé e a moral, mas também nas questões
que estão em estreita relação com a Revelação, esta não podendo permanecer
incólume se aqueles não são também assegurados infalivelmente. Uma dessas
verdades conexas com a Revelação é a infalibilidade na canonização dos santos.
Unanimidade moral
dos teólogos aprovados é infalível quando se refere a algo crido por toda a
Igreja como Revelado:
Pio IX:
“Porque ainda que
se tratasse daquela submissão que se deve prestar mediante um ato de fé divina,
não haveria, sem embargo, que limitá-la às matérias que foram definidas por
decretos expressos dos Concílios ecumênicos ou dos Romanos Pontífices e desta
Sé, mas haveria também que estender-se às matérias que se ensinam como
divinamente reveladas pelo magistério ordinário da Igreja inteira espalhada
pelo mundo e, portanto, com universal e comum consentimento são consideradas
pelos teólogos católicos como pertencentes à fé.” (Tuas Libenter (1863)
As censuras teológicas
são: proposição errônea, temerária, ofensiva aos ouvidos pios, escandalosa, com
sabor de heresia, já que, de fato, não é dogma a infalibilidade da canonização dos
santos. O que não exclui o pecado deles contra a fé, pois deve-se crer com
assentimento de fé nas “verdades conexas”.
Sobre isso o Papa
Bento XIV diz claramente:
“Aquele que
ousasse afirmar que o Pontífice teria errado nesta ou naquela canonização, e
que este ou aquele santo por ele canonizado não deveria ser honrado com culto
de dulia, qualificaríamos, senão como herético, entretanto como temerário; como causador de escândalo a toda a Igreja;
como injuriador dos santos como
favorecedor dos hereges que negam a autoridade da Igreja na canonização dos
santos; como tendo sabor de heresia,
uma vez que ele abriria caminho para que os infiéis ridicularizassem os fiéis; como defensor de uma preposição errônea
e como sujeito a penas gravíssimas.” (De Servorum Dei Beatificatione)
Obj: A "volta às fontes" defendida pelo Concílio na Dei Verbum e Sacrosanctum Concilium, no primeiro no aspecto doutrinal e no segundo no litúrgico, veio do liberalismo da Nova Teologia.
Resp: Há dois
retornos às fontes que poderíamos designar neste caso. Um é o retorno às fontes
tendo como pressuposto de que os Sumos Pontífices não querem dirimir esta ou
aquela questão em seu pronunciamentos inseridos no Magistério Vivo, mas deixam
a cargo dos teólogos tal tarefa. Tal modo de ver é tipicamente liberal, porém
adotado pelo tradicionalismo também. Os tradicionalistas não seguem o Concílio
Vaticano II e contra o mesmo tentam voltar às Escrituras e textos Patrísticos.
Isso não passa de uma falácia como apontava o Papa Pio XII (cf. Humani Generis,
18).
Pois, como ele diz, é verdade que os Papas dão liberdade aos teólogos na
pesquisa em algum ponto controvertido, mas quando ele mesmo pronuncia em caso
pensado uma doutrina, "é evidente que, segundo a intenção e vontade dos
mesmos pontífices, essa questão já não pode ser tida como objeto de livre
discussão entre os teólogos." Em outro sentido há a volta às fontes na
pesquisa teológica totalmente sadia que busca dar razão ao Magistério ou aprofundar
alguma doutrina, sem com isso de nenhuma maneira contrariar o Magistério
Eclesiástico.
Isso é o que o Papa Pio XII assegura: "Também é verdade que
os teólogos devem sempre voltar às fontes da revelação; pois, a eles cabe
indicar de que maneira "se encontra, explícita ou implicitamente" na
Sagrada Escritura e na divina Tradição o que ensina o magistério vivo. Ademais,
ambas as fontes da doutrina revelada contêm tantos e tão sublimes tesouros de
verdade que nunca realmente se esgotarão. " (Humani Generis, 21).
Também
explica o Papa Leão XIII: “Porque naquelas passagens da Sagrada Escritura que,
todavia esperam uma explicação certa e bem definida, pode acontecer, por
benévolo designo da providência de Deus, que com este estudo preparatório
chegue a amadurecer o julgamento da Igreja.” (Fieri potest... ut quase
praeparato Studio judicium Ecclesiae maturetur”) (Enc. Providentissimus)
Obj: A "activa participação nas celebrações litúrgicas" que se refere o Concílio na Const. Sacrosanctum Concilium não passa de uma ideia protestante.
Resp: Falso! A
participação ativa dos fiéis nas celebrações serve para aproximar mais os
homens dos mistérios da fé e das riquezas da graça. Por esta razão o Movimento
Litúrgico foi incentivado pelo Papa Pio XII como sendo "um sinal das
disposições providenciais de Deus para o tempo presente, como uma passagem do
Espírito Santo na sua Igreja..." (Congresso Internacional de Pastoral
Litúrgica [Assis, Itália, 1956]
O mesmo defendeu
São Pio X: "a participação ativa nos sagrados mistérios e na oração
pública e solene da Igreja é fonte primeira e indispensável" de todos os
fiéis (motu proprio Tra le sollecitudini, 20 de novembro de 1903)
E também Pio XI: "é absolutamente
necessário que os fiéis não assistam aos ofícios como estranhos ou espectadores
mudos, mas participem, perpassados pela beleza da liturgia, das cerimônias
sagradas" (Divini cultus, 20 de dezembro de 1928)
Continua...