O que significa, nessa expressão,
“ forma de amor
” ? Amor é um ato volitivo, ou seja, fruto da vontade, de um esforço humano em praticar a virtude. Amor não é o mesmo que sentimento, não é o mesmo que atração, não é o mesmo que paixão. O amor é, em essência, bom, sempre que praticado. Os nossos atos concretos, no entanto, muitas vezes motivados por puro desejo de satisfazer nossos instintos mais grosseiros, estão longe de poderem ser classificados simplesmente como
“amor” ou “formas de amor”.
A seguir deveríamos perguntar o que significa
“válido” , na expressão acima. Afirmar que algo é simplesmente “ válido”, fora de qualquer contexto, é utilizar um adjetivo tendencioso, enviesado, que sequer admite significação oposta (pois pareceria cruel demais dizer que certas
“ formas de amor” são inválidas) para pré-justificar uma opinião sem que se tenha a necessidade de se examinar a questão a fundo. Cria-se primeiro a regra da discussão, formula-se a frase de tal modo que seu oposto não faça sentido, e portanto ela passará a ser obrigatoriamente aceita sem que qualquer reflexão séria tenha sido levantada, sequer por hipótese.
Dessa forma, dizer que “toda forma de amor é válida” não apenas é intelectualmente desonesto como também -- ironicamente -- é totalmente preconceituoso, no sentido mais exato e literal do termo.
Se quisermos analisar a questão sob o ponto de vista moral, não podemos formular uma questão nesses termos. Ao objeto, não podemos nos referir a ele como
“formas de amor”, mas como atos específicos, concretos, que se dão em um relacionamento afetivo; ao adjetivo, não podemos questionar se é “válido” ou não, mas se está de acordo com algum princípio bem identificável que se possa ter como parâmetro. Esse princípio é a Lei Natural.
Assim, para colocar a questão de forma honesta, deveríamos perguntar: certos atos ou práticas que estão dentro de um relacionamento estão sempre de acordo com a Lei Natural do ser humano?
O homem desejar no sentido do desejo erótico uma mulher faz parte dos instintos naturais. Idem para a mulher em relação ao homem.
A diferença deve ser feita pois o que não se deve é dar vazão a este desejo natural se este não é lícito.
Um homem desejar eroticamente uma mulher é a motivação, mesmo que ele não se aperceba disso, para cumprir a meta natural de procriação, instinto comum a qualquer criatura humana. Nisto não pode haver pecado pois é desígnio de Deus. Não é escolha, é instinto natural, logo não é pecado.
O pecado entra no fato de a pessoa, homem ou mulher, ir contra o que Deus amorosamente nos determina para o nosso bem e o da outra pessoa. Ou seja, o pecado é um ato consciente, pensado e consentido pela pessoa que escolheu e decidiu de livre e espontanea vontade ir contra os mandamentos de Deus.
Um homem ou mulher que percebe esse desejo sobre uma pessoa, descobre que esta é casada, e dá vasão a isto cobiçando e investindo numa aproximação com intenção de conquistar seus favores emocionais e sexuais. Este[a] sim, comete pecado.
Um homem ou mulher que percebe esse desejo sobre uma pessoa, descobre que esta é solteira, e dá vasão a isto cobiçando e investindo numa aproximação com intenção de conquistar seus favores emocionais e sexuais. Este[a] só estará cometendo pecado se der vazão aos instintos sexuais antes de casar-se. Se ele cumpre os rituais de aproximação, namoro/noivado, casamento dentro do que nos ensina a Igreja, segurando seus instintos, mesmo desejando e cobiçando a pessoa amada, não comete pecado. São solteiros em busca de sua finalidade natural, mas respeitando os desígnios de Deus. Portanto estão agindo santamente.
O casamento nos dá uma ordenação perfeita de nossas emoções, de nosso desejo, de nossa sexualidade, de nossa necessidade de acolhimento, proteção e afeto. Nos dá a certeza de que poderemos transmitir e cumprir nossa função natural de criaturas de Deus: Crescei, multiplicai e povoai a terra.
O ser humano é emocional, física e espiritualmente indivisível.
O ato voluntário, consciente, consentido que agride fisicamente a dignidade da própria pessoa ou de outrem, agride também seu lado emocional e espiritual, tornando-o impuro diante de Deus.
Um homem ou mulher que se envolve sexualmente com várias pessoas, age contra o próprio corpo e o dessas pessoas. Age também contra o emocional e o espiritual próprio e o dessas pessoas.
O homem naturalmente quando derrama a seiva da vida no ventre da mulher, liga-se a ela em todos os sentidos. Ele instintivamente espera que isto gere vida e ela naturalmente acolhe, orgulha-se e sente-se plenamente fêmea que cumpre sua missão de gerar vida. Isso é de Deus.
Se um homem ou mulher faz sexo sem qualquer compromisso e com várias pessoas. Como irá cumprir com a missão de manter segura física, emocional e espiritualmente a prole, se esta necessita da proteção, aconchego e afetividade que lhe será negada?
A moralidade é princípio social adulto e requer uma maturidade conquistada. Não podemos imputar pecado ao instinto em si. Desejo sexual é instinto. Pecado é dar vazão ao instinto sem medir propositadamente as consequências dos atos.
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Dois pré-adolescentes que, sem qualquer parâmetro moral, dessem vazão ao seu desejo que normalmente é acompanhado de um envolvimento afetivo não poderiam ser considerados pecadores. Eles não sabiam e sequer tinham consciência do erro, portanto incapazes de avaliar seu ato como errado. A culpa vem com o conhecimento, a consciência e a opção pessoal de transgredir a regra.
Portanto desejo sexual não é pecado pois o instinto está sujeito apenas às leis naturais.
Pecado é o querer a todo custo, mesmo que o custo seja a morte, a tristeza, a dor, a angústia, o dolo. Querer é diferente de desejar.
Não podemos confundir natureza animal com "lei natural". A lei natural é clara a respeito que o homem é feito para a monogamia. Sendo assim, todo poligâmico peca, ainda que silvícola, pois todos temos consciência da lei natural.
E sim, sempre o pecado imprescinde da consciência, ainda que parcial. Mas o vivo desejo por uma mulher solteira não deixa de ser um ato consciente. Se quer que não seja pecado, terá que ir por outro lado.
Não poderíamos confundir as coisas, caso contrário sequer conseguiríamos paquerar ou flertar ou namorar. É preciso atração (palavra de uso ordinário) para tudo isso. Pode ser uma atração física (a primeira a aflorar), mas também (somos humanos e não animais) uma atração intelectual, ou uma admiração pelas virtudes, etc.
Trair é praticamente sinônimo de enganar, o qual, por sua vez, considerado em si mesmo, é uma ação intrensecamente má.
O ato de trair pressupõe o rompimento de um vínculo de confiança estabelecido e sobre o qual não resta dúvida, daí provocar uma séria ferida na vítima. Tanto que, no Matrimônio, a traição, aqui chamada de adultério, pode servir de pretexto à separação corporal dos cônjuges (o sacramento, porém permanece).
O pecado reside no uso da razão em contrário a Deus. A ninguém é lícito estabelecer uma relação que pressupõe fidelidade entre dois e rompê-la. Existe um "contrato tácito" que deve ser cumprido.
Depois da explicação sobre o ato sexual entre casados, com base na Sã Doutrina, pode-se chegar a um conclusão sobre as fantasias:
O artigo trata sobre algo cotidiano, e não uma pregação fundamentalista de um bando de puritanos. A fantasia entre casais casados não é pecado, nunca foi. Errado é usá-la de desculpa ou estopim para pecar, como qualquer outra coisa e a conveniência, obviamente, vem com a situação. Somos maiores e mais complexos que nossos impulsos, e se é errado reprimí-los com violência -- o que pode acarretar em prejuízo -- é de bom senso saber que os impulsos pertencem a nós, e não o contrário. Nas Sagradas Escrituras, no Livro Cantares de Salomão a relação do casal descrito havia espaço para as fantasias sexuais envolvendo o olfato, as carícias e lugares diferentes. Sem no contexto da depravação.
“Quam pulchræ sunt mammæ tuæ soror mea sponsa
pulchriora ubera tua vino et odor unguentorum tuorum super omnia aromata
”
Canticum Canticorum 4,10
Reduzir qualquer tipo de amor e afeição a um único impulso físico é, no mínimo, falta de razão, ou, como diz São Paulo na carta aos Efésios, “inteligência curta” .
Para os casais em situação irregular, a Bíblia, que foi escrita há 2000 anos, orienta:
“Fugi da fornicação. Qualquer outro pecado que o homem comete é fora do corpo, mas o impuro peca contra o seu próprio corpo
” . (1Cor 6,18)
“Ora, as obras da carne são estas: fornicação, impureza, libertinagem, (...). Dessas coisas vos previno, como já vos preveni: os que as praticarem não herdarão o Reino de Deus!” (Gl 5,19-20)
O Catecismo da Igreja Católica, que foi lançado em 1993, além de reforçar o que São Paulo disse aos Gálatas, no parágrafo 1852, diz também:
§2353: “A fornicação é a união carnal fora do casamento entre um homem e uma mulher livres. É gravemente contrária à dignidade das pessoas e da sexualidade humana ,naturalmente ordenada para o bem dos esposos, bem como para a geração e a educação dos filhos. Além disso, é um escândalo grave quando há corrupção de jovens.”
Católico praticante é aquele que pratica, ou seja, adequa seus atos aos ensinamentos de Cristo, que viveu a 2000 anos e continua vivo, e a sua Igreja, que é atual, pois é a Nova e Eterna Aliança de Deus com os homens. Assim, mente descaradamente que diz ser
“católico praticante” e contradiz os fundamentos da fé com atitudes que ferem as normas básicas da moral cristã.
Leitura complementar: Compêndio de Teologia Moral - Santo Tomás de Aquino, Tradução e Notas de D. Odilão Moura, OSB. Livro de 1977.
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