“... Igreja do Céu, Igreja da Terra e Igreja do Purgatório estão misteriosamente unidas nesta cooperação com Cristo para reconciliar o mundo com Deus.” (Reconciliatio et poenitentia, 12)
“Numa misteriosa troca de dons, eles [no purgatório] intercedem por nós e nós oferecemos por eles a nossa oração de sufrágio.”( LR de 08/11/92, p. 11)
“Os nossos defuntos continuam a viver entre nós, não só porque os seus restos mortais repousam no cemitério e a sua recordação faz parte da nossa existência, mas sobretudo porque as suas almas intercedem por nós junto de Deus”. (02/11/94)
“A Tradição da Igreja exortou sempre a rezar pelos mortos. O fundamento da oração de sufrágio encontra-se na comunhão do Corpo Místico... Por conseguinte, recomenda a visita aos cemitérios, o adorno dos sepulcros e o sufrágio, como testemunho de esperança confiante, apesar dos sofrimentos pela separação dos entes queridos” (LR, n. 45, de 10/11/91).
Já Santo Tomás pensa que não é possível:
“Los que están en el purgatorio, aunque son superiores a nosotros por su impecabilidad, son, sin embargo, inferiores en cuanto a las penas que padecen. Según esto, no están en estado de orar por nosotros, sino más bien de que se ore por ellos.”(S. Th., II-II, q.83, a.11, ad.3)
A razão de admitir isto é:
“Los que están en este mundo o en el purgatorio todavía no gozan de la visión del Verbo para que puedan conocer lo que nosotros pensamos o decimos. Y ésta es la causa de que no imploremos en nuestras oraciones sus sufragios . A los vivos, en cambio, se los pedimos en nuestras conversaciones.” (S. Th., II-II, q.83, a.4, ad.3).
Ou seja, como as almas do Purgatório não gozam da visão beatífica, não se lhes manifesta, por essa íntima união com o Verbo, as nossas petições.
Apesar disso, a Igreja não deu ainda sobre o assunto uma palavra definitiva. Outros teólogos admitem que as almas do Purgatório também intercedem por nós. Fr. Suárez e R. Belarmino admitem que é possível e lícito invocar a intercessão das almas do Purgatório. Os sínodos provinciais de Vienne (1858) e Utrecht (1865) ensinam que as almas do Purgatório podem nos ajudar com sua intercessão (Coll. I.ac. v 191, 869). Leão XIII autorizou, no ano de 1889, uma oração indulgenciada na qual se invoca a ajuda das almas do Purgatório contra os perigos do corpo e alma (ASS 22, 743 s). (Nas coleções autênticas de 1937 e 1950 não se inclui tal oração).
Temos duas hipóteses, e podemos escolher se pedimos ou não.
Nem nós como humanos temos esta visão beatífica, e contudo podemos e devemos interceder por elas, seria o mesmo caso. Santo Tomás não nega o poder de interceder dessas almas, mas sim a sua capacidade de conhecer nossas petições.
De qualquer forma, a posição contrária à de S. Tomás é dada como provável.
Se João Paulo II falou, é doutrina ao menos segura. E em face de outros teólogos, sínodos e da aprovação de Leão XIII, considera-se como sentença provável.
A opinião de Santo Tomás é tolerada.
Os santos e Nossa Senhora como estão na presença do Senhor, consegue reconhecer nossas orações. Tomás diz o seguinte:
“Os mortos, considerada sua condição natural, desconhecem o que sucede neste mundo e, sobreturdo, os movimentos interiores do coração. Mas aos bem-aventurados,, como diz São Gregório em XII Moral., se lhes manifesta no Verbo o que lhe convém conhecer de nossas coisas, e inclusive de quando se refere aos movimentos internos do coração. Contudo, o que encaixa melhor com sua excelência é que conhecem as petições a eles dirigidas de palavra ou mentalmente. E por isso se inteiram, porque Deus se lhes dá a conhecer, das petições que lhes fazemos.”(S. Th, IIaIIae, q.83, q.4, ad.2)
Quando pedimos intercessão a um santo no céu, que está na presença de Deus, o único problema é nossa oração chegar até ele (oração mal feita).
Quando pedimos intercessão a uma pessoa na terra, o problema é a oração dela chegar ao céus.
Mas se pedirmos as almas do purgatório, teremos dois problema, o de a oração chegar até lá, e da oração dele chegar até Deus.
Resumindo:
Pedido a um santo = difícil acesso (nossa oração mal feita), fácil intercessão (ele está na presença de Deus).
Pedido a uma pessoa = fácil acesso (é só falar com a pessoa), difícil intercessão (a oração dela pode ser mal feita).
Pedido a uma alma no purgatório = difícil acesso (nossa oração mal feita) e difícil intercessão (a distancia da presença de Deus, ou, pode ser mal feita a oração dela)
Só os bem-aventurados estão em estado unitivo, isto é, em união especial com a Pessoa do Verbo. E, em razão disso, conhecem o que convém conhecer, inclusive os movimentos internos do coração. Mas, no caso das almas do Purgatório, Deus pode infundir-lhes de outro modo, menos perfeito, o conhecimento de nossas petições.
Por exemplo, Onias, o sumo sacerdote, e Jeremias ainda não estavam no estado unitivo, pois estavam ainda no limbo dos patriarcas, mas Judas Macabeu teve uma visão em que eles intercediam pelo povo de Israel (2 Mac 15,12-14)
“Para isso, suas almas foram dotadas, pelo poder de Deus, de uma potência superior, chamada visão beatífica, de que as almas humanas aqui na Terra não desfrutam. E, na luz da visão beatífica, têm conhecimento de todas as orações que os homens fazem na terra, pedindo sua intercessão junto a Deus.” FONTE
Esse o fundamento da resposta de Santo Tomás sobre as almas do Purgatório, pois elas não têm a visão beatífica. Mas, como vimos no que falei acima, é possível que estas também intercedam, como as almas que estavam no Limbo dos Patriarcas também intercederam:
“Onias (…) estava com as mãos estendidas, INTERCEDENDO por toda a comunidade dos judeus. Apareceu a seguir um homem notável (…) Esse é aquele que MUITO ORA pelo povo e por toda cidade santa, é Jeremias, o Profeta de Deus.” (2Mac 15,12-14)
Santo Tomás não está negando que as almas possam interceder a qualquer momento uns pelos outros, e sim que as almas do Purgatório possam conhecer o momento exato dessa intercessão, ou em outras palavras, nossas petições. E se formos analisar as citações do Beato João Paulo II, estas também não tratam especificamente do fato da alma conhecer ou não as petições, mas sim de sua intercessão habitual pelos fiéis aqui da Terra.
Santa Teresa: “Tudo quanto peço a Deus por intercessão das almas do purgatório me é concedido”
São Francisco de Salles: “No purgatório as almas estão perfeitamente conformes com a vontade de Deus. Só querem o que Deus quer.Se lhes fosse aberto o Paraíso,prefeririam precipitar-se no inferno do que apresentarem-se manchadas diante de Deus”
Cura dArs:
“Se soubéssemos quão grande é o poder das santas almas do purgatório e quantas graças podemos alcançar por sua intercessão não seriam elas tão esquecidas”
Talvez as pessoas confundem as almas do Purgatórios com as 13 almas *benditas* no incêndio do edifício Joelma, que ninguém sabe se essas pessoas eram católicas ou não. Como é uma questão em aberto, tendo como base as frases dos Santos, opto na tese de que as almas do Purgatorio podem interceder por nós.
“Pergunta-se: é útil recomendar-se às orações das almas do purgatório? Alguns dizem que as almas do purgatório não podem rezar por nós. São levados pela autoridade de Santo Tomás que afirma estarem aquelas almas em estado de expiação, e, por isso, inferiores a nós. Não se acham em condição de rezar por nós, mas, pelo contrário, necessitam de nossas orações.
Mas muitos outros doutores, como Belarmino, Silvio, Cardeal Gotti e outros afirmam, com muita probabilidade, que se deve crer piamente que Deus manifesta-lhes nossas orações, a fim de que aquelas santas almas rezem por nós, como nós rezamos por elas. Assim se estabelecerá entre nós e elas este belíssimo intercâmbio de de caridade. Não obsta, como dizem Silvio e Gotti, o que diz o Angélico, isto é, que as almas padecentes não se acham em estado de rezar. Uma coisa é não estar em estado de rezar e outra é não poder rezar. É verdade que aquelas almas santas não se acham em estado de orar. Como diz Santo Tomás, estando em estado de expiação, elas são inferiores a nós e por isso necessitam das nossas orações. Contudo, em tal estado, bem podem rezar, porque estão na amizade de Deus. Se um pai, apesar de seu grande amor ao seu filho, conserva-o encarcerado por alguma falta cometida, o filho, em todo o caso, não está em condições de pedir alguma coisa para si mesmo. Entretanto, por que não poderá pedir pelos outros? Por que não poderá esperar ser atendido no que pede, conhecendo o afeto que lhe tem o pai? Sendo assim, as almas do purgatório, muito mais amadas de Deus e confirmadas em graça, podem rezar por nós. Mas não é costume da Igreja invocá-las e implorar sua intercessão, porque segundo a providência ordinária, elas não têm conhecimento de nossas súplicas. Todavia, acredita-se piamente, como dissemos, que o Senhor lhes faz conhecer as nossas preces e, então, cheias de caridade não deixam de pedir por nós.
Santa Catarina de Bolonha, quando desejava alcançar alguma graça, recorria às almas do purgatório e era imediatamente atendida. Até dizia que muitas graças, que não havia obtido pela intercessão dos santos, conseguia invocando as almas do purgatório.”(Santo Afonso de Ligório, A Oração, C. I, n. 16)