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Filme “De repente 30” e a idade dos personagens bíblicos


Jenna é uma garota divertida, mas impopular. Quando as coisas dão errado em sua festa de aniversário de 13 anos, ela deseja ter 30 anos e vai para o armário no sótão, onde está o presente que seu amigo Matt havia lhe dado - uma casa de bonecas que continha um brilho que faria a pessoa ter o que desejasse. Quando ela abre os olhos, após pedir que tivesse 30 anos, vê que conseguiu o que queria, mas ela logo perceberá que na realidade sempre teve o que quis até tentar ser popular. 

O filme em si é uma sátira a passagem de tempo, da infância e do início da vida adulta para a vida de trabalho, quando já se tem uma posição de responsabilidade dentro de uma organização. Sobre essa temática, há quem questione  a quantidade de anos vivida por alguns personagens, como Noé, que tinha 600 anos quando o diluvio veio a terra (Gn 7, 6). Tem algum enigma ai? Alguma linguística? Algum modo de interpretar? Ou, literalmente, as pessoas viviam séculos naquela época?

Eu acredito na grande longevidade dos patriarcas, mas talvez os anos mencionados fossem um período de tempo menor do que o nosso ano de 365 dias. Agora, não há brincadeiras, nem fábulas, nem mitos, na Bíblia. Todo texto que não tem uma interpretação literal, tem, ao menos, um sentido espiritual e profundo, relacionado com a nossa salvação.

Existe a tese do ciclo lunar, só que um ciclo lunar é na média menor que um mês, logo se fosse essa contagem, 900 ciclos lunares seria mais ou menos 17 anos. Não acho que mesmo naquela época alguém ficaria “famoso” pela longevidade morrendo aos 17 anos.
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Quanto à longevidade dos Patriarcas, uma outra tese é uma figura de linguagem típica dos livros do Antigo Testamento, mais exatamente, do Pentateuco. Uma maneira para expressar quanto alguém fora abençoado por Deus era acrescentar-lhe muitos anos de vida, assim como também uma grande descendência e prosperidade.

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Uma leitura atenta nos leva perceber que não havia uma noção clara entre os hebreus sobre uma vida pós-morte. O prêmio para o justo era, entre outras coisas, uma longa vida. Pode-se acreditar que viviam tanto ou até menos do que se vive hoje.
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Somente, no judaísmo tardio, depois do Exílio da Babilônia, nos livros sapienciais (Jó, Sabedoria...) que se começa desenvolver uma teologia de uma retribuição após a vida terrena. Aliás, este era um dos pontos de atrito que havia entre os dois partidos religiosos mais influentes no tempo de Jesus: saduceus e fariseus. Os saduceus, que aceitavam a autoridade apenas do Pentateuco, não acreditavam na ressurreição, numa vida pós-morte, enquanto que os fariseus, que além do Pentateuco aceitavam outros escritos, acreditavam na ressurreição. 
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Penso que esta é a principal explicação para a longevidade atribuída aos justos nos primeiros livros da Bíblia, portanto, uma consequência do gênero literário típico do Antigo Testamento. Enfim, eles não devem ser considerados como super-homens.

Um palpite, de teor cientificista (que não é meu estilo), para esta questão. O que causa o envelhecimento biológico nos seres vivos é a deterioração de seu material genético, impossibilitando assim a continuidade do processo de duplicação.
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E qual é o principal fator que causa esta deterioração do material genético? A própria natureza do processo de duplicação, onde as extremidades dos cromossomos, chamados telômeros, constituído de material genético não codificante, é necessariamente perdido durante a replicação celular, encurtando assim o cromossomo, até chegar a um estágio onde começa a se perder material genético codificante, causando o envelhecimento da célula e do ser vivo como um todo.
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E por que este envelhecimento celular não já acabou com a vida de uma vez por todas? Porque nas células germinativas existe uma enzima, chamada telomerase, que reconstrói os Telômeros, possibilitando assim a perpetuação da vida biológica, mas em indivíduos diferentes.


É por este motivo que os clones vivem pouco tempo, pois como são gerados a partir de indivíduos adultos, com Telômeros já encurtados, vivem pouco tempo.


Se por acaso fossem ativas as nossas telomerases durante todo o nosso estágio de vida, não seria nem um pouco estranho ver por aí homens ultrapassando a idade de Matusalém.

O que quero é tentar mostrar que o envelhecimento é inato ao homem: somos feitos para envelhecer e morrer. E o mecanismo biológico que determina isto é relativamente tão simples, que não há porque duvidar dos relatos bíblicos que dizem ter havido homens com quase 1000 anos de idade pois, para Deus, que criou tudo o que existe, ativar e desativar uma enzima (supondo ter sido este o meio utilizado) é brincadeira de criança.

Não há necessidade de uma interpretação metafórica. Ensina Leão XIII que só devemos nos afastar do sentido literal e óbvio quando uma razão grave ou a necessidade nos obrigam a abandoná-lo:
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Nem se diga que, precedendo assim, não pode ir além, pois que, sendo necessário, deve progredir nas suas investigações, contanto que preste obséquio àquele sábio preceito de Santo Agostinho, a saber: - que nunca devemos abandonar o sentido literal e óbvio, salvo se uma razão grave ou a necessidade nos obrigam a abandoná-lo” (Leão XIII, Providentissimum Deus, 20)


Longevidade é uma graça de Deus para que o homem tenha mais tempo na Terra e se converta.

A Providência divina governa absolutamente tudo, até os seus detalhes mais mínimos. Uma formiga que se move na folha é governada pela Providência, que governa até os acasos. Da parte de Deus, não há qualquer distinção. Tudo ocorre segundo a Sua vontade e segundo o Seu plano.

Todo ser é causado pela vontade de Deus. Só o mal, ou seja, a carência de ser (mas que só pode existir num ser), é dito ocorrer por Sua permissão.

Os acasos nada mais são do encontros de causas. E quem dirige as causas para que se encontrem, age sobre elas diretamente. Não há nenhum fenômeno natural que não tenha certa dose de acaso, pois nenhum fenômeno natural é causado por uma única causa.

Na época colonial era comum meninas a partir dos 12 anos, que tinham acabado de entrar na puberdade, casarem com homens bem mais velhos que elas, ou seja, diferença de idade nunca foi problema para o matrimônio (embora que em casos assim a motivação patrimonial fosse patente).


PARA CITAR ESTE ARTIGO:


Filme “De repente 30” e a idade dos personagens bíblicos

David A. Conceição 01/2015 Tradição em Foco com Roma.

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