No período do Advento em que aguardamos a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo convém conhecer um pouco da história da Ave-Maria, que surgiu a partir do anúncio de Seu nascimento feito pelo Arcanjo Gabriel a Santíssima Virgem.
O texto oficial, que passou a fazer parte da liturgia, é constituído de uma sucessão de palavras e afirmações que possuem juntas, motivações e uma história.
Ave Maria, gratia plena, Dominus tecum;
Benedicta tu in mulieribus,
ET benedictus fructus ventris tui, Jesus.
Sancta Maria, Mater Dei,
Ora pro nobis peccatoribus
Nunc et in hora mortis nostrae. Amen.
A primeira parte da oração, extraída do Evangelho, foi usada desde os primeiros séculos; a segunda existe na Igreja Latina desde o século XII, mas só se tornou definitiva depois de uma longa série de variantes.
História das variantes:
1- O nome Maria é introduzido junto da saudação do anjo no século V, na Síria, e no século VII, no Ocidente.
2- Jesus é acrescido à saudação de Isabel por volta do ano 1000; no Oriente, já constava no século VII, e no Ocidente o encontramos sobre diversas formas:
· Jesus, no século XII, na Bélgica, com Amadeu de Losanna.
· Jesus Christus, ainda com Amadeu de Losanna e sob o pontificado de Urbano IV (1261-1264); na Inglaterra, em 1317.
· Jesus com adição do amém em Roma já com Urbano IV, na Suíça e no breviário holandês e dos dominicanos.
· Jesus Christus in aeternum, no mosteiro de Wadstena, na Suíça, em 1447.
· Jesus Christus qui est gloriosus Deus benedictus in saecula.
3- BENEDICTA RU IN MULIERIBUS aparece no ano 1072, em São Pedro Damião; na liturgia ambrosiana, existe a modificação inter mulieres.
4- SANCTA MARIA encontra-se no breviário dos cartuxos do século XIII; no Oriente, existe desde o século V. Ildefonso de Toledo é um dos primeiros a fazer uso dela.
5- MATER DEI é um apelativo que pressupõe o Concílio de Éfeso do ano 431.
6- ORA PRO NOBIS é encontrado em Lorenzo Giustiniani em 1447, ao passo que São Bernardino (morto em 1444) diz: ora por met pro omnibus peccatoribus.
7- PECCATORIBUS encontra-se no breviário cartuxo do século XIV, em um hino descoberto por Morel, nos concílios de Narbonne em 1551, de Constança em 1567, de Besançon em 1571, em Erasmo de Roterdam, em Bernardino de Siena, no breviário de Guinones do ano 1525.
8- Encontramos a variante PRO ME ET PRO OMNIBUS PECCATORIBUS, ou também PRO NOBIS PECCATORIBUS, AMEN em 1563, no breviário do mosteiro de Santa Croce de Antuérpia e nas Institutiones Christianae de São Pedro Canísio, de 1583.
9- NUNC ET SEMPER é encontrado em um códice florentino de 1557 dos servitas; em uma nota à margem está escrito que o nunc foi acrescentado por frei Giovanni Giorgi em 1391.
10- NUNC ET ORA MORTIS encontra-se nos breviários dos cartuxos (1350), dos mercedários (1514) e dos franciscanos (1525).
11- AMEN é encontrado na França, no breviário de Guinones e no breviário romano de Clemente VII, de 1536.
12- AMEN in AETERNUM em Wadstena, na Suíça, em 1447.
A fórmula definitiva , fruto de uma escolha precisa de palavras e significados extraídos dos vários esquemas em uso, é estabelecida após o Concílio de Trento, não apenas para favorecer a unidade na maneira de rezar, mas também para depurar as fórmulas, fazendo delas expressão da fé católica depois da crise protestante. Não se acrescenta nada de novo, escolhem-se as palavras mais adequadas ao culto e mais fáceis de ser inseridas na liturgia com seu sentido exato.
Os motivos das variantes
A Ave-Maria traz em si a marca de muitos séculos e de muitas mãos que a compuseram um pouco por vez. A Igreja ousa repetir o texto evangélico, completando-o ou modificando-o, e imediatamente depois manifesta a necessidade de apoiar-se em Maria nas dificuldades que encontra para ser fiel a Cristo: a figura de Maria nas catacumbas de Priscila (fim do século II) e na Igreja de Santa Maria Antiqua (ambas em Roma), e a invocação gravada no muro da casa de Maria em Nazaré mostram como, desde o princípio de sua história, a Igreja aprendeu a buscar Maria ao lado de Cristo.
Os Padres da Igreja evocam Maria como orante na Igreja que reza, e nascem as liturgias para o encontro com Cristo, pão doado pela Virgem mãe.
Um momento importante é o batismal: a Igreja, como Maria, gera a vida; Maria é invocada, fazendo-se presente àqueles que renascem na água e no Espírito Santo. Mais tarde, as fórmulas batismais irão exprimir explicitamente a fé em Cristo filho de Maria e irão afirmar Maria como mãe de Cristo.
Quando a Igreja começa a difundir o Evangelho, nas dificuldades dos problemas com controvérsias trinitárias e cristológicas, não pode não pensar em Maria, serva do Senhor, colaboradora do Espírito, mãe do Verbo encarnado – chegar-se-á a chamá-la de mãe de Deus.
Todos os dias a Igreja sente a realidade do pecado que a oprime. Chamada a santificar, pede a Santa Maria que interceda pelos pecadores. Chamada a construir e a manter a unidade, a dar o sentido, a encontrar a força para consolidar os vínculos e dilatar os espaços da caridade e da penitência, da reconciliação, do perdão, recordará Maria mãe do cenáculo. Mais tarde irá proclamá-la mãe da Igreja.
A Igreja itinerante, que deixa os vestígios de seu caminho nas catedrais e nos mosteiros, adverte neste percurso efetuado através do espaço e do tempo a importância da hora da morte. Enquanto renova o sacrifício da cruz, recorda Cristo crucificado e Maria ao lado dele. À medida que o pensamento da morte, do encontro com Cristo, ou do ingresso na pátria passou a ser ligado ao perigo, à condenação e ao mal, a Igreja sentiu a necessidade de rezar para ser preservada da morte repentina e para obter uma morte santa. Maria foi invocada para a boa morte.
Em uma inscrição encontrada em seu túmulo na França, os defuntos pedem aos vivos para ser sufragados com a recitação da Ave-Maria.
Fonte: OSSANA, TULLIO FAUSTINO. A Ave-Maria, História, Conteúdo, Controvérsias. Tradução: Alda da Anunciação Machado. São Paulo: Loyola, 2006
.
O texto oficial, que passou a fazer parte da liturgia, é constituído de uma sucessão de palavras e afirmações que possuem juntas, motivações e uma história.
Ave Maria, gratia plena, Dominus tecum;
Benedicta tu in mulieribus,
ET benedictus fructus ventris tui, Jesus.
Sancta Maria, Mater Dei,
Ora pro nobis peccatoribus
Nunc et in hora mortis nostrae. Amen.
A primeira parte da oração, extraída do Evangelho, foi usada desde os primeiros séculos; a segunda existe na Igreja Latina desde o século XII, mas só se tornou definitiva depois de uma longa série de variantes.
História das variantes:
1- O nome Maria é introduzido junto da saudação do anjo no século V, na Síria, e no século VII, no Ocidente.
2- Jesus é acrescido à saudação de Isabel por volta do ano 1000; no Oriente, já constava no século VII, e no Ocidente o encontramos sobre diversas formas:
· Jesus, no século XII, na Bélgica, com Amadeu de Losanna.
· Jesus Christus, ainda com Amadeu de Losanna e sob o pontificado de Urbano IV (1261-1264); na Inglaterra, em 1317.
· Jesus com adição do amém em Roma já com Urbano IV, na Suíça e no breviário holandês e dos dominicanos.
· Jesus Christus in aeternum, no mosteiro de Wadstena, na Suíça, em 1447.
· Jesus Christus qui est gloriosus Deus benedictus in saecula.
3- BENEDICTA RU IN MULIERIBUS aparece no ano 1072, em São Pedro Damião; na liturgia ambrosiana, existe a modificação inter mulieres.
4- SANCTA MARIA encontra-se no breviário dos cartuxos do século XIII; no Oriente, existe desde o século V. Ildefonso de Toledo é um dos primeiros a fazer uso dela.
5- MATER DEI é um apelativo que pressupõe o Concílio de Éfeso do ano 431.
6- ORA PRO NOBIS é encontrado em Lorenzo Giustiniani em 1447, ao passo que São Bernardino (morto em 1444) diz: ora por met pro omnibus peccatoribus.
7- PECCATORIBUS encontra-se no breviário cartuxo do século XIV, em um hino descoberto por Morel, nos concílios de Narbonne em 1551, de Constança em 1567, de Besançon em 1571, em Erasmo de Roterdam, em Bernardino de Siena, no breviário de Guinones do ano 1525.
8- Encontramos a variante PRO ME ET PRO OMNIBUS PECCATORIBUS, ou também PRO NOBIS PECCATORIBUS, AMEN em 1563, no breviário do mosteiro de Santa Croce de Antuérpia e nas Institutiones Christianae de São Pedro Canísio, de 1583.
9- NUNC ET SEMPER é encontrado em um códice florentino de 1557 dos servitas; em uma nota à margem está escrito que o nunc foi acrescentado por frei Giovanni Giorgi em 1391.
10- NUNC ET ORA MORTIS encontra-se nos breviários dos cartuxos (1350), dos mercedários (1514) e dos franciscanos (1525).
11- AMEN é encontrado na França, no breviário de Guinones e no breviário romano de Clemente VII, de 1536.
12- AMEN in AETERNUM em Wadstena, na Suíça, em 1447.
A fórmula definitiva , fruto de uma escolha precisa de palavras e significados extraídos dos vários esquemas em uso, é estabelecida após o Concílio de Trento, não apenas para favorecer a unidade na maneira de rezar, mas também para depurar as fórmulas, fazendo delas expressão da fé católica depois da crise protestante. Não se acrescenta nada de novo, escolhem-se as palavras mais adequadas ao culto e mais fáceis de ser inseridas na liturgia com seu sentido exato.
Os motivos das variantes
A Ave-Maria traz em si a marca de muitos séculos e de muitas mãos que a compuseram um pouco por vez. A Igreja ousa repetir o texto evangélico, completando-o ou modificando-o, e imediatamente depois manifesta a necessidade de apoiar-se em Maria nas dificuldades que encontra para ser fiel a Cristo: a figura de Maria nas catacumbas de Priscila (fim do século II) e na Igreja de Santa Maria Antiqua (ambas em Roma), e a invocação gravada no muro da casa de Maria em Nazaré mostram como, desde o princípio de sua história, a Igreja aprendeu a buscar Maria ao lado de Cristo.
Os Padres da Igreja evocam Maria como orante na Igreja que reza, e nascem as liturgias para o encontro com Cristo, pão doado pela Virgem mãe.
Um momento importante é o batismal: a Igreja, como Maria, gera a vida; Maria é invocada, fazendo-se presente àqueles que renascem na água e no Espírito Santo. Mais tarde, as fórmulas batismais irão exprimir explicitamente a fé em Cristo filho de Maria e irão afirmar Maria como mãe de Cristo.
Quando a Igreja começa a difundir o Evangelho, nas dificuldades dos problemas com controvérsias trinitárias e cristológicas, não pode não pensar em Maria, serva do Senhor, colaboradora do Espírito, mãe do Verbo encarnado – chegar-se-á a chamá-la de mãe de Deus.
Todos os dias a Igreja sente a realidade do pecado que a oprime. Chamada a santificar, pede a Santa Maria que interceda pelos pecadores. Chamada a construir e a manter a unidade, a dar o sentido, a encontrar a força para consolidar os vínculos e dilatar os espaços da caridade e da penitência, da reconciliação, do perdão, recordará Maria mãe do cenáculo. Mais tarde irá proclamá-la mãe da Igreja.
A Igreja itinerante, que deixa os vestígios de seu caminho nas catedrais e nos mosteiros, adverte neste percurso efetuado através do espaço e do tempo a importância da hora da morte. Enquanto renova o sacrifício da cruz, recorda Cristo crucificado e Maria ao lado dele. À medida que o pensamento da morte, do encontro com Cristo, ou do ingresso na pátria passou a ser ligado ao perigo, à condenação e ao mal, a Igreja sentiu a necessidade de rezar para ser preservada da morte repentina e para obter uma morte santa. Maria foi invocada para a boa morte.
Em uma inscrição encontrada em seu túmulo na França, os defuntos pedem aos vivos para ser sufragados com a recitação da Ave-Maria.
Fonte: OSSANA, TULLIO FAUSTINO. A Ave-Maria, História, Conteúdo, Controvérsias. Tradução: Alda da Anunciação Machado. São Paulo: Loyola, 2006
.
david@ocatequista.com.br