Quando São Tomás de Aquino vivia em Paris, surgiu uma questão na Universidade, a respeito dos acidentes eucarísticos: o que acontece com o pão e o vinho depois da consagração? Continuam pão e vinho?
Depois de muito discutir, os teólogos concordam em consultar o grande mestre Tomás que, já, em outras questões, se havia assinalado por suas respostas claras e seguras. O grande filósofo e doutor da Igreja buscou, na oração e no jejum, as luzes de que carecia para responder. Distinguiu entre o ser natural, do Corpo de Jesus, e o ser sobrenatural, do mesmo, presente sob as espécies consagradas. Concluiu que a quantidade, forma, cor e sabor do pão e do vinho continuam, ainda que toda a substância do pão e do vinho tenha sido mudada em substância do Corpo e Sangue de Jesus Cristo. Eis no que consiste o grande milagre da transubstanciação, como ensina a Igreja.[1]
Entretanto, o Doutor Angélico não quis propor a sua doutrina como regra do ensino da Escola, sem consultar primeiro Aquele que é o próprio objeto da questão. Aproximou-se do altar, depôs ali seus apontamentos, como um discípulo apresenta seu trabalho ao mestre, ergueu as mãos para o crucificado e fez esta oração:
“Senhor Jesus, verdadeiramente presente neste Sacramento admirável e autor das maravilhas que nele se encerram, só de Vós espero o conhecimento da verdade que aos outros devo ensinar. Por isso, vos suplico, com muita humildade que, se o que foi escrito nestas folhas está certo, me concedais a graça de o entender claramente. Se, pelo contrário, escrevi alguma coisa que esteja em oposição à fé e à realidade deste adorável mistério, não me deixeis ir mais adiante e indicai-me aquilo que é prejudicial à doutrina católica”.
Enquanto São Tomás assim rezava, seu companheiro e outros irmãos que o observavam, viram, de repente, Jesus Cristo diante do Santo Doutor, e O ouviram dizer estas palavras: “Sim, Tomás, escreveste bem a respeito do Sacramento do Meu Corpo e do Meu Sangue; resolveste e trataste esta questão tanto quanto ela pode ser compreendida, nesta vida, por uma inteligência humana”.
Desapareceu a visão, mas o Santo continuou em oração, entrando em êxtase, durante o qual foi levantado da terra. Correram a contar ao prior do convento este prodígio e ele, com outros religiosos, chegaram a ver com seus próprios olhos o milagre, podendo assim dar testemunho dele.
Não duvidou mais de suas conclusões. Tomás de Aquino as apresentou aos mestres da Universidade, que as acolheram com plena deferência e inteira satisfação.
Texto retirado do livro Jesus Cristo conosco na Eucaristia, Associação Cultural Nossa Senhora de Fátima – formatação alterada.
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[1] Transubstanciação significa a conversão de toda a substância do pão na substância do Corpo de Cristo e de toda a substância do vinho na substância do seu Sangue. Esta conversão realiza-se na oração eucarística mediante a eficácia da palavra de Cristo e a acção do Espírito Santo. Todavia as características sensíveis do pão e do vinho, isto é as «espécies eucarísticas», permanecem inalteradas. (Copêndio do Catecismo da Igreja Católica, 283)
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