Como é o rito? Quem anuncia a morte? Batem-se os sinos após a morte? Como se procede com o fechamento do apartamento do papa falecido?
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Quem determina formalmente a morte de um Santo Padre é o Cardeal-Carmelengo.
Sua Eminência Reverendíssima pega um martelinho de prata e bate suavemente na cabeça do Papa, chamando-o.
Após essa tradicional constatação, o Carmelengo retira o Anel do Pescador de Sua Santidade. Este Anel é então cortado pelo Cardeal na presença dos demais Cardeais, e o selo do Santo Padre é destruído com o mesmo martelo.
Depois de concluídas essas etapas, entende-se que acabou a jurisdição e autoridade do falecido Papa.
Compete também a ele avisar autoridades da Santa Sé, mormente o Decano dos Cardeais
Atualmente, desde 1931, a Rádio Vaticano é o primeiro veículo “oficial” para transmitir a notícia. Foi assim que aconteceu nas mortes de Pio XII, Paulo VI e João Paulo I. Houve exceções: a morte de Pio XI tornou-se pública antes que a RV a levasse ao ar, através do dobre dos sinos, pois o Papa agonizava e era eminente a sua morte. O mesmo se deu com a morte do Papa João XXIII e do Papa João Paulo II que as TVs do mundo inteiro transmitiram no ato.
No caso de João Paulo II, no momento de sua morte havia milhares de pessoas na Praça de São Pedro naquela sábado à noite, 02 de abril de 2005, que debaixo da janela do Papa agonizante, rezavam o terço, presidido por Mons. Angelo Comastri, quando às 21h40, (hoje) cardeal Comastri recebeu a notícia, interrompeu o terço e disse algo assim: “O Santo Padre acaba de entrar na Casa do Pai.” A multidão, então, começou aplaudir. No momento, tanto a RAI, como a BBC e CNN mostraram o momento do vivo. A Rádio Vaticano chegou depois.
João Paulo II faleceu exatamente às 21h37 segundo o seu médico, Dr. Renato Buzzonetti. Estavam presentes além do médico, o seu secretário pessoal, Mons. Stanislaw Dziwisz (atual cardeal-arcebispo de Cracóvia), o cardeal Marian Jaworski, Mons. Stanislaw Rylko, Mons. Mieczyslaw Mokrzyki, o Padre Tadeusz Styczén e a Irmã Ancelle del Sacro Cuore (enfermeira). Quando o Papa deu seu último respiro, todos cantaram juntos o Te Deum.
Em seguida, adentrou-se ao apartamento, o cardeal Martinez Somalo, o camerlengo, que oficiou os ritos tradicionais.
Mais alguns dados a respeito dos ritos que ocorrem no falecimento de um Papa, inclusive alguns, já não são seguidos à risca, por terem se tornarem anacrônicos.
1) Morto o Papa, o Cardeal-camerlengo na presença das testemunhas do falecimento do Santo Padre, usa de um pequeno martelo, tocando três vezes a fronte do falecido, chamando-o pelo nome de Batismo. Em relação a JPII, o cardeal Eduardo Martinéz Somalo deve ter dito: Carole! Carole! Carole! Certificando-se assim de sua morte;
2) Tira o anel de seu dedo e com o mesmo martelo, quebra-o, assim como ao seu selo com suas armas, o timbre que autenticava e lacrava seus documentos mais importantes, como as bulas, decretos... etc, a partir deste momento a Igreja está em sede vacante, sem Bispo de Roma, portanto sem o Vigário de Cristo. Nada mais pode ser mudado até a eleição do novo Pontífice. Incluisive, todos os cargos da Cúria estão extintos. Os únicos que não perdem sua autoridade é justamente o Cardeal-camerlengo, o Cardeal-vigário, os núncios apostólicos e o Penitenciário-mor, que pode não ser um cardeal;
3) Bate-se o dobre fúnebre dos sinos de São Pedro, a Rádio Vaticano anuncia ao mundo, enquanto que núncios apostólicos, representantes creditados à Santa Sé são notificados da morte do Papa pelo Cardeal-camerlengo por meio de telegramas;
4) O médico prepara o corpo do Papa falecido, pois o seu sepultamento ocorre entre quatro ou cinco dias após a sua morte para dar tempo para que todos os cardeais, principalmente, possam participar das exéquias. Ele não é embalsamado como se diz, usualmente;
5) O seu corpo revestido com paramentos pontifícios é levado para ser velado na Aula Clementina, ele vai estar revestido com a casula vermelha (o vermelho é a cor de luto papal - tudo que para os outros é preto, para o Papa é vermelho, por isso o seu chapéu, capa, sapatos são vermelhos...). Ele estará com a mitra na cabeça, com o pallium, portando o báculo, mas sem o anel, que já foi destruído. Neste ínterim, o apartamento pontifício já foi fechado e lacrado. Só será aberto após a eleição do novo Papa. Também sua bandeira com suas armas é retirada e em seu lugar surge a bandeira com as armas do Cardeal-camerlengo, sem as tradicionais chaves e tiara, mas com uma espécie de guarda-chuva, chamado de umbraculum com a inscrição Sede Vacante. Assim também serão impressos os selos ou cunhadas moedas, que aliás, são procuradíssimas pelos colecionadores.
Anteriormente, a bandeira que assumia sobre São Pedro era do Príncipe Chigi que em 1712 recebera o privilégio de garantir a segurança da Santa Sé durante a sede vacante, inclusive que também velava junto a porta do Conclave. Aliás, esta família também deu um papa: Alexandre VII (1655-1662). Paulo VI em 1968 suprimiu este privilégio, confiando o governo provisório ao colégio dos cardeais e a segurança à Guarda Suiça. No caso, de JP II, devido ao enorme afluxo de pessoas que queriam vê-lo, seu corpo foi levado da Aula Clementina para junto ao altar da “Confissão” em São Pedro;
6) Como todos os cargos estão extintos com a morte do Pontífice, assumem, provisoriamente, nas funções essenciais, os “substitutos”. Assim, na morte de JPII, desapareceu a figura do Secretário de Estado, o cardeal Angelo Sodano. Quem falava em nome da Igreja era Monsenhor Leonardo Sandri, um argentino. Tudo o que dizia respeito à Basílica de São Pedro, onde o velório acontecia, invés do cardeal Virgilio Noé, era Monsenhor Angelo Comastri que decidia as coisas. Quanto aos cardeais, o que conta é a hierarquia tradicional:
a) Em primeiro lugar, os seis cardeais-bispos junto dos Patriarcas Orientais que têm a dignidade cardinalícia. O decano do Sacro Colégio sempre é o cardeal-bispo de Óstia (Cidade da Itália). A ele caberá a presedir os funerais do Papa falecido e abrir o Conclave. Se o novo Papa eleito não for bispo, cabe ao cardeal-bispo de Óstia, junto com outros dois cardeais-bispos a obrigação de ordenar bispo ao novo Papa. A última vez que isso aconteceu foi quando da eleição do cardeal Alberto Capellari, que se tornou o Papa Gregório XVI em 1831, mas esse já é um outro assunto, pois se trata já do Conclave.
7) À morte do Pontífice, seguem as Novemdiales. Nove dias de solenes Missas exequiais em intenção do Pontífice morto, pois aquele que mais “recebeu”, mais orações precisa, e enfim acontecem os funerais. Antes se realizavam dentro da Basílica, mas desde Paulo VI são celebrados na Praça de São Pedro, e como foi dito acima, são predididos pelo Decano do Sacro Colégio, o cardeal-bispo de Óstia, assistido pelo primeiro entre os cardeais-presbíteros e o primeiro entre os cardeais-diáconos. Nos funerais de JPII foram, respectivamente: Joseph Ratzinger (ordem dos bispos), Stephen Kim Sou-hwan (ordem dos presbíteros), Jorge Arturo Medina Estévez (ordem dos diáconos) e Nasrallah Pierre Sfeir (patriarca oriental). No fim da Missa, faz-se a “encomendação”, respectivamente em latim pela Igreja do Ocidente e em grego pela Igreja do Oriente;
8) Aí, o caixão do Papa falecido é levado para ser sepultado nas grutas vaticanas, ao lado do túmulo de São Pedro, carregado pelos gentiluomini de Sua Santità, último resquício da nobreza romana. O corpo do Papa já está colocado dentro de um caixão de cipreste, que é a madeira mais comum na Europa. Antes de ser lacrado, é colocado dentro dele o Rogito, uma breve biografia do Papa à semelhança do Liber Pontificalis, uma ampola de metal (cápsula do tempo), contendo as moedas, selos de seu pontificado. Se daqui há mil anos, ele for exumado, saber-se-á de quem se trata e no caso de JPII, Mons. Pietro Marini e Mons. Dziwisz cobriram o seu rosto com um lenço de seda branco, como lembrança do maior privilégio que ele recebeu: o Batismo. Este caixão de cipreste foi colocado dentro de um outro feito de zinco para proteger da umidade, que foi colocado dentro do último caixão, feito de embuia e assim foi sepultado. Como Paulo VI, também JPII quis ser sepultado na terra. Este processo de usar três caixões é bem antigo. Basicamente, é esse o rito de um funeral de um Papa.
b) Segue em seguida os cardeais-presbíteros, o grupo mais numeroso, a sua precedência segue à data de sua criação como cardeais.
c) Enfim, há os cardeais-diáconos. O primeiro dentre deles é aquele que anuncia solenemente a eleição do novo Papa, o tradicional: Habemus Papam!. Na realidade, todos são bispos, porque desde João XXIII (1958-1963), todos que são criados cardeais com mesmos de 80 anos de idade, portanto com direito a voto num conclave, devem pedir sua ordenação episcopal, se não forem bispos;
Só há um porém. Não é obrigatório ao cardeal se tornar bispo. É automático, mas ele pode pedir dispensa. Um exemplo foi o Cardeal Avery Dulles, jesuíta que foi elevado ao púrpura depois de 80 anos. Ele pediu, e não foi ordenado bispo.
Além disso, aos 80 anos, o cardeal é aposentado compulsoriamente, e não pode mais votar no Conclave.
desde João XXIII, todo aquele que é elevado à dignidade cardinalícia deve ser ordenado bispo. O próprio João XXIII ordenou, pessoalmente, bispos todos aqueles cardeais que participaram do conclave de 1958, quando ele, Angelo Rocalli, foi eleito Papa. Entre eles: Alfredo Ottaviani, Antonio Bacci, Augustin Bea, Francesco Bracci, Alberto di Jorio e outros.
Talvez, João XXIII considerasse que aqueles que não eram bispos estariam em desvantagem em um conclave, pois sua eleição demandaria mais uma complicação: a ordenação episcopal do eleito, dentro da Capela Sistina.
Quando Paulo VI em sua reforma do Colégio Cardinalício - desde de Sixto V (século XVI) o número de cardeais jamais ultrapassou o número de 70 - Paulo VI estabeleceu o número máximo de 120 eleitores, acrescentando uma novidade: aqueles que tivessem completado 80 anos até a véspera do falecimento do Papa, perdiam o direito de eleitores.
Houve quem não gostou, mas a medida era prática por vários motivos. Dificilmente, um cardeal com mais de 80 anos seria eleito, a maioria deles, sequer compareciam ao Conclave por motivos de saúde, principalmente os “estrangeiros”, o que daria uma vantagem aos idosos “italianos” que estavam por perto e por fim, com o avançar da idade vai se perdendo a percepção do futuro, o que conta muito na eleição de um novo Papa.
Conclusão: Embora o Direito Canônico obrigue ao cardeal, quando criado, se não for bispo, pedir sua ordenação episcopal, quase que todos aqueles que foram criados cardeais com mais de 80 anos, portanto, sem o direito de participar num eventual conclave, têm pedido para o Papa para o dispensarem de receber a ordem episcopal. O primeiro que fiz isso, se não me engano, foi Henri de Lubac e isso quase já se tornou norma. O último caso, foi o de Monsenhor Domenico Bartolucci, o genial maestro do Coral da Capela Sistina, feito cardeal por Bento XVI. Suspeito que foi o irmão dele, Mons. Georg Ratzinger, que também é músico, que sugeriu a homenagem a Bartolucci.
Há também uma razão teológica importante. O sacramento da Ordem não é uma dignidade, mas um serviço. Alguém é ordenado para exercer um ministério. Se alguém exerce um alto cargo na Igreja, por exemplo, Secretário de Estado, necessariamente, ele nem precisa ser padre! Aliás, o Secretário de Estado do Bem-aventurado Pio IX, o Cardeal Antonelli era só diácono, como já acontecera antes com o Cardeal Ercole Consalvi, aquele que “peitava” Napoleão e que foi secretário de Estado de Pio VII.
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Quem determina formalmente a morte de um Santo Padre é o Cardeal-Carmelengo.
Sua Eminência Reverendíssima pega um martelinho de prata e bate suavemente na cabeça do Papa, chamando-o.
Após essa tradicional constatação, o Carmelengo retira o Anel do Pescador de Sua Santidade. Este Anel é então cortado pelo Cardeal na presença dos demais Cardeais, e o selo do Santo Padre é destruído com o mesmo martelo.
Depois de concluídas essas etapas, entende-se que acabou a jurisdição e autoridade do falecido Papa.
Compete também a ele avisar autoridades da Santa Sé, mormente o Decano dos Cardeais
Atualmente, desde 1931, a Rádio Vaticano é o primeiro veículo “oficial” para transmitir a notícia. Foi assim que aconteceu nas mortes de Pio XII, Paulo VI e João Paulo I. Houve exceções: a morte de Pio XI tornou-se pública antes que a RV a levasse ao ar, através do dobre dos sinos, pois o Papa agonizava e era eminente a sua morte. O mesmo se deu com a morte do Papa João XXIII e do Papa João Paulo II que as TVs do mundo inteiro transmitiram no ato.
No caso de João Paulo II, no momento de sua morte havia milhares de pessoas na Praça de São Pedro naquela sábado à noite, 02 de abril de 2005, que debaixo da janela do Papa agonizante, rezavam o terço, presidido por Mons. Angelo Comastri, quando às 21h40, (hoje) cardeal Comastri recebeu a notícia, interrompeu o terço e disse algo assim: “O Santo Padre acaba de entrar na Casa do Pai.” A multidão, então, começou aplaudir. No momento, tanto a RAI, como a BBC e CNN mostraram o momento do vivo. A Rádio Vaticano chegou depois.
João Paulo II faleceu exatamente às 21h37 segundo o seu médico, Dr. Renato Buzzonetti. Estavam presentes além do médico, o seu secretário pessoal, Mons. Stanislaw Dziwisz (atual cardeal-arcebispo de Cracóvia), o cardeal Marian Jaworski, Mons. Stanislaw Rylko, Mons. Mieczyslaw Mokrzyki, o Padre Tadeusz Styczén e a Irmã Ancelle del Sacro Cuore (enfermeira). Quando o Papa deu seu último respiro, todos cantaram juntos o Te Deum.
Em seguida, adentrou-se ao apartamento, o cardeal Martinez Somalo, o camerlengo, que oficiou os ritos tradicionais.
Mais alguns dados a respeito dos ritos que ocorrem no falecimento de um Papa, inclusive alguns, já não são seguidos à risca, por terem se tornarem anacrônicos.
1) Morto o Papa, o Cardeal-camerlengo na presença das testemunhas do falecimento do Santo Padre, usa de um pequeno martelo, tocando três vezes a fronte do falecido, chamando-o pelo nome de Batismo. Em relação a JPII, o cardeal Eduardo Martinéz Somalo deve ter dito: Carole! Carole! Carole! Certificando-se assim de sua morte;
2) Tira o anel de seu dedo e com o mesmo martelo, quebra-o, assim como ao seu selo com suas armas, o timbre que autenticava e lacrava seus documentos mais importantes, como as bulas, decretos... etc, a partir deste momento a Igreja está em sede vacante, sem Bispo de Roma, portanto sem o Vigário de Cristo. Nada mais pode ser mudado até a eleição do novo Pontífice. Incluisive, todos os cargos da Cúria estão extintos. Os únicos que não perdem sua autoridade é justamente o Cardeal-camerlengo, o Cardeal-vigário, os núncios apostólicos e o Penitenciário-mor, que pode não ser um cardeal;
3) Bate-se o dobre fúnebre dos sinos de São Pedro, a Rádio Vaticano anuncia ao mundo, enquanto que núncios apostólicos, representantes creditados à Santa Sé são notificados da morte do Papa pelo Cardeal-camerlengo por meio de telegramas;
4) O médico prepara o corpo do Papa falecido, pois o seu sepultamento ocorre entre quatro ou cinco dias após a sua morte para dar tempo para que todos os cardeais, principalmente, possam participar das exéquias. Ele não é embalsamado como se diz, usualmente;
5) O seu corpo revestido com paramentos pontifícios é levado para ser velado na Aula Clementina, ele vai estar revestido com a casula vermelha (o vermelho é a cor de luto papal - tudo que para os outros é preto, para o Papa é vermelho, por isso o seu chapéu, capa, sapatos são vermelhos...). Ele estará com a mitra na cabeça, com o pallium, portando o báculo, mas sem o anel, que já foi destruído. Neste ínterim, o apartamento pontifício já foi fechado e lacrado. Só será aberto após a eleição do novo Papa. Também sua bandeira com suas armas é retirada e em seu lugar surge a bandeira com as armas do Cardeal-camerlengo, sem as tradicionais chaves e tiara, mas com uma espécie de guarda-chuva, chamado de umbraculum com a inscrição Sede Vacante. Assim também serão impressos os selos ou cunhadas moedas, que aliás, são procuradíssimas pelos colecionadores.
Anteriormente, a bandeira que assumia sobre São Pedro era do Príncipe Chigi que em 1712 recebera o privilégio de garantir a segurança da Santa Sé durante a sede vacante, inclusive que também velava junto a porta do Conclave. Aliás, esta família também deu um papa: Alexandre VII (1655-1662). Paulo VI em 1968 suprimiu este privilégio, confiando o governo provisório ao colégio dos cardeais e a segurança à Guarda Suiça. No caso, de JP II, devido ao enorme afluxo de pessoas que queriam vê-lo, seu corpo foi levado da Aula Clementina para junto ao altar da “Confissão” em São Pedro;
6) Como todos os cargos estão extintos com a morte do Pontífice, assumem, provisoriamente, nas funções essenciais, os “substitutos”. Assim, na morte de JPII, desapareceu a figura do Secretário de Estado, o cardeal Angelo Sodano. Quem falava em nome da Igreja era Monsenhor Leonardo Sandri, um argentino. Tudo o que dizia respeito à Basílica de São Pedro, onde o velório acontecia, invés do cardeal Virgilio Noé, era Monsenhor Angelo Comastri que decidia as coisas. Quanto aos cardeais, o que conta é a hierarquia tradicional:
a) Em primeiro lugar, os seis cardeais-bispos junto dos Patriarcas Orientais que têm a dignidade cardinalícia. O decano do Sacro Colégio sempre é o cardeal-bispo de Óstia (Cidade da Itália). A ele caberá a presedir os funerais do Papa falecido e abrir o Conclave. Se o novo Papa eleito não for bispo, cabe ao cardeal-bispo de Óstia, junto com outros dois cardeais-bispos a obrigação de ordenar bispo ao novo Papa. A última vez que isso aconteceu foi quando da eleição do cardeal Alberto Capellari, que se tornou o Papa Gregório XVI em 1831, mas esse já é um outro assunto, pois se trata já do Conclave.
7) À morte do Pontífice, seguem as Novemdiales. Nove dias de solenes Missas exequiais em intenção do Pontífice morto, pois aquele que mais “recebeu”, mais orações precisa, e enfim acontecem os funerais. Antes se realizavam dentro da Basílica, mas desde Paulo VI são celebrados na Praça de São Pedro, e como foi dito acima, são predididos pelo Decano do Sacro Colégio, o cardeal-bispo de Óstia, assistido pelo primeiro entre os cardeais-presbíteros e o primeiro entre os cardeais-diáconos. Nos funerais de JPII foram, respectivamente: Joseph Ratzinger (ordem dos bispos), Stephen Kim Sou-hwan (ordem dos presbíteros), Jorge Arturo Medina Estévez (ordem dos diáconos) e Nasrallah Pierre Sfeir (patriarca oriental). No fim da Missa, faz-se a “encomendação”, respectivamente em latim pela Igreja do Ocidente e em grego pela Igreja do Oriente;
8) Aí, o caixão do Papa falecido é levado para ser sepultado nas grutas vaticanas, ao lado do túmulo de São Pedro, carregado pelos gentiluomini de Sua Santità, último resquício da nobreza romana. O corpo do Papa já está colocado dentro de um caixão de cipreste, que é a madeira mais comum na Europa. Antes de ser lacrado, é colocado dentro dele o Rogito, uma breve biografia do Papa à semelhança do Liber Pontificalis, uma ampola de metal (cápsula do tempo), contendo as moedas, selos de seu pontificado. Se daqui há mil anos, ele for exumado, saber-se-á de quem se trata e no caso de JPII, Mons. Pietro Marini e Mons. Dziwisz cobriram o seu rosto com um lenço de seda branco, como lembrança do maior privilégio que ele recebeu: o Batismo. Este caixão de cipreste foi colocado dentro de um outro feito de zinco para proteger da umidade, que foi colocado dentro do último caixão, feito de embuia e assim foi sepultado. Como Paulo VI, também JPII quis ser sepultado na terra. Este processo de usar três caixões é bem antigo. Basicamente, é esse o rito de um funeral de um Papa.
b) Segue em seguida os cardeais-presbíteros, o grupo mais numeroso, a sua precedência segue à data de sua criação como cardeais.
c) Enfim, há os cardeais-diáconos. O primeiro dentre deles é aquele que anuncia solenemente a eleição do novo Papa, o tradicional: Habemus Papam!. Na realidade, todos são bispos, porque desde João XXIII (1958-1963), todos que são criados cardeais com mesmos de 80 anos de idade, portanto com direito a voto num conclave, devem pedir sua ordenação episcopal, se não forem bispos;
Só há um porém. Não é obrigatório ao cardeal se tornar bispo. É automático, mas ele pode pedir dispensa. Um exemplo foi o Cardeal Avery Dulles, jesuíta que foi elevado ao púrpura depois de 80 anos. Ele pediu, e não foi ordenado bispo.
Além disso, aos 80 anos, o cardeal é aposentado compulsoriamente, e não pode mais votar no Conclave.
desde João XXIII, todo aquele que é elevado à dignidade cardinalícia deve ser ordenado bispo. O próprio João XXIII ordenou, pessoalmente, bispos todos aqueles cardeais que participaram do conclave de 1958, quando ele, Angelo Rocalli, foi eleito Papa. Entre eles: Alfredo Ottaviani, Antonio Bacci, Augustin Bea, Francesco Bracci, Alberto di Jorio e outros.
Talvez, João XXIII considerasse que aqueles que não eram bispos estariam em desvantagem em um conclave, pois sua eleição demandaria mais uma complicação: a ordenação episcopal do eleito, dentro da Capela Sistina.
Quando Paulo VI em sua reforma do Colégio Cardinalício - desde de Sixto V (século XVI) o número de cardeais jamais ultrapassou o número de 70 - Paulo VI estabeleceu o número máximo de 120 eleitores, acrescentando uma novidade: aqueles que tivessem completado 80 anos até a véspera do falecimento do Papa, perdiam o direito de eleitores.
Houve quem não gostou, mas a medida era prática por vários motivos. Dificilmente, um cardeal com mais de 80 anos seria eleito, a maioria deles, sequer compareciam ao Conclave por motivos de saúde, principalmente os “estrangeiros”, o que daria uma vantagem aos idosos “italianos” que estavam por perto e por fim, com o avançar da idade vai se perdendo a percepção do futuro, o que conta muito na eleição de um novo Papa.
Conclusão: Embora o Direito Canônico obrigue ao cardeal, quando criado, se não for bispo, pedir sua ordenação episcopal, quase que todos aqueles que foram criados cardeais com mais de 80 anos, portanto, sem o direito de participar num eventual conclave, têm pedido para o Papa para o dispensarem de receber a ordem episcopal. O primeiro que fiz isso, se não me engano, foi Henri de Lubac e isso quase já se tornou norma. O último caso, foi o de Monsenhor Domenico Bartolucci, o genial maestro do Coral da Capela Sistina, feito cardeal por Bento XVI. Suspeito que foi o irmão dele, Mons. Georg Ratzinger, que também é músico, que sugeriu a homenagem a Bartolucci.
Há também uma razão teológica importante. O sacramento da Ordem não é uma dignidade, mas um serviço. Alguém é ordenado para exercer um ministério. Se alguém exerce um alto cargo na Igreja, por exemplo, Secretário de Estado, necessariamente, ele nem precisa ser padre! Aliás, o Secretário de Estado do Bem-aventurado Pio IX, o Cardeal Antonelli era só diácono, como já acontecera antes com o Cardeal Ercole Consalvi, aquele que “peitava” Napoleão e que foi secretário de Estado de Pio VII.
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