Desenvolveu-se entretanto, precisamente no domínio secular, a chamada teoria ABC, que defende “Abstinence – Be faithful – Condom” (“Abstinência – Fidelidade – Preservativo”), sendo que o preservativo só deve ser entendido como uma alternativa quando os outros dois não resultam. Ou seja, a mera fixação no preservativo significa uma banalização da sexualidade, e é precisamente esse o motivo perigoso pelo qual tantas pessoas já não encontram na sexualidade a expressão do seu amor, mas antes e apenas uma espécie de droga que administram a si próprias. É por isso que o combate contra a banalização da sexualidade também faz parte da luta para que ela seja valorizada positivamente e o seu efeito positivo se possa desenvolver no todo do ser pessoa.
Pode haver casos pontuais, justificados, como por exemplo a utilização do preservativo por um prostituto, em que a utilização do preservativo possa ser um primeiro passo para a moralização, uma primeira parcela de responsabilidade para voltar a desenvolver a consciência de que nem tudo é permitido e que não se pode fazer tudo o que se quer. Não é, contudo, a forma apropriada para controlar o mal causado pela infecção por VIH/HIV. Essa tem, realmente, de residir na humanização da sexualidade.» Bento XVI (grifos meus) 1
A Igreja não deseja e nem aceita a prostituição, mas no caso de uma prostitua é melhor que ela faça sexo com camisinha, porque ao mesmo tempo que ela não dissemina doenças, ainda pode parar para refletir no mal que comete, já que seu ato é responsavel por esta disseminação.
Os filhos constituem um dos bens do casamento e não devem ser evitados por conta de explosão demografica e muito menos pela pobreza.
Por causa de poluição e o dito aquecimento global deixamos de ter os filhos que Deus quer para este mundo?
Nunca se ouviu dizer que quando Deus manda um filho manda um cheque junto?
Uma família numerosa é uma familia que se ajuda, e diminui muito a carga entre os membros. Não pensemos na lógica do mundo, mas na de Deus.
O Papa João Paulo em sua homilia de II de 7 de outubro de 1979 disse:
“É sem dúvida menos grave negar aos filhos determinadas vantagens matérias e comodidades do que privá-los da presença dos irmãos, que poderiam ajuda-los a crescer em humanidade e a compreender a beleza da vida em todas as suas idades e em toda a sua variedade" 2
O papa disse: Pode haver casos pontuais, justificados, como por exemplo a utilização do preservativo por um prostituto, em que a utilização do preservativo possa ser um primeiro passo para a moralização, uma primeira parcela de responsabilidade para voltar a desenvolver a consciência de que nem tudo é permitido e que não se pode fazer tudo o que se quer.
Creio que a parte acima é a parte polêmica. Pois bem. Esse "justificados" aí acima, seria possivel ser compreendido como uma legitimação do ato de se usar o preservativo? Evidente que não, pois o próprio exemplo já demonstra que a pessoa está cometendo um pecado enormemente maior que o mero uso do preservativo, que é a prostituição! Dizer que uma prostituta pode usar camisinha no seu "ofício" é o mesmo que dizer que existem alguns casos onde ela pode exercê-lo legitimamente, o que é absurdo. O papa não é louco de afirmar uma coisa assim.
O que é mais que evidente no contexto acima é que ele está apontando que em alguns casos a intenção do uso do preservativo é boa, e demonstra uma preocupação moral legítima. Isso faz todo o sentido, porque a declaração toda versa em torno da questão prática, psicológica, dos efeitos do preservativo, e não da sua simples moralidade como princípio. Isso fica evidente se lermos algumas linhas do parágrafo anterior: Ou seja, a mera fixação no preservativo significa uma banalização da sexualidade, e é precisamente esse o motivo perigoso pelo qual tantas pessoas já não encontram na sexualidade a expressão do seu amor, mas antes e apenas uma espécie de droga que administram a si próprias. É por isso que o combate contra a banalização da sexualidade também faz parte da luta para que ela seja valorizada positivamente e o seu efeito positivo se possa desenvolver no todo do ser pessoa.
Em todo caso, lembramos a Doutrina Católica:
1) É intrinsecamente má toda ação que antes, durante ou depois do ato conjugal, como fim ou como meio, proponha-se a tornar impossível a procriação
2) As prescrições acerca da essência dessas coisas derivam da Lei Natural, que é Divina e Imutável e sobre a qual o ano de citação é irrelevante.
3) É também irrelevante as funções ou encargos pastorais exercidos perante à Verdade objetiva das asserções.
4) Todo matrimônio católico é realizado sob a promessa de aceitação da prole que Deus enviar.
No caso de um cônjuge aidético, eu acho ser uma situação bem difícil, pois ela envolve na realidade duas pessoas. Se envolvesse uma só, seria fácil dizer para aquela pessoa sã se abster de relações sexuais. Mas a outra, a que ficou doente, tem direito também ao corpo da outra (o chamado débito conjugal). Certamente, a moral não exige que alguém ponha em risco a própria vida para cumprir com o débito conjugal, contudo, se há uma possibilidade de cumpri-lo sem colocar em risco a própria vida, isso pode ser um caso de consciência perplexa (aquela que permite escolher o menor dos males).
Agir com a consciência perplexa se justificaria mesmo num caso em que objetivamente houvesse dois males, mas talvez não seja afastada a possibilidade de uma ação de duplo efeito, que é quando de uma ação decorrem dois efeitos, um bom e outro mau. Veja-se: A hipótese do uso de camisinha por um casal aidético seria afastada se o simples uso desse utensílio pudesse ser classificado como um ato essencialmente mau, no entanto, do seu uso por parte de um casal aidético, parecem decorrer dois efeitos, sendo um deles o cumprimento do débito conjugal e o outro o impedimento da concepção. Por outro lado, se um casal sadio o utiliza, o efeito bom não existe, pois o casal não precisa desse utensílio, restando apenas o efeito mau, que não se justifica, nem com uma intenção boa.
Nem sempre distinguir uma ação de seu efeito é assim tão evidente. No caso da legítima defesa, por exemplo, parece que se está usando de uma ação ilícita, matando o agressor, para obter um fim bom, mas na verdade, a ação é defender-se, do qual decorrem dois efeitos: a preservação do indivíduo agredido e a morte do agressor.
Para a consciência perplexa, basta que quem a use, pense que está cumprindo com o dever mais elevado. O dever mais elevado pode ser cumprir com o débito conjugal.
Já o homem que chega a uma certa idade, não pode cumprir com o débito conjugal, por uma impossibilidade insuperável de sua natureza.
A Igreja ainda não julgou todos os dados casuísticos envolvidos no uso da camisinha, ou pelo menos não o fez de forma definitiva. Pensar assim seria o mesmo que supor que a Igreja atuou definitivamente, quando em 1909, lançou uma série de questões do livro de Gênesis que não deveriam ser negadas em circunstâncias do progresso da ciência atual. Só que tal decisão estava disposta a sofrer a ingerência de novos argumentos e novas e determinadas situações. A mesma coisa pode ocorrer aqui.
De fato, não se pode dizer que o uso do preservativo seja, via Sentença de Fé, ou Sentença Certa, em si mesmo ilícito. Porém, é no mínimo arriscado considerar as coisas por esse lado, uma vez que o posicionamento de todos os papas desde que o costume do preservativo se difundiu (bem como a sua propaganda) vai na contramão e coloca o uso em si mesmo como injustificável ao efeito bom.
Existem certas ações que produzem dois efeitos: um bom e o outro mau. A teoria de duplo efeito não supõe necessariamente que não haja outro recurso para obter o fim bom. A inevitabilidade pertence ao campo da moral subjetiva, e a teoria de duplo efeito concerne à moral objetiva.
A inevitabilidade diz melhor respeito aos casos de consciência, pois, em termos objetivos, ela não confere nenhuma moralidade ao ato (não é lícito mentir nem para salvar uma vida).
1) o efeito bom seja diretamente intencionado; o efeito mau seja apenas tolerado; é perfeitamente possível o débito conjugal ser desejado e a não facundação apenas tolerada.
2) o efeito mau não seja anterior ao efeito bom, pois não se devem cometer males para daí tirar algum bem. O fim não justifica os meios maus; considerando que o efeito mau não é tanto a presença da camisinha no órgão masculino, mas a não-penetração do sêmen, e considerando que o fim unitivo se pode conseguir, de certa forma, até mesmo antes do momento da ejaculação, também isso é possível.
3) o efeito bom sobrepuje, por seus valores e sua densidade, o efeito mau; pois não apenas a união conjugal pode ser vista como um bem elevado para o casal como em alguns casos a sua abstinência é fisiologica e psicologicamente danosa para o casal. Também podemos ver aqui o valor deste como mais elevado do que o mal daquele.
4) não haja outro recurso para obter o efeito bom. Não existem outros meios lícitos para a consecução do fim. O coito interrompido ou a mera excitação genital seriam alternativas tão indesejáveis quanto essa. A camisinha, nesse caso -- é até com perplexidade por tamanha ironia que digo isso -- parece ser até mesmo a solução que mais se aproxima do ato conjugal natural.
Ou seja, se quisermos julgar o débito conjugal como valor absoluto, como o Rui diz, então pode-se usar a camisinha.
Mas o débito conjugal não é absoluto senão, importaria ele num ato sexual e não o valor unitivo e procriativo. Ou seja perderia-se o sentido do sexo, por causa do débito conjugal: importaria existir o ato, somente.
Não se está dizendo que o efeito bom precise ser absoluto, mas apenas maior ou igual em valor do que o efeito mau.
A questão não é tanto o uso da camisinha, mas o efeito mau que dela decorre: a não-penetração do sêmen nas trompas uterinas. O mesmo se poderia dizer do coito interrompido ou de uma "masturbação a dois". Todos esses casos envolvem a consecução do fim unitivo do casal, mas separando-se do fim procriativo. Se um não vale, os outros também não valem.
Mas todos sabemos que este não é o sentido do ato...
Não há causa de duplo efeito quando o objeto é intrinsecamente mau. Ele precisa ser bom ou neutro. A consciência perplexa é errônea, do ponto de vista da Verdade objetiva; o que pode acontecer é haver inculpabilidade.
E, como ficou claro, na leitura da "Humanae vitae", a ação má não é usar o preservativo, que é mero instrumento (do contrário, seria mau tomar remédios anticoncepcionais para regular o ciclo menstrual, e não é).
A ação má é evitar a concepção.
E tem mais: o texto da "Humanae vitae" deixa claro que, não é toda ação que evita a concepção que é má, mas ação que visa diretamente a evitar a concepção:
"A Igreja, por outro lado, não considera ilícito o recurso aos meios terapêuticos, verdadeiramente necessários para curar doenças do organismo, ainda que daí venha a resultar um impedimento, mesmo previsto, à procriação, desde que tal impedimento não seja, por motivo nenhum, querido diretamente."3
Por essas palavras, fica muito claro, que a Igreja permite meios que sejam úteis a outros fins, ainda que venham a resultar em impedimento previsto à procriação, contanto que tal impedimento não seja querido diretamente.
A ditatura sexual que hoje impera faz com que muitos pensem que o sexo seja tudo que há de mais importante na união entre duas pessoas e isto é falso. É bem possível que um casal fervoroso que se abstenha do sexo por muito tempo oferecendo esse sacrifício por Deus tenha uma união de amor muito mais perfeita que um casal que pense em sexo o tempo todo depois de casados. A união espiritual realizada por uma castidade perfeita seria selada pela união que eles tem com Deus
Uso de camisinha por cônjuge aidético (Padre Fintan Lawless):
"Falar, nesta situação, do “mal menor” é um engano. Nunca é legítimo escolher livremente o mal. O principio moral do “mal menor” aplica-se quando você deve escolher necessariamente entre várias coisas, todas as quais são males morais. Então você pode, talvez deva, escolher o mal menor. Neste caso que consideramos, além do mal do sexo com AIDS sem preservativo, ou sexo com preservativo, existe a possibilidade de não ter relações sexuais. Esta última escolha pode ser muito difícil, e pode significar grande sofrimento, mas isso é comum ao caminho do bem em muitas situações na vida.
Outra questão é a compreensão e compaixão que devemos às pessoas que se encontram em situações de grande conflito. Quem de nós pode estar seguro de sempre poder escolher o bem? Nem por isso temos direito de chamar bem o que não o é."4
Não se supõe que o uso do preservativo seja uma ação má em si mesma. Ela não pode ser, da mesma forma como o uso de anticoncepcionais não é mau em si mesmo. Mau é o efeito de evitar a concepção. É esse efeito que não pode ser visado diretamente, mas pode ser previsto e tolerado, se a ação é motivada por um fim bom superior ou de mesma magnitude que o fim mau (o impedimento da concepção).
Se usar o preservativo sem desejar evitar a concepção fosse mau em si mesmo, seria mau em si mesmo o ato conjugal entre um casal, no qual a mulher toma remédios que impedem a concepção, para efeitos terapêuticos. O caso é o mesmo: tanto num quanto no outro caso, tem-se um casal que tem relações sexuais, e sabe que utiliza um meio que impedirá o fim procriativo, no entanto, esse impedimento não é desejado, e sim o outro efeito bom que é proporcionado por tal meio. O meio em si é neutro.
Não se pode confundir o meio com o efeito mau numa ação de duplo efeito. Veja-se o exemplo de quem mata o agressor para salvar a própria vida. Essa ação é justificada moralmente pela existência da ação de duplo efeito, todavia, qual é o meio utilizado nesta ação: matar o agressor? Não, pois esse seria um meio mau. O meio deve ser bom ou neutro. Ora, o meio bom ou neutro utilizado é defender-se do agressor. Tanto a morte do agressor, quanto a preservação da vida do agredido são efeitos decorrentes da defesa do agredido. Todavia, o fato dos dois efeitos decorrem imediatamente da ação às vezes nos faz confundir o efeito com a causa, e pode parecer que o agredido está usando uma ação má para um fim bom (matar o agressor para salvar a própria vida).
É ainda mais evidente a distinção entre meio e os dois efeitos no caso da camisinha usada por um casal aidético, uma vez que os efeitos não decorrem do uso dela imediatamente, como no caso da legítima defesa. O instrumento, em si, se presta a dois objetivos, possibilitar o ato conjugal e impedir a concepção. O primeiro efeito é bom, o segundo é mau. Nada impede que se queira o primeiro, e apenas se tolere o segundo.
Alguém pode objetar: mas não se pode pensar em ato conjugal excluindo o fim procriativo. Pode-se, desde que não se exclua voluntariamente tal fim. É o caso do casal que tem relações sexuais, mesmo sabendo que a mulher toma anticoncepcionais para fins terapêuticos. Sabe e prevê que seu ato conjugal ficará frustrado quanto ao fim procriativo, e mesmo assim, seu ato é lícito, pois ele não quis esse efeito mau diretamente, apenas o tolerou.
Claro que a qiestão deve ser melhor analisado pela Igreja, mas o que não se pode negar é que é lógico. Se a Igreja vier a negar essa conclusão, ela deve esclarecer porque é mais evidente que o uso da camisinha por um casal aidético pareça ser uma ação de duplo efeito do que a legítima defesa.
Do "Curso de filosofia'" de Régis Jolivet:
a) Causa ‘principal e causa instrumental. A causa eficiente é causa principal, quando age por sua própria virtude (o escultor, que trabalha o mármore; o arquiteto, que constrói a casa) ; — ou causa instrumental, quando esteja ao serviço da principal (o cinzel do escultor; o pedreiro que executa os planos do arquiteto).
A ação é comum à causa principal e à causa instrumental, mas sob aspectos diferentes. Ela é inteiramente, mas não totalmente, efeito da causa instrumental (a casa é inteiramente produto da atividade dos pedreiros, marceneiros, carpinteiros etc.; mas não o é totalmente, uma vez que o plano da casa não é obra sua). — Ao contrário, a ação é inteiramente e totalmente efeito da causa principal, enquanto que esta determina e dirige toda a atividade da causa instrumental.
Daí se segue que o efeito se assemelha à causa principal e não à causa instrumental: o estilo da casa revela o arquiteto e não o pedreiro. — Pode também deixar a marca do instrumento, na medida em que este exerceu sua atividade própria juntamente com a ação da causa principal (quer dizer, foi ele próprio numa parte da obra causa principal) : assim, pode-se reconhecer, numa construção, a maneira própria de tal pedreiro. 5
Isso é diferente de quem deseja diretamente evitar a concepção e subordina esse meio à obtenção de um fim bom. Isso continua ilícito.
A contracepção não é buscada como meio. Se fosse buscada como meio, não se pode, nem como meio, nem como fim, eleger o mal. A contracepção não é buscada em si mesma. O que é buscado é um meio neutro, que pode se prestar tanto a um fim, quanto a outro.
A "Humanae vitae" não exige que, no uso de contraceptivos com objetivos terapêuticos e sem desejar diretamente evitar a concepção, o casal se abstenha de relações sexuais
Se não fosse possível ter o ato conjugal excluindo indiretamente o fim procriativo, seria inútil o trecho abaixo em destaque da "Humanae vitae":
"15. A Igreja, por outro lado, não considera ilícito o recurso aos meios terapêuticos, verdadeiramente necessários para curar doenças do organismo, ainda que daí venha a resultar um impedimento, mesmo previsto, à procriação, desde que tal impedimento não seja, por motivo nenhum, querido diretamente."
Perceba-se o seguinte: caso a Igreja tencionasse dizer que, juntamente com o uso dos meios terapêuticos contraceptivos, o casal devesse se abster de relações sexuais, sua permissão aqui dada seria inútil, pois, uma vez que o casal se abstém de relações sexuais, não há qualquer necessidade de declarar ilícito ou lícito o uso de contraceptivos. Esses só possuem efeito contraceptivo decorrente da existência de uma relação sexual. Veja-se, portanto, que o texto não pode aplicar-se, em absoluto, a uma virgem que toma pílula.
Todavia, o simples fato da Igreja declarar tal meio lícito já é indicador suficiente de que está considerando a possibilidade de ter relações sexuais. Se o tal meio for usado por uma pessoa que não tem relações sexuais, é evidente que ele é lícito, não havendo necessidade de qualquer declaração a respeito, uma vez que não tem qualquer efeito desordenado.
Assim, se vê que está implícita nessa declaração da Igreja que o casal pode ter relações sexuais excluindo indiretamente (nunca diretamente) o fim procriativo.
A camisinha, como já foi dito, é um meio anticoncepcional com efeitos idênticos aos de qualquer outro anticoncepcional. A diferença é que alguns anticoncepcionais são de uso interno, e a camisinha é de uso externo. Mas moralmente, não há distinção se é interno ou externo.
A contracepção não é efeito da proteção, nem a proteção é efeito da contracepção. Esses dois efeitos não estão subordinados um ao outro, e são ambos decorrentes do uso de um objeto.
Basta que o fim bom seja maior ou igual grandeza que o efeito mau para que seja lícita a ação de duplo efeito. A Igreja apenas aplica isso para o caso da enfermidade, faz aplicação dos princípios. A moral se vale de princípios.
Na minha opinião, ainda, ter uma vida de união plena dentro do matrimônio é efeito de maior importância do que a cura de uma enfermidade, pois a cura de uma enfermidade livra do mal (a perda de um bem que compete ao ser) apenas um indivíduo. Possibilitar a vida sexual no matrimônio livra do mal (perda do bem que compete a um ser) dois indivíduos.
O casal não quer primeiro se proteger. Ele quer apenas se proteger. Dizer que ele quer primeiro se proteger, leva a pensar num querer segundo, que não existe.
O ato, isto é, o meio utilizado, é neutro; não se confunde, como eu disse, nem com o efeito bom, nem com o mau, pois pode se prestar tanto a um, quanto a outro.
Quando se diz "houve concepção, houve proteção?", compara-se dois efeitos.
Os efeitos são inseparáveis, mas não subordinados causalmente um do outro, aliás, como na legítima defesa. Ferir o agressor é efeito inseparável da autopreservação, no entanto, nem a morte do agressor, nem a autopreservação estão subordinadas uma a outra, mas ambas são efeitos da ação de defender-se.
Do mesmo modo, se poderia dizer que, se houve autopreservação, houve morte do agressor, logo, a autopreservação deriva da morte do agressor, mas, se fosse assim, não haveria meio da legítima defesa ser lícita (veja a explicação de Sto. Tomás de Aquino).
Não é um passo rumo à moralização. Na verdade, o ato mau não tem como efeito corromper todas as virtudes do indivíduo, mas somente aquelas virtudes que se opõem a ele. Assim, o preguiçoso pode ser prudente.
Há vícios que são contrários a certas virtudes, mas não são contrários a outras. Mas o simples fato de alguém agir de acordo com uma virtude, não torna esse ato moralmente bom; torna-o virtuoso em relação àquela virtude, mas vicioso em relação a outra.
Para quem quer distinguir uso de preservativo de anticoncepcionais, deve ver o Del Greco, e como ele não faz distinção entre um e outro. Tudo é qualificado de onanismo. É claro que não se deve confundir o onanismo com o objeto usado para fins onanísticos, especialmente se ele se presta a outro efeito. Por isso, a Igreja permite anticoncepcionais para fins terapêuticos.
A ausência de ato conjugal é um bem ou um mal no matrimônio (considere a definição metafísica de mal, de carência de um bem que convém à espécie)?
A ausência do ato conjugal, mesmo quando se vê impedido do fim procriativo, é um mal. Do contrário, ele não seria exigido de um casal em que um dos cônjuges seja infértil (infertilidade não é impedimento para o matrimônio, e sim a impotência).
Não existe objeto intrinsecamente mau. Se eu uso uma camisinha como bexiga para decorar festa de aniversário, não estou pecando.
Da mesma forma, uma mulher não casada e virgem que usa um meio anticoncepcional para regular o ciclo menstrual não está pecando, e nem precisa de nenhum parecer da Igreja liberando-a.
O que é mau é a ação que deriva do uso do objeto. A ação de evitar a concepção é má. Contudo, tal ação pode ser efetuada diretamente ou indiretamente. Quando ela é efetuada diretamente, ela é pecado. Quando efetuada indiretamente, mesmo reconhecendo-se que é má, ela não é pecado, se ela é apenas tolerada.
O depósito do sêmen no vaso natural da mulher cumpre o fim procriativo apenas na intenção. Do mesmo modo, pode cumprir o fim procriativo só não intenção quem não o impede diretamente.
Sobre desobrigação do débito conjugal, não se pode confundir motivo justo, como dedicar-se à oração, com motivo obrigatório. O motivo justo se torna obrigatório quando há um impedimento moral a que se realize o débito conjugal. E não é exatamente isto que estamos discutindo: se há ou não impedimento moral para o exercício do débito conjugal sem perigo de contágio com um cônjuge vitimado por doença venérea? Sustentar como argumento a própria conclusão que se quer provar é petição de princípio.
Mesmo no âmbito do ato sexual, o objeto não se presta a apenas um efeito.
Impedir a procriação diretamente, mesmo para se cumprir com o débito conjugal, é um mal. Concedo.
Impedir a procriação indiretamente, mesmo para se cumprir com o débito conjugal, é um mal. Subdistingo: Um mal querido. Negado. Um mal apenas tolerado. Concedido.
O ato procriativo só se dá com a concepção. O que a moral exige é que estejamos abertos a ele.
E se houver um obstáculo intenciona, não foi posto de forma direta, mas indireta. A "Humanae vitae" diz que o impedimento não pode, por motivo nenhum, ser querido diretamente, isto é, por si mesmo.
Existe a intenção atual e a intenção habitual, expressões muito usadas na teologia dos sacramentos. Não excluir o fim procriativo não é contrário a uma intenção habitual do mesmo fim.
A moral não exige que se deposite concretamente o sêmen na vagina para que se tenha uma intenção habitual de conceber. Para não se estar fechado ao fim do matrimônio, basta a intenção habitual. Por isso, se diz que a Igreja só permite o espaçamento de filhos, e não a decisão de não ter mais filhos. Pois o espaçamento de filhos (nascimentos) é contra uma intenção atual em relação à concepção, mas não contra uma intenção habitual, que é o que a lei do matrimônio obriga.
Com respeito a quem usa camisinha com o parceiro para evitar contágio venéreo, não perde a intenção habitual, pois agiria de outra forma, se pudesse.
O erro é achar que ter um determinado vício exclui uma virtude que não lhe seja contrária. Todo vício é contrário a uma virtude determinada, mas um vício pode não se opor a uma determinada virtude. Desse modo, entende-se perfeitamente como uma prostituta pode agir com prudência, por exemplo. Isso é um princípio de moralização, pois leva em conta uma virtude moral, embora o ato em si seja desordenado, e, pode, inclusive, ser contrário à outra virtude, como a castidade, a temperança.
Infelizmente, quando olhamos o pecador, o imaginamos como um ser totalmente depravado, quando não é verdade. Isso é uma visão calvinista e não católica.
O Papa não estava justificando nem a prostituição, nem a camisinha, apenas dizendo que, no caso de uma prostituta que usa camisinha para evitar a transmissão do HIV, se está agindo de acordo com um princípio moralizante ou de acordo com uma virtude. Isso não significa dizer que o ato é moralmente justificável, nem que seja justificável o uso da camisinha nessa situação, pois ela confronta com outra virtude. Por um lado, você controla as paixões do apetite sensível sob um aspecto, mas libera-o por outro.
As virtudes apenas regulam o exercício dos nossos atos, elas não dão forma aos nossos atos. Um ato pode ser desordenado e não ferir uma determinada virtude, por exemplo, o assassino que exerce certa compaixão por sua vítima.
"Falar, nesta situação, do “mal menor” é um engano. Nunca é legítimo escolher livremente o mal. O principio moral do “mal menor” aplica-se quando você deve escolher necessariamente entre várias coisas, todas as quais são males morais. Então você pode, talvez deva, escolher o mal menor. Neste caso que consideramos, além do mal do sexo com AIDS sem preservativo, ou sexo com preservativo, existe a possibilidade de não ter relações sexuais. Esta última escolha pode ser muito difícil, e pode significar grande sofrimento, mas isso é comum ao caminho do bem em muitas situações na vida.
Outra questão é a compreensão e compaixão que devemos às pessoas que se encontram em situações de grande conflito. Quem de nós pode estar seguro de sempre poder escolher o bem? Nem por isso temos direito de chamar bem o que não o é." 7
A ressalva que se pode ter quanto à questão discutida é a seguinte:
Ok, uma coisa é a contracepção, que envolve obrigatoriamente a união matrimonial, um ato sexual legítimo e a intenção de se evitar a fertilidade. Outra coisa é uma relação sexual fora destes termos, onde não faz sentido falar de "pecado de contracepção" conforme as leis morais explicitadas na Humanae Vitae.
Ou seja, quem usa camisinha, pílula, DIU, etc, não está necessariamente cometendo um ato contraceptivo. Pode até estar cometendo um pecado muito mais grave, mas isso não vem ao caso.
Pois bem. Os adeptos da tese de que o uso do preservativo é lícito quando se deseja tão somente evitar o contágio de uma DST alegam que não se trata de contracepção propriamente dita. Até aí, estamos de acordo. O problema é se não há outros fatores que tornam o ato intrinsecamente mau.
E o fator é justamente o unitivo. Ora, é consenso entre os teólogos e moralistas clássicos que uma relação sexual legítima (não juridicamente, mas moralmente), é aquela em que marido e esposa, unidos validamente pelo matrimônio, alcançam o prazer venéreo por meio do depósito do sêmen no interior das trompas uterinas. Esse é o motivo pelo qual a relação sexual em períodos de infertilidade é permitida, uma vez que não atenta contra o fator unitivo do casal tampouco contra o fator procriativo, já que não há neste ato nenhuma medida que impeça, fisicamente falando, o alcance do sêmen ao útero, mas tão somente ocorre num momento onde o óvulo não é fecundado.
Ora, numa relação em que um dos cônjuges seja infectado por DST e for utilizado o preservativo, isso decorre que tal relação -- ao menos intencionalmente, e é o que garante a integridade da saúde do outro parceiro -- não cumpre o fator unitivo imtrinsecamente necessário para a sua licitude: o depósito do sêmen nas trompas. A relação se resumiria numa mera troca de carícias que culminariam no prazer venéreo de ambos, porém invidualizado, sem verdadeira união. (E faz todo o sentido, se não há união, se não há o "e serão um só corpo", então nesse caso nao há possibilidade de infeccção.) Logo, legitimar a camisinha para estes casos implicaria em legitimar o coito interrompido também.
"[n]o constituye una diferencia si una persona previene la fertilidad de la relación sexual tomando la píldora o interrumpiendo onanísticamente la relación". 8,1
Por outro lado, o mesmo autor afirma que "[p]ara evitar destruir tanto el significado unitivo como el procreativo del acto sexual y, en consecuencia, la plenitud del don recíproco de sí, los cónyuges no deben prevenir la fertilidad de las relaciones sexuales, en caso que las tengan". 8,2 Aqui, ele confirma a ilicitude de se dissociar o ato unitivo e a abertura à possibilidade de procriação (mesmo que tal possibilidade seja simplesmente sinônimo da deposição do sêmen). Assim, ele parece defender uma grande contradição.
Também o argumento de que "camisinha é uma coisa, e coisas são moralmente neutras, apenas atos humanos são passíveis de julgamento moral", apesar de ser uma afirmativa verdadeira, traz implícita um erro de interpretação: os atos humanos é que são passíveis de julgamento, porém eles levam en conta também os acidentes físicos, formados pela consistência das coisas, objetos, formas que, não existindo, figurariam em outro ato completamente distinto.
Não há como avaliar um assassinato se não houver a morte física de alguém. Não há como avaliar um roubo se não houver a subtração de um bem material (logo, físico) de uma pessoa (real, física). Não há como avaliar moralmente a masturbação se não houver o depósito físico do líquido seminal em local que não o interior da via uterina de uma mulher. Lançar mão do argumento de que a mera presença da camisinha numa relação sexual não é condição suficiente para se avaliar a (i)moralidade deste ato é uma falácia tão grande como dizer que, no fundo no fundo, o que vale é somente a intenção dos atos. Ora, sabemos que o pecado pode se dar pelas más intenções, pelas más circunstâncias, mas também por uma matéria intrinsecamente má, não importanto a intenção e as circunstâncias.
Assim, a masturbação é sempre pecado, com ou sem a participação da esposa. E, a meu ver, a relação sexual que se utiliza do preservativo se degenera na categoria de masturbação, com a diferença de que a dissociação do ato se dá de forma "automática", ainda que simulando um gesto que se aproxime de uma relação legítima.
Tal relação não atentaria contra a finalidade unitiva, pois eu interpreto essa finalidade unitiva, como outra forma de dizer sobre o que é concebido nos manuais clássicos como sendo o fim secundário do matrimônio, a ajuda mútua e o remédio da concupiscência.
O derramamento do sêmen sem intenção direta de contracepção também não me parece intrinsecamente mau, pois a HV me dá a entender que, ao falar de "intrinsecamente desordenado", ela está se referindo à contracepção em si mesma.
A não ser que fins procriativo e unitivo sejam só os do ato sexual e não do casamento em si, mas eu acho que, sendo o ato sexual o ato primordial dentro do matrimônio, os fins do ato sexual de algum modo refletem os do próprio matrimônio.
Osentido é o que segue: o matrimônio como um todo possui um fim procriativo -- por ele contituimos família -- e unitivo -- por ele nos tornamos "uma só carne" com o(a) esposo(a). Porém, o ato sexual em si é inseparável do matrimônio e, portanto, a ele se submete. Logo, ele também tem um fim procriativo -- não impedir a fecundidade, ou seja, não cometer a contracepção -- e unitivo -- não separar os corpos na consumação da relação, o que, nos manuais de Teologia Moral, sempre foi entendido como o depósito do sêmem nas trompas.
Note que isso nao significa que o casamento precisa sempre e em todo momento fazer uso do ato sexual. Porém, uma vez fazendo-se uso desse, é necessário que esteja vinculado a essas duas realidades, como o próprio autor disse (conforme minha segunda citação dele).
A relação sexual é compreendida má em si mesma se ela se colocar habitualmente contrária a um dos fins do matrimônio.
O fim unitivo, na verdade, a união dos esposos, segundo o Catecismo, não é o depósito de sêmen nas trompas. Na verdade, nem se dá para distingui-lo do próprio casamento em si, já que é por ele que se dá o duplo fim do matrimônio: a transmissão da vida e o bem dos esposos 9
O bem dos esposos, sendo fim secundário, é distinto em ajuda mútua e remédio da concupiscência.
A transmissão da vida, como fim primário, distingue-se em geração e provisão de bens à prole.
O ato sexual deve estar aberto ao fim primário, gerando vida, e ao fim secundário, sendo remédio da concupiscência, no entanto, quando é impossível, por uma questão alheia à vontade dos cônjuges, cumprir o fim primário no ato sexual, não penso que seja pouca coisa fazer cumprir o fim secundário, por meio de um expediente.
Não se conhece como doutrina da Igreja a ideia de que o ato sexual tenha fim procriativo e fim unitivo. Pelo que leio no Catecismo, os fins do ato sexual são proporcionalmente os fins do matrimônio.
Os fins do matrimônio são o primário, geração e provisão de bens à prole, secundário, ajuda mútua e remédio para a concupiscência. Proporcionalmente, o ato sexual deve cumprir os fins do matrimônio. Na impossibilidade de cumprir um fim dos fins, não deve deixar de cumprir o outro.
Ao propor a inseparabilidade dos dois fins do matrimônio, o Catecismo o faz dentro do âmbito do matrimônio e não dentro do âmbito do ato sexual.
Explicando melhor por que considero possível o cumprimento apenas do fim secundário para o ato sexual.
Consideremos por que é mau (ou intrinsecamente mau) evitar a concepção. Evitar a concepção é intrinsecamente mau porque (e não vejo sinceramente outro motivo) está se atuando voluntariamente contra um dos fins do matrimônio num ato que a natureza dispôs para cumpri-lo. O ato sexual, na realidade, se presta à realização dos dois fins matrimoniais, porque é também ajuda mútua e remédio da concupiscência. No caso em questão, temos já a impossibilidade de cumprir o fim procriativo: isso não depende da vontade dos cônjuges. Ora, num ato perfeitamente conjugal, pode faltar atualmente a orientação dada a um dos fins, embora não possa faltar a intenção habitual de agir conforme os fins do matrimônio em geral.
Veja o seguinte exemplo: a mulher que passa as roupas do marido está cumprindo com um dos fins do matrimônio; e com o outro, só enquanto tem intenção habitual de cumpri-lo. Dessa forma, vemos que o ato sexual, disposto pela natureza para o cumprimento do fim primário do matrimônio no que tange à geração, pode, por uma disposição acidental, não corresponder a esse fim. Desde que não falte a intenção habitual para cumpri-lo, é possível, no meu entender, cumprir o fim secundário. Não é necessário que os dois estejam atrelados em todos os atos do casal. Se alguém pensa diferente, que me prove com a doutrina da Igreja.
O coito interrompido não se presta a evitar o contágio por alguma doença sexualmente transmissível. Seu único fim será evitar a concepção.
Tudo o que é lícito está condicionado ao seu uso correto. É lícito desejar o sexo vivido de forma correta, bem como defender a própria vida da forma correta. Ou seja, se for desnecessário matar para se defender, não se pode matar. Se for para realizar um ato sexual para obter os fins que ele proporciona, esta relação não pode ser de qualquer modo. E neste caso, o cumprimento de ambas está comprometido, e, embora seja lícito a princípio realizá-las, não é obvio que seja lícito realizá-las sob estas circunstâncias, e há a opção de não se realizar uma, garantindo a outra. Logo, essa seria a o única opção moralmente válida.
Acreditamos ainda que a própria Igreja dê a resposta sobre os dois fins do matrimônio deverem estar presentes atualmente no ato conjugal. Ao permitir o ato conjugal em períodos inférteis, ela deixa claro que nem todo ato conjugal possui finalidade procriativa. E não tem sentido dizer que essa intenção deve existir atualmente no agente, pois o agente deve proceder de acordo com a realidade, e, na realidade o ato é infecundo. Sua intenção, portanto, quando executa o ato sexual em período infértil, é habitual, de buscar fim do matrimônio e não por intermédio daquele ato (aliás, permite-se inclusive harmonizar-se racionalmente com as causalidades naturais de modo a fazer com que o ato sexual seja voluntariamente infecundo).
Estar aberta à procriação é no sentido de não contrariar a natureza do ato, pois a intenção do agente pode ser, em ato, contrária à fecundação, quando harmoniza-se com as causas naturais para evitar voluntariamente a concepção. Nesse caso, não se tem verdadeiramente o fim procriativo na relação, pois a causa não é movida por aquele fim, antes o repudia. Agora, procede-se de acordo com a natureza do ato, pois o contrário, acredito, resultaria numa corrupção desse ato.
Além daquela questão do soropositivo, o Pe. Martin Rhonheimer delineia outro argumento que desenvolvo aqui com argumentos meus sobre a questão de prostitutas, estupradores e fins do matrimônio.
Quando uma prostituta ou um estuprador usa camisinha ou não usa camisinha, isso não muda em nada o fato de que ele não está aberto aos fins do matrimônio, nem ao fim primário, nem ao fim secundário. Isso porque o fim primário não consiste apenas na geração, mas no cuidado e educação da prole, em geral, o bem-estar da prole. Um ato sexual dentro do matrimônio está proporcionado a esse fim, na medida em que se gera a vida dentro de uma sociedade estável, capaz de prover o bem da prole. Agora, um ato sexual fora do matrimônio procede fora de uma sociedade estável, portanto, é contrário ao fim primário, ainda que quem o pratique, deixe de usar camisinha e se abra à concepção. Portanto, qual é a diferença do ponto de vista moral entre uma prostituta usar ou não usar camisinha, se de nenhum modo ela cumpre com a natureza do ato em si?
Muito se mistificou a concepção, principalmente por medo de se desviar da doutrina exposta na Humanae vitae e, na verdade, não se buscou uma averiguar realmente os limites impostos pela encíclica.
Os significados procriativo e unitivo (eu distingo essa questão de significados e fins do matrimônio) devem estar presentes no ato sexual e são inseparáveis por natureza. As fontes realmente dão isso como certo (HV 12, Cat. 2366; 2369). Mesmo a regulação de nascimentos, em que falta evidentemente a intenção procriativa, não implica na falta de significado procriativo, por isso, não é lícito usar a camisinha, mesmo em períodos inférteis.
Como isso poderia harmonizar-se, então, com a defesa que fiz do ato sexual sem o significado procriativo, no caso do soropositivo? Bem, a HV me parece dizer que a indissociabilidade dos significados é apenas algo que o homem não deve quebrar por sua iniciativa (HV, 12), e aqui ela já está quebrada por causas alheias à vontade humana. Tal é uma situação em que não é possível ter o ato sexual com seu significado procriativo, pois isso implicaria numa rejeição dos dois fins do matrimônio (a geração de filhos doentes e a corrupção do bem dos esposos). Sendo assim, da mesma forma como é possível harmonizar-se com as causas naturais na regulação dos nascimentos, aqui eu penso que a HV não proibe que o homem siga com o que pode diante de um mal pelo qual não foi responsável.
Aliás, isso se parece muito com a razão pela qual Santo. Tomás admite a possibilidade de extirpar um membro, uma vez que a morte e a corrupção não são contrárias à natureza universal. Assim, da mesma forma como o homem segue com os membros que lhe restam, sem dar adeus à vida, o homem pode seguir com o significado que lhe resta do ato conjugal, sem ter que dar adeus aos demais bens do ato sexual (e que inclusive, cumprem sozinho com a finalidade de ser remédio da concupiscência).
Gregório Alastruey expondo a razão teológica que leva a considerar São José verdadeiro esposo de Maria, ainda que não tenha jamais se unido corporalmente a ela, é a seguinte:
"É verdadeiro matrimônio aquele que chega à perfeição. Pois bem, o matrimônio entre Maria e José alcançou essa perfeição de matrimônio, tanto a primeira e essencial, como a secundária e acidental.pelo menos em parte.
"Com efeito, a perfeição primária e essencial de qualquer coisa consiste na forma que dá sua espécie à coisa. A perfeição secundária e acidental consiste na operação que consiste que provém da forma e com cuja intervenção a coisa consegue o seu fim."
"Assim, no matrimônio se acha essa dupla perfeição: a que consiste na forma, e a que consiste na operação.
"A forma do matrimônio consiste na união indivisível das almas em ordem da mútua entrega do direito de poder sobre os próprios corpos dos esposos."
"A operação consiste na geração e educação da prole como em seu fim primário, no mútuo obséquio e ajudados cônjuges como fim secundário, ao qual se acrescenta o remédio da concupiscência como fim per accidens [fim acidental]."
"O matrimônio contraído por Maria com São José foi perfeito, com aquela perfeição primária e essencial, pois houve nesse matrimônio união de almas em ordem à entrega do direito e potestade de um sobre o corpo do outro. E houve perfeição secundária e acidental, porque embora não mediasse cópula carnal, por cuja intervenção se gerasse a prole, houve, entretanto, prole, a saber: Jesus nascido não deste matrimônio, mas nascido nele. Outrossim, houve educação da prole conforme o permitia tão alta dignidade do Filho, com mútuo obséquio, ajuda e comunicação de bens entre Maria e José, ainda que não necessitassem do matrimônio para remédio para a concupiscência."
"Pelo que diz Santo Agostinho: "Naqueles apis de Cristo cumpriram-se todos os bens das núpcias: o bem da prole, o da fé e o do sacramento. Conhecemos a prole que é o mesmo Jesus, nosso Senhor; a fé, porque não houve adultério; o sacramento, porque não houve divórcio; faltou apenas o concúbito nupcial" 10
Uma opção que acidentalmente é um mal, pois Nossa Senhora esteve livre de concupiscência e nem todo mundo recebe as graças adicionais que outros santos receberam. O fomes do pecado esteve ligado (impedido) em muitos santos e em Nossa Senhora esteve extinto; o mesmo não se dá com todos, nem pode ser buscado com o livre arbítrio.
A doutrina de que o fomes do pecado foi extinto em Nossa Senhora é de Santo Tomás de Aquino, e anterior à proclamação do dogma da Imaculada Conceição. Hoje, é sentença comum dos teólogos que o fomes nunca existiu na Ssma. Mãe de Deus.
Ninguém que seja soropositivo é obrigado a ter relações sexuais com camisinha, pois deve-se respeitar a consciência, e, diante de um assunto tão complexo, que envolve a salvação de alguém, deve-se aderir à doutrina mais segura e não à mais provável 11
Contudo, pode-se argumentar pela possibilidade. E manter relações sem camisinha, colocando a saúde e até a vida do outro em risco, é um pecado. O desejo da concepção não está acima da vida humana.
Para encerrar, palavras do Profº Carlos Ramalhete sobre a questão:
" O primeiro é a questão da infalibilidade papal. O Papa é infalível só, apenas só, quando define ex-cathedra um ponto de Fé e Moral. Em outras palavras: o Papa poderia ter dito, lá na entrevista que ele deu, que camisinha é uma maravilha e que ele mesmo a usa todos os dias para
evitar filhos nas amantes e para não sujar o pênis ao ter relações contrárias à natureza, e nada teria mudado.
Já houve Papas, e muitos!, que teriam dito este tipo de coisa, *falando a verdade*. Ficar suando em cima de qualquer besteira que saia da boca do Papa procurando indícios de "mudança de doutrina" é algo tão delirantemente contrário à Fé católica, que só alguém que nunca tenha
estudado História da Igreja poderia pensar numa besteira dessas. Já houve Papa que era filho de outro Papa, já houve Papa ladrão, Papa assassino...
Nós é que estamos mal-acostumados. Os Papas dos últimos 100 anos fora todos surpreendentemente santos, surpreendentemente ortodoxos. Suas fraquezas - que não foram poucas - eram normalmente políticas, não morais ou pessoais. Assim, nós temos hoje em dia a vantagem sobre nossos antepassados do Renascimento de poder prestar atenção ao que um Papa fala como quem presta atenção ao que um homem santo e sábio fala.
Mas ficar procurando "mudanças de doutrina" em discurso papal é, repito, patético. Primeiro porque "mudança de doutrina" não existe. O poder do papa sobre a Igreja é infinitamente menor que o poder de um prefeito sobre a cidade que ele governa; o Papa não é a fonte da moral e da doutrina, mas o seu custódio. E é por isso que as dezenas de Papas sodomitas, adúlteros, assassinos, etc., tiveram sempre a mesma infalibilidade: para que Deus os impedisse de definir erroneamente um ponto de Fé e Moral, falando da Cátedra de Pedro. E eu estou falando de Papas que certamente não viviam de maneira moral, *ao contrário de Bento XVI*.
Desta vez não falou, mas poderia ter falado, e muitos Papas anteriores certamente o teriam feito.
Repito: o espantoso é a santidade dos últimos Papas. Esta é a exceção na história da Igreja, não a regra. Mas a adesão à Igreja não depende nem pode depender da santidade do Papa, do Bispo, do padre, do diácono, da irmãzinha de caridade. Ao contrário, aliás: o demônio vai tentar mais o
Papa que o Bispo, o Bispo que o padre, o padre que a irmãzinha, a irmãzinha que o leigo.
E eu - leiguinho de quinta categoria, perdido nas montanhas de Minas - sei que eu caio, e caio feio. E está aí para quem quiser ver que os padres tambem caem, e que infelizmente a maioria dos Bispos tem se preocupado mais com besteiras terrenas que com o Reino de Deus... Era de se esperar que tivéssemos o Berlusconi ou o Weakland, não o Joseph Ratzinger, sentado no Trono de Pedro. É uma grande e imerecida graça de Deus que não seja o caso *hoje*.
O que importa é *o que a Igreja ensina*, que não muda (mais uma vez: Papa ou padre dando entrevista, por definição, não é *o que a Igreja ensina*, mas apenas a opinião pessoal de Joseph Ratzinger ou Pe. Favo de Mel) , e o que a Igreja *é*: o Corpo Místico de Cristo, a Barca de Pedro, fora da qual não há Salvação e na qual estão os meios necessários para que nos salvemos.
Bão, dito isso, passo à segunda coisa: para todos nós, que vivemos no mundo e nele fazemos apostolado, é riquíssimo o que o Papa disse. Não preciso resumir, nem traduzir do alemão, nem nada do gênero, que já foi feito ad nauseam.
Mas aponto: o que ele mostrou, o que ele lembrou, foi que por pior que seja a queda, por mais sórdida que seja a vida, por mais asquerosamente imoral que seja a vida de alguém, nunca se apaga completamente a frágil chama do chamado divino ao homem, da vocação à Santidade.
Vejam só: ele tratou da situação mais asquerosa, daquela em que mesmo os proponentes do sexo desregrado como diversão têm que ficar pisando em ovos para tentar "não condenar": a relação com "garotos de programa".
Ora, este é provavelmente o ambiente mais sórdido que existe na sociedade atual, com a exceção de, sei lá, seitas satânicas fazendo sacrifícios humanos.
A coisa mais comum é que o sodomita contrate um garoto de programa e seja drogado ("boa noite cinderela"), muitas vezes morto. A morte é em geral extremamente violenta. Isso ocorre porque os garotos de programa normalmente têm ódio deles mesmos, e ódio da "bicha velha" que os contrata, em quem eles vêem refletido tudo o que não gostam de ver neles mesmos.
Mesmo quando não ocorre um (outro) crime, a relação não é como a de uma prostituta com o seu "cliente"; ela, se não gosta, pode fingir para garantir a satisfação do cliente. O garoto de programa não. Ele tem que se dopar (uma causa mortis comum neste meio é a mistura de alcool, cocaína e viagra), tem que lidar com a sua própria sexualidade depravada, pensando em outra coisa para se manter em condições de fazer sexo com a "bicha velha" que o contratou e tendo que lidar com o fato de que aquilo em que ele pensa normalmente vai ser algo que ele não gosta de ter que encarar que o excite...
Mais antinatural, mais sórdido, mais teratológico, mais afastado de uma vida reta e santa, impossível.
Aí vem e diz o Papa (ou melhor: diz o grande filósofo e teólogo Joseph Ratzinger): neste ambiente sórdido, ainda pode haver, no lugar de uma morte violenta, estraçalhando o "cliente" com as facas da cozinha dele mesmo, um súbito perpassar de um sentimento de preocupação, um desejo de não o matar com a "injeção" de um vírus mortal no meio daquele frenesi antinatural.
O que ele está dizendo é que no meio de tamanha sordidez, no meio de tamanha imundície, pode haver uma preocupação com o outro. Esta preocupação, devido às campanhas assassinas ora em curso, vai se manifestar não por uma abstenção, mas por uma barreira física que permita que anda haja o prazer antinatural e pervertido, mas impedindo o contato físico completo.
Para nós, o que é importante, contudo, não é que o garoto de programa use ou não camisinha (afinal, ele continua a caminho do Inferno com ela ou sem ela), mas sim perceber que há uma persistência deste chamado a ser melhor (de sodomita assassino a simples sodomita?), que mesmo aquele horror e aquela sordidez não impedem que a pessoa tenha, por vezes, um
relance de um chamado a algo maior.
É esta semente do Verbo que deve ser agarrada. É este resto de busca do Bem que deve ser soprado para que vire uma brasa, que pode virar uma chama, que pode fazer com que aquele rapaz um dia abandone aquela vida, forçosamente curta e brutal, que o conduz à perdição eterna.
Repito: é interessantíssimo que este grande teólogo e filósofo que é Joseph Ratzinger tenha trazido justamente a situação mais sórdida possível como ilustração do "lugar" em que é possível que a mesma sordidez, com separação por barreira de látex, seja percebida pelo pervertido como algo melhor, como um bem a buscar. Em que é possível levantar a cabeça e pensar "há algo melhor que isso".
Esta situação sórdida, este "lugar" imundo, serve dois própositos: por um lado, ela nos lembra o quanto é sórdida a suposta "solução" pregado pela cultura da morte (a camisinha), que apenas em tal situação pode ser percebida como uma elevação; por outro, ela nos lembra que mesmo no pior lugar, mesmo no fundo do poço, afogado no lodo moral e nos excrementos físicos, há ainda um desejo de algo melhor, há ainda uma esperança, que só morre quando se ultrapassa as portas do Inferno. E é essa esperança que nos cabe reavivar.
Quem sabe se um dia não teremos o equivalente masculino de uma Santa Maria Egipcía nos altares? Queira Deus. 12
Referências:
1 Bento XVI, entrevista sobre o uso da camisinha
2 Homilia de João Paulo II, Basílica de São Pedro 1979
3 Encíclica Humanae vitae, Papa Paulo VI
4 Teólogo Padre Fintan Lawless
5 Filófoso Régis Jolivet
6 Supra, q. 63, a. 2, ad 2 ; infra, q. 73, a. 1, ad 2 ; IIª-IIªª, q. 24, a. 12; De Virtur., q. q, 1, ad 5
7 Padre Fintan Lawless, L.C., irlandês, professor de Ética do Seminário Internacional Maria Mater Ecclesiae do Brasil.
8,1-2 Martin Rhonheimer, professor da Santa Cruz, de "The Tablet", 10 de julio de 2004.
9 Cf. Cat., 2363.
10 Gregório Alastruey, Detalhes de Tratado de la Virgen Santisima
11 Doutrina de Sto. Afonso de Ligório.
12 Lista de discussões do Yahoo Tradição Católica e Contra Revolução
Pode haver casos pontuais, justificados, como por exemplo a utilização do preservativo por um prostituto, em que a utilização do preservativo possa ser um primeiro passo para a moralização, uma primeira parcela de responsabilidade para voltar a desenvolver a consciência de que nem tudo é permitido e que não se pode fazer tudo o que se quer. Não é, contudo, a forma apropriada para controlar o mal causado pela infecção por VIH/HIV. Essa tem, realmente, de residir na humanização da sexualidade.» Bento XVI (grifos meus) 1
A Igreja não deseja e nem aceita a prostituição, mas no caso de uma prostitua é melhor que ela faça sexo com camisinha, porque ao mesmo tempo que ela não dissemina doenças, ainda pode parar para refletir no mal que comete, já que seu ato é responsavel por esta disseminação.
Os filhos constituem um dos bens do casamento e não devem ser evitados por conta de explosão demografica e muito menos pela pobreza.
Por causa de poluição e o dito aquecimento global deixamos de ter os filhos que Deus quer para este mundo?
Nunca se ouviu dizer que quando Deus manda um filho manda um cheque junto?
Uma família numerosa é uma familia que se ajuda, e diminui muito a carga entre os membros. Não pensemos na lógica do mundo, mas na de Deus.
O Papa João Paulo em sua homilia de II de 7 de outubro de 1979 disse:
“É sem dúvida menos grave negar aos filhos determinadas vantagens matérias e comodidades do que privá-los da presença dos irmãos, que poderiam ajuda-los a crescer em humanidade e a compreender a beleza da vida em todas as suas idades e em toda a sua variedade" 2
O papa disse: Pode haver casos pontuais, justificados, como por exemplo a utilização do preservativo por um prostituto, em que a utilização do preservativo possa ser um primeiro passo para a moralização, uma primeira parcela de responsabilidade para voltar a desenvolver a consciência de que nem tudo é permitido e que não se pode fazer tudo o que se quer.
Creio que a parte acima é a parte polêmica. Pois bem. Esse "justificados" aí acima, seria possivel ser compreendido como uma legitimação do ato de se usar o preservativo? Evidente que não, pois o próprio exemplo já demonstra que a pessoa está cometendo um pecado enormemente maior que o mero uso do preservativo, que é a prostituição! Dizer que uma prostituta pode usar camisinha no seu "ofício" é o mesmo que dizer que existem alguns casos onde ela pode exercê-lo legitimamente, o que é absurdo. O papa não é louco de afirmar uma coisa assim.
O que é mais que evidente no contexto acima é que ele está apontando que em alguns casos a intenção do uso do preservativo é boa, e demonstra uma preocupação moral legítima. Isso faz todo o sentido, porque a declaração toda versa em torno da questão prática, psicológica, dos efeitos do preservativo, e não da sua simples moralidade como princípio. Isso fica evidente se lermos algumas linhas do parágrafo anterior: Ou seja, a mera fixação no preservativo significa uma banalização da sexualidade, e é precisamente esse o motivo perigoso pelo qual tantas pessoas já não encontram na sexualidade a expressão do seu amor, mas antes e apenas uma espécie de droga que administram a si próprias. É por isso que o combate contra a banalização da sexualidade também faz parte da luta para que ela seja valorizada positivamente e o seu efeito positivo se possa desenvolver no todo do ser pessoa.
Em todo caso, lembramos a Doutrina Católica:
1) É intrinsecamente má toda ação que antes, durante ou depois do ato conjugal, como fim ou como meio, proponha-se a tornar impossível a procriação
2) As prescrições acerca da essência dessas coisas derivam da Lei Natural, que é Divina e Imutável e sobre a qual o ano de citação é irrelevante.
3) É também irrelevante as funções ou encargos pastorais exercidos perante à Verdade objetiva das asserções.
4) Todo matrimônio católico é realizado sob a promessa de aceitação da prole que Deus enviar.
No caso de um cônjuge aidético, eu acho ser uma situação bem difícil, pois ela envolve na realidade duas pessoas. Se envolvesse uma só, seria fácil dizer para aquela pessoa sã se abster de relações sexuais. Mas a outra, a que ficou doente, tem direito também ao corpo da outra (o chamado débito conjugal). Certamente, a moral não exige que alguém ponha em risco a própria vida para cumprir com o débito conjugal, contudo, se há uma possibilidade de cumpri-lo sem colocar em risco a própria vida, isso pode ser um caso de consciência perplexa (aquela que permite escolher o menor dos males).
Agir com a consciência perplexa se justificaria mesmo num caso em que objetivamente houvesse dois males, mas talvez não seja afastada a possibilidade de uma ação de duplo efeito, que é quando de uma ação decorrem dois efeitos, um bom e outro mau. Veja-se: A hipótese do uso de camisinha por um casal aidético seria afastada se o simples uso desse utensílio pudesse ser classificado como um ato essencialmente mau, no entanto, do seu uso por parte de um casal aidético, parecem decorrer dois efeitos, sendo um deles o cumprimento do débito conjugal e o outro o impedimento da concepção. Por outro lado, se um casal sadio o utiliza, o efeito bom não existe, pois o casal não precisa desse utensílio, restando apenas o efeito mau, que não se justifica, nem com uma intenção boa.
Nem sempre distinguir uma ação de seu efeito é assim tão evidente. No caso da legítima defesa, por exemplo, parece que se está usando de uma ação ilícita, matando o agressor, para obter um fim bom, mas na verdade, a ação é defender-se, do qual decorrem dois efeitos: a preservação do indivíduo agredido e a morte do agressor.
Para a consciência perplexa, basta que quem a use, pense que está cumprindo com o dever mais elevado. O dever mais elevado pode ser cumprir com o débito conjugal.
Já o homem que chega a uma certa idade, não pode cumprir com o débito conjugal, por uma impossibilidade insuperável de sua natureza.
A Igreja ainda não julgou todos os dados casuísticos envolvidos no uso da camisinha, ou pelo menos não o fez de forma definitiva. Pensar assim seria o mesmo que supor que a Igreja atuou definitivamente, quando em 1909, lançou uma série de questões do livro de Gênesis que não deveriam ser negadas em circunstâncias do progresso da ciência atual. Só que tal decisão estava disposta a sofrer a ingerência de novos argumentos e novas e determinadas situações. A mesma coisa pode ocorrer aqui.
De fato, não se pode dizer que o uso do preservativo seja, via Sentença de Fé, ou Sentença Certa, em si mesmo ilícito. Porém, é no mínimo arriscado considerar as coisas por esse lado, uma vez que o posicionamento de todos os papas desde que o costume do preservativo se difundiu (bem como a sua propaganda) vai na contramão e coloca o uso em si mesmo como injustificável ao efeito bom.
Existem certas ações que produzem dois efeitos: um bom e o outro mau. A teoria de duplo efeito não supõe necessariamente que não haja outro recurso para obter o fim bom. A inevitabilidade pertence ao campo da moral subjetiva, e a teoria de duplo efeito concerne à moral objetiva.
A inevitabilidade diz melhor respeito aos casos de consciência, pois, em termos objetivos, ela não confere nenhuma moralidade ao ato (não é lícito mentir nem para salvar uma vida).
1) o efeito bom seja diretamente intencionado; o efeito mau seja apenas tolerado; é perfeitamente possível o débito conjugal ser desejado e a não facundação apenas tolerada.
2) o efeito mau não seja anterior ao efeito bom, pois não se devem cometer males para daí tirar algum bem. O fim não justifica os meios maus; considerando que o efeito mau não é tanto a presença da camisinha no órgão masculino, mas a não-penetração do sêmen, e considerando que o fim unitivo se pode conseguir, de certa forma, até mesmo antes do momento da ejaculação, também isso é possível.
3) o efeito bom sobrepuje, por seus valores e sua densidade, o efeito mau; pois não apenas a união conjugal pode ser vista como um bem elevado para o casal como em alguns casos a sua abstinência é fisiologica e psicologicamente danosa para o casal. Também podemos ver aqui o valor deste como mais elevado do que o mal daquele.
4) não haja outro recurso para obter o efeito bom. Não existem outros meios lícitos para a consecução do fim. O coito interrompido ou a mera excitação genital seriam alternativas tão indesejáveis quanto essa. A camisinha, nesse caso -- é até com perplexidade por tamanha ironia que digo isso -- parece ser até mesmo a solução que mais se aproxima do ato conjugal natural.
Ou seja, se quisermos julgar o débito conjugal como valor absoluto, como o Rui diz, então pode-se usar a camisinha.
Mas o débito conjugal não é absoluto senão, importaria ele num ato sexual e não o valor unitivo e procriativo. Ou seja perderia-se o sentido do sexo, por causa do débito conjugal: importaria existir o ato, somente.
Não se está dizendo que o efeito bom precise ser absoluto, mas apenas maior ou igual em valor do que o efeito mau.
A questão não é tanto o uso da camisinha, mas o efeito mau que dela decorre: a não-penetração do sêmen nas trompas uterinas. O mesmo se poderia dizer do coito interrompido ou de uma "masturbação a dois". Todos esses casos envolvem a consecução do fim unitivo do casal, mas separando-se do fim procriativo. Se um não vale, os outros também não valem.
Mas todos sabemos que este não é o sentido do ato...
Não há causa de duplo efeito quando o objeto é intrinsecamente mau. Ele precisa ser bom ou neutro. A consciência perplexa é errônea, do ponto de vista da Verdade objetiva; o que pode acontecer é haver inculpabilidade.
E, como ficou claro, na leitura da "Humanae vitae", a ação má não é usar o preservativo, que é mero instrumento (do contrário, seria mau tomar remédios anticoncepcionais para regular o ciclo menstrual, e não é).
A ação má é evitar a concepção.
E tem mais: o texto da "Humanae vitae" deixa claro que, não é toda ação que evita a concepção que é má, mas ação que visa diretamente a evitar a concepção:
"A Igreja, por outro lado, não considera ilícito o recurso aos meios terapêuticos, verdadeiramente necessários para curar doenças do organismo, ainda que daí venha a resultar um impedimento, mesmo previsto, à procriação, desde que tal impedimento não seja, por motivo nenhum, querido diretamente."3
Por essas palavras, fica muito claro, que a Igreja permite meios que sejam úteis a outros fins, ainda que venham a resultar em impedimento previsto à procriação, contanto que tal impedimento não seja querido diretamente.
A ditatura sexual que hoje impera faz com que muitos pensem que o sexo seja tudo que há de mais importante na união entre duas pessoas e isto é falso. É bem possível que um casal fervoroso que se abstenha do sexo por muito tempo oferecendo esse sacrifício por Deus tenha uma união de amor muito mais perfeita que um casal que pense em sexo o tempo todo depois de casados. A união espiritual realizada por uma castidade perfeita seria selada pela união que eles tem com Deus
Uso de camisinha por cônjuge aidético (Padre Fintan Lawless):
"Falar, nesta situação, do “mal menor” é um engano. Nunca é legítimo escolher livremente o mal. O principio moral do “mal menor” aplica-se quando você deve escolher necessariamente entre várias coisas, todas as quais são males morais. Então você pode, talvez deva, escolher o mal menor. Neste caso que consideramos, além do mal do sexo com AIDS sem preservativo, ou sexo com preservativo, existe a possibilidade de não ter relações sexuais. Esta última escolha pode ser muito difícil, e pode significar grande sofrimento, mas isso é comum ao caminho do bem em muitas situações na vida.
Outra questão é a compreensão e compaixão que devemos às pessoas que se encontram em situações de grande conflito. Quem de nós pode estar seguro de sempre poder escolher o bem? Nem por isso temos direito de chamar bem o que não o é."4
Não se supõe que o uso do preservativo seja uma ação má em si mesma. Ela não pode ser, da mesma forma como o uso de anticoncepcionais não é mau em si mesmo. Mau é o efeito de evitar a concepção. É esse efeito que não pode ser visado diretamente, mas pode ser previsto e tolerado, se a ação é motivada por um fim bom superior ou de mesma magnitude que o fim mau (o impedimento da concepção).
Se usar o preservativo sem desejar evitar a concepção fosse mau em si mesmo, seria mau em si mesmo o ato conjugal entre um casal, no qual a mulher toma remédios que impedem a concepção, para efeitos terapêuticos. O caso é o mesmo: tanto num quanto no outro caso, tem-se um casal que tem relações sexuais, e sabe que utiliza um meio que impedirá o fim procriativo, no entanto, esse impedimento não é desejado, e sim o outro efeito bom que é proporcionado por tal meio. O meio em si é neutro.
Não se pode confundir o meio com o efeito mau numa ação de duplo efeito. Veja-se o exemplo de quem mata o agressor para salvar a própria vida. Essa ação é justificada moralmente pela existência da ação de duplo efeito, todavia, qual é o meio utilizado nesta ação: matar o agressor? Não, pois esse seria um meio mau. O meio deve ser bom ou neutro. Ora, o meio bom ou neutro utilizado é defender-se do agressor. Tanto a morte do agressor, quanto a preservação da vida do agredido são efeitos decorrentes da defesa do agredido. Todavia, o fato dos dois efeitos decorrem imediatamente da ação às vezes nos faz confundir o efeito com a causa, e pode parecer que o agredido está usando uma ação má para um fim bom (matar o agressor para salvar a própria vida).
É ainda mais evidente a distinção entre meio e os dois efeitos no caso da camisinha usada por um casal aidético, uma vez que os efeitos não decorrem do uso dela imediatamente, como no caso da legítima defesa. O instrumento, em si, se presta a dois objetivos, possibilitar o ato conjugal e impedir a concepção. O primeiro efeito é bom, o segundo é mau. Nada impede que se queira o primeiro, e apenas se tolere o segundo.
Alguém pode objetar: mas não se pode pensar em ato conjugal excluindo o fim procriativo. Pode-se, desde que não se exclua voluntariamente tal fim. É o caso do casal que tem relações sexuais, mesmo sabendo que a mulher toma anticoncepcionais para fins terapêuticos. Sabe e prevê que seu ato conjugal ficará frustrado quanto ao fim procriativo, e mesmo assim, seu ato é lícito, pois ele não quis esse efeito mau diretamente, apenas o tolerou.
Claro que a qiestão deve ser melhor analisado pela Igreja, mas o que não se pode negar é que é lógico. Se a Igreja vier a negar essa conclusão, ela deve esclarecer porque é mais evidente que o uso da camisinha por um casal aidético pareça ser uma ação de duplo efeito do que a legítima defesa.
Do "Curso de filosofia'" de Régis Jolivet:
a) Causa ‘principal e causa instrumental. A causa eficiente é causa principal, quando age por sua própria virtude (o escultor, que trabalha o mármore; o arquiteto, que constrói a casa) ; — ou causa instrumental, quando esteja ao serviço da principal (o cinzel do escultor; o pedreiro que executa os planos do arquiteto).
A ação é comum à causa principal e à causa instrumental, mas sob aspectos diferentes. Ela é inteiramente, mas não totalmente, efeito da causa instrumental (a casa é inteiramente produto da atividade dos pedreiros, marceneiros, carpinteiros etc.; mas não o é totalmente, uma vez que o plano da casa não é obra sua). — Ao contrário, a ação é inteiramente e totalmente efeito da causa principal, enquanto que esta determina e dirige toda a atividade da causa instrumental.
Daí se segue que o efeito se assemelha à causa principal e não à causa instrumental: o estilo da casa revela o arquiteto e não o pedreiro. — Pode também deixar a marca do instrumento, na medida em que este exerceu sua atividade própria juntamente com a ação da causa principal (quer dizer, foi ele próprio numa parte da obra causa principal) : assim, pode-se reconhecer, numa construção, a maneira própria de tal pedreiro. 5
Isso é diferente de quem deseja diretamente evitar a concepção e subordina esse meio à obtenção de um fim bom. Isso continua ilícito.
A contracepção não é buscada como meio. Se fosse buscada como meio, não se pode, nem como meio, nem como fim, eleger o mal. A contracepção não é buscada em si mesma. O que é buscado é um meio neutro, que pode se prestar tanto a um fim, quanto a outro.
A "Humanae vitae" não exige que, no uso de contraceptivos com objetivos terapêuticos e sem desejar diretamente evitar a concepção, o casal se abstenha de relações sexuais
Se não fosse possível ter o ato conjugal excluindo indiretamente o fim procriativo, seria inútil o trecho abaixo em destaque da "Humanae vitae":
"15. A Igreja, por outro lado, não considera ilícito o recurso aos meios terapêuticos, verdadeiramente necessários para curar doenças do organismo, ainda que daí venha a resultar um impedimento, mesmo previsto, à procriação, desde que tal impedimento não seja, por motivo nenhum, querido diretamente."
Perceba-se o seguinte: caso a Igreja tencionasse dizer que, juntamente com o uso dos meios terapêuticos contraceptivos, o casal devesse se abster de relações sexuais, sua permissão aqui dada seria inútil, pois, uma vez que o casal se abstém de relações sexuais, não há qualquer necessidade de declarar ilícito ou lícito o uso de contraceptivos. Esses só possuem efeito contraceptivo decorrente da existência de uma relação sexual. Veja-se, portanto, que o texto não pode aplicar-se, em absoluto, a uma virgem que toma pílula.
Todavia, o simples fato da Igreja declarar tal meio lícito já é indicador suficiente de que está considerando a possibilidade de ter relações sexuais. Se o tal meio for usado por uma pessoa que não tem relações sexuais, é evidente que ele é lícito, não havendo necessidade de qualquer declaração a respeito, uma vez que não tem qualquer efeito desordenado.
Assim, se vê que está implícita nessa declaração da Igreja que o casal pode ter relações sexuais excluindo indiretamente (nunca diretamente) o fim procriativo.
A camisinha, como já foi dito, é um meio anticoncepcional com efeitos idênticos aos de qualquer outro anticoncepcional. A diferença é que alguns anticoncepcionais são de uso interno, e a camisinha é de uso externo. Mas moralmente, não há distinção se é interno ou externo.
A contracepção não é efeito da proteção, nem a proteção é efeito da contracepção. Esses dois efeitos não estão subordinados um ao outro, e são ambos decorrentes do uso de um objeto.
Basta que o fim bom seja maior ou igual grandeza que o efeito mau para que seja lícita a ação de duplo efeito. A Igreja apenas aplica isso para o caso da enfermidade, faz aplicação dos princípios. A moral se vale de princípios.
Na minha opinião, ainda, ter uma vida de união plena dentro do matrimônio é efeito de maior importância do que a cura de uma enfermidade, pois a cura de uma enfermidade livra do mal (a perda de um bem que compete ao ser) apenas um indivíduo. Possibilitar a vida sexual no matrimônio livra do mal (perda do bem que compete a um ser) dois indivíduos.
O casal não quer primeiro se proteger. Ele quer apenas se proteger. Dizer que ele quer primeiro se proteger, leva a pensar num querer segundo, que não existe.
O ato, isto é, o meio utilizado, é neutro; não se confunde, como eu disse, nem com o efeito bom, nem com o mau, pois pode se prestar tanto a um, quanto a outro.
Quando se diz "houve concepção, houve proteção?", compara-se dois efeitos.
Os efeitos são inseparáveis, mas não subordinados causalmente um do outro, aliás, como na legítima defesa. Ferir o agressor é efeito inseparável da autopreservação, no entanto, nem a morte do agressor, nem a autopreservação estão subordinadas uma a outra, mas ambas são efeitos da ação de defender-se.
Do mesmo modo, se poderia dizer que, se houve autopreservação, houve morte do agressor, logo, a autopreservação deriva da morte do agressor, mas, se fosse assim, não haveria meio da legítima defesa ser lícita (veja a explicação de Sto. Tomás de Aquino).
Art. 4 ― Se o ato vicioso ou pecado pode coexistir com a virtude. 6
Sobre a frase do Papa
Sobre a frase do Papa
Não é um passo rumo à moralização. Na verdade, o ato mau não tem como efeito corromper todas as virtudes do indivíduo, mas somente aquelas virtudes que se opõem a ele. Assim, o preguiçoso pode ser prudente.
Há vícios que são contrários a certas virtudes, mas não são contrários a outras. Mas o simples fato de alguém agir de acordo com uma virtude, não torna esse ato moralmente bom; torna-o virtuoso em relação àquela virtude, mas vicioso em relação a outra.
Para quem quer distinguir uso de preservativo de anticoncepcionais, deve ver o Del Greco, e como ele não faz distinção entre um e outro. Tudo é qualificado de onanismo. É claro que não se deve confundir o onanismo com o objeto usado para fins onanísticos, especialmente se ele se presta a outro efeito. Por isso, a Igreja permite anticoncepcionais para fins terapêuticos.
A ausência de ato conjugal é um bem ou um mal no matrimônio (considere a definição metafísica de mal, de carência de um bem que convém à espécie)?
A ausência do ato conjugal, mesmo quando se vê impedido do fim procriativo, é um mal. Do contrário, ele não seria exigido de um casal em que um dos cônjuges seja infértil (infertilidade não é impedimento para o matrimônio, e sim a impotência).
Não existe objeto intrinsecamente mau. Se eu uso uma camisinha como bexiga para decorar festa de aniversário, não estou pecando.
Da mesma forma, uma mulher não casada e virgem que usa um meio anticoncepcional para regular o ciclo menstrual não está pecando, e nem precisa de nenhum parecer da Igreja liberando-a.
O que é mau é a ação que deriva do uso do objeto. A ação de evitar a concepção é má. Contudo, tal ação pode ser efetuada diretamente ou indiretamente. Quando ela é efetuada diretamente, ela é pecado. Quando efetuada indiretamente, mesmo reconhecendo-se que é má, ela não é pecado, se ela é apenas tolerada.
O depósito do sêmen no vaso natural da mulher cumpre o fim procriativo apenas na intenção. Do mesmo modo, pode cumprir o fim procriativo só não intenção quem não o impede diretamente.
Sobre desobrigação do débito conjugal, não se pode confundir motivo justo, como dedicar-se à oração, com motivo obrigatório. O motivo justo se torna obrigatório quando há um impedimento moral a que se realize o débito conjugal. E não é exatamente isto que estamos discutindo: se há ou não impedimento moral para o exercício do débito conjugal sem perigo de contágio com um cônjuge vitimado por doença venérea? Sustentar como argumento a própria conclusão que se quer provar é petição de princípio.
Mesmo no âmbito do ato sexual, o objeto não se presta a apenas um efeito.
Impedir a procriação diretamente, mesmo para se cumprir com o débito conjugal, é um mal. Concedo.
Impedir a procriação indiretamente, mesmo para se cumprir com o débito conjugal, é um mal. Subdistingo: Um mal querido. Negado. Um mal apenas tolerado. Concedido.
O ato procriativo só se dá com a concepção. O que a moral exige é que estejamos abertos a ele.
E se houver um obstáculo intenciona, não foi posto de forma direta, mas indireta. A "Humanae vitae" diz que o impedimento não pode, por motivo nenhum, ser querido diretamente, isto é, por si mesmo.
Existe a intenção atual e a intenção habitual, expressões muito usadas na teologia dos sacramentos. Não excluir o fim procriativo não é contrário a uma intenção habitual do mesmo fim.
A moral não exige que se deposite concretamente o sêmen na vagina para que se tenha uma intenção habitual de conceber. Para não se estar fechado ao fim do matrimônio, basta a intenção habitual. Por isso, se diz que a Igreja só permite o espaçamento de filhos, e não a decisão de não ter mais filhos. Pois o espaçamento de filhos (nascimentos) é contra uma intenção atual em relação à concepção, mas não contra uma intenção habitual, que é o que a lei do matrimônio obriga.
Com respeito a quem usa camisinha com o parceiro para evitar contágio venéreo, não perde a intenção habitual, pois agiria de outra forma, se pudesse.
O erro é achar que ter um determinado vício exclui uma virtude que não lhe seja contrária. Todo vício é contrário a uma virtude determinada, mas um vício pode não se opor a uma determinada virtude. Desse modo, entende-se perfeitamente como uma prostituta pode agir com prudência, por exemplo. Isso é um princípio de moralização, pois leva em conta uma virtude moral, embora o ato em si seja desordenado, e, pode, inclusive, ser contrário à outra virtude, como a castidade, a temperança.
Infelizmente, quando olhamos o pecador, o imaginamos como um ser totalmente depravado, quando não é verdade. Isso é uma visão calvinista e não católica.
O Papa não estava justificando nem a prostituição, nem a camisinha, apenas dizendo que, no caso de uma prostituta que usa camisinha para evitar a transmissão do HIV, se está agindo de acordo com um princípio moralizante ou de acordo com uma virtude. Isso não significa dizer que o ato é moralmente justificável, nem que seja justificável o uso da camisinha nessa situação, pois ela confronta com outra virtude. Por um lado, você controla as paixões do apetite sensível sob um aspecto, mas libera-o por outro.
As virtudes apenas regulam o exercício dos nossos atos, elas não dão forma aos nossos atos. Um ato pode ser desordenado e não ferir uma determinada virtude, por exemplo, o assassino que exerce certa compaixão por sua vítima.
"Falar, nesta situação, do “mal menor” é um engano. Nunca é legítimo escolher livremente o mal. O principio moral do “mal menor” aplica-se quando você deve escolher necessariamente entre várias coisas, todas as quais são males morais. Então você pode, talvez deva, escolher o mal menor. Neste caso que consideramos, além do mal do sexo com AIDS sem preservativo, ou sexo com preservativo, existe a possibilidade de não ter relações sexuais. Esta última escolha pode ser muito difícil, e pode significar grande sofrimento, mas isso é comum ao caminho do bem em muitas situações na vida.
Outra questão é a compreensão e compaixão que devemos às pessoas que se encontram em situações de grande conflito. Quem de nós pode estar seguro de sempre poder escolher o bem? Nem por isso temos direito de chamar bem o que não o é." 7
A ressalva que se pode ter quanto à questão discutida é a seguinte:
Ok, uma coisa é a contracepção, que envolve obrigatoriamente a união matrimonial, um ato sexual legítimo e a intenção de se evitar a fertilidade. Outra coisa é uma relação sexual fora destes termos, onde não faz sentido falar de "pecado de contracepção" conforme as leis morais explicitadas na Humanae Vitae.
Ou seja, quem usa camisinha, pílula, DIU, etc, não está necessariamente cometendo um ato contraceptivo. Pode até estar cometendo um pecado muito mais grave, mas isso não vem ao caso.
Pois bem. Os adeptos da tese de que o uso do preservativo é lícito quando se deseja tão somente evitar o contágio de uma DST alegam que não se trata de contracepção propriamente dita. Até aí, estamos de acordo. O problema é se não há outros fatores que tornam o ato intrinsecamente mau.
E o fator é justamente o unitivo. Ora, é consenso entre os teólogos e moralistas clássicos que uma relação sexual legítima (não juridicamente, mas moralmente), é aquela em que marido e esposa, unidos validamente pelo matrimônio, alcançam o prazer venéreo por meio do depósito do sêmen no interior das trompas uterinas. Esse é o motivo pelo qual a relação sexual em períodos de infertilidade é permitida, uma vez que não atenta contra o fator unitivo do casal tampouco contra o fator procriativo, já que não há neste ato nenhuma medida que impeça, fisicamente falando, o alcance do sêmen ao útero, mas tão somente ocorre num momento onde o óvulo não é fecundado.
Ora, numa relação em que um dos cônjuges seja infectado por DST e for utilizado o preservativo, isso decorre que tal relação -- ao menos intencionalmente, e é o que garante a integridade da saúde do outro parceiro -- não cumpre o fator unitivo imtrinsecamente necessário para a sua licitude: o depósito do sêmen nas trompas. A relação se resumiria numa mera troca de carícias que culminariam no prazer venéreo de ambos, porém invidualizado, sem verdadeira união. (E faz todo o sentido, se não há união, se não há o "e serão um só corpo", então nesse caso nao há possibilidade de infeccção.) Logo, legitimar a camisinha para estes casos implicaria em legitimar o coito interrompido também.
"[n]o constituye una diferencia si una persona previene la fertilidad de la relación sexual tomando la píldora o interrumpiendo onanísticamente la relación". 8,1
Por outro lado, o mesmo autor afirma que "[p]ara evitar destruir tanto el significado unitivo como el procreativo del acto sexual y, en consecuencia, la plenitud del don recíproco de sí, los cónyuges no deben prevenir la fertilidad de las relaciones sexuales, en caso que las tengan". 8,2 Aqui, ele confirma a ilicitude de se dissociar o ato unitivo e a abertura à possibilidade de procriação (mesmo que tal possibilidade seja simplesmente sinônimo da deposição do sêmen). Assim, ele parece defender uma grande contradição.
Também o argumento de que "camisinha é uma coisa, e coisas são moralmente neutras, apenas atos humanos são passíveis de julgamento moral", apesar de ser uma afirmativa verdadeira, traz implícita um erro de interpretação: os atos humanos é que são passíveis de julgamento, porém eles levam en conta também os acidentes físicos, formados pela consistência das coisas, objetos, formas que, não existindo, figurariam em outro ato completamente distinto.
Não há como avaliar um assassinato se não houver a morte física de alguém. Não há como avaliar um roubo se não houver a subtração de um bem material (logo, físico) de uma pessoa (real, física). Não há como avaliar moralmente a masturbação se não houver o depósito físico do líquido seminal em local que não o interior da via uterina de uma mulher. Lançar mão do argumento de que a mera presença da camisinha numa relação sexual não é condição suficiente para se avaliar a (i)moralidade deste ato é uma falácia tão grande como dizer que, no fundo no fundo, o que vale é somente a intenção dos atos. Ora, sabemos que o pecado pode se dar pelas más intenções, pelas más circunstâncias, mas também por uma matéria intrinsecamente má, não importanto a intenção e as circunstâncias.
Assim, a masturbação é sempre pecado, com ou sem a participação da esposa. E, a meu ver, a relação sexual que se utiliza do preservativo se degenera na categoria de masturbação, com a diferença de que a dissociação do ato se dá de forma "automática", ainda que simulando um gesto que se aproxime de uma relação legítima.
Tal relação não atentaria contra a finalidade unitiva, pois eu interpreto essa finalidade unitiva, como outra forma de dizer sobre o que é concebido nos manuais clássicos como sendo o fim secundário do matrimônio, a ajuda mútua e o remédio da concupiscência.
O derramamento do sêmen sem intenção direta de contracepção também não me parece intrinsecamente mau, pois a HV me dá a entender que, ao falar de "intrinsecamente desordenado", ela está se referindo à contracepção em si mesma.
A não ser que fins procriativo e unitivo sejam só os do ato sexual e não do casamento em si, mas eu acho que, sendo o ato sexual o ato primordial dentro do matrimônio, os fins do ato sexual de algum modo refletem os do próprio matrimônio.
Osentido é o que segue: o matrimônio como um todo possui um fim procriativo -- por ele contituimos família -- e unitivo -- por ele nos tornamos "uma só carne" com o(a) esposo(a). Porém, o ato sexual em si é inseparável do matrimônio e, portanto, a ele se submete. Logo, ele também tem um fim procriativo -- não impedir a fecundidade, ou seja, não cometer a contracepção -- e unitivo -- não separar os corpos na consumação da relação, o que, nos manuais de Teologia Moral, sempre foi entendido como o depósito do sêmem nas trompas.
Note que isso nao significa que o casamento precisa sempre e em todo momento fazer uso do ato sexual. Porém, uma vez fazendo-se uso desse, é necessário que esteja vinculado a essas duas realidades, como o próprio autor disse (conforme minha segunda citação dele).
A relação sexual é compreendida má em si mesma se ela se colocar habitualmente contrária a um dos fins do matrimônio.
O fim unitivo, na verdade, a união dos esposos, segundo o Catecismo, não é o depósito de sêmen nas trompas. Na verdade, nem se dá para distingui-lo do próprio casamento em si, já que é por ele que se dá o duplo fim do matrimônio: a transmissão da vida e o bem dos esposos 9
O bem dos esposos, sendo fim secundário, é distinto em ajuda mútua e remédio da concupiscência.
A transmissão da vida, como fim primário, distingue-se em geração e provisão de bens à prole.
O ato sexual deve estar aberto ao fim primário, gerando vida, e ao fim secundário, sendo remédio da concupiscência, no entanto, quando é impossível, por uma questão alheia à vontade dos cônjuges, cumprir o fim primário no ato sexual, não penso que seja pouca coisa fazer cumprir o fim secundário, por meio de um expediente.
Não se conhece como doutrina da Igreja a ideia de que o ato sexual tenha fim procriativo e fim unitivo. Pelo que leio no Catecismo, os fins do ato sexual são proporcionalmente os fins do matrimônio.
Os fins do matrimônio são o primário, geração e provisão de bens à prole, secundário, ajuda mútua e remédio para a concupiscência. Proporcionalmente, o ato sexual deve cumprir os fins do matrimônio. Na impossibilidade de cumprir um fim dos fins, não deve deixar de cumprir o outro.
Ao propor a inseparabilidade dos dois fins do matrimônio, o Catecismo o faz dentro do âmbito do matrimônio e não dentro do âmbito do ato sexual.
Explicando melhor por que considero possível o cumprimento apenas do fim secundário para o ato sexual.
Consideremos por que é mau (ou intrinsecamente mau) evitar a concepção. Evitar a concepção é intrinsecamente mau porque (e não vejo sinceramente outro motivo) está se atuando voluntariamente contra um dos fins do matrimônio num ato que a natureza dispôs para cumpri-lo. O ato sexual, na realidade, se presta à realização dos dois fins matrimoniais, porque é também ajuda mútua e remédio da concupiscência. No caso em questão, temos já a impossibilidade de cumprir o fim procriativo: isso não depende da vontade dos cônjuges. Ora, num ato perfeitamente conjugal, pode faltar atualmente a orientação dada a um dos fins, embora não possa faltar a intenção habitual de agir conforme os fins do matrimônio em geral.
Veja o seguinte exemplo: a mulher que passa as roupas do marido está cumprindo com um dos fins do matrimônio; e com o outro, só enquanto tem intenção habitual de cumpri-lo. Dessa forma, vemos que o ato sexual, disposto pela natureza para o cumprimento do fim primário do matrimônio no que tange à geração, pode, por uma disposição acidental, não corresponder a esse fim. Desde que não falte a intenção habitual para cumpri-lo, é possível, no meu entender, cumprir o fim secundário. Não é necessário que os dois estejam atrelados em todos os atos do casal. Se alguém pensa diferente, que me prove com a doutrina da Igreja.
O coito interrompido não se presta a evitar o contágio por alguma doença sexualmente transmissível. Seu único fim será evitar a concepção.
Tudo o que é lícito está condicionado ao seu uso correto. É lícito desejar o sexo vivido de forma correta, bem como defender a própria vida da forma correta. Ou seja, se for desnecessário matar para se defender, não se pode matar. Se for para realizar um ato sexual para obter os fins que ele proporciona, esta relação não pode ser de qualquer modo. E neste caso, o cumprimento de ambas está comprometido, e, embora seja lícito a princípio realizá-las, não é obvio que seja lícito realizá-las sob estas circunstâncias, e há a opção de não se realizar uma, garantindo a outra. Logo, essa seria a o única opção moralmente válida.
Acreditamos ainda que a própria Igreja dê a resposta sobre os dois fins do matrimônio deverem estar presentes atualmente no ato conjugal. Ao permitir o ato conjugal em períodos inférteis, ela deixa claro que nem todo ato conjugal possui finalidade procriativa. E não tem sentido dizer que essa intenção deve existir atualmente no agente, pois o agente deve proceder de acordo com a realidade, e, na realidade o ato é infecundo. Sua intenção, portanto, quando executa o ato sexual em período infértil, é habitual, de buscar fim do matrimônio e não por intermédio daquele ato (aliás, permite-se inclusive harmonizar-se racionalmente com as causalidades naturais de modo a fazer com que o ato sexual seja voluntariamente infecundo).
Estar aberta à procriação é no sentido de não contrariar a natureza do ato, pois a intenção do agente pode ser, em ato, contrária à fecundação, quando harmoniza-se com as causas naturais para evitar voluntariamente a concepção. Nesse caso, não se tem verdadeiramente o fim procriativo na relação, pois a causa não é movida por aquele fim, antes o repudia. Agora, procede-se de acordo com a natureza do ato, pois o contrário, acredito, resultaria numa corrupção desse ato.
Além daquela questão do soropositivo, o Pe. Martin Rhonheimer delineia outro argumento que desenvolvo aqui com argumentos meus sobre a questão de prostitutas, estupradores e fins do matrimônio.
Quando uma prostituta ou um estuprador usa camisinha ou não usa camisinha, isso não muda em nada o fato de que ele não está aberto aos fins do matrimônio, nem ao fim primário, nem ao fim secundário. Isso porque o fim primário não consiste apenas na geração, mas no cuidado e educação da prole, em geral, o bem-estar da prole. Um ato sexual dentro do matrimônio está proporcionado a esse fim, na medida em que se gera a vida dentro de uma sociedade estável, capaz de prover o bem da prole. Agora, um ato sexual fora do matrimônio procede fora de uma sociedade estável, portanto, é contrário ao fim primário, ainda que quem o pratique, deixe de usar camisinha e se abra à concepção. Portanto, qual é a diferença do ponto de vista moral entre uma prostituta usar ou não usar camisinha, se de nenhum modo ela cumpre com a natureza do ato em si?
Muito se mistificou a concepção, principalmente por medo de se desviar da doutrina exposta na Humanae vitae e, na verdade, não se buscou uma averiguar realmente os limites impostos pela encíclica.
Os significados procriativo e unitivo (eu distingo essa questão de significados e fins do matrimônio) devem estar presentes no ato sexual e são inseparáveis por natureza. As fontes realmente dão isso como certo (HV 12, Cat. 2366; 2369). Mesmo a regulação de nascimentos, em que falta evidentemente a intenção procriativa, não implica na falta de significado procriativo, por isso, não é lícito usar a camisinha, mesmo em períodos inférteis.
Como isso poderia harmonizar-se, então, com a defesa que fiz do ato sexual sem o significado procriativo, no caso do soropositivo? Bem, a HV me parece dizer que a indissociabilidade dos significados é apenas algo que o homem não deve quebrar por sua iniciativa (HV, 12), e aqui ela já está quebrada por causas alheias à vontade humana. Tal é uma situação em que não é possível ter o ato sexual com seu significado procriativo, pois isso implicaria numa rejeição dos dois fins do matrimônio (a geração de filhos doentes e a corrupção do bem dos esposos). Sendo assim, da mesma forma como é possível harmonizar-se com as causas naturais na regulação dos nascimentos, aqui eu penso que a HV não proibe que o homem siga com o que pode diante de um mal pelo qual não foi responsável.
Aliás, isso se parece muito com a razão pela qual Santo. Tomás admite a possibilidade de extirpar um membro, uma vez que a morte e a corrupção não são contrárias à natureza universal. Assim, da mesma forma como o homem segue com os membros que lhe restam, sem dar adeus à vida, o homem pode seguir com o significado que lhe resta do ato conjugal, sem ter que dar adeus aos demais bens do ato sexual (e que inclusive, cumprem sozinho com a finalidade de ser remédio da concupiscência).
Gregório Alastruey expondo a razão teológica que leva a considerar São José verdadeiro esposo de Maria, ainda que não tenha jamais se unido corporalmente a ela, é a seguinte:
"É verdadeiro matrimônio aquele que chega à perfeição. Pois bem, o matrimônio entre Maria e José alcançou essa perfeição de matrimônio, tanto a primeira e essencial, como a secundária e acidental.pelo menos em parte.
"Com efeito, a perfeição primária e essencial de qualquer coisa consiste na forma que dá sua espécie à coisa. A perfeição secundária e acidental consiste na operação que consiste que provém da forma e com cuja intervenção a coisa consegue o seu fim."
"Assim, no matrimônio se acha essa dupla perfeição: a que consiste na forma, e a que consiste na operação.
"A forma do matrimônio consiste na união indivisível das almas em ordem da mútua entrega do direito de poder sobre os próprios corpos dos esposos."
"A operação consiste na geração e educação da prole como em seu fim primário, no mútuo obséquio e ajudados cônjuges como fim secundário, ao qual se acrescenta o remédio da concupiscência como fim per accidens [fim acidental]."
"O matrimônio contraído por Maria com São José foi perfeito, com aquela perfeição primária e essencial, pois houve nesse matrimônio união de almas em ordem à entrega do direito e potestade de um sobre o corpo do outro. E houve perfeição secundária e acidental, porque embora não mediasse cópula carnal, por cuja intervenção se gerasse a prole, houve, entretanto, prole, a saber: Jesus nascido não deste matrimônio, mas nascido nele. Outrossim, houve educação da prole conforme o permitia tão alta dignidade do Filho, com mútuo obséquio, ajuda e comunicação de bens entre Maria e José, ainda que não necessitassem do matrimônio para remédio para a concupiscência."
"Pelo que diz Santo Agostinho: "Naqueles apis de Cristo cumpriram-se todos os bens das núpcias: o bem da prole, o da fé e o do sacramento. Conhecemos a prole que é o mesmo Jesus, nosso Senhor; a fé, porque não houve adultério; o sacramento, porque não houve divórcio; faltou apenas o concúbito nupcial" 10
Uma opção que acidentalmente é um mal, pois Nossa Senhora esteve livre de concupiscência e nem todo mundo recebe as graças adicionais que outros santos receberam. O fomes do pecado esteve ligado (impedido) em muitos santos e em Nossa Senhora esteve extinto; o mesmo não se dá com todos, nem pode ser buscado com o livre arbítrio.
A doutrina de que o fomes do pecado foi extinto em Nossa Senhora é de Santo Tomás de Aquino, e anterior à proclamação do dogma da Imaculada Conceição. Hoje, é sentença comum dos teólogos que o fomes nunca existiu na Ssma. Mãe de Deus.
Ninguém que seja soropositivo é obrigado a ter relações sexuais com camisinha, pois deve-se respeitar a consciência, e, diante de um assunto tão complexo, que envolve a salvação de alguém, deve-se aderir à doutrina mais segura e não à mais provável 11
Contudo, pode-se argumentar pela possibilidade. E manter relações sem camisinha, colocando a saúde e até a vida do outro em risco, é um pecado. O desejo da concepção não está acima da vida humana.
Para encerrar, palavras do Profº Carlos Ramalhete sobre a questão:
" O primeiro é a questão da infalibilidade papal. O Papa é infalível só, apenas só, quando define ex-cathedra um ponto de Fé e Moral. Em outras palavras: o Papa poderia ter dito, lá na entrevista que ele deu, que camisinha é uma maravilha e que ele mesmo a usa todos os dias para
evitar filhos nas amantes e para não sujar o pênis ao ter relações contrárias à natureza, e nada teria mudado.
Já houve Papas, e muitos!, que teriam dito este tipo de coisa, *falando a verdade*. Ficar suando em cima de qualquer besteira que saia da boca do Papa procurando indícios de "mudança de doutrina" é algo tão delirantemente contrário à Fé católica, que só alguém que nunca tenha
estudado História da Igreja poderia pensar numa besteira dessas. Já houve Papa que era filho de outro Papa, já houve Papa ladrão, Papa assassino...
Nós é que estamos mal-acostumados. Os Papas dos últimos 100 anos fora todos surpreendentemente santos, surpreendentemente ortodoxos. Suas fraquezas - que não foram poucas - eram normalmente políticas, não morais ou pessoais. Assim, nós temos hoje em dia a vantagem sobre nossos antepassados do Renascimento de poder prestar atenção ao que um Papa fala como quem presta atenção ao que um homem santo e sábio fala.
Mas ficar procurando "mudanças de doutrina" em discurso papal é, repito, patético. Primeiro porque "mudança de doutrina" não existe. O poder do papa sobre a Igreja é infinitamente menor que o poder de um prefeito sobre a cidade que ele governa; o Papa não é a fonte da moral e da doutrina, mas o seu custódio. E é por isso que as dezenas de Papas sodomitas, adúlteros, assassinos, etc., tiveram sempre a mesma infalibilidade: para que Deus os impedisse de definir erroneamente um ponto de Fé e Moral, falando da Cátedra de Pedro. E eu estou falando de Papas que certamente não viviam de maneira moral, *ao contrário de Bento XVI*.
Desta vez não falou, mas poderia ter falado, e muitos Papas anteriores certamente o teriam feito.
Repito: o espantoso é a santidade dos últimos Papas. Esta é a exceção na história da Igreja, não a regra. Mas a adesão à Igreja não depende nem pode depender da santidade do Papa, do Bispo, do padre, do diácono, da irmãzinha de caridade. Ao contrário, aliás: o demônio vai tentar mais o
Papa que o Bispo, o Bispo que o padre, o padre que a irmãzinha, a irmãzinha que o leigo.
E eu - leiguinho de quinta categoria, perdido nas montanhas de Minas - sei que eu caio, e caio feio. E está aí para quem quiser ver que os padres tambem caem, e que infelizmente a maioria dos Bispos tem se preocupado mais com besteiras terrenas que com o Reino de Deus... Era de se esperar que tivéssemos o Berlusconi ou o Weakland, não o Joseph Ratzinger, sentado no Trono de Pedro. É uma grande e imerecida graça de Deus que não seja o caso *hoje*.
O que importa é *o que a Igreja ensina*, que não muda (mais uma vez: Papa ou padre dando entrevista, por definição, não é *o que a Igreja ensina*, mas apenas a opinião pessoal de Joseph Ratzinger ou Pe. Favo de Mel) , e o que a Igreja *é*: o Corpo Místico de Cristo, a Barca de Pedro, fora da qual não há Salvação e na qual estão os meios necessários para que nos salvemos.
Bão, dito isso, passo à segunda coisa: para todos nós, que vivemos no mundo e nele fazemos apostolado, é riquíssimo o que o Papa disse. Não preciso resumir, nem traduzir do alemão, nem nada do gênero, que já foi feito ad nauseam.
Mas aponto: o que ele mostrou, o que ele lembrou, foi que por pior que seja a queda, por mais sórdida que seja a vida, por mais asquerosamente imoral que seja a vida de alguém, nunca se apaga completamente a frágil chama do chamado divino ao homem, da vocação à Santidade.
Vejam só: ele tratou da situação mais asquerosa, daquela em que mesmo os proponentes do sexo desregrado como diversão têm que ficar pisando em ovos para tentar "não condenar": a relação com "garotos de programa".
Ora, este é provavelmente o ambiente mais sórdido que existe na sociedade atual, com a exceção de, sei lá, seitas satânicas fazendo sacrifícios humanos.
A coisa mais comum é que o sodomita contrate um garoto de programa e seja drogado ("boa noite cinderela"), muitas vezes morto. A morte é em geral extremamente violenta. Isso ocorre porque os garotos de programa normalmente têm ódio deles mesmos, e ódio da "bicha velha" que os contrata, em quem eles vêem refletido tudo o que não gostam de ver neles mesmos.
Mesmo quando não ocorre um (outro) crime, a relação não é como a de uma prostituta com o seu "cliente"; ela, se não gosta, pode fingir para garantir a satisfação do cliente. O garoto de programa não. Ele tem que se dopar (uma causa mortis comum neste meio é a mistura de alcool, cocaína e viagra), tem que lidar com a sua própria sexualidade depravada, pensando em outra coisa para se manter em condições de fazer sexo com a "bicha velha" que o contratou e tendo que lidar com o fato de que aquilo em que ele pensa normalmente vai ser algo que ele não gosta de ter que encarar que o excite...
Mais antinatural, mais sórdido, mais teratológico, mais afastado de uma vida reta e santa, impossível.
Aí vem e diz o Papa (ou melhor: diz o grande filósofo e teólogo Joseph Ratzinger): neste ambiente sórdido, ainda pode haver, no lugar de uma morte violenta, estraçalhando o "cliente" com as facas da cozinha dele mesmo, um súbito perpassar de um sentimento de preocupação, um desejo de não o matar com a "injeção" de um vírus mortal no meio daquele frenesi antinatural.
O que ele está dizendo é que no meio de tamanha sordidez, no meio de tamanha imundície, pode haver uma preocupação com o outro. Esta preocupação, devido às campanhas assassinas ora em curso, vai se manifestar não por uma abstenção, mas por uma barreira física que permita que anda haja o prazer antinatural e pervertido, mas impedindo o contato físico completo.
Para nós, o que é importante, contudo, não é que o garoto de programa use ou não camisinha (afinal, ele continua a caminho do Inferno com ela ou sem ela), mas sim perceber que há uma persistência deste chamado a ser melhor (de sodomita assassino a simples sodomita?), que mesmo aquele horror e aquela sordidez não impedem que a pessoa tenha, por vezes, um
relance de um chamado a algo maior.
É esta semente do Verbo que deve ser agarrada. É este resto de busca do Bem que deve ser soprado para que vire uma brasa, que pode virar uma chama, que pode fazer com que aquele rapaz um dia abandone aquela vida, forçosamente curta e brutal, que o conduz à perdição eterna.
Repito: é interessantíssimo que este grande teólogo e filósofo que é Joseph Ratzinger tenha trazido justamente a situação mais sórdida possível como ilustração do "lugar" em que é possível que a mesma sordidez, com separação por barreira de látex, seja percebida pelo pervertido como algo melhor, como um bem a buscar. Em que é possível levantar a cabeça e pensar "há algo melhor que isso".
Esta situação sórdida, este "lugar" imundo, serve dois própositos: por um lado, ela nos lembra o quanto é sórdida a suposta "solução" pregado pela cultura da morte (a camisinha), que apenas em tal situação pode ser percebida como uma elevação; por outro, ela nos lembra que mesmo no pior lugar, mesmo no fundo do poço, afogado no lodo moral e nos excrementos físicos, há ainda um desejo de algo melhor, há ainda uma esperança, que só morre quando se ultrapassa as portas do Inferno. E é essa esperança que nos cabe reavivar.
Quem sabe se um dia não teremos o equivalente masculino de uma Santa Maria Egipcía nos altares? Queira Deus. 12
Referências:
1 Bento XVI, entrevista sobre o uso da camisinha
2 Homilia de João Paulo II, Basílica de São Pedro 1979
3 Encíclica Humanae vitae, Papa Paulo VI
4 Teólogo Padre Fintan Lawless
5 Filófoso Régis Jolivet
6 Supra, q. 63, a. 2, ad 2 ; infra, q. 73, a. 1, ad 2 ; IIª-IIªª, q. 24, a. 12; De Virtur., q. q, 1, ad 5
7 Padre Fintan Lawless, L.C., irlandês, professor de Ética do Seminário Internacional Maria Mater Ecclesiae do Brasil.
8,1-2 Martin Rhonheimer, professor da Santa Cruz, de "The Tablet", 10 de julio de 2004.
9 Cf. Cat., 2363.
10 Gregório Alastruey, Detalhes de Tratado de la Virgen Santisima
11 Doutrina de Sto. Afonso de Ligório.
12 Lista de discussões do Yahoo Tradição Católica e Contra Revolução