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Uma suposta refutação para as cinco vias de Santo Tomás de Aquino..
O autor considera o seguinte (ver item 3.3, do link):.a) o argumento (do Ser necessário, de Santo Tomás) não considera a possibilidade lógica de as coisas terem existido sempre, apenas se transformando;
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b) o argumento comete a falácia de composição, a qual consiste em atribuir que as partes é igual ao todo — o enunciado “para cada coisa houve um tempo em que não existiu” constitui uma referência e, o enunciado “houve um momento em que nada existia” pertence a uma outra referência; são referências de natureza diferentes e sem relação entre si.
Infelizmente o autor não discorre muito (por que será?). Não diz, por exemplo, porque que “são de naturezas diferentes e sem relação entre si”, apenas faz a afirmação.
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Muito simples refutar:
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1) Não existe efeito sem causa;
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2) Não existe infinito numérico. O infinito numérico ou infinito em potência, ou infinito potencial, é um ser de razão. Não existe como ser real.
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Quando dizemos que não há efeito sem causa, chega até a ser meio redundante, se levarmos em conta que ao chamarmos algo de “efeito”, já implicitamente deduzimos que se originou de algo, que teve um agente causador. A questão discutida é se todas as coisas existentes podem ser classificadas como “efeitos”.
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A diferença está dada quando ele diz que se compara a parte ao todo: a afirmativa “para cada coisa existe um momento no tempo em que não existiu” refere-se a uma parte, a um corpo isolado, individual. Usar esta assertiva substituindo-se o “coisa” pelo “todo” leva à conclusão de que então, se o todo hoje existe, algum dia o todo não existiu. Para o autor, há um abuso lógico aqui, uma falácia.
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Não existe falácia, pois em nenhum momento estamos tratando do “todo”, mas de cada coisa.
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Estamos falando do ser em geral, mas do ser que se manifesta em cada coisa. O universo é apenas um conjunto de substâncias que se reúnem acidentalmente. Por isso, não faz sentido se falar em “Causa do universo” ou “Causa do todo”, pois não existe o Universo como uma unidade essencial. Provando assim que, cada coisa não existe por si mesma, há que se supor uma Causa que exista por si mesma, para cada uma delas.
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A razão nos indica que essa Causa tem que ser a mesma para todas, pois, se não fosse única a Causa de todas, teria ela o mesmo defeito de todas, pois só o ato puro, em que não há absolutamente nenhuma potência, em que a essência é idêntica à existência, pode sustentar toda sorte de causas. Se não fosse único, lhe faltaria algo, teria potência, sua essência não seria idêntica à sua existência, logo, não poderia ser a primeira de nenhuma série de causas.
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O que o infinito numérico tem a ver com isso, se é uma idéia abstrata?
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Quando dizemos que não há efeito sem causa, isso é só uma maneira mais grosseira de enunciar esse axioma. Em se tratando de filosofia, às vezes, as sutilezas podem prejudicar a compreensão. Por exemplo, se nós falassemos aqui que a potência não passa ao ato sem que haja uma causa eficiente, ou que nada pode ser causa eficiente de si mesmo, talvez isso soasse estranho a algumas pessoas menos familiarizadas com esses termos.
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A respeito do infinito numérico, ela é uma refutação ao Marcus Valério XR, famoso pelo seu site “Filosofia Exeriana”:
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“Eles não abordaram o que para mim é a maior falha do argumento, o que afirma que uma sucessão infinita de coisas movidas por outra é impossível. Por que essa sucessão infinita e impossível?”
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Uma vez, eu usei esse argumento contra um ateu: Disse a ele que o infinito numérico não existia na realidade, e que eu era completamente cético quando a existência de uma quantidade infinita de seres contáveis no mundo real. Ele até hoje não me provou a existência real do tal infinito numérico.
Pode-se supor o infinito de duas maneiras: o infinito em ato e o infinito em potência. O infinito em potência é um ente de razão; na realidade, nunca passaria ao ato, pois sempre haveria de se acrescentar mais um número. Não tem como ter existência real, pois a realidade existe, independente da nossa percepção, se contarmos os elementos ou não. Por isso, esse infinito se diz “em potência”.
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Santo Tomás mostra que a possibilidade lógica das coisas terem existido sempre não repugna à razão, já que também não repugna à existência de um Ser necessário. Pela razão, o mundo poderia ter existido sempre, embora, pela fé, afirmemos que, de fato, não o foi; não que não o poderia.
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E por que não repugna à existência de Deus o mundo ter existido sempre, uma vez que é completamente contrário à razão que uma determinada série causal regrida ao infinito? Porque cada causa é indispensável à existência de suas sucessivas, mas, quando não há essa relação de subordinação entre uma causa e outra, não repugna à razão que Deus a tenha feito existir desde sempre:
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“Primeiramente assim: nenhuma causa que produz seu efeito de modo instantâneo precede necessariamente a seu efeito em duração. Deus porém é causa que produz seu efeito não por moção, mas instantaneamente. Não é necessário, pois, que preceda em termos de duração a seu efeito.
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(...) Logo, com muito mais razão Deus, que produz toda a substância da coisa, pode fazer que seu efeito seja em cada momento em que Ele seja.”
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Mas, por que Santo Tomás, sabedor, pela fé, de que o mundo não existiu sempre, se propõe a provar que este poderia ter existido sempre, caso Deus o quisesse? Pois ele entendia que defender a fé com argumentos fracos era torná-la ridícula aos olhos dos incrédulos:
“Es útil que se tenga esto presente a fin de que, presumiendo de poder demostrar las cosas que son de fe, alguien presente argumentos no necesarios y que provoquen risa en los no creyentes, pues podrían pensar que son razones por las que nosotros aceptamos las cosas que son de fe. (S. Th., Ia, q.42, a.2, C)”
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É como imaginar algo que não tem forma, pois algo disforme ainda assim é forma e não informe. A matéria, para o tomismo, é a pura potência. A quintessência seria o elemento constituinte dos astros, no mundo supralunar. Atualmente, é teoria abandonada pela astronomia, bem como a teoria dos quatro elementos (água, terra, fogo e ar).
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O argumento ontológico - Santo Anselmo - é um sofisma: Deus é um ser infinitamente perfeito. A existência é uma perfeição. Então, a existência tem que fazer parte da essência divina. Logo, Deus existe.
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Santo Tomás encontra nesse argumento dois defeitos. O primeiro, secundário, é o de nada valer contra quem não entenda, pela palavra Deus, um ser infinitamente perfeito. O segundo é essencial; o de haver nele uma passagem ilegítima da ordem lógica para a ordem real. Quando pensamos num ser perfeitíssimo, temos de fato de o pensar existente, pois, se não existisse, lhe faltaria essa perfeição. Mas disto só podemos concluir que um ser perfeito não pode existir em potência. Não podemos concluir que realmente exista, fora do nosso pensamento.
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A contrapartida tomista para o argumento ontológico – essa sim estruturada a partir das criaturas e não da essência divina, que não conhecemos – é a prova da contingência (terceira via).
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Uma palavra do filósofo Rui Ribeiro Machado sobre a questão:
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“As cinco vias são provas incluídas dentro de todo um edifício filosófico que garante a sua veracidade. Infelizmente, procura-se refutar o núcleo, esquecendo-se de todo o edifício que já foi construído e que o sustenta. A idéia do círculo vicioso é reclamada pelos ateus que dizem que o axioma “tudo o que existe tem uma causa” não se aplica a Deus, logo Deus deveria ter uma causa. Todavia, eles não partem da análise mais minuciosa do ser, que distingue entre ato e potência, e assim não percebem que Deus é o ato puro, o ser puro, e o ser não precisa de causa. Quem precisa de causa é a mudança.
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Por exemplo, na questão da natureza autônoma, simplesmente é irracional pensar que a natureza se organize por acaso; o autor parece ter uma idéia errônea acerca do acaso. Acaso não é nada mais do que um encontro de duas causas. Num encontro de causas, tudo quanto, no efeito, há de positivo, de real, de ser, é devido à ação das causas que para ele concorreram, e não do acaso.” MACHADO, Rui Ribeiro. Extraído do grupo de discussões do Google+ Apologética Católica
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Aristóteles e os escolásticos ensinaram que o conhecimento abstrato e universal deve ser imaterial, e acho que nesse ponto há um ótimo argumento. Mas antes deve-se demonstrar que os conceitos não são inteiramente produzidos pelos sentidos e pela imaginação (processo de formação de imagens).
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É raro encontrarmos aqueles ateus que tem a mente e o coração abertos, dispostos a ser convencidos pela verdade. Mas mesmo na internet é possível encontrá-los, e essa é a primeira característica que precismos identificá-los: se eles estão dispostos a aceitarem a verdade, ainda que preferissem que ela fosse outra.
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Ao falar com ateus, lembre-mos de ser manso e mostrar sincera disposição para ajudá-los. Sabemos que às vezes é muito difícil manter a calma diante da arrogância e desonestidade de alguns ateus, mas tenha fé que ao menos uma pessoa terá bom senso. Apesar de muitos ateus definirem-se como “racionais”, apenas alguns são realmente sensatos, e são esses que conseguirão te ouvir.
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Se encarar um debate voltado para a ciência, lembre-mos que a ciência moderna nasceu na Igreja, que não há conflito entre ciência e fé, e que teorias como o Big-Bang e Evolução não são incompatíveis com o relato bíblico da criação.
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Rezem por todos, mas mantenha o foco naqueles que buscam a verdade e tem honestidade para reconhecê-la quando apresentada. Assim, com mais ajuda, vocês poderão, com a ajuda de Deus, tocar mais corações.
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Referências:
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JOLIVET, Regis. Tratado de Filosofia: Moral. Rio de Janeiro: Agir, 1966.
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SIMON, René. Moral: Curso de Filosofia Tomista. Barcelona: Herder, 1968.
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“Curso de Filosofia” do Decano da Faculdade de Lyon, autor Regis Jolivet.
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Padre Leonel Franca: “O Problema de Deus”.
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Maritain “Caminhos para Deus”
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Síntese Tomista, do Padre Dezza
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