A alma vegetativa das plantas e a alma sensitiva dos animais não excedem
a potência da matéria. A alma deles é dita material e,
consequentemente, destruída por acidente, com a morte do corpo. Já a
alma humana é criada diretamente por Deus e, por exceder a potência da
matéria, não é destruída com a morte do corpo.
Se a alma dos animais é material, pois passa da potência na matéria ao
ato sob a ação dos agentes naturais, é logicamente possível que o homem
crie as condições necessárias para que haja a vida. Isso não significa
que ele seja o criador da vida, mas que dispôs a matéria orgânica de
forma a que esta, sob o impulso dos agentes naturais, dê origem à vida.
Criar é exclusivo de Deus. Todas as outras causas estão determinadas a um efeito particular: imprimem à matéria sobre que atuam esta ou aquela modalidade do ser. Dar o ser, em absoluto, só pode convir à causa mais universal, a Deus.
Criar é exclusivo de Deus. Todas as outras causas estão determinadas a um efeito particular: imprimem à matéria sobre que atuam esta ou aquela modalidade do ser. Dar o ser, em absoluto, só pode convir à causa mais universal, a Deus.
Enquanto todas as faculdades sensíveis e vegetativas não excedem a
potência da matéria, a alma humana excede a potência da matéria pela
abstração.
Nos seres materiais há composição de matéria e forma. A matéria é apenas
uma das modalidades pelas quais o ser se manifesta, não existindo senão
definida por uma forma. Uma vez que a matéria é pura potência, é
possível o ato puro, isto é, a forma pura, desprovida de matéria. O
mesmo não se dá com a matéria, justamente por ser pura potência. Isto
refuta o materialismo, sistema dos que entendem que tudo é matéria, não
sendo possível provar a existência de Deus, nem da alma, nem dos anjos.
Na verdade, a sensação de que tudo é matéria é uma ilusão causada pelo
nosso processo de conhecimento, que parte do que é sensível para chegar
ao racional. Pelo raciocínio, chegamos à conclusão de que o que é
sensível no objeto é a sua forma; a matéria o princípio de sua
individualização.
Dito isto, é possível se provar a espiritualidade da alma humana e sua subsistência após a desintegração do corpo ou composto orgânico.
Dito isto, é possível se provar a espiritualidade da alma humana e sua subsistência após a desintegração do corpo ou composto orgânico.
Para compreender a espiritualidade da alma intelectiva, é necessário
compreender a matéria como princípio da individualização. Pela
abstração, abstraímos a forma, mas não a forma material, individualizada
pela matéria.
O princípio da individualização só pode ser a matéria. Não pode ser a forma, porque, sendo da mesma espécie, é idêntica a essência de todos, e a forma substancial é precisamente aquilo pelo qual a matéria dum corpo realiza a sua essência. Também não podem ser as formas acidentais; a igualdade dos acidentes não impede a distinção dos indivíduos. Consideremos duas esferas. A forma é idêntica em todas. Se pensarmos na essência da esfera, abstraindo da matéria e das determinações que dela provêm (dimensões, posição), temos a esfera, com todas as suas propriedades, mas não individualizada.
Na inteligência, a forma do objeto existe na sua universalidade, sem nenhuma das características de individuação que a matéria lhe confere. Existe portanto no espírito imaterialmente. Por outro lado, o homem, sem deixar de ser o que é, recebe a forma do objeto que conhece. A faculdade que se identifica com ela tem, por um e outro motivo, de ser imaterial. Como o princípio de unidade da atividade humana é a alma, pensar é portanto uma operação da alma. Mas o pensamento é imaterial, já o vimos. Sendo assim, a alma executa essa operação, não, como as outras, por meio do corpo, mas independentemente do corpo, por si mesma. A alma é, portanto, uma forma que pode existir sem a matéria; não desaparece com a transformação desta.
O princípio da individualização só pode ser a matéria. Não pode ser a forma, porque, sendo da mesma espécie, é idêntica a essência de todos, e a forma substancial é precisamente aquilo pelo qual a matéria dum corpo realiza a sua essência. Também não podem ser as formas acidentais; a igualdade dos acidentes não impede a distinção dos indivíduos. Consideremos duas esferas. A forma é idêntica em todas. Se pensarmos na essência da esfera, abstraindo da matéria e das determinações que dela provêm (dimensões, posição), temos a esfera, com todas as suas propriedades, mas não individualizada.
Na inteligência, a forma do objeto existe na sua universalidade, sem nenhuma das características de individuação que a matéria lhe confere. Existe portanto no espírito imaterialmente. Por outro lado, o homem, sem deixar de ser o que é, recebe a forma do objeto que conhece. A faculdade que se identifica com ela tem, por um e outro motivo, de ser imaterial. Como o princípio de unidade da atividade humana é a alma, pensar é portanto uma operação da alma. Mas o pensamento é imaterial, já o vimos. Sendo assim, a alma executa essa operação, não, como as outras, por meio do corpo, mas independentemente do corpo, por si mesma. A alma é, portanto, uma forma que pode existir sem a matéria; não desaparece com a transformação desta.
A causa eficiente cuja forma é idêntica à que imprime no ser a que dá origem diz-se unívoca; aquela em que essa forma existe virtualmente, como que absorvida numa forma de ordem mais elevada, chama-se análoga.
Podemos dizer, por exemplo, que o Sol, pela energia que irradia, é
causa eficiente análoga de grande parte dos fenômenos que se dão na
Terra.
Nada impede de admitir que os primeiros seres vivos tivessem sido produzidos, sem intervenção de um germe proveniente doutro ser vivo, pela ação, em circunstâncias favoráveis, dos agentes naturais; pelo concurso dos diferentes fatores em jogo no Universo, pela ação do meio, digamos, atuando como causa eficiente análoga. Pode-se inclusivamente admitir que ainda hoje, se se reproduzirem as condições necessárias, possam nascer seres vivos por geração espontânea. Não há nisso nada que contrarie a metafísica, ou diminua os direitos de Deus, pressuposto pelas causas análogas como pelas causas unívocas.
Nada impede de admitir que os primeiros seres vivos tivessem sido produzidos, sem intervenção de um germe proveniente doutro ser vivo, pela ação, em circunstâncias favoráveis, dos agentes naturais; pelo concurso dos diferentes fatores em jogo no Universo, pela ação do meio, digamos, atuando como causa eficiente análoga. Pode-se inclusivamente admitir que ainda hoje, se se reproduzirem as condições necessárias, possam nascer seres vivos por geração espontânea. Não há nisso nada que contrarie a metafísica, ou diminua os direitos de Deus, pressuposto pelas causas análogas como pelas causas unívocas.
Deve-se distinguir forma e ideia. As formas dos seres são a realização
concreta das ideias. De acordo com a teoria tomista das ideias, as
ideias não existem, como pensava Platão, num hipotético mundo ideal, mas
em Deus, contidas virtualmente em Sua simplicidade.
Considerando que o que é sensível no objeto é a sua forma, o conhecimento, independente de ser intelectual, abstrato ou não, é o conhecimento da forma. Na abstração, a forma existe, mas não individualizada. Abstrair, em geral, é considerar num objeto um dos seus aspectos ou modos independentemente dos outros, e conservando a consciência de que, na realidade, existe unido a eles. Quando compreendemos as propriedades dum triângulo, por exemplo, não conhecemos um triângulo determinado, mas o triângulo, em geral. Dá-se, portanto, existência imaterial, na inteligência, à forma material que existia na realidade ou na sensibilidade.
O fato de que todo conhecimento sempre tem origem nos sentidos não
significa que esse conhecimento esteja totalmente imerso na matéria.
Como já lhe expus, conhecer um objeto significa assimilar a sua forma,
não a matéria que individualiza. Distinguimos, assim, no conhecimento
sensível a forma individualizada, e, no conhecimento intelectual, a
forma, independente de sua individualização. O primeiro deve, com razão,
servir de suporte ao segundo.
Dizer que a vida é uma "forma de ordem mais elevada" não me parece ser
justificativa para se rechaçar a geração espontânea de seres vivos por
ação de causa análoga. Santo Tomás mesmo admitia a geração espontânea de
determinados seres, e mesmo a ciência não descarta a abiogênese como
explicação para a origem da vida.
Somente a alma humana, por ser espiritual, é uma criação direta de Deus.
O que não podemos é atribuir a vida à causalidade acidental, porque isso seria atribuir caráter acidental aos seres vivos, negando-lhes a unidade substancial, muito embora possa ser obra do acaso o conjunto de circunstâncias propício à sua eclosão.
Somente a alma humana, por ser espiritual, é uma criação direta de Deus.
O que não podemos é atribuir a vida à causalidade acidental, porque isso seria atribuir caráter acidental aos seres vivos, negando-lhes a unidade substancial, muito embora possa ser obra do acaso o conjunto de circunstâncias propício à sua eclosão.
A alma humana não é uma idéia. É uma forma substancial subsistente.
O ato intelectual serve para demonstrar não a imortalidade da alma humana, mas a sua espiritualidade; é da sua espiritualidade, por sua vez, que irá se concluir pela sua imortalidade. A alma só pode surgir por criação, e o que surge por criação só pode ser destruído por aniquilamento. Ser substrato de uma evolução substancial dos seres vivos é uma propriedade da matéria; os seres materiais, por sua vez, não se aniquilam, transformam-se. A alma, sendo uma forma que pode existir sem a matéria; não desaparece com a transformação desta.
O ato intelectual serve para demonstrar não a imortalidade da alma humana, mas a sua espiritualidade; é da sua espiritualidade, por sua vez, que irá se concluir pela sua imortalidade. A alma só pode surgir por criação, e o que surge por criação só pode ser destruído por aniquilamento. Ser substrato de uma evolução substancial dos seres vivos é uma propriedade da matéria; os seres materiais, por sua vez, não se aniquilam, transformam-se. A alma, sendo uma forma que pode existir sem a matéria; não desaparece com a transformação desta.
Resta saber que espécie de vida pode ter a alma separada do corpo, de acordo com as exigências da sua natureza. Ora, a atividade intelectual, nos seus aspectos cognitivo e afetivo, por ser imaterial, pode exercer-se depois de separada a alma do corpo, e é a única que se pode assim exercer. Mas mudando o modo de existir, muda-se o modo de operar, sem o auxílio da imaginação e da memória. O contrário disso seria reduzir a atividade intelectual ao sensível, o que vimos não poder ser. Desta maneira, pode-se atribuir a alma, a qual dada a demonstração de sua espiritualidade, é imortal, o conhecimento intuitivo.