Crux sancta sit mihi lux / Non draco sit mihi dux
Vade retro satana / Numquam suade mihi vana
Sunt mala quae libas / Ipse venena bibas
Apenas para registro, não existe, não há, não tem, não rola, não é verossímil a existência de nenhuma proibição a assistir um filme, quiçá um filme que possui aspectos concernentes ao Catolicismo evidentes. Nada de puritanismo ou consciência escrupulosa ao ler o artigo.
No filme, Lilith é um demônio materializado responsável por uma sequência de mortes em sua família. A Sã Doutrina ensina que os anjos podem mover o corpo contra a vontade da alma, ou seja, forçando seus movimentos e controlando-os. É nisso que consistiria a possessão e não no fato do anjo assumir o corpo no lugar da alma, o que não pode se dar.
Os anjos de Deus formaram corpos para aparecerem a Abraão, Jacó (a ponto de Jacó ter-lhe resistido fisicamente e ele ter-lhe deslocado a articulação da coxa) Josué, à Santíssima Virgem. Os demônios têm esse mesmo poder.
Inicio citando o Catecismo da Igreja Católica, parágrafo 2851:
“Neste pedido, o Mal não é uma abstração, mas designa uma pessoa, Satanás, o Maligno, o anjo que se opõe a Deus. O diabo (diabolos) é aquele que 'se atira no meio' do plano de Deus e sua "obra de salvação realizada em Cristo”.
Explanando:
Pela concepção modernista, o mal é uma vontade intrínseca da pessoa. Assim, o que Jesus expulsava era, na verdade, tal desejo.
Sabemos que tudo tem uma causa a que sucede um efeito. Então, tem-se que o mal possui origem. Se a origem do mal não é o demônio, pois não existe, a origem do mal é Deus. Chega-se, desse modo, a um paradoxo: se Deus originou o mal, o pecado, para que “expulsou o mal” e enviou seu Filho para expiar o nosso pecado? É preciso admitir que Deus e o demônio sejam a mesma pessoa, como afirmaram certos judeus, ao que Jesus replicou: “Pode um reino estar dividido contra si mesmo?”.
Outro ponto: Sabemos que Jesus não teve pecados. Mas quem tentou Jesus no deserto? Sua própria vontade criada por Si próprio?
Responde-se: Deus existe e o demônio também.
O IV Concílio de Latrão, de novembro de 1215 que “no campo dogmático, propôs oficialmente uma profissão de Fé, aprovada pelo Papa, na qual são professadas as verdades fundamentais, tendo em vista os erros da época” (COLLANTES, Justo; A Fé Católica; 2003):
Cremos firmemente e confessamos que um só é o verdadeiro Deus, eterno, imenso e imutável, infinito, onipotente e inefável, Pai e Filho e Espírito Santo: [...] Com Seu poder onipotente criou do nada, simultaneamente desde o início do tempo, uma e outra ordem de criaturas: a espiritual e a material, isto é, os anjos e o mundo, e depois o homem, como partícipe de uma e outra ordem, composto de alma e corpo. O diabo e os outros demônios foram, de fato, criados por Deus bons por natureza; mas, por si mesmos, se tornaram maus. O homem realmente pecou, por instigação do demônio. (Cap. I - Sobre a Fé Católica; FC 6.060; DS 800)
Em qualquer religião, quando se perdem os vínculos tradicionais, surge uma paródia satânica. É só deixar o Episcopado e a Tradição de lado, que a Bíblia e o nome de Jesus viram delírios sem sentido.
René Guénon dizia que, enquanto o materialismo é uma força anti-tradicional, os movimentos espiritualistas são forças da contra-tradição. Seriam uma “Anti-Igreja”, uma espiritualidade invertida.
Sobre a questão levantada neste âmbito de que o exorcismo teria sido abolido em toda a Igreja, tal asserção é falsa. Sua prática é, antes de tudo, um cumprimento de uma ordem clara de Jesus a seus apóstolos, Ele que deu aos mesmos “poder a autoridade sobre todos os demônios” (cf. Lc 9,1). Trata do exorcismo o parágrafo 1673 do Catecismo, bem como o cânon 1172 do Direito Canônico. Aliás, sob uma forma mais simples, o exorcismo é praticado durante o batismo.
Nefilim, gigantes filhos de demônios com humanos
Santo Tomás ensina, com base nos Padres, que os nefilim não eram filhos de anjos com mulheres. Eram filhos dos casamentos mistos entre a descendência de Set e a de Caim (S. Th., I, q.51, a.3, ad.6).
Scott Hahn, no seu livro “A father who keeps his promises” explica que os “filhos de Deus”, são os homens descendentes de Set. E as “filhas dos homens” são as mulheres descendentes de Caim.
Resumindo a explicação dele:
Quando Caim matou seu irmão Abel, pelo pecado da inveja, que era o pecado de Satanás, Caim permitiu que nascesse nele o fruto (descendência) de Satanás. Caim tevira uma família de pessoas que viviam afastadas de Deus por seu próprio livre arbítrio.
Assim, a beleza das filhas dos ímpios, dos amaldiçoados era mais forte do que a firmeza dos justos.
Os homens setitas (descendentes de Set) encontraram um novo fruto proibido e irrestível, as belas porém impías caimitas (descendentes de Caim).
Deus se recusa a permitir que a descendência da mulher, a família dos justos de Deus, seja misturada e inculcada com a família de Satanás. Daí temos o dilúvio.
No caso de Gn 6,4, não podiam ser os anjos os filhos de Deus, pois os anjos de Deus estão confirmados para sempre em graça, e não podem pecar, e os demônios não são filhos de Deus.
“Ainda supondo que nasçam homes de uma união havida com os demônios, não são engendrados por um princípio vital do demônio ou pelo corpo que o leva unido. Isto é o que sucederia, por exemplo, se o demônio se faz súcubo ante o homem, e íncubo ante a mulher, já que também tomam as sementes de algumas coisas para engendrar coisas distintas (...). Neste caso, o filho que nasce não é filho do demônio, mas filho do homem do qual tomou o ser”
Em outras palavras, o demônio toma um corpo feminino, recolhe o sêmen do homem, depois toma um corpo masculino e engendra o sêmen em alguma mulher. Os demônios não podem exercer ações vitais próprias dos corpos que tomam, pois os corpos que os demônios tomam não são corpos vivos, já que, como explica Santo Tomás anteriormente, eles não têm o poder de vivificar.
Um filme chamado “The Haunted” ou “The Haunted: A True Story” (em português, "A casa das almas perdidas") conta uma história real de uma família católica perseguida por um demônio. Na história do filme, há um incidente em que o demônio se transforma em súcubo e força o homem a ter “relação sexual” (o que, explica Santo Tomás, não é uma relação verdadeira, mas um modo do súcubo se apropriar do sêmen).
Na época do Antigo Testamento os mortos realmente permaneciam no Cheol, sem qualquer possibilidade de contato com os vivos (digo contato no sentido de saberem o que se passa aqui na terra, se Deus assim lhes permitir, e de interceder a nosso favor). Os judeus estavam certos na época deles. Ocorre que com a morte de Cristo tudo muda: ele desce até a mansão dos mortos para levar a todos à morada celeste.
Que as almas não possam sair do céu ou do inferno, eu não tenho tanta certeza. O céu não é uma prisão, e mesmo o inferno não o é, para todos os efeitos, antes do juízo, pois é um estado de espírito, a despeito de ser também um lugar. Agora, após o juízo final, o mundo estará renovado e glorificado para uso dos bem-aventurados, enquanto, aos ímpios, só restará ficar com as impurezas e restos desse mundo que foi purificado. Assim, não poderão mais entrar no mundo purificado e de uso dos eleitos.
Santo Tomás diz que as almas são livres para deixar o céu (lugar físico) e aparecer aos vivos. O mesmo pode ocorrer com as almas condenadas, com a diferença de que estas não o podem por sua própria iniciativa, exceto se, algumas vezes, Deus lhes permite isso.
Agora, de nenhum modo é aceitável que as almas condenadas possam possuir, uma vez que elas não têm o mesmo poder que um anjo possui sobre os corpos. O anjo possui esse poder em razão de sua natureza específica (S. Th., Ia, q.110, a.3). A alma não tem a natureza ou a essência de um anjo. Sua forma espiritual não a faz igualável ao menor dos anjos, de sorte que a alma condenada não tem nenhum poder para possuir o corpo de um vivo. Se o pudesse fazer, retornaria para o seu próprio corpo, e nem isso ela pode.
O corpo assumido por um anjo não se une a ele como à sua forma (S. Th., I, q.51, a.2).
Nem o demônio, nem a alma se relacionam com o corpo com relação causal, posto que a alma é a forma do corpo, o demônio não. Consequentemente, não há paridade (S. Th., I, q.52, a.3, ad.3).
Pe. Quevedo comete o erro de achar que, quando o anjo possue um corpo, o possue tornando-se a sua forma substancial, o que seria impossível.
Para uma alma condenada aparecer, ela precisa da intervenção demoníaca, pois os demônios têm poder para manifestar-se em forma visível, tomando corpos ou exercendo poder sobre a imaginação dos vivos. Não consta, por outro lado, que uma alma separada possua tal poder. Pelo contrário, o estado da alma separada é descrito como um estado deficiente, em que ela está privada de seu corpo, portanto, num estado não pleno de suas potencialidades. Da mesma forma, a alma separada — salvo, como é mais provável, aquelas que veem Deus diretamente — não pode conhecer o que se passa entre os vivos.
Assim, se uma alma condenada aparece, é porque o demônio propiciou, com seus poderes, que a mesma se manifestasse em forma visível, debaixo da permissão de Deus e por ordenação da Providência divina, para instrução ou para incutir temor nos homens.
Já alma bem-aventurada poderia de seu próprio poder aparecer em forma visível, pois Santo Tomás compara esse poder com o carisma de curar e operar milagres, exercido pelos vivos, ou, então, por um milagre divino ou ação de um anjo bom.
Santo Tomás diz a respeito disso:
2. Los muertos se aparezcan a los vivos de una u otra manera, sucede o por una especial providencia divina, que dispone que las almas de los difuntos intervengan en las cosas de los vivos, lo que constituye un milagro de Dios; o porque estas apariciones se realizan por acciones de los ángeles, buenos o malos, aun ignorándolo los muertos, como también los vivos se aparecen sin saberlo a otros vivos mientras duermen, como señala Agustín en el libro mencionado. Así, en el caso de Samuel, podría decirse, atendiendo a la revelación divina, que él mismo se apareció, porque Ecl 46,23 dice: Se durmió y anunció al rey el fin de su vida. O bien, si no se admite esta autoridad del Eclesiástico, ya que los hebreos no lo admiten entre los libros canónicos, aquella aparición fue dispuesta por los demonios. (S. Th., Ia, q.89, a.8)
Até há pouco tempo muitos católicos modernistas não acreditavam que o diabo não existia, mesmo que toda a crença cristã e católica provasse o contrário -- o demônio sendo citado na Bíblia de forma nada figurativa, como sugere a Teologia da Libertação; a existência dos anjos, que infere a existência do demônio, anjo caído; a existência do mal acima da compreensão humana, que não pode ser atribuído a um distúrbio psicológico.
Esses católicos só conseguiram entendem a existência do demônio depois que entenderam o surgimento da consciência humana descrita no Gênesis. O ser humano é naturalmente bom, volta-se para Deus por natureza, mas descobriu a possibilidade de não seguir a Deus, isto é, teve o conhecimento do mal. Não inventou o mal, não o tirou de dentro de si, mas descobriu que tem o poder de escolha e pode escolher não-Deus. O inimigo, já caído, é quem poderia ter revelado essa escolha (pelas razões já colocadas no tópico), e quem escolheu foram o homem e a mulher. Ninguém pode usar o demônio como desculpa para pecar, mas não há relação lógica alguma para, a partir daí, afirmar que o demônio não existe.
Com tudo isso -- a Escritura, a Tradição, a lógica, a razão e a fé -- a existência do demônio é uma verdade de fé e, como qualquer outra (Deus Criador, anjos, natureza humana e divina de Cristo, etc.) é definidora para se abraçar a fé católica. Não significa que ninguém possa ter suas dúvidas, mas que deve-se fazer o máximo para saná-las.
Sobre demônio na Bíblia, é simples: nossa fé baseia-se na Escritura e na Tradição interpretadas pelo Magistério da Igreja. Apenas a Igreja tem a capacidade e autoridade de fazê-lo, dadas por Cristo. Ninguém pode ter a petulância de contrariar hoje algo confirmado desde os Pais da Igreja. E é isto.
Referências:
Livro "O diabo e o exorcismo", Autor Frei Elias Vella , Editora Palavra e Prece, 2004, SP.
Livro "O diabo, vivo e atuante no mundo", Autor Monsenhor Corrado Balducci SJ, MIR Editora , 2ª Edição, 2005, SP.
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